A década de 90 foi um pêndulo em pleno movimento. Após a infantilização forçada e comercialização sem o menor viés artistico da midia na década de 80 — quando até as franquias mais sangrentas foram desmembradas em desenhos animados para crianças —, os anos 90 voltaram com tudo. Esta foi a era do grimdark, onde tudo tinha que ser cru, melancólico e edgelord para ser levado a sério. O ar cultural estava carregado de sobretudos e angústia. THE CROW era um ícone messiânico. TODD MCFARLANE'S SPAWN pingava correntes e fogo do inferno. Nem mesmo o Superman estava seguro — THE DEATH AND RETURN OF SUPERMAN não foi apenas um golpe de marketing; foi uma declaração: A esperança está morta, vida longa aos edgelords.
Nos jogos, a mesma mudança estava em andamento. Mascotes como Sonic e Earthworm Jim deram lugar a jogos estrelados por solitários melancólicos, soldados devastados pela guerra e anti-heróis relutantes. Final Fantasy VII se tornou o novo padrão ouro dos RPGs com suas cidades em ruínas, floristas mortas e tons corporativos apocalípticos. Os desenvolvedores eram praticamente alérgicos a cores vibrantes e protagonistas sorridentes. Se o seu personagem principal não tivesse um passado misterioso e uma espada tão grande quanto ele, ele seria um herói de verdade?
Mesmo no Japão, essa onda sombria atingiu com força. O terceiro impacto emocional foi Neon Genesis Evangelion, uma série que quebrou as convenções dos animes e reconfigurou as expectativas de uma geração inteira sobre o que um protagonista deveria ser. Shinji Ikari não estava apenas relutante — ele estava quebrado, paralisado por traumas e desespero existencial. Aquilo não era apenas uma história — tornou-se um projeto. De repente, todo herói tinha que sofrer. Todo mecha tinha que sangrar. Toda narrativa precisava de uma quarta parede para quebrar e um Deus para matar. E, claro, a narrativa ficou mais rica em alguns aspectos — mas alegria? Alegria pura e despreocupada? Isso se tornou visto com desconfiança. Quase tabu.
É por isso que tenho GRANDIA como um jogo tão querido ao meu coração. Esse é um jogo que não tenta transformar a aventura em algo serião e trevoso, é algo que a celebra. É um jogo sobre a experiencia de ser um jovem de olhos arregalados, sonhar com terras inexploradas e ruínas antigas, e sorrir ao fazê-lo. Justin, o seu protagonista juvenil, não estava sobrecarregado por legados ou traumas — ele apenas queria explorar. E isso bastava.