domingo, 25 de novembro de 2018

[AÇÃO GAMES 013] STAR TREK: 25th Anniversary (NES, 1991) [#170]



Essa ultima sexta agora comemoramos o 56º aniversário de uma das maiores e mais duradouras séries de televisão de ficção científica de todos os tempos ... mas não há nenhuma maneira sangrenta (viram o que eu fiz aqui? Hã? Hã?) de eu achar um jogo Doctor Who da Ação Games, então vou me contentar com um jogo para celebrar uma outra franquia de ficção cientifica: Trek 25th Anniversary. no NES.

Mas antes de começarmos, aquela boa e velha conferida na abertura do jogo...




O jogo começa como um típico episódio de Star Trek, com a tripulação já a caminho de realizar outra missão. Exceto que não há diario do capitão para me dizer o que eles estão fazendo. Eu supus que o cara na caixa de mensagens lá em cima deveria ser algum tipo de alienígena que desloca toda a sua mandíbula para falar; os desenhistas aproveitando a chance de mostrar coisas que nunca poderiam ter criado em um programa de TV dos anos 60. Mas sabe ... Estou começando a achar que é só o tenente Sulu.


A primeira coisa que vou fazer quando essa intro terminar é chamar o Dr. McCoy para dar uma olhada nisso.


Kirk pegou isso também! Mas hey, você está apenas perguntando a alguém sentado a poucos metros de distância para acalmar o acelerador, você não precisa surtar como se fosse uma crise enorme!


De repente, o goblin fazendo o papel de Spock interrompe as leituras excessivamente dramáticas para informar a Kirk que fato há uma enorme crise! Estamos encontrando uma área de turbulência muito instável! Sensores indicam flutuações incomuns em campos magnéticos e de gravidade. Tecnicamente falando, o que estamos enfrentando aqui é ...


É, pode ser isso também. Há um grande buraco no espaço e está puxando a nave para dentro dele, como os buracos espaciais costumam fazer. Há apenas uma coisa que você pode fazer nessas situações (além de torcer seu rosto em uma expressão grotesca de puro horror) e isso seria travar os motores em marcha a ré e meter o pé no acelerador.Não que a Enterprise seja dirigida com os pés... eu acho...


Bem, acontece que travar os motores a todo vapor contra uma força poderosa é o suficiente para começar a destruir a nave, então Scotty sugere desligar os motores antes que eles derretam. Scotty normalmente fica na sala de máqunas, você sabe, mas a memória do Nintendinho urraria em ter que desenhar um novo cenário, então vamos com isso. Mas voltando ao Scotty, vamos cara, você está anunciando a possível iminente destruição da nave e as mortes de todos a bordo, coloque um pouco mais de emoção nisso! Sulu mostrou mais terror em seu rosto quando anunciou que havíamos entrado no sistema estelar.

A reação de Kirk ao conselho de Scotty é o bom e velho "Apenas nos dê mais alguns segundos, Sr. Scott", mas não adianta. A nave é puxada para dentro do buraco de minhoca e cuspida fora do espaço conhecido, a milhares de anos-luz de casa.

O que significa, é claro, que é hora do tema de abertura.


 Uau, tenho que dizer que essa é uma das melhores aberturas de toda biblioteca no Nintendinho. Não apenas o jogo faz tudo que é fisicamente possível para recriar a abertura da série (que, por acaso, é uma das melhores aberturas de todos os tempos também), inclusive fazendo um excelente uso do chip de som do NES para emular a música tema, como a estrutura da abertura é EXATAMENTE como a dos episódios de Star Trek.

Normalmente o episódio começa com a tripulação cuidando da sua vida, então alguma coisa esquisita/perigosa acontece e antes que os personagens possam reagir começa a intro. 10/10 pelo esforço, de verdade. Mas se você acha que a abertura acabou e é agora que você começa a jogar... ainda não.

Diário do Capitão, Data Estelar 2831.3. Enquanto investigava os estranhos distúrbios gravitacionais no sistema Sigma Iotia, também conhecido como o sistema Gangster Planet (não pergunte), minha nave foi inesperadamente capturada por um estranho distúrbio gravitacional e arrastado para um portão dimensional. Milagrosamente, a nave sobreviveu à viagem intacta, exceto pelos motores que eu meio que quebrei, colocando-os sob imenso estresse e me recusando a deixar meu Engenheiro-Chefe desligá-los, mesmo quando a nave estava literalmente se despedaçando. Felizmente, não é nada que não consigamos consertar, por isso não é um desastre total, embora precisemos encontrar novos cristais de dilítio em duas horas, senão caíremos de órbita e explodiremos. 



Cara, o Kirk não parece confortável neste elevador, talvez o Spock esteja próximo demais, mas a verdade é que Spock tem boas notícias! Contra todas as probabilidades, ele localizou um depósito de cristais de dilítio ultra raros sob uma estrutura estilo pirâmide asteca no planeta abaixo. Espero que não venhamos nos deparar com alienígenas aztecas vingativos, porque totalmente não temos tempo para essa porcaria agora, com a nave caindo do céu e tudo mais.


Esse é um chefe de transporte suspeitamente relaxado. Ele está preso em um espaço desconhecido em uma nave quebrada que está sem combustível e caindo de órbita, e em cima disso ele de repente se torna o único responsável pelas vidas dos três membros principais da tripulação ... e ainda assim ele não dá a mínima. Esse safado fumou todo suprimento de erva da nave, né?


Maldição, Thanos! Ah, não, espera, é só o efeito do teletransporte... ok então. E parabens, maconheiro do teletransporte, você nos colocou no planeta. Eu acho que era demais esperar que você nos colocaria dentro daquele edifício asteca que viemos aqui para procurar. Embora eu suponha que uma caminhada ao ar livre faria bem, supondo que essa atmosfera alienígena não esteja saturada com algum antigo tecno-vírus alienígena que converte carne humanóide em metal frio e sem alma, ou algo assim. Ah, merda, já pegou os rostos de Spock e McCoy! Ah não, espera, é só a qualidade padrão de atuação de Star Trek, está tudo certo então...

 Spock saca seu tricorder e nos dá algumas informações sobre o que estamos lidando aqui: há uma grande estrutura de cerca de 157,03 metros ao norte e um assentamento humano ao sul. Eu acho que isso prova que Spock faz seu truque de números exageradamente preciso apenas para irritar McCoy, já que ele parece não achar que vale a pena saber até onde a vila está. Estou tendo uma forte sensação de que é onde eu deveria ir primeiro... e AGORA o jogo começa e você pode controlar seus personagens! 

Vocês podem parar de fazer isso? Sério, caras, vocês estão me envergonhando, é apenas um gato espacial normal! Ele não vai se transformar em uma estrela convidada sexy ou se transformar em um monstro gigante e persegui-lo em uma masmorra (em defesa deles, no entanto, isso acontece mais do que você pensa). De qualquer forma, no jogo você controla Kirk e os outros dois sempre fazem isso sempre que você começa a andar em qualquer direção, mesmo que seja bloqueada por um gato e Kirk não esteja realmente se movendo.
A primeira coisa que você precisa saber sobre esse jogo de Star Trek é que é um jogo feito por ninguém menos que a Interplay. Embora esse nome não significasse absolutamente bosta nenhuma na época, hoje podemos dizer que ninguém menos do que a infalível Blizzard fez um jogo de Star Trek, e como vocês sabem a Blizzard não costuma entrar para brincar... a exceção de RPM Racing que é muito ruim, mas hey, todo mundo tem que aprender algum dia. Só pela qualidade da abertura do jogo dá para ver o quanto de esforço e atenção a Blizz costuma colocar nas coisas que faz.

Na época, uma empresa pequena não tinha a estrutura ou o recurso para desenvolver o jogo sozinha. Então um estudio maior, como a Konami, fornecia a maior parte da programação e os contatos com a distribuidora... e a distribuidora acertava, por sua vez, os detalhes com a Nintendo sobre licenciamento, fabricação e tudo mais. Como você pode deduzir, não era um negócio tão lucrativo assim...

Esse jogo, por exemplo, tem uma tonelada de referencias a Star Trek feitas por claramente quem entendia muito do assunto. Logo no primeiro planeta você tem a planta cuspidora de dardos do episódio "The Apple", um dos planetas do jogo é Sigma Iotia - aquele planeta que se tornou a Chicago dos anos 20 porque o primeiro visitante interestelar esqueceu um livro sobre a mafia lá e os nativos adotaram ele como uma espécie de Biblia, coisas que só Star Trek faz por você.


 Mas não apenas nas referencias, mas a Blizzard realmente tinha um entendimento muito bom do que faz Star Trek ser Star Trek e o jogo todo parece um coleção de vários episódios da série (com direito ao "planeta do dia") com uma estrutura narrativa que remete ao espirito da série - tão bem quanto se pode fazer em um Nintendinho 8 bits, claro.

Ao contrário do que os filmes do JJ Abrams podem ter te feito pensar, Star Trek não é uma corrida cheia de ação para salvar a galáxia, nem deveria ser. O ritmo mais lento do jogo, resolver as coisas em apenas um climax péssimamente coreografado de ação ou tiro é a forma de Star Trek resolver as coisas e este jogo ser um adventure faz todo sentido lógico, no contexto do show. Melhor ainda, é um adventure feito com o NES em mente, então ao invés de ser um simples point'n click - como Maniac Mansion - o jogo fez o melhor que podia para adaptar a lógica para os controles do Nintendinho.

Eu acho que McCoy está dizendo mais com sua reação do que com suas palavras aqui. Eu estou começando a me perguntar se o artista originalmente desenhou esses quadros para ser um conjunto de expressões diferentes, antes que o programador percebesse que ele poderia junta-los para fazer parecer que os personagens estavam falando ... mais ou menos.


Então, vamos recapitular: temos um jogo desenvolvido por uma equipe que claramente era fã da série, não apenas isso mas uma das mentes mais talentosas da industria de games - afinal é a fucking Blizzard, yo! - e que escolheu um estilo de jogo - adventure - que totalmente casa com o espirito da série - ao contrário de, digamos, Alien 3, que é quase cinema europeu de tão lento e foi feito como um jogo de ação.

Todas essas coisas consideradas, então como em nome de Gorn existe um episódio do Angry Videogame Nerd sobre um jogo da Blizzard?



Deus, isso soa tão errado! Teria o mestre se equivocado? Seria este um bom jogo injustamente espancado por causa de nitpickings? É, então, não. Embora eu tenha duvidado inicialmente, o nerd está certo.

Esse jogo tem dois problemas fundamentais que o impedem de ser um grande jogo, embora todas as ideias para que o seja estejam ali. Em primeiro lugar, o jogo se vende de uma forma errada. Inicialmente eu pensei que o jogo seria um tipo de jogo de ação com visão de cima com elementos de RPG, não tão diferente de Lone Ranger ou Hobin Hood. Mas não, tal qual a série o jogo mal tem alguma ação. Enquanto isso funciona com a proposta de Star Trek, não funciona tão bem para um dono de Nintendinho. Em 2018 eu demorei até entender que estava jogando um adventure, na epóca... você muito justamente se sentiria enganado.

Mas esse não é o problema principal do jogo, e sim a execução. Enquanto o jogo é repleto de boas ideias tiradas da série - como o planeta cheio de ilusões que você tem que levar o Spock no grupo e falar com ele para fazer o mindmelding vulcano, que o permitira resistir as ilusões - na prática as coisas não funcionam tão bem assim. A maior parte dos puzzles, principalmente os que importam, não são apenas cripticos demais, eles beiram o aleatório.

Quando você termina o primeiro planeta, por exemplo, você consegue dilithium apenas o suficiente para ir até o próximo planeta, mas qual deles?

Essa é uma zona "uncharted" bem mapeada, eu devo dizer...

O jogo não te dá absolutamente pista nenhuma, e sua única opção é ir em um por um, descer em todos e ver o que está rolando para ver se a história progride. E se isso não funcionou em Interestelar, não pense que é em um jogo de NES de 1992 que será melhor. O pior é que esse aspecto aleatório se aplica a muitas coisas no jogo.

Por exemplo, em determinada parte você precisa levar um historiador na sua equipe para conseguir avançar. Ok, o cenário é uma biblioteca de um planeta em ruinas e você está tentando entender o que aconteceu ali, faz sentido. Isso é bom adventure. Agora em outra você precisa levar um red shirt geologo... mas você só vai saber disso SE já tiver ele no grupo e SE passar especificamente sobre um sprite de um mapa meio grande. Embora não sejam tantas as composições de grupo possíveis, e na maior parte do tempo você sempre vai querer levar o Spock - tal qual na série - ainda sim muitos dos puzzles são apenas aleatórios demais.

Aqui, por exemplo, você precisa selecionar seu phaser para atordor, então ATORDOAR A PLANTA para conseguir coleta-la. Porque, né, quem não pensaria em atordoar uma planta, né? Eu penso nisso apenas o tempo todo...
 A tentativa de incluir missões com a da tripulação da ponte, pilotar a nave e conversar com inimigos no espaço era ambiciosa e fundamentalmente uma estrutura muito boa, mas infelizmente a maior parte do jogo se resume às tediosas e desajeitadas missões. E claro, sendo um jogo de NES, os personagens realmente não têm tanta chance de brilhar com suas personalidades únicas, e as porções no espaço são extremamente limitadas.

Os visuais são bastante impressionantes para o NES. Os personagens são grandes, incrivelmente detalhados e bem animados. Os planetas também são impressionantes, com muita variedade de um para o outro. Não há fadiga visual, embora haja muito flickering. Até os efeitos sonoros são quase perfeitos com os da série. A música e os efeitos sonoros podem ser estridentes, mas há muita variedade em ambos, todos autênticos.

Se há um caminhar melhor que esse em todo reino dos 8 bits, ainda permanece para ser visto


Star Trek: 25th Anniversary não é um adventure terrível e claramente foi desenvolvido por pessoas que queriam honrar o show. Infelizmente, tem um monte de aborrecimentos que minam a diversão. Há algum prazer a ser encontrado pelos fãs inveterados das aventuras originais de Kirk, no entanto, os jogadores casuais ... bem, provavelmente não vão jogar um jogo de NES de 26 anos atrás, né?