domingo, 2 de setembro de 2018

[AÇÃO GAMES 012] TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES 3: The Manhattan Project (NES, 1992) [#155]



É dificil explicar para as crianças de hoje o que foi o fenomeno Tartarugas Ninja. Posso evocar uma comparação, talvez que Tartarugas Ninja é para o começo dos anos 90 o que Cavaleiros do Zodíaco foi depois de 94, ou o que os filmes da Marvel são hoje. Toda criança que eu conheci, eu incluído, adorava essa porcaria e teria todo e qualquer produto licenciado dessa coisa dada a oportunidade.

Sério, as Tartarugas Ninja tinham até um dirigivel e eu não posso sequer começar a formular todas as perguntas que evoca o fato de tartarugas mutantes ninjas terem um dirigivel customizado para cruzar os céus de Nova York.


 E você aí reclamando que todos os Transformers do filme serem carro da Chevrolet é muito merchan, heim?

De qualquer forma, a Turtlemania (como diria a Ação Games) teve seu auge com dois filmes ridiculamente ridiculos - exatamente como o conceito da coisa propoe. Quão ridiculos, você pergunta? Bem, vamos apenas dizer que as Tartarugas Ninja cantam com o Vanilla Ice, não tem como ficar mais ridiculo que isso. Ah, como eu adorava esses filmes patetas, viu...

O outro grande exponencial da Turtlemania foi o Arcade lançado em 1989. Era fisicamente impossível encontrar um fliperama sem ouvir o "tchuuuuuuuurrrrrrruuuuuuiiiiimmmmmmm TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES, HEROES IN A HALF-SHELL!!"

Bem, claro, eu totalmente poderia ter só colocado o vídeo da abertura, mas agora você vai ter que imaginar cantando essa música porque é assim que eu rolo. Mas eu dizia que era legalmente impossivel você abrir um fliperama sem ter um arcade das Tartarugas Ninja. Nem mesmo Street Fighter 2 era tão onipresente quanto essa coisa!

Então agora imagine a seguinte situação: você tem 7 anos de idade. É sexta-feira de tarde, hora de alugar a fita para o fim de semana - um momento solene e que requeria profunda sabedoria por parte de todos nós. Um momento de iluminação ou loucura o separaria de passar o fim de semana jogando Mega Man 3 ou Back to the Future 3.

E então você a vê. Seu coração bate descompassado, suas mãos tremem. Você olha para os lados nervosamente, temendo que algum filho de uma ronca e fuça brotará das trevas e a tomará de suas mãos antes de você. Quem acha que ter crush é grande coisa é porque nunca viu a fita das tartarugas ninja dando sopa na prateleira.

Parece bom demais para ser verdade. Aquele arcade com o qual você podia apenas jogar poucos instantes antes da sua ficha ir pro vinagre agora era seu por um fim de semana inteiro. A única vez que você vai experimentar uma sensação semelhante novamente seria... bem, considerando que você está lendo isso vou assumir que você é virgem, então nunca seria a resposta.

De qualquer jeito,você chega em casa, toma o banho matado mais longo da sua vida e então coloca essa belezinha no seu famiclone favorito apenas para se deparar com isso:


Que espécie de Deus cruel faz uma coisa dessas com uma criança? Ah, o amargo som da decepção que vinha com irritante "beep beep" da energia baixa.

Eu lembro que eu nunca entendi direito como esse jogo funcionava, mas continuava alugando porque era Tartarugas Ninja, afinal.  O que mais eu poderia fazer?

Para adicionar injuria a ofensa, muitos anos mais tarde eu descobri que o jogo que eu queria existiu: Tartarugas Ninja 2 era a adaptação do fliperama, não essa bosta modorrenta de cachorro com sarna acima, porém por algum motivo que eu não entendo nunca houve uma cópia desse jogo na minha cidade.

Fazendo jus ao verdadeiro espirito ninja, Leonardo é quase invisivel aqui. E também porque esse é um dos jogos de NES que mais sofrem de flickering que eu já vi na minha vida, se tiver dois personagens na mesma linha o NES desbarata como se você tivesse pedido para ele rever os relatórios as 17:46 de sexta-feira

Muitos anos depois, já na época do Super Nintendo em que eu tinha que catar migalhas de NES porque era tudo que eu tinha como um moleirão, eu me deparei com um jogo discretamente chamado "Tartarugas Ninja 3", Eu virei a caixa, desconfiado, e fiquei levemente surpreso ao ver algo que lembrava aquele jogo arcade que eu queria ter jogado quando criança. Ainda cético, aluguei. Quando cheguei em casa deslizei o cartucho para dentro, pressionei-o e apertei o botão liga/desliga do meu fiel Bit System e fui então apresentado ao jogo que gostaria de ter três anos antes.

Este é o Teenage Mutant Ninja Turtles III: O Projeto Manhattan, um jogo que foi completamente ofuscado pelo seu sucessor do Super NES, Turtles in Time. Com razão, o Turtles in Time faz tudo o que o Manhattan Project faz com gráficos e músicas melhores, mas isso não significa que o Manhattan Project não seja um bom jogo por si só.

Claro, isso sendo considerado que de todos os generos de videojogos, os beat'm up são os que pior envelheceram. Sair andando pela cidade e socando cada criatura viva no seu caminho hoje é bem mais uma tarefa do que uma diversão, e os beat'm ups que existem hoje tem que dar saltos laterais enormes para continuarem divertidos e não apenas massantes. Na verdade, em uma tentativa de adaptar os beat'm ups para os novos tempos foi que nasceu um genero novo: o hack'n slash. Então se hoje temos isso...


...

... agradeça a isso:


A tecnologia não é impressionante? De qualquer modo, nossa história começa em uma bela tarde de verão quando nossos quelonios amigos estão de férias na Florida...



Ah, qual é, April! Não pode ser tão ruim assim!

Meu Deus, roubaram a reporter! Puta merda, que lugar boca braba!

Uau, o Destruidor falando como um legitimo mano californiano. Acho que ele jamais se recuperou daquele encontro com o Vanila Ice...

Puta merda, estão roubando Manhattan! E eu achando que o Brasil que era bocada!

Sim, Destruídor, acho importante você sequestrar a Megan Fox pq se tivesse sequestrado apenas Manhattan inteira não seria motivação suficiente para uma aventura. Gosto de como ele mantém isso a um nível pessoal em uma era de impessoalidade online.

Oh, eu esperava algum desafio mas parece que é só ir lá e busca-la. Ok, isso vai ser mais fácil do que eu esperava...

Assim, nossos heróis decidem partir em sua jornada para resgatar a reporter mais mal vestida da história da televisão e se possível colocar a casa do Ted Mosby de volta no lugar

Eu me pergunto se todas as fases parecerão nomes de filmes pornô...
O jogador avança através de vários estágios de rua antes de finalmente acabar nos esgotos e, posteriormente, o Technódromo com o único objetivo de espancar bandidos. Como o TMNT II, a maioria dos inimigos são soldados do Clã do Pé, vindos de todos os tipos de cores e variedades. Inimigos mais difíceis aparecem às vezes (robôs e rock soldiers), mas os verdadeiros desafios são os chefes e sub-chefes espalhados. Rostos conhecidos como Bebop e Rocksteady, Tokka e Rahzar e Slash juntam-se a alguns adversários menos conhecidos como Dirtbag e Groundchuck. É bom ver alguns mal-intencionados reconhecíveis depois de todos os desconhecidos usados em TMNT II.


 Oh, Groundchuck, seu sapecote!

... e aqui Grounchuck em toda sua glória de 8bits, mais sapecote do que nunca!

 A galeria de  inimigos não é a única coisa que foi aprimorada do jogo anterior para esse: cada tartaruga tem um movimento especial individual que gasta vida e é ideal em diferentes situações e com isso mais esforço foi feito para individualizar cada tartaruga. Leonardo é o mais bem balanceado, com alcance e velocidade decentes. Raphael tem a velocidade de ataque mais rápida, mas o menor alcance, fazendo dele o mais difícil de usar. Michaelangelo é um pouco melhor, mas tem o pior ataque especial. Donatello tem o maior alcance, mas é o mais lento. Sempre que você morrer, você pode trocar de personagem, um toque legal. Se você lembra alguma coisa TMNT II, você tem que admitir essas adições ajudam a aliviar essa dor.


Nas primeiras fases o jogo tem vários cenários interagiveis e inimigos surgindo de locais inesperados, coisa que vai desaparecendo conforme o jogo avança. Você meio que pode sentir onde o tempo de produção do jogo começou a acabar...

Os gráficos são um passo notável acima TMNT II, com animação muito melhor e mais detalhes nos cenários. Embora esses elementos sejam melhores, alguns dos níveis parecem reminiscentes de jogos passados; a rodovia, os esgotos e o Technodrome, em particular, parecem a mesma fase do jogo anterior, apesar de um design novo. A impressão que dá é que a produção do jogo foi apressada, afinal esse jogo saiu no mesmo ano do tão esperado lançamento do jogo das Tartarugas Ninja e a Konami não seria idiota de lançar um jogo para competisse contra outro jogo seu no bolso do seu publico.... né, Sega?

Ninjas robos aquáticos coregrafados, minha única fraqueza...


As mudanças de TMNT II para esse terceiro instalamento são positivas, mas não o suficiente para justificar um jogo novo. Me lembra bastante Golden Axe 2, que é basicamente o mesmo jogo com novas fases (e nesse caso, algumas fases nem são tão novas).

Ah, e claro, a  música é excelente. Em 1992 a Konami já sabia fazer o NES tocar como um macaco treinado a esse ponto.

A cara de "dá pra acreditar nessa merda?" do Rafael fala diretamente com a minha alma
A verdade é que em 1992 todos gamemaniacos já estavam com a cabeça no Super Nintendo, mas se você desconsiderar esse fato dá pra ver que Teenage Mutant Ninja Turtles III: The Manhattan Project é beat 'em up sólido de uma época em que o género estava no seu auge. É uma diversão descerebrada, mas bem equilibrada, para jogar de dois no estilo old school e captura perfeitamente o que qualquer garoto poderia ter desejado em um jogo dos Turteles. Só tem uma coisa que eu não entendi mesmo depois de todos estes anos: por que há um Triceraton na capa se eles não estão no jogo?







MATÉRIA NA EDIÇÃO 014