Quando eu escrevi sobre LEGEND OF MANA, eu comentei na ocasião que a Squaresoft estava em uma fase tão inspirada, empilhando tantos sucessos que eles podiam se dar ao luxo de serem experimentais. Com Final Fantasy imprimindo discos e sonhos como se a existencia do mundo dependesse disso (com FINAL FANTASY 7 e FINAL FANTASY 8 entrando para o top 10 de jogos mais vendidos do console mais popular de todos os tempos até então), eles tinham dinheiro, reputação e ambição para queimar.
Mas, mais importante, eles tinham um sonho criativo febril acontecendo internamente. Havia equipes se dividindo em unidades menores, cada uma tentando experimentar estilos de jogabilidade, estética e formatos narrativos. Pense nisso como uma escola de arte mal-assombrada por contadores: "Sim, vá expressar sua visão torturada — só certifique-se de que possamos vendê-la em dois discos com CGs". O que nos levou a jogos altamente experimentais como o já citado LEGEND OF MANA, ou esquisitamente ambiciosos como XENOGEARS.
Nesse contexto, Threads of Fate foi criado por uma equipe interna menor — não o esquadrão A de Final Fantasy, mas ainda assim parte de um ecossistema mais amplo de inovação. Ele se encaixa perfeitamente com outras excentricidades de "projetos paralelos" como:
A Square estava expandindo seu portfólio, sim, mas havia outro objetivo por trás dessa virada para os action RPGs: conquistar de vez o mercado ocidental. Eles sabiam que o americano médio torcia o nariz para combates em turno. Por mais que os jRPGs vendessem razoavelmente bem no Ocidente, continuavam sendo um nicho. A ideia era clara: “E se a gente der para esses baka gaijins algo com ação em tempo real, mas com a nossa alma de RPG ainda brilhando por baixo?”
Spoiler: foi exatamente o que acabou se tornando a realidade. Hoje Final Fantasy, sua franquia principal,virou uma série de action RPG em definitivo. Não temos um título principal com combate por turnos há mais de uma década — e é bem provável que nunca mais tenhamos.
Esse contexto esclarecido, fica mais fácil ver que Threads of Fate provavelmente foi concebido como: "Vamos fazer um RPG de ação acessível e leve para o público mais jovem e mercados internacionais, com o charme de um desenho animado de sábado de manhã, mas com profundidade de RPG suficiente para satisfazer os fãs."
Com esse contexto em mente, Threads of Fate começa a fazer sentido: “Vamos fazer um RPG de ação simples e acessível, voltado para o público mais jovem e os mercados internacionais, com o charme de um desenho animado de sábado de manhã — mas com profundidade o suficiente para não alienar os fãs de RPG. E, ao mesmo tempo, vamos testar coisas como:
Dá pra fazer um RPG de ação 3D com dublagem e cutscenes cinematográficas
Dá pra contar histórias engraçadas e cativantes sem recorrer ao melodrama?
Jogadores aguentam jogar duas vezes o mesmo jogo, se oferecermos narrativas diferentes o suficiente?"
A resposta curta: mais ou menos.
A resposta longa: Threads of Fate é um jogo deliciosamente experimental… e dolorosamente inacabado. É o que veremos a seguir.
Nos anos 90, várias desenvolvedoras japonesas perceberam o quão fácil era fazer um dungeon crawler roguelike: você escreve um algoritmo em Java pra gerar aleatoriamente um andar novo toda vez que o jogador entra na dungeon, cola as mecânicas mais básicas possíveis de um RPG ou Action RPG… e cruza os braços, assistindo enquanto os japoneses empilham centenas de horas naquele pixelado inferno procedural.
Embora esse subnicho nunca tenha realmente emplacado no Ocidente, no Japão ele prosperou — principalmente graças à franquia Mystery Dungeon, que começou como spin-off de Dragon Quest (tirando o “RP” do “G”, como se Dragon Quest tivesse lá muita história... mas divago). Com o tempo, ela ganhou versões com Pokémon, Final Fantasy, Shiren the Wanderer, Chocobo, e mais umas vinte skins diferentes.
Sim. São 28 jogos em 31 anos.
Só no Mystery Dungeon.
Sem contar os outros bazilhões de roguelikes de dungeon crawler.
Então, é… acho que não preciso dizer que não sou exatamente o maior fã desse gênero — caso isso ainda não tenha ficado claro — e posso dizer com ainda mais tranquilidade que não morri de amores pelo primeiro CHOCOBO MYSTERY DUNGEON, de 1997. Por isso mesmo eu vou ser o primeiro a admitir: eu definitivamente não entrei na Masmorra Misteriosa do Chocobo com a maior boa vontade do mundo.
A review de hoje é um pouco diferente do habitual que eu faço aqui nesse blog. Isso porque mais do que uma review, o texto de hoje é basicamente uma carta de amor a uma obra-prima medíocre.
Hoje, 27 de março de 2025, meu blog faz 8 anos. Oito anos, é quase uma vida, huh?
Talvez por isso mesmo eu não consigo deixar de sentir o peso inexorável de cada um desses anos sobre as minhas costas. Quando eu comecei, eu era jovem e repleto de esperança, entusiasmo e uma sensação ingênua de invencibilidade. Mas o tempo tem um jeito de nos mudar, não tem? Hoje, eu sou muito mais cansado, marcado pelas coisas da vida (e como a vida tem coisas) e desgastado por batalhas travadas em silêncio. Houve dias em que eu quis desistir, dias em que as palavras não vinham e noites em que eu questionava se alguma coisa disso importava. Mas de alguma forma, eu continuei, agarrado a este espaço como se fosse uma tábua de salvação. Talvez seja. Talvez seja por isso que, apesar de tudo, eu não posso parar agora. Cheguei longe demais, coloquei muito de mim em cada postagem, cada frase. Este blog carrega pedaços da minha alma, fragmentos de quem eu era e de quem estou me tornando. Então, continuarei escrevendo, não porque é fácil, mas porque é preciso.
E para marcar essa data tão especial, um jogo igualmente especial: "A Legenda da Zeldinha: Mascara da Majoração". Só que para entender por que esse jogo especial, primeiro é necessário entender as condições em que ele foi feito. Voltemos então ao final de 1998 - considerado por muitos o maior ano da história dos videogames, ano em que foram lançados jogos como HALF-LIFE, METAL GEAR SOLID e RESIDENT EVIL 2, entre outras pedradas.
Dentro todos os eclesiásticos jogos lançados em 1998, talvez nenhum seja mais emblemático do que a obra prima do gênio máximo dos videogames, Shigeru Miyamoto: estou falando, é claro, de THE LEGEND OF ZELDA: Ocarina of Time.
Eu não vou falar aqui de LEGEND OF ZELDA: Ocarina of Time, entretanto, meio porque não precisa. Quero dizer, sério, o que há para ser dito sobre esse jogo que já não tenha sido dito ainda? Eu mesmo passei 5 mil palavras falando sobre isso no post especial de 7o aniversário, não é sobre isso post de hoje.
O que eu QUERO falar hoje é sobre a sua DLC, seu patch de update. Vê, eu brinco muito nesse blog que a Capcom não lançava um jogo nos anos 90 sem planos de transforma-lo em uma franquia anual, relançando o mesmo jogo de novo e de novo apenas com fases novas ou personagens novos, mas as vezes nem isso, apenas uma gameplay levemente melhorada. Eu chamo isso de "continuação patch de update", porque é exatamente o que é: o que hoje as empresas fazem com um patch de update online para corrigir bugs e implementar melhorias, na época as empresas vendiam um jogo de 60 dolares inteiramente novo para te achacar com esse dinheiro. Bons e velhos tempos huh?
Eu amo o quão intenso e creepy o comercial é, para terminar com "rated E for EVERYONE".
Só que por mais que eu brinque com isso, não foi a Capcom que inventou essa prática - eles podem ser seus maiores defensores, mas não os criadores. Isso existe desde que os videogames são videogames, e eu estou falando bastante sério: uma das primeiras "atualizações mas não realmente uma continuação no sentido de um jogo novo" na história dos videogames foi MS. PAC-MAN, que como o nome sugere é o bom e velho Pac-Homem de sempre com uma nova mão de tinta.
A própria Nintendo, logo depois de reinventar a indústria dos videogames dos escombros em 1985 com SUPER MARIO BROS, o que fez logo em seguida? Uma DLCzinha marota: SUPER MARIO BROS 2 no Japão (conhecida como "The Lost Levels" no ocidente, já que a Nintendo da América achou - com razão - que a industria ocidental não estava madura para absorver esse conceito) é o mesmo jogo que o primeiro, apenas com novos níveis, alguns power ups novos, mais dificil e com controles melhores. Foi literalmente sobre isso que a industria dos videogames foi construída.
E isso não é uma coisa necessariamente ruim. Você gostou de um jogo? Eis aqui novas fases para ele! Isso é uma coisa boa para o publico que quer jogar mais da coisa que ele gosta, e bom para o desenvolvedor que não precisa criar nenhum novo asset, apenas reordenar o que já tem na forma de novas fases. Essa prática é tão comum no japão que tem até um nome: "gaiden", que significa literalmente "outra história" - uma forma de continuar explorando um universo amado pelos fãs de uma forma rápida e fácil, sem ter que colocar muito esforço em lidar com o canone.
Então quando LEGEND OF ZELDA: Ocarina of Time abalou geral em 1998, meio que fez sentido que a Nintendo pensou "hmm, o Gamecube só vai lançar em 2002 e todos nossos times estão ocupados se preparando pra isso. Pra não ficar sem lançar NADA em quatro anos, quem sabe lançar uma "continuação-update" em 2000 seria interessante"...
OW, OW, OW, ESPERA, TEMPO, TEMPO!
Hã? O que foi, Jorge?
DEIXA EU VER SE ENTENDI: O JOGO ESPECIAL PARA O OITAVO ANIVERSÁRIO DO BLOG É... UM UPDATE-CAÇA-NÍQUEL DE OCARINA OF TIME? A NINTENDO SÓ REORGANIZOU UNS ASSETS, CRIOU NOVAS DUNGEONS E SIDEQUESTS, E PRONTO?
A grosso modo essa é uma descrição justa de Majora's Mask, não vou mentir.
ESSA COISA FEITA NAS COXAS O SEU JOGO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO? ESSE BLOG NUNCA FOI GRANDE COISA, MAS HONESTAMENTE ESSE É UM NOVO PONTO BAIXO MESMO PARA VOCÊ
Então... como eu disse, de um ponto de vista puramente tecnico, sim. Majora's Mask é só Ocarina of Time com uma roupa nova (e controles melhores)... só que ao mesmo tempo, não. Com certeza esse jogo não é "apenas" uma atualização caça-níquel. Com efeito, Majora's Mask é exatamente o oposto disso: Majora's Mask, acredite ou não, é arte no seu estado mais puro.
HUH, AGORA FIQUEI CONFUSO. ENTÃO ESSE JOGO É UM PATCH DE UPDATE OU UMA VISÃO ARTISTICA INTEIRAMENTE ÚNICA?
Sim. E por isso eu quero dizer que esse jogo é as duas coisas ao mesmo tempo. Nada mal para uma escolha de jogo especial de aniversário, huh?
MAS COMO VOCÊ FAZ UMA VISÃO ARTÍSTICA DIFERENTE DE UMA FRANQUIA QUE É O MAIS PURO SUCO DA FANTASIA MEDIEVAL? THE LEGEND OF ZELDA SEMPRE FOI SOBRE CASTELOS, MASMORRAS E SALVAR UMA PRINCESA (TÁ NO NOME!). O QUE ELES VÃO FAZER COM ISSO? TRANSFORMAR ZELDA NUMA JORNADA SOBRE PERDA, MEDO, A PASSAGEM DO TEMPO E UM MUNDO ESTRANHO SAÍDO DA MENTE DO DAVID LYNCH?
ã, bem... então, exceto que foi exatamente o que eles fizeram, e é o que veremos a seguir!
Eu vou ser bem sincero com vocês: eu já joguei alguns jogos da série "Tales of" a essa altura dos acontecimentos, e me permitam dizer que eu não sou o maior fã da coisa toda. Eu já desenvolvi isso duas vezes nos textos de TALES OF PHANTASIA e TALES OF DESTINY, mas a ideia geral da coisa é que não é que eu odeie a franquia, apenas... bem, eles são o fast food dos jRPGs.
Se você está com fome e quer algo que preencha todos os requisitos básicos para você não desmaiar de inanição no chão, coloque no micro-ondas, coma seu hambúrguer requentado de dez pila e saia satisfeito — então sim, nesse aspecto, "Tales Of" faz o trabalho. Porém se você quer mais do que apenas matar a fome básica por um jRPG... então talvez você tenha mais sorte procurando em outro lugar.
Dificilmente você vai se lembrar de um "Tales Of" como uma experiência transformadora. Você não vai contar aos seus netos sobre a vez em que jogou "Tales of Xillia" e teve uma revelação profunda e existencial. Não, porque os jogos "Tales Of" são o epítome dos jRPGs seguros e produzidos em massa. Eles não são ruins, mas também raramente — ou nunca — aspiram ser mais do que isso.
Agora que você entende meus sentimentos a respeito da franquia, suponho que faça um pouco mais de sentido quando eu dizer quando comecei Tales of Eternia (ou "Tales of Destiny 2", como foi lançado nos EUA... o que se provou um nome meio infeliz pq alem de não ter relação nenhuma, em 2002 foi lançado um "Tales of Destiny 2" para PS2 exclusivamente no Japão que é de facto a continuação de TALES OF DESTINY), esperava outra aventura genérica. No entanto, quando estava eu esperando uma experiencia modorrenta, eis que então uma luz radiante cegou meus olhos. E foi lindo.
Poderia ser? Um "Tales Of" que realmente tinha uma premissa interessante? Um cenário único? Personagens com os quais eu realmente me importava? Seria esse o jogo prometido, profetizado nas lendas? Estava realmente acontecendo? Mas então vamos começar pelo começo: quem deixou colocarem um cenário realmente interessante no meu "Tales Of"?!
Era uma noite gelada nos bosques que cercam a miserável vila de Coriander, o tipo de frio que faz o ar gelado da madrugada queimar seus pulmões e cortar seus lábios ao ponto que o simples ato respirar não é uma atitude que deva ser tomada levianamente. Ainda sim, duas crianças corriam por suas vidas, sem olhar para trás.
Um menino e uma menina, nenhum dos dois com mais de dez anos de idade, atravessam o véu da noite desabaladamente em direção a... nem eles sabem realmente. A única coisa que eles sabem é que não podem voltar a Coriander sob hipotese alguma.
Naquela tarde, homens estranhos vestidos de preto andaram pela vila. Lucian, o menino, já tinha visto eles algumas vezes antes: eles aparecem, se houve o barulho de algumas moedas, e então no dia seguinte alguém da vila não estavam mais lá. Traficantes de pessoas. E naquela noite em particular ele havia visto esses homens indo para a casa da sua amiga Platina.
Ele conseguiu entrar pela janela e tirar ela de lá instantes antes que os homens de preto a levassem, mas era só até aí que seu plano ia. Pouco atrás dele, Platina estava tão exausta quanto assustada. Ela podia ser apenas uma criança, mas sabia perfeitamente bem qual seria o seu destino se uma garota bonitinha como ela fosse vendida como escrava.
Após abrir uma distancia segura da vila, Lucian acha que eles podem parar para respirar um pouco - não que seus pequenos corpos de criança conseguiriam de outra forma. Platina está exausta. Não apenas da fuga, mas de sua vida toda. Das surras. Da fome. Do frio. Do medo. Da perspectivida de uma vida inteira miserável assim. Ser vendida como escrava por sua mãe por uma dúzia de moedas foi a palha que quebrou as costas do seu camelo, era a última, ela não aguentava mais.
E de fato seu corpo não aguenta mais. Seus joelhos cedem, ela cai no chão. Mas por causa dos seus sentimentos internos, mas pq Lucian não reparou que eles tinham ido parar em um campo de Lírios Lamuriosos, uma planta muito bonita mas altamente venenosa.
Lucian corre e a toma nos braços, mas Platina está sem mais forças para lutar contra o veneno, para lutar por sua vida miserável. Talvez seria melhor ela apenas fechar os olhos e aceitar o doce abraço do descanso eterno. Ela pode apenas desejar que talvez um dia ela e Lucian renasçam juntos, em uma vida melhor, em um mundo melhor. Desejando apenas esquecer todas as terríveis memórias de sua curta vida, Platina fecha os olhos pela última vez nesse mundo. O menino chama por ela desconsolado, mas é tarde demais.
Ao som de seus gritos do mais puro desespero, a camera vai se afastando e a tela fechando. Esse é o trágico fim da história dessa menina, mas apenas o começo de uma outra muito maior.
"Perfil de Valquíria", letras sóbrias informam na escuridão da tela. O jogo vai começar.
Precisamos falar sobre Yasumi Matsuno. Então deixa eu respirar fundo, pq essa não vai ser uma das faceis... porque, veja, eu não sou uma pessoa violenta, sabe? Memes a parte nesse blog, na vida real eu nunca levanto a voz pra ninguém, eu nunca discuto, se tem alguma coisa errada ou alguem me incomodando eu apenas me retiro, pq é esse o tipo de pessoa que eu sou. Diabos, eu tenho tão pouca agressividade que eu sequer jogo joguinhos competitivos online, esse é tipo de pessoa que eu sou.
Isso sendo dito, se tem uma pessoa que eu esganaria se encontrasse na rua é Yasumi Matsuno. Porque o filho da puta é um gênio, é uma das pessoas mais inspiradas que já trabalhou na indústria de videogames... mas o problema é que ao mesmo tempo o filho da puta é um filho da puta. Aí complica.
Durante os anos 90, a Nintendo tinha (e ainda tem, verdade seja dita) uma politica bem estrita de ser family friendly, e por isso leia-se uma visão bastante estadunidense da coisa: violência é perfeitamente aceitável, enquanto mulheres são um big no-no.
Ciente disso, a filial da Konami de Osaka teve uma ideia bastante diferente:
- Hmm, chefe, pra fazer um jogo que chame atenção... a gente pode abrir ele mostrando uma bunda? Certamente todo mundo vai reparar nesse jogo!
- No Nintendo 64? A Nintendo vai parir um gatinho se a gente abrir um jogo com uma mulher pelada! - Quem falou em mulher?
- ...
- Então, pode?
- Bem, é, o documento de regras que a Nintendo mandou cita especificamente mulheres...
Em 1999, a Squaresoft estava em uma posição particularmente única no mundo dos vidjigueims: embora não fosse a maior produtora de RPGs da sua terra natal (e a este ponto eu não acho que milagre algum faria Final Fantasy - o carro chefe da Squaresoft - passar a popularidade do fenomeno cultural que era DRAGON QUEST), no ocidente o nome da Squaresoft era um selo de qualidade para todos nerds cabeçudos querendo waifus e historinhas, não necessariamente nessa ordem.
Mesmo quando não acertava totalmente, a Squaresoft ainda acertava bastante - caso em ponto, FINAL FANTASY 8 pode ter várias... questões... que eu abordei naquele texto, mas ainda sim foi o quarto jogo mais vendido de toda história do Playstation, com mais de 8 milhões e meias de cópias. Então, sim, no ocidente a Squaresoft era sinonimo de sucesso.
E sucesso no maior mercado do planeta significava uma coisa e uma coisa apenas para a Square:
Mas pq eu estou explicando o contexto? Bem, primeiro pq eu sou um nerd velho que não tem amigos para falar sobre todas as coisas inuteis que eu sei, mas segundo e principalmente pq entender que a Square estava acendendo charuto com nota de 100 é muito importante para entender o jogo de hoje.
Isso pq como a empresa estava fazendo mais dinheiro do que sabia o que fazer com ele, eles podiam se dar ao luxo de permitir projetos mais conceituais, mais artisticamente ambiciosos e menos seguros comercialmente. Em outras palavras, eles podiam se permitir bancar jogos esquisitos. E acredite em mim quando eu te digo que dificilmente vc vai encontrar um jogo mais esquisito do que A Legenda da Irmã!
Assim, eu não sou o maior fã do mundo do Jovem Nerd. Não é nem que eu não gosto, eu apenas nunca tive muito interesse e isso é isso, deixa os caras no canto deles e vida que segue. Só que existe uma coisa que foi dita em um Nerdcast que eu não sei se foram eles que inventaram mas eu nunca havia ouvido antes: a regra dos quinze anos. A definição é a seguinte:
“Se você viu um filme antes dos 15 anos de idade e gostou dele, não reveja. É possível que você ache ele uma merda porque você não tinha capacidade de perceber antes.”
Pra mim isso não é realmente uma novidade, eu trabalho diariamente com coisas que eu conheci antes (ou por volta dos) meus quinze anos. É literalmente o que eu faço aqui, e algumas coisas são melhores do que eu lembrava (como o Squall em FINAL FANTASY 8), algumas coisas são piores do que eu lembrava (como eu adorava DOUBLE DRAGON 3 é um dos grandes mistérios da vida, pq pelas santas almas que me regem...). O jogo que jogamos aqui é esse.
Lançado em 1995 para o Super Nintendo, Tales of Phantasia recebeu um remake para PS1 em 1999. O que no fim foi bom pra mim, pq ajuda o meu TOC não ter mais um número ímpar nas reviews de SNES, essa sendo a review 410 do console querido
De muitas formas, é uma experiencia bastante enriquecedora que o jogo que eu tenha jogado logo após FINAL FANTASY 8 não seja outro que não um Tales Of. Eu digo isso porque embora ambos sejam jRPGs, eles não poderiam ter propostas mais distintas: Final Fantasy sempre foi (ou tenta ser) o state of art dos jRPGs, sempre tentando puxar o que a mídia pode fazer um passo a frente seja em narrativa, desenvolvimento de personagem, gráficos ou mecanicas de combate. As vezes tem sucesso, as vezes não, mas tentar eles sempre tentam algo novo e diferente.
Já Tales Of, por outro lado, é o exato oposto disso: se Final Fantasy é a vanguarda, é a experimentação, é o novo, Tales Of é o fast food dos jRPG: básico, simples, antes de começar você já sabe o que ele vai entregar e ele entrega exatamente o que vc espera um jRPG. Nunca acima do mediano, mas tambem nunca abaixo. É o porto seguro, sem invencionice, sem riscos, apenas o jRPG raíz, o jRPG toco-y-mi-voy. E quer saber? Com certeza tem algumas coisas do RPG raíz e "antiquado" que a Squaresoft certamente poderia ter aprendido com ToP antes de tentar reinventar a roda...
No topo do sucesso metabolico dos jRPGs no ocidente, especialmente com o fenomeno cultural que foi FINAL FANTASY 7, a Squaresoft a este ponto da história tinha mais dinheiro do que sabia o que fazer com ele realmente. E o que você faz quando tem dinheiro infinito? Ora, corre atrás de mais dinheiro infinito, obviamente.
E como você faz isso exactamente, alguem poderia perguntar? Ora, usando seu dinheiro infinito para tentar cravar as presas em outros generos, mais especialmente nos jogos de luta que eram o grande filão de popularidade do ocidente nessa época. Assim, a Squaresoft contratou a Dream Factory, lhes deu ninguem menos que o fodendo Akira Toryiama como character designer e os mandou ir a luta. O resultado desse projeto é conhecido como TOBAL No 1 e insistiram na coisa com TOBAL 2. O fato de você ter que coçar a cabeça para lembrar desses jogos (se é que conseguiu lembrar) já diz tudo que vc precisa saber sobre o assunto.
Mas tá, muito que bem, a Square obviamente não estava a mais pilhada do mundo nessa ideia de fazer um Tobal 3 pq, bem, a definição de insanidade é repetir as mesmas ações e esperar ter resultados diferentes, como já dizia o filosofo moderno. E isso seria isso, é família parece que não deu certo a ideia da Square de emplacar nos jogos de luta... até que um estagiário servindo café no canto da sala disse na manhazinha: "olha, pq a gente apenas não coloca os personagens de FINAL FANTASY 7 no jogo de luta? Eles não são tipo... nossos e a gente não pode fazer o que quiser com eles sem pagar nada pra ninguém? As pessoas não vão comprar qualquer porcaria que tenha a minima relação com o fenomeno que foi FINAL FANTASY 7 não importa o quão mequetrefe seja?"
Silencio absoluto na sala de reuniões. Pelo menos quatro executivos da Squaresoft cometeram sabaku pela desonra de simplesmente não ter pensado nisso antes. E nascia assim "Ehrgeiz: Deus Abençoe Esse Ringue Maravilhoso que Sai Tabelando, Tocando".
Sete anos. 2557 dias. 61362 horas. A exatos 3681720 minutos atrás, eu coloquei na estrada minha ideia de jogar todos os jogos da Ação Games. Na verdade a ideia começou com jogar todos os Final Fantasy desde o primeiro dado que eu sou realmente um grande fã da franquia. Porém nesse processo me caiu a ficha que a tecnologia já havia evoluído o suficiente para ser trivial jogar qualquer jogo, então me ocorreu de pq não fazer algo que eu sonhei minha infancia inteira fazer?
Uma das coisas que eu acho mais interessantes a respeito desse projeto é ser capaz de ver evolução dos jogos no seu contexto da época, o que me faz entender como e pq muitas coisas foram feitas do modo que foram feitas - uma visão que vc não teria de outra forma. E mais ainda, devo dizer, quando minha interpretação do contexto da época é confirmada pela continuação desse jogo que prova que eu realmente estava certo.
ESSE É MAIS UM DAQUELES DIAS QUE VC VAI OSTENTAR O QUANTO VC ESTAVA CERTO, NÃO É?
O que posso dizer, Jorge? Eu sou um homem que não passa frio, pois estou sempre coberto de razão. E Oceano de Estrelas: A Segunda História prova isso. Entretanto, para entender o que é Star Ocean 2, é primeiro entender o que é o primeiro STAR OCEAN e a situação da sua produtora Tri-Ace.
Suponho que a essa altura eu não realmente precise explicar muito o fenomeno pangalactico, nepomucenico, hipocondriaco que foi a singularidade espaço-temporal que atende pelo nome de FINAL FANTASY 7. O primeiro jogo a ter um orçamento superior a 100 milhões de dolares foi um dos maiores acontecimentos da história dos videogames do ponto de vista comercial, e não é exagero dizer que foi um dos jogos que pavimentou a ascenção meteorica da Sony do nada ao monopolio.
Mas bem, estabelecemos que FINAL FANTASY 7 foi a tonga da mironga do cabulete, o que nos leva a um ponto óbvio: qual era o jogo mais esperado de 1999? Ora, era óbvio que era Final Fantasy 8! Era tão esperado que de facto veio a se tornar o quarto jogo mais vendido da história do PS1 (atrás apenas dos dois primeiros GRAN TURISMO e GRAN TURISMO 2, além do próprio FINAL FANTASY 7).
A ansiedade por FF8 era palpavel no ar e todo mundo batia as cabeças contras as paredes acolchoadas dos seus quartos especiais mal podendo se conter por esse jogo... e a Squaresoft estava plenamente ciente disso. Tão ciente, com efeito, que eles usaram isso a seu favor: eles usariam a demo de FF8 para vender jogos! E foi o que eles fizeram: pegaram um joguinho qualquer que eles iam lançar e colocaram um segundo CD com a demo de FF8 e o resultado não podia ser outro, as pessoas sairam no tapa, tiro, porrada e bomba pra jogar alguns minutinhos da continuação mais aguardada da história dos videogames!
E a história de hoje será sobre isso, saiba você!
UÉ, SOBRE FINAL FANTASY 8?
Bem, não. Sobre o joguinho que vinha junto o CD demo de FF8 e por isso absolutamente ninguém lembra dele, já que eles compravam o jogo só pela demo mesmo. Ou seja, hoje falaremos sobre o valente espadachim Musashi!
Começarei o texto de hoje fazendo uma revelação bombástica: jogos ruins são, bem, ruins. Sim, eu sei, eu sou um Xerox Rolmes. Mas então, muito raramente, quanto as estrelas estão certas e o vento sopra a favor, nós temos um jogo ruim... diferente.
Veja, existem alguns jogos que não são apenas ruins, eles são tão ruins que fazem as coisas de uma forma espetacularmente ruim ao ponto que vc fica hipnotizado pela ruindade e pelas escolhas pavorosas que eles tomaram. É o tipo de jogo que vc nem fica puto realmente, vc fica em choque com a mão no queixo e um sorriso nervoso de "meu deus, como eles não viram que essa ideia é uma merda"?
Em outras palavras, esse jogo é o The Room dos videogames. Simples assim, aquela coisa que é tão catastroficamente ruim que é na verdade uma perola pela sua ruindade! Isso sendo dito, vamos começar do começo...
Esse é um raro caso que a capa japonesa é exatamente a mesma da americana
Eu vou ser honesto com vocês: não tem sido uma semana fácil. O sistema de gás do condominio deu algum problema e agora essa porcaria ta fazendo um apito agudo 24 horas por dia, esta chovendo faz tres dias e está tudo umido o tempo todo (sério, vc subestima o quanto morar num lugar seco é subestimado), levei duas chamadas feias no trabalho, meu cachorro idoso está comendo cada vez menos, é sabado de noite e eu estou bebendo sozinho pq absolutamente ninguem no multiverso se importa comigo - o que eu nem posso argumentar que é injusto.
Mas tá, beleza, eu tanko de boa pq é a minha vida, ao menos eu tenho um joguim pra jogar né e tal... e o que é que me cai? Uma das duas séries que são absurdamente amadas no Japão... mas que meu santo nunca bateu com elas. Porque veja, existem duas séries que são uber gigantes no Japão e bem marromenos no ocidente: DRAGON QUEST e "Tales Of". E nenhum deles é algo que me sentou muito bem.
Estamos em uma semana de extremos, não? Quinta eu postei sobre um jogo maravilhoso sobre a mais pura inocencia, GRANDIA, sexta sobre um jogo de pura dor e sofrimento que é sobre edgelordzice, SPAWN THE ETERNAL.
Tendo jogado dois jogos posicionados em extremos tão radicais do espectro dos videogames, como poderia o terceiro jogo ser tão extremo quanto? Bem simples, o jogo de hoje é EXTREMAMENTE... mediano. Sério, se GRANDIA e SPAWN THE ETERNAL estão um cada ponta dos videogames, vc não encontrará na vida um jogo mais mediano do que a misteriosa masmorra do Chocobão da massa.