Normalmente como tradição nesse blog, quando um novo console é lançado eu uso o primeiro jogo exclusivo desse console para contar a história do desenvolvimento daquele aparelho - como por exemplo BATTLE ARENA TOSHINDEN conta a história do Playstation e COSMIC CARNAGE a do 32X.
Hoje, no entanto, eu vou mudar um pouco essa tradição e deixar a rica história do Sega Dreamcast para a próxima oportunidade. Isso pq dos quatro jogos lançados com o console, esse aqui, esse Godzilla Generations... Jesus na cruz pulando pogobol, eu preciso falar sobre esse jogo em maiores detalhes.
Vamos lá: a ideia de Godzilla Generations é muito boa, de verdade. Claro, de boas intenções o inferno... mas não tem como tirar que a ideia é genuinamente fixe. E que ideia é essa, vc pergunta? Bem, eu posso resumir o básico das Gerações Godzilla muito simplesmente.
Você é o Lizzard dude de mesmo nome e não gosta do Japão, como usualmente fazem os gigantescos lagartos marítimos, então decide destruir tudo. Tudo, até o último pedaço, seja pisando nele, batendo com o rabo ou cuspindo fogo atômico nele. Então você vai e achata tudo dentro de um limite de tempo enquanto as patéticas forças militares tentam (e ao contrário dos filmes aqui geralmente conseguem) detê-lo. Alias mais sobre a dificuldade em breve.
Então a ideia era usar todo poder de processamento da nova geração de videogames para recriar a experiencia Godzilla definitiva. O console cria uma cidade repleta de predios destruíveis, e cabe a você fazer as honras da casa. Fixe, huh? Afinal, quem nunca quis ser o Godzilla e destruir tudo pelo caminho enquanto toca a música tema do Rei dos Monstros?
Se vc respondeu não, vc já está morto por dentro.
Então, sim, pela primeira vez na história dos videojogos a sexta geração de consoles que nascia naquele momento tinha o poder para entregar uma cidade com 100% dos objetos destruíveis, a bola tá quicando na area, é só empurrar pro golo!
E esse é a coisa que mais me irrita em Gerações Godzilla. Não tanto porque seja um jogo ruim, embora inegavelmente seja, o que realmente me irrita é que é muito evidente o que os designers da Sega estavam buscando. Para piorar, eles chegaram irritantemente perto apenas para mostrar o que poderia ter sido, e então falhar miseravelmente.
Veja, eu sou um grande fã do personagem Godzilla, e está claro que os caras da Sega que fizeram esse jogo tambem eram. O jogo apresenta todos os tipos de pistas que mostram amor pelo personagem, apenas falha miseravelmente em ser minimamente divertido.
Permita-me lhe dar um exemplo. A câmera em Godzilla Generations é até o meu conhecimento, a pior camera da história dos videogames basicamente pq tanto você não tem nenhum controle sobre ela como ela corta de angulo tão rápido que vc se sente num filme do Michael Bay. É ó, uma puta de uma bosta.
Só que eu entendo o que a Sega tava tentando fazer, onde eles queriam chegar uma boa câmera cinematográfica faria um trabalho sólido para estabelecer que Godzilla é enorme. Isso faz com que ele não apenas pareça legal, como o enquadramento das cenas parece legal - seja uma cena geral dele rugindo ou uma cena no nível do solo que estabelece que você está realmente olhando boquiaberto para um lagarto do tamanho de um arranha-céu.
Então a intenção é genuina para te dar a experiencia mais Godzilla possível, porém essa boa intenção não escapa do fato de que não pode controlar a câmera, e isso significa que nem sempre você pode ver os inimigos ou objetos, ou frequentemente ter a minima noção de para que lado você está virado, e isso é uma puta desgraça
Da mesma forma, a ideia central do jogo é que Godzilla é essa força da natureza, e você pode ser Godzilla, abrindo caminho através de edifícios, tanques e arvores, muitas arvores. Olha, eu não tenho como questionar esse conceito, mas eu realmente preciso fazer um aparte: até jogar Godzilla Generations, eu nunca soube o quanto Godzilla realmente odiava árvores.
Isso pq o seu objetivo é destruir 100% do mapa, o que não é difícil para os grandes edifícios, mesmo com a câmera duvidosa, porque eles estão marcados com grandes pontos brancos óbvios em seu mapa. As arvores no entanto... puta merda, que bosta é caçar arvores nesse jogo. Eu nunca achei que, de todas as coisas, caçar arvores seria um problema em um jogo do GODZILLA, mas eis que aqui isso o é.
Claro, suponho que deveria ser um pouco preocupante que árvores japonesas comuns aparentemente explodam em chamas quando são derrubadas, mas, novamente, este é um jogo sobre um lagarto radioativo gigante, então talvez eu não deva ser muito exigente.
De qualquer forma, Godzilla é uma força elementar e imparável... que por alguma razão precisa caçar arvores... e isso é totalmente apropriado. Exceto que você joga como Godzilla, o que significa que não há muitos desafios no jogo, além de encontrar aquela última árvore irritante, que quase certamente está do outro lado do mapa. O que de certa forma, é claro, isso representa o dilema essencial dos jogos e filmes do Godzilla.
Mostre muito tempo do Godzilla na tela e fica chato, e o jogo Godzilla sofre com isso, e é por isso que os filmes costumam ter uma forte narrativa de personagens humanos. Isso não funciona bem dentro das restrições mais óbvias de um jogo, e é por isso que a grande maioria dos jogos Godzilla tendem a ser simples jogos de luta… ou jogos de futebol estranhos. Sim, isso existe ...
O que eu quero dizer com isso é que o jogo é, bem, chato. Você anda pelo mapa pisando nas coisas e é isso, esse jogo é um walking simulator, pq o que vc tem que fazer é andar por cima das coisas, é isso.
MAS VOCÊ NÃO FAZ MAIS NADA? NÃO LUTA, NEM NADA?
Então... lutar, lutar, não. Você não enfrenta outros monstros nesse jogo, o que vc enfrenta são as forças de defesa do Japão... e deseja ardentemente que não o fizesse. Pra começar, acertar alguma coisa com essa camera esquizofrenica é uma profissão de fé.
E ajuda menos ainda que os inimigos tenham 1/20 do tamanho do seu personagem, especialmente quando seu boneco manobra como UMA FUCKING BETONEIRA DANDO RÉ. Sério, Godzilla se mexe tão devagar que eu quase consigo ouvir um "pi pi pi pi" quando tá manobrando. O resultado disso é que esse jogo é insamente dificil pq vc leva duzentos e oito pipocos até você manobrar o seu trambolhão e poder pisar neles... isso falando dos inimigos terrestres.
Pq os helicopteros e aviões só podem ser atingidos por sua rajada atomica que a) controla como uma bunda bebada b) ele só dispara quando está inteiramente parado. Pq sim, é claro que ele só dispara completamente parado, obvio que sim...
Adicione a isso graficos que não impressionam como "nova geração" pq o boneco do godzilla é mais complexo do que qualquer coisa que vc possa fazer no PS1, mas as cidades são tão mais vazias que Metal Head no 32X e o resultado que temos é um jogo que cansa rápido de uma coisa nem é divertida em primeiro lugar. É legal que o rabo do Gojira tenha sua fisica propria e destrua coisas por onde passa, mas isso é realmente tudo que eu posso dizer de maneiro a respeito da gameplay desse jogo e isso é uma curiosidade que passa em 5 minutos.
Tá, pra não ser cuzão e dizer que o jogo não tem nada NADA de legal, tem um minigame que pode ser jogado através do memory card do Dreamcast... que depende de saber japones, então não posso falar sobre ele... e tem personagens desbloqueaveis para cada vez que vc termina o jogo: Godzilla original de 1954 (que é feio para um caralho)..., o Minilla do filme "Son of Godzilla" (1967), o Godzilla do filme americano de 1998 e o Dr. Serizawa do filme original.
ESPERA, ESPERA, O QUE? DR. SERIZAWA COMO O CIENTISTA QUE CRIA A ARMA PARA DESTRUIR GODZILLA NO FILME?
O proprio
E COMO ELE TÁ EM UM JOGO DE DESTRUIR PRÉDIOS?
Com o Japão sendo Japão, obviamente!
Mas enfim, mesmo que esses bonus sejam legais, ainda sim eles exigem que vc jogue ele quatro vezes e é uma dor terminar ao menos uma, dado que seu objetivo é apenas andar pelo mapa vazio, a camera é um crime contra a humanidade, o seu boneco move como uma enfizema pulmonar e os 11 niveis do jogo são absolutamente iguais. Se tem mais alguma coisa que eles poderiam fazer para tornar esse jogo mais tedioso, eu desconheço como isso seria humanamente possível. Sega começando a vida do seu novo console em seu seguismo máximo, huh?
Após uma longa primavera de 40 jogos sem resenhar nada terrivelmente sofrivel (desde o sofrimento e dor de DUKE NUKEM 3D para Mega Drive), eis que a Sega abre a nova geração mostrando a que veio. A Sega realmente vai cair atirando, né? Em mim, especialmente...
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 133 (Novembro de 1998)
Edição 053 (Agosto de 1998)