domingo, 11 de novembro de 2018

[AÇÃO GAMES 014] THE ADDAMS FAMILY (SNES, 1992) [#168]


Agora, eu tenho que admitir que não sou exatamente o maior fã de Familia Addams que existe, de modo geral eu gosto bastante do seu senso de humor sombrio ainda que inocente. É um humor bastante único que é meio que macabro sem em nenhum momento ser mau ou cruel, e se alguma coisa acho que consigo comparar apenas com o estilo de narrativa do primeiro livro de Harry Potter - um estilo meio macabro divertido que a Rowling abandonou e depois nunca mais usou nos outros livros da série.

Enfim, eu gosto bastante da mensagem geral do show de que é ok ser diferente, é ok gostar de coisas que outras pessoas não gostam, pensar coisas que as outras pessoas não pensam e se elas tiverem um problema com isso, a piada está nelas e não em você. É uma mensagem bastante positiva, acentuada por atuações fantásticas de grandes atores como Christopher Lloyd, Angelica Houston e Raul Julia. E se você espera que eu vá fazer alguma piada sobre ter um crush na Christina Ricci gótica pré-adolescente... bem ela é mais velha que eu, na época era legalmente permitido, tá bom?

Devo dizer que não estou surpreso, nem um pouco surpreso...

Ok, porém apesar da Familia Addams ser sobre não ter medo de ser diferente, o jogo que eu estou comentando é um filme licenciado transformado em um jogo de plataforma que parece muito inspirado pelos jogos do Mario. Acho que ser diferente não paga suas contas, afinal...



Eu sei que no momento que um gamer ouve a expressão "baseado em um filme licenciado", uma pequena pontinha de panico toma conta do seu ser, e na maioria das vezes isso é totalmente justificado (sobretudo se tiver o arcoiris da dor da LJN na capa, o que felizmente não é o caso aqui). Esse é um jogo que não é pavoroso, embora poderia ser muito melhor do que é com bem pouco esforço adicional.

Então, neste jogo você joga com Gomez Adams e toda sua família foi sequestrada - exceto pelo Tropeço e pelo Mãozinha, que não ajudam e ficam só sentados ali tocando piano como se não fosse da conta deles... obrigado por nada, não reclamem quando a ração de vocês simplesmente parar de chegar!


A história, que é baseada no filme então não espere nada mais complexo do que um aceno de cabeça e um "aham, tenho uma ideia geral", não é o ponto forte do jogo - felizmente, o mesmo não pode ser dito sobre os gráficos. Para o primeiro ano de vida do SNES eles são ótimos, Gomez tem várias animações diferentes (eu gosto como quando ele se abaixa fica olhando para os lados como um vampiro que bebeu sangue de um crackudo.  Quando você adiciona isso a musica agradavelmente renderizada em 16 bits, você tem algo bastante agradavel de se olhar e de se ouvir.

Infelizmente o mesmo não pode ser dito sobre jogar o jogo - o que meio que é a definição de problema para um jogo baseado unicamente no gameplay (como quase todos os jogos da época eram, salvo raríssimas exceções, história, narrativa e conceito só entrariam em jogo muitos anos depois).


O jogo é um jogo de plataforma, mas bastante aberto. Similar em ideia a Mario 64, voce tem a mansão dos Addams como um hub com várias fases a serem exploradas na ordem que você quiser. O problema é que, diferente de Mario 64, o jogo se arrasta enormemente. Se você for espetacular com o jogo, deve levar aproximadamente uma hora para terminar o jogo. Se for apenas um reles mortal, coloque entre 5 e 7 horas na conta... e só existem 5 fases.

Os níveis demoram tanto que você sente que não está progredindo. Quando uma fase tem 15 diferentes sub-telas e 25 checkpoints, bem, isso é um nível demorar demais para mim. Se essas 15 sub-sessões dentro da fase fossem quebradas em 8 mundos com 4 fases, como os jogos do Mario, faria mais sentido. Diabos, mesmo que fosse como Mega Man e tivesse 8 fases dificeis, você sentiria que está progredindo no jogo. Porém aqui você pode facilmente passar mais de meia hora preso em uma fase e não sentir que está indo a lugar nenhum

PROTIP: não entre na boca da arvore, que totalmente parece uma porta. Pule nos galhos, que totalmente parecem apenas parte do cenário e nem parece que vai alcançar. Isso vai te levar direto ao chefe... e te poupar meia hora da sua vida
 
O primeiro estágio que eu joguei levou mais de vinte minutos, então eu entrei por uma porta e voltei ao hub inicial. E foi isso. Sem batalha com chefe, sem coletar nada, só voltei ao começo. Era isso? Eu terminei a fase? O jogo não faz muito realmente para te fazer sentir que está fazendo algum progresso.

Bem, posteriormente eu descobri que não. Cada nível tem multiplos caminhos e passagens secretas que levam de volta ao começo se você pegar a porta errada - e não existe modo de saber qual a certa. Então, mais frequentemente sim do que não, você vai se encontrar jogando 30 minutos uma fase apenas para voltar ao hub inicial quando estava a duas telas do chefe.

Diversão da boa, eu te digo.

Isso talvez não fosse tão frustrante se as fases não fossem tão filhadaputamente dificeis

Então você pode argumentar que não tem espaço para passar por baixo nem tem como pular na cabeça desses caras, ao que jogo te responderá: "EXATAMENTE!"
As fases são atulhadas de objetos que são impossíveis de se esquivar sem conhecimento prévio, como as plataformas móveis, que muitas vezes estão em lugares apertados entre espinhos no teto e no chão para garantir uma perda de energia ainda mais frustrante. Também não há aviso de que os objetos estão prestes a cair, geralmente indicados de maneira amigável em outros jogos melhores por uma oscilação de marca registrada. Outro momento distintamente tolo vem na área Freezer, onde uma plataforma parece perfeitamente boa para pular, mas isso resulta em uma morte instantânea.

O que eu quero dizer é que o jogo não economiza truques baratos para tirar sua vida, e as vezes exige sequencias de saltos tão pixelamente precisos que fariam Celeste dizer "Eita, porra!". O que talvez, apenas talvez, fosse possível fazer se existisse alguma precisão a ser encontrada nos controles deste jogo.

A sensação de controlar seu personagem na fase de gelo é mais ou menos como jogar com o Leonardo di Caprio na cena do urso em The Revenant. Você tem o mesmo tanto de controle sobre o seu personagem, o que me faz pensar que se o filme tivesse sido feito nos anos 90, a Ocean totalmente faria um jogo de plataforma dele.
 
Não apenas os controles são estranhamente escorregadios - como se o mundo inteiro fosse uma fase do gelo - o que torna qualquer salto preciso impossível, como as vezes os botões simplesmente ignoram seus comandos. A menos que a Ocean tenha decidido implementar um inovador sistema de salto onde você tem que bombear o botão B antes de pular, pq se foi isso ele funciona perfeitamente para fazer do jogo ser uma merda.

E mesmo quando Gomez faz o que você quer que ele faça... a detecção de pixels desse jogo é uma das piores coisas que eu já na minha vida. Basicamente sua principal ferramenta para saber se Gomez bateu a cabeça ou os fundilhos em um espinho, ou se ele aterrisou com seus pezinhos Addams em uma plataforma ou caiu para um destino pior do que a propria morte consiste em... contar com a sorte.

Esse vai ser um dia daqueles, não vai?

Esse jogo tem uma das piores box detection que eu já vi na minha vida, e onde você vê o sprite do Gomez passar tem pouca ou nenhuma relação com o jogo registrar como sucesso ou falha. O pior é que nem é uma coisa feita para te sacanear, é só jogo mal programado mesmo porque as vezes o jogo rouba a seu favor também. Em mais de uma ocasião eu não tomei dano quando visivelmente deveria ter tomado porque o jogo é zoado desse jeito.

Isso, claro, torna a maior parte dos inimigos do jogo em um exercicio de sorte. Como esperado de um jogo de plataforma do SNES, você pode matar inimigos pulando em cima deles. Ok, certo. Agora, o que é "em cima" para o jogo é algo que nunca tem muito haver com a representação visual do que está acontecendo na tela. Mais uma vez, aqui é muito mais um caso de incopetencia dos programadores do que má vontade: mais de uma vez eu tomei dano quando pulei em cima de inimigos, e em tantas outras não perdi energia quando encostei do lado pq o jogo se perde muito para entender o que está acontecendo na tela.

Com todas essas coisas erradas e muito poucas certas, a Família Addams é um jogo ruim. O que temos aqui é um exercício de frustração. Não é totalmente terrível, mas não vale a pena voltar depois de vencê-lo se você tiver os níveis necessários de perseverança e coragem. Não há absolutamente nenhum valor de repetição devido à detecção de colisão frustrante e dificuldade exagerda do jogo por todos os motivos errados. Esse jogo tinha o potencial de ser um clone do Mario muito bom com tema macabro e, embora eu não queira dizer “não é tão bom quanto Mario, por isso é uma porcaria” ou lamentar um jogo por ser difícil, existem erros copiosos cometidos aqui para condenar o jogo, mesmo sem compará-lo a ninguém. 

Edição 014



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Edição 001