Existe no mundo dos videojogos, além da classificação normal de generos dos jogos, uma coisa que a gente costuma chamar de "jogo de demo tecnica". Normalmente são jogos lançados logo nos primeiros momentos da vida de um console com o único objetivo de mostrar ao público o que aquele sistema é capaz de fazer.
O que o difere dos jogos normais é que o objetivo dele não é ser um sucesso de vendas, não é sequer ser um jogo bom na verdade e sim vender o console mostrando o que ele pode fazer. Um exemplo muito icônico disso é Knack que foi lançado pela Sony junto com o PS4, justamente porque o jogo foi dirigido pelo designer de hardware do PS4 Mark Cerny e seu único proposito era mostrar do que o sistema era capaz.
Na época chamou muita atenção em quantas particulas o PS4 era capaz de gerenciar ao mesmo tempo, e de fato é um feito tecnico impressionante. Mas quanto ao gameplay... err, vamos dizer que "chato" foi o adjetivo mais afetuoso que o jogo recebeu. Enfim, meu ponto é que demos tecnicas são jogos feitos para ficarem rodando na TV na vitrine da loje muito mais do que para serem jogados.
E é justamente aqui que o jogo de hoje entra, Metal Head foi um jogo feito sob encomenda para mostrar tudo que o 32X era capaz de fazer, e de fato é uma exibição tecnica do hardware bem impressionante. Mais do que é como jogo, na verdade. Mas vamos começar do começo...
Um fato curioso aqui é que até onde me consta, esse é o único jogo que usa o "Sega!" que era usado nos comerciais e não o tradicional "Seeeeeeeeegggaaaaaa", suponho que eles acharam que o novo logo teria mais atitude e energia, mas no fim apenas acabou parecendo que alguém espirrou.
Seja como for, eu particularmente gosto de como o narrador parece chocado que fazem cinco anos que um governo mundial foi estabelecido e de alguma forma isso não terminou com a guerra civil (seja ela qual for). Só faltou ele mandar um "hellooou, o governo disse que fazer guerra é contra a lei, vcs tem que parar!", o que todos sabemos que é o que pauta a dinamica de uma guerra civil.
Todas as guerras civis na história da humanidade até hoje só aconteceram porque não tinha um governo maior mandando eles pararem, isso é apenas conhecimento comum.
Eventualmente o governo central chega a conclusão que eles não estavam usando força o suficiente, então criam robos blindados para patrulhar as ruas e fazer com que a lei e a ordem sejam mantidas. O que é uma vibe totalmente maligna ter robozões "patrulhando" cidades, diga-se de passagem, eu seriamente desconfio que estamos jogando do lado dos vilões aqui.
Como desgraça pouca é bobagem, isso causou um escalonamento de armamento e agora qualquer republiqueta de bananas tem uma pá de Metal Heads para aplicar a sua definição de "justiça". O que possivelmente poderia dar errado?
Ah, e que espécie de nome é Metal Head, afinal? Parece algo que um inimigo colocaria para ridicularizar os robos (tipo "cabeça de lata"), não algo que seria o marketing oficial do fabricante.
Para surpresa de zero pessoas, criar uma nova arma melhor que as demais e sair distribuindo elas como se fosse bala acabou não dando muito certo, olha só. Chocada.
No fim, cabe a você acabar com a bagunça porque senão não tinha jogo, né? Então Go Metal Head go!
A primeira coisa que chama atenção nesse jogo é o quanto ele é, de fato, impressionante para um jogo rodando no que é um Mega Drive com acessório. Visualmente ele não deixa muito a desejar aos primeiros jogos do Playstation, renderizando cenários em 3D com texturas (isso quer dizer que os poligonos são pintados, não são "lisos" e isso é um peso a mais para os consoles da época). Não apenas isso, mas ele roda em uma velocidade bastante satisfatória.
A um olhar mais incauto, não seria nada absurdo confundir esse jogo com um jogo de PS1 ou Saturno e isso é um feito impressionante para o 32X.
Outra coisa que chama atenção é que todas as falas do jogo são dubladas. Verdade que isso é feito usando um GIF ridiculo para simular os personagens falando, mas ainda sim tem alguns bons minutos de audio em um cartucho - o que é algo sem precedentes até então.
Vendo o que o 32X é capaz de fazer com Metal Head, até que a ideia da Sega da América de que o 32X poderia segurar a primeira onda de jogos do PS1 e do Saturno... não parece tão fora de proposito assim. Se ESSE é o potencial do 32X, talvez o 32X não fosse a pior ideia do mundo.
Talvez...
Olha esse gif do cara "falando", parece que o tiozinho tá tendo um AVC |
Só que tanta impressionabilidade visual vem a um preço, e chama de volta a realidade que o 32X não tinha muito para onde ir mesmo. Isso porque enquanto o jogo é visualmente impressionante, nos termos de gameplay...
Metal Head não é horrível. O que é um grande elogio quando estamos falando de um jogo do 32X, mas as limitações tecnicas que o jogo se impõe para ter gráficos assim meio que limitam tudo o que você pode fazer no jogo.
Não tem nada em Metal Head que seja impressionante além dos gráficos, você anda em labirintos bem básicos cujos mapas parecem ter sido roubados de Pacman e vc precisa matar todos os inimigos da fase. Embora o jogo tecnicamente seja um FPS, mesmo os clones de Doom mais preguiçosos empalidecem diante da simplicidade de Metal Head. Com efeito, se alguem fizesse uma versão em primeira pessoa de Pacman seria basicamente esse jogo.
A impressão que dá é que o jogo muito cara de ter sido pensado como um arcade e que foram sendo cortadas coisas até caber no 32X. Eu totalmente consigo ver uma versão com mais elementos na tela desse jogo rodando ao lado de jogos igualmente simples de arcade como AFTER BURNER ou OUT RUN em que você joga por um ou dois minutos antes de perder sua ficha.
Claro, vc pode argumentar que o ponto do jogo é só mostrar as capacidades tecnicas do 32X e não ser um bom jogo, mas o problema é justamente esse: para conseguir mostrar gráficos assim nessa velocidade, não tem como ser mais complexo que um arcade dos anos 80 só que com gráficos 3D. É meio que o que dá pra fazer mesmo com o 32X.
Metal Head, enquanto jogo, não seria ruim para uma experiencia de arcade se fosse lançado em 1988, mas é pouco para um jogo em um console doméstico.
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