terça-feira, 1 de junho de 2021

[PS1] BATTLE ARENA TOSHINDEN (Janeiro de 1995) [#696]

O sistema muda, a geração muda, mas as capas feias americanas estão lá, firmes e fortes

Hoje, meninos e menians do meu Brasil baronil, é um dia muito especial nesse blog. Um dia que eu esperei muito, na verdade, porque esse dia representa a realização de um sonho. Não de hoje, em que eu posso ter qualquer videogame que eu quiser graças a mim mesmo obrigado, mas um sonho de vinte e cinco verões atrás.

... porém a capa japonesa consegue ser igualmente merda. Começamo bem, heim...

Hoje nosso projeto inicia em um sonho de infancia que eu nunca realizei, um sonho que simbolizava tudo que eu nunca tive, um sonho de tardes e tardes de verão sozinho imaginando como seria quando eu tivesse, como eu organizaria, as coisas que eu faria. Um sonho que é simbolizado por aquele que pra mim ainda é um dos sons mais maravilhosos e especiais do mundo:


O Playstation para mim, como eu disse, era mais do que um videogame. Era um simbolo da vida que eu queria ter, de um mundo que eu apenas podia sonhar. Como eu já contei antes, minha família não era exatamente rica, tanto que meu presente de aniversário foi uma revista de 4 pila, e eu nunca tive um Playstation. O primeiro isso, é. Anos depois, quando eu já estava trabalhando e dinheiro não era mais um problema já estavamos no Playstation 2 e daí vida que segue.

Então o que eu sei do PS1 foi de jogar em locadoras (mais precisamente ver os outros jogando, não é como se eu tivesse condições de pagar 1 real a hora também), alguns momentos na casa de colegas e muito tempo cobiçando os jogos que eu vi nas revistas. Algum jogo ou outro mais famoso eu acabei jogando de uma forma ou outra, mas eu nunca realmente tirei um tempo para sentar e apreciar com calma o PS1 como eu gostaria de ter feito quando era criança.


Que é o que muda agora, porque oficialmente entramos na era do Playstation, o primeiro videogame que eu vi que tinha um sistema operacional, o que era o futuro dos videogames, o que era um sonho.

Mas... será que o PS1 é isso tudo mesmo? É o que veremos a partir de agora.


E se é pra começar, vamos começar do começo, vamos contar a história toda, a história do pequeno valente da Sony que mudou o mundo dos videojogos e ainda hoje tá aí, firme, forte e saltitante. O interessante é que espalhado ao longo do tempo a história do Playstation já foi contada, porque é o PS1 é o fruto de tudo que o mercado tinha feito até então. Tal qual o Imperador-Deus de Duna, quando você olha em retrospecto o universo caminhou inevitavelmente para aquele destino e era apenas questão de ver os sinais ao longo da estrada.

A história do Playstation começa em 1989, quando a Nintendo estava projetando o então concorrente do Mega Drive: era hora de criar o sucessor do Nintendinho, o que viria a ser o lendário Super Nintendo. Ora, acontece que o som do Mega Drive é notoriamente ruim e essa é uma oportunidade que eles não podiam deixar passar.


Para não correr riscos de pisar no tomate como a Sega tinha feito e fazer seu console soar como suas retroescavadeiras possuídas por espiritos viajantes do tempo tentando acasalar, a Nintendo foi até a maior empresa de hardware de som do Japão na época, a Sony. O resultado foi maravilhoso e o som do Super Nintendo soa como anjos bebendo água colhida no alto do himalaia por uma virgem tocando harpa.

Isso resultou numa boa parceria entre a Sony e a Nintendo, e quando alguns anos depois a Sega ameaçou ter uma vantagem com um drive de CD para o Mega Drive a Nintendo imediatamente pensou "bitch, please, eu sou bestie dos caras que literalmente inventaram o CD, xá eu passar um zapzap pra minha buddy Sony que cês vão ver o que é bom pra tosse". Nascia assim o projeto do Nintendo Play Station, uma parceria entre a Sony e a Big N para fazer um console que rodasse CDs e cartuchos de SNES.


AH, OKAY, ESSE É O PLAYSTATION. FOI UMA HISTÓRIA CURTA, ATÉ.

Não, esse é o Play Station e esse espaço entre as palavras é um oceano de diferença. Isso porque para entender o que aconteceu é necessário entender o modelo de negócios da Nintendo: a grande coisa da Nintendo, onde ela realmente fazia dinheiro, é que a Nintendo mordia as softhouses que produziam jogos para os consoles dela e mordia forte.

Primeiro, você tinha que pagar uma taxa de licenciamento de propriedade intelectual para fazer jogos para consoles dela. Segundo, a Nintendo pessoalmente produzia todos os cartuchos e você tinha que comprar os lotes de cartuchos dela, com os preços e quantidades minimas que ela determinasse. Terceiro, ela pessoalmente revisava os jogos e censurava o que ela não considerasse adequado a sua imagem family friendly. E tudo saia do seu bolso, então se o jogo flopasse... te fode aí, a Nintendo não perde nada com isso.

Em 2000, um cartucho de Nintendo 64 custava aproximadamente 100 dolares. Desses, 30 ficavam com a Nintendo (mais do que a publisher do jogo tirava por unidade).

Então de cada jogo vendido para o SNES, pelo menos 1/3 do valor de prateleira dele ia pro bolso da Nintendo sem ela correr risco nenhum. Não é preciso ser um gênio para imaginar que a Nintendo amava esse modelo e as softhouses odiavam... mas ela iam fazer o que? Fazer jogos exclusivamente para a Sega? Para o Neo Geo? Para o Turbografx? Claro que não. Elas só podiam trincar os dentes e dizer "um dia, Nintendo, um dia..." enquanto pagavam sem reclamar.

E quando a Nintendo foi colocar isso na ponta do lápis, viu que essa coisa de CD ia diretamente contra os seus interesses porque a tecnologia do CD pertence a Sony e a Nintendo não estava feliz com uma midia que ela não lucrava 1/3 de cada jogo sem risco algum. Aí então cabe a pergunta: olha, essa coisa de abrir mao dessa mina de ouro pra embarcar nessa coisa de CD e rachar sua vaca leiteira com a Sony... isso era realmente necessário?

em comparação, no mesmo ano um CD de Playstation custava aproximadamente 60 dolares. A Sony ficava apenas com cerca de 9 e tão importante quanto, não enchia o saco das publishers com restrições exceto uma: ela não queria jogos de plataforma 2D no PS1 porque era muito importante que o publico tivesse a percepção de que o Playstation não era "a mesma coisa que eles já tinham no Super Nintendo"

As pataquadas que a Sega estava fazendo com o Sega CD provavam que não. A Nintendo olhou as bostas de jogos que estavam saindo para o Sega CD e percebeu que o bom e velho SNES com cartuchos matava aquilo no peito com folga, não ia precisar mais dessa coisa de CD não, obrigado. Ela até deu o pé na bunda da Sony e flertou em uma parceria (muito mais barata) com a Philips por um tempo (e é por isso que tem Mario e Zelda no CD-I), mas em última instancia eles acabaram preferindo ficar com as coisas do jeito que estavam mesmo, obrigado. O que era uma decisão que fazia muito sentido comercialmente, porque eles não fariam, afinal?

Só que enquanto a decisão da Nintendo foi acertada de um ponto de vista comercial (de fato, eles não precisaram de CDs para vencer a Sega, Atari e a 3DO Company nem nessa, nem na próxima geração)... ela tinha um pequeno problema que eles falharam em identificar.

Ora, você não simplesmente chama uma das maiores empresas de hardware do mundo, lhe mostra um mercado maior que o cinema e a música JUNTOS e onde a competição era basicamente amadora... e então lhe diz "nah, pensando bem não vou mais precisar não, valeu ae".

Essa imagem não tem nada haver com a história, mas eu gosto dela hehe

Seria tipo mostrar para uma megacorporação mundial que existe todo um mercado gigantesco gerido basicamente por amadores, e então mandar um "ah, deixa pra lá, esquece o que vc viu". Não é assim que a banda toca, meu amigo.

Aquele ponto da história, no começo dos anos 90, a Sony tinha inventado o CD, o Discman e o Walkman, além de ter uma das maiores gravadoras do mundo. A Sony tinha contratos com gente de peso como Michael Jackson, Madonna, U2 e por aí vai. Imagine usar todo expertize em lidar com peixes gigantescos para lidar com empresas de fundo de quintal em comparação.

Então a Sony tinha o knowhow comercial, tinha mais dinheiro do que sabia o que fazer com ele, tinha noção do tamanho do mercado e pessoalmente o presidente da Sony do Japão estava puto da cara com a Nintendo por ter tomado um pé na bunda da Nintendo. Ora, ninguém dá um pé na bunda da Sony, o que eles estavam achando?

Vocês backstabearam o Yakuza errado, Nintendinhos

Por isso quando seus engenheiros apresentaram um plano de negócios para entrar no mundo dos videogames e avisaram que eles teriam que gastar muito dinheiro para ganhar dinheiro, o presidente da Sony, Ken Kutaragi, apenas disse: "Do it".

Nascia assim a ideia de transformar o Play Station em um console seu, porém como o nome já estava registrado pela Nintendo então eles tiveram que chamar seu console de Playstation.

Mas... como se faz um videogame quando você não sabe nada sobre isso, exatamente?

A melhor parte é que esse comercial realmente foi gravado do lado de fora da sede da Nintendo da América... e hoje o remaster de Crash foi lançado para o Switch. O tempo definitivamente é inclemente. 

Bem, uma ideia bem simples - porém indiscutivelmente eficiente - era ver o que todos os concorrentes estavam fazendo e então copiar o que desse certo e fazer o contrário do que desse errado. Parece uma ideia idiotamente obvia,  mas você ficaria surpreso ao se dar conta em quantas empresas falharam em fazer apenas e tão somente isso.

E esse é o ponto onde eu digo que o Playstation é o resultado de para onde caminhou toda industria dos videogames, todos os erros e acertos dos videogames até então convergiram para esse console, copiando o que deu certo e fazendo o contrário do que deu errado.

Por exemplo, com o 3DO a Sony aprendeu que os gamers estavam cagando sonoramente para "multimidia", eles queriam era jogos. Não multimidia, não leitura de jpeg mpeg comprimido e sei lá mais o que que as revistas anunciavam como se fosse uma grande coisa. Jogos e fucking jogos. Outra coisa que a Sony aprendeu com o 3DO é que o console teria que ser barato e eles recuperariam a grana com a licença dos jogos vendidos, se o preço de entrada for muito alto (que é o que acontece quando a fabricante quer vender o console sem tomar prejuízo) ninguém vai comprar.

A propaganda do primeiro controle de PS1 com dual shock foi realmente... smoth

Por isso, em um atitude ousada e inédita, a Sony decidiu que pularia em cima da granada e venderia o Playstation com prejuízo. Para cada PS1 vendido, a Sony morreria em aproximadamente 100 dolares pq ele estava vendendo abaixo do preço de custo e pelos calculos deles cada jogador teria que comprar pelo menos 10 jogos para essa conta pelo menos empatar. Uma projeção ousada, e compreensível porque ninguém nunca tentou isso antes. Mas era o que era necessário ser feito.

Com a Sega, a Sony aprendeu talvez a lição mais valiosa de todas: 3D era o futuro, e seria o grande diferencial que os evitaria de bater de frente com a Nintendo numa coisa que a Nintendo era mestra e eles não sabiam merda nenhuma: jogos 2D. Trazendo a luta para o 3D todo mundo tinha que começar do zero, e aí eles estavam em pé de igualdade com a Nintendo. É por isso que VIRTUA FIGHTER é um jogo tão importante, mesmo que mesmo a Sega não tenha percebido o que eles realmente tinham em mãos quando fizeram esse jogo. 3D era o futuro e a Sega não viu, mas a Sony sim.


Alias não ver o futuro era meio que a especialidade da Sega, porque o uso da capacidade do CD foi outra coisa que a casa do Sonic saiu na frente... e não explorou. Eu sei que dizendo assim parece óbvio, mas se vc tem 650MB de espaço em disco talvez existam usos mais interessantes para ele do que lançar o mesmo jogo de 5MB que você lançou em cartucho e só colocar um filminho animado na abertura. Só que a Sega não viu esse obvio, a Sony sim.

E é isso que eu quero dizer quando eu digo que eu já contei a história do Playstation espalhada nesse blog. Quantas e quantas vezes eu naõ disse que a Sega tava desperdiçando o potencial do CD da forma que eu descrevi acima? Que o 3DO tinha um modelo de negócio insustentável onde ninguém era "dono" do console e logo ninguém bancava o custo da produção? Que lançar um sistema sem jogos era uma canoa furada, ninguém compra um videogame por causa da "multimidia" ou sei lá o que? Que o 3D era o futuro porque pensava videogames de uma forma inteiramente nova e praticamente infinita, e muita gente achou que "era a mesma coisa só que com gráficos diferentes"?

Eu contei essas histórias varias e varias vezes aqui ao longo dos meus anos de blog, e de certa forma o Playstation é o compilado de todas elas. A Sony admitiu que não entendia disso e estudou, aprendendo com o que dava certo e evitando o que dava errado (pelo amor de deus, não lance a merda do seu console sem jogos, envie as porcarias dos kits de desenvolvimento para as empresas poderem fazer jogos meses ANTES). 

Assim... why?

Olhando em retrospecto é muito fácil falar que era "só" fazer isso, mas na época... porra, era pra ter sido também. Os caras eram muito amadores e não faziam a mais remota ideia do que estavam fazendo, tinha cada ideia que puta que o pariu. E dessa coleção de ideias boas e ruins nasceu o Playstation.

Porém o PS1 nascer era uma coisa, ele se tornar o maior videogame de todos os tempos até então foi outra completamente diferente. Porque enquanto é compreensível vencer empresas amadoras que empilham erros atrás de erros como a Sega e a 3DO Company (nem vou falar do Jaguar que dá até pena desses animais), para vencer a Nintendo em seu próprio jogo a Sony teria que correr pelo seu dinheiro.

E correr ela correu.

Quando você conhece então o Symphony of the Night do PS1 e o Castlevania 64 do N64... hã, vamos dizer que essa matéria não envelheceu bem...

A Sony sabia que apenas uma coisa, e uma coisa apenas, faria ela vencer a Nintendo: o que realmente importava. Jogos. Jogos e mais jogos. Só que tem um problema: a Nintendo tinha (e ainda tem até hoje) um gênio no game design (Shigeru Miyamoto) e anos e anos de experiencia nesse negócio. O que a Sony tinha para enfrentar isso?

Bem, basicamente... dinheiro. 

Lembra de quando eu falei no começo da relação da Nintendo com as desenvolvedoras? Elas estavam de saco cheio da Nintendo, do seu "controle de qualidade", de cobrar três vezes pra lançar um jogo no console dela. Não apenas a Sony podia se dar ao luxo de não cobrar tudo isso, fazendo sua relação com as softwarehouses bem mais tranquila, como ela tinha os bolsos fundos os suficientes para bancar contratos de exclusividade ou mesmo a produção do jogo.

Eu ainda vou falar de Silent Hill aqui, mas eu to postando agora pq esse é um meme muito bom

Por exemplo, o primeiro videogame a custar mais de cem milhões de dolares em sua produção foi Final Fantasy 7. Cem milha de pacotes em cima da mesa, a seco. Como que a Squaresoft tinha esse dinheiro todo? Muito simples, não tinha: a Sony bancou parte do desenvolvimento de FF VII em troca do jogo ser um exclusivo do PS1. O que funcionou lindamente, porque perder Final Fantasy e os RPGs da Squaresoft foi um golpe muito duro para a Nintendo.

O mesmo vale para a Capcom, o Nintendo 64 não teve um Megaman X e só foi ver um Resident Evil muitos anos depois. Ou para a Konami, onde Metal Gear Solid nunca saiu para o N64 e não ter jogo do Kojima devia ser motivo para rescisão por justa causa. Mesma coisa para o Tomb Raider da Eidos, Driver da Reflections... você entendeu a ideia.

Eu não vou entrar muito no mérito do Saturn agora pq em breve terá um post contando a história do concorrente da Sega nessa disputa e... oh boy...

Porém dinheiro não era a única vantagem, midia foi outro fator decisivo. Porque embora o Nintendo 64 fosse de fato mais poderoso que o Playstation, a vantagem do CD sobre o cartucho era muito gritante. Não apenas pelo espaço em disco, que por si só já ganharia a parada, mas porque CDs são muito mais baratos de fazer do que cartuchos.

Então Final Fantasy 7 precisa ser um jogo em 3 CDs? Final Fantasy 8 leva 4 CDs? Riven é um jogo em 5 discos? Tranquilo, só corta mais uma lasquinha de plástico e tá tudo certo, não é taaaaao grande coisa assim.

Agora fazer um jogo em dois cartuchos? Três? Nossa, isso ia sair caro, beeeeeeem caro. Então enquanto um jogo de Nintendo 64 era limitado a ter aproximadamente 25MB, um jogo de Playstation podia ter 650MB, 1.3 GB ou 1.8GB sem isso ser o fim do mundo. Isso era uma vantagem muito grande que compensava o hardware inferior do PS1 ao N64 mas com muita folga para o console da Sony.

Ter um controle que podia ser usado por seres humanos era outra vantagem do PS1

Então a Sony tinha um modelo de negócios, tinha o hardware, tinha as softwarehouses alinhavadas... só faltava uma coisa nessa equação que não podia ser desconsiderada e que geralmente era: o publico. Nenhum videogame do mundo teria sucesso se não ganhasse os corações e mentes do seu publico primeiro. Mesmo o melhor jogo do mundo não adianta de merda nenhuma se ninguém jogar ele e espalhar que ele é o melhor jogo do mundo. 

A Sony precisava de um plano para resolver isso também, especialmente em uma area onde eles não tinham absolutamente nome nenhum (nem desenvolvedora de jogos eles eram, embora a Sony tenha feito alguns jogos como HOOK e SKYBLAZER, não é nada que alguém escreveria para casa a respeito). 

Eles tinham um colossal plano para resolver isso? Até tinha algumas ideias, mas a verdade é que a Sony deu mesmo uma puta sorte nesse ano. Pois é, a sorte foi uma grande parte do fator que fez o PS1 dar certo, porque quando é pra ser, é pra ser.

O estande da Sony na E3 de 1995 era clean, prático e moderno


.. o da Nintendo, nem tanto. Parecia um fliperama, e não no bom sentido

Acontece que até então a grande "feira" dos videogames era a CES - a Consumer Eletro Show, que acontecia duas vezes por ano mas não era uma feira de videogames e sim de eletronicos e tecnologia. Ora, videogames sozinhos faziam mais dinheiro que todos os outros ramos anunciados na feira juntos, era absurdo (e muito ruim para fazer negócios) que os videogames tivessem que dividir tempo e palco com outras coisas.

Havia desde o começo dos anos 90 um movimento de fazer uma feira só para videogames: reunir os grandes anuncios num lugar só para a imprensa e para fazer negócios, todo mundo no mesmo lugar ao mesmo tempo. Hoje, com a internet, isso é até irrelevante, mas nos anos 90 era uma necessidade prática.

Nascia assim a Eletronic Entertainment Expo, mais popularmente conhecida como E3. E calhou desse acordo se dar exatamente em 1995, justamente o ano que a Sony iria anunciar o PS1 no ocidente. E isso foi uma vantagem colossal pq de todas as empresas nesse ramo a Sony era a única com experiencia em eventos desse porte - na verdade era uma coisa até meio constrangedora porque as outras empresas não entendia de produção de eventos, a Sega e a Nintendo mandavam um programador de jogos pro palco , com toda sua skill social de nerd de porão pra falar enquanto a Sony preparava uma apresentação.


Por exemplo, KILLER INSTINCT é um puta jogo e você não precisa fazer muitas piruetas pra hypar ele, é só mostrar o jogo. Porém na primeira E3, a Nintendo sentiu que precisava, hã... colocar as dançarinas do Faustão.. com nunchakus, por algum motivo... para vender o port de KI para o Nintendo 64 que tava todo mundo esperando. Why, god, why?

Porém se eu tivesse que apontar um e apenas um momento em que a Sony definitivamente ganhou o publico ocidental com sua apresentação, foi a revelação do preço do PS1 na E3 de 1995. Veja, naquela época o 3DO já estava custando por volta de 450 dolares, e na E3 a Sega tinha acabado de subir ao palco para anunciar que o Saturn sairia no ocidente por 399 doletas. O que era mais barato que o 3DO, então uma vitória para a Sega... exceto que logo em seguida a Sony subiria ao palco e se esperava que ela também anunciasse o preço do Playstation também - esperava-se igualmente alguma coisa em torno de 400 dolares. 

E então foi a apresentação da Sony:

Bam. Mic drop.

299 dolares, cem dolares mais barato que qualquer coisa da concorrencia. Com apenas um número a Sega soube imediatamente que estava fora do páreo, literalmente Tom Kalinske (o presidente da Sega da América) estava assistindo na plateia, virou para seus colegas e apenas disse "oh, shit". 

Enquanto isso, a Nintendo não teve outra reação senão:


Com esse preço, a Sony tinha conquistado o interesse do publico, já tinha o das desenvolvedoras, tinha o hardware, a midia certa (CDs) e tinha recursos para bancar essa brincadeira toda. O que poderia dar errado então? Bem, nada. O Playstation rapidamente se tornou o sonho de consumo de meninos e meninas no mundo inteiro, sendo que quem cresceu com o Nintendinho a esse ponto já era adolescente, e meteoricamente se tornou o primeiro videogame a vender 100 milhões de unidade, se tornando então o console mais vendido de todos os tempso - sendo desbancado apenas pelo Playstation 2, mas essa é uma outra história.


E nesse sentido, Battle Arena Toshiden é um excelente exemplo do que o PS1 era capaz de fazer: um jogo de luta lançado junto com o PS1 no Japão, mas já era um jogo completamente funcional e um excelente exemplo das vantagens do Playstation. 

Seria muito fácil, e de certa forma até esperado, que o jogo fosse apenas uma cópia de VIRTUA FIGHTER só que para o Playstation. O que de certa forma é, é um jogo de luta 3D que usa a física de um jogo 3D para luta, mas isso não é tudo que ele é. Isso porque Toshinden também incorpora os golpes e comandos de um jogo de luta 2D com um jogo de luta 3D, algo que nunca tinha sido feito até então e não foi muito feito depois.

O resultado é interessante, porque você tem os hadoukens e golpes de meia lua, mas também pode dar um sidestep e girar em 3D no cenário. Normalmente isso seria uma receita para o desastre, mas... funciona. Realmente funciona, é um bom jogo de luta que flui bem e a proposta de misturar os comandos de um jogo de luta 2D com algo como VIRTUA FIGHTER é interessante.

Adicionalmente, nunca antes um jogo de luta em um console doméstico apresentou polígonos texturizados tão detalhados e animações suaves. Embora não seja exatamente bonito para os padrões atuais, na época era. E mais importante, a jogabilidade de Toshinden envelheceu melhor do que eu poderia esperar.

Outra coisa legal é que as lutas acontecem em plataformas elevadas, criando a possibilidade de "ring-outs", derrubar o adversário pra fora do ringue sempre é mais legal do que vencer a luta normalmente.


Embora não seja tão profundo quanto os jogos de luta 3D que vieram depois, como Tekken ou Soul Calibur, e definitivamente não tem a profundidade do próprio Virtua Fighter que se foca bem mais em ser uma arte marcial em 3D, Toshinden se mantem interessante pela combinação de mecanicas e isso faz dele um jogo respeitável especialmente se considerarmos que saiu junto com o console praticamente. Para um jogo da primeira leva do PS1, é um título realmente sólido.

Embora Toshinden tenha algumas peculiaridades e imperfeições visuais óbvias como um dos primeiros jogos de luta 3D (especialmente quando comparado com alguns dos jogos de luta 2D ultracuriculares disponíveis na época), se você desse uma chance ao jogo ... foi realmente muito divertido .

Não é um jogo japonês se não tiver uma bitch de anime que faz "oh ho ho ho ho" de forma desdenhosa isso é ´fato

A série Toshinden teve um começo humilde, mas logo se tornaria conhecida entre os fãs de jogos de luta por seu elenco único de lutadores empunhando armas espalhafatosas, estilo de arte anime-ish único e mecânica de jogos interessantes. Mas para um começo, é rápido e divertido, está bom.

E, bem, essa é a história do começo do Playstation. Nas revistas brasileiras ainda vai demorar para emplacar, já que esse jogo foi da cobertura do lançamento japonês do console. Ainda vai demorar até o meio do ano para o console ser lançado no ocidente, e mais até o fim do ano para realmente emplacar no Brasil (e por consequencia nas revistas) como o console da galera.

Mas quer saber, apenas entre nós? 


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