Durante os anos 80, a Sierra foi a maior produtora de adventures Point'n Click que a indústria dos games jamais viu. Era um dominio tão amplo que quase beirava o monopolio. Isso começou a mudar nos anos 90 quando um novo competidor entrou nesse jogo de clicar em coisas nos computadores: a Lucas Arts.
A Lucas Arts chegou dando um calor danado no esquema que a Sierra era rainha por, basicamente, dois motivos: o primeiro era que, sendo a empresa de games do seu George Lucas, eles tinham mais recursos do que sabiam o que fazer com eles. Isso significava não apenas que a Lucas Arts podia gastar mais em publicidade do que a Sierra podia gastar se John Sierra estivesse na UTI e precisasse comprar um coração no mercado negro, mas que eles podiam se dar ao luxo de sempre puxar um título como Indiana Jones quando desse na telha. Nunca houve um point'n click de Star Wars, mas se eles quisessem eles totalmente poderiam fazer isso e morrer afogados com o carregamento de dinheiro que entraria pelas janelas.
Porém a grande real vantagem da Lucas Arts sobre sua concorrente era a acessibilidade dos seus jogos: enquanto os adventures da Sierra eram altamente dificeis e punitivos (não raramente você tendo que reiniciar o jogo porque esqueceu de um item ou porque perdeu a janela de tempo de 3 segundos para utiliza-lo) reduzindo seu publico alvo a um nicho de nerds hardcore que necessitavam de conhecimentos arcanos para jogar seus jogos, a Lucas Arts refinou seus jogos tal que qualquer manezão podia simplesmente sair clicando e se divertir com seus títulos.
Enquanto inicialmente eles olharam com condescendencia para esta tentativa de nuttelizar o genero, os números de vendas foram bem claros em apontar que ampliar a acessibilidade dos seus jogos era uma necessidade.
De todas as franquias da Sierra, a mais indicada para esta nova abordagem era a série de sex comedy Leisure Suit Larry, criada pelo comediante Al Lowe. Mais conhecida como a série que totalmente devia ter o Didi Mocó como protagonista se algum dia fosse feito um filme live action.
Foi assim que surgiu o quarto game da série Leisure Suit Larry: "Leisure Suit Larry 5: Passionate Patti Does A Little Undercover Work". Espera, 5? Não era o quarto jogo?
Al tinha um problema, entretanto. Ele tinha escrito um capítulo final definitivo no mundo de Leisure Suit Larry há dois anos, sem intenção de revisitá-lo. Afinal, poucos dos jogos da Sierra foram além da trilogia clássica. Ele tinha algumas idéias para Larry 4, mas não havia como começar a aventura, já que as coisas haviam terminado tão bem em Larry 3.
Sua solução foi simples: não fazer Larry 4. Ir direto para Larry 5.
Foi uma jogada inteligente. A quarta entrada da franquia (Leisure Suit Larry 4: The Missing Floppies) é referenciada no jogo 5, mas já que foi "perdida", Larry não consegue se lembrar de nenhum detalhe dela. Isso liberou Lowe de explicar como Larry havia voltado a ser o careca baixinho perdedor, e porque ele estava separado da sua amada Patti Passionate.
Agora Larry trabalha como "rebobinador e higienizador" de fitas pornô VHS para a Porn Prop Corp. Literalmente, um emprego da porra. Sua vida começa a mudar quando a PPC decide ter uma nova estrela para sua marca, e como nessa época a Mia Khalifa tinha tipo uns 3 anos de idade eles tiveram que procurar em outro lugar (o que me deixa feliz que esse jogo não é japonês, pq senão...). Três finalistas foram selecionadas como a mulher mais sexy da América para sustentar a marca da PPC em seus magumbos, mas como seleciona-la?
De uma forma criativa e bem pouco prática, é claro! O que a PPC queria para sua grande estrela era uma mulher tão sexual, tão ninfomaniaca, que mesmo o mais perdedor dos caras pudesse fantasiar que tem chance com ela. Mas como testar isso? Simples: enviando o cara mais feio, patético, perdedor, burro, pobre e tapado que eles pudessem encontrar para entrevistar ela. Se ela desse uma pimpada nervosa com esse triste arremedo de ser humano, então a mulher tinha realmente fogo na passarinha para dar e vender.
Agora, onde achar tão bestial criatura para colocar esse plano em prática? Não muito longe dali, na verdade logo na salinha ao lado:
Então assim começa a jornada de Larry através da América, indo audaciosamente onde muita gente já tinha ido (esse é meio que o ponto de uma atriz pornô, afinal).
Mal sabia ele, no entanto, que a PPC era apenas outro braço da mafia, que tinha nos filmes adultos uma sólida e firme fonte de dinheiro. Fonte esta que estava secando desde que as TVs a cabo começaram a disponibilizar canais das putaria. Quem iria comprar filmes pornô quando a amaciada no engraxate estava ao alcance do controle remoto?
Preocupada com isso, a mafia decide usar meios obscuros para influenciar o governo a baixar novas leis de censura que baniriam as tetas da TV e obrigariam as pessoas comprarem os seus filmes. Uma empresa subornando políticos para fazer leis sob medida as suas necessidades sequer é notícia mais no Brasil (com efeito, os politicos que fazem isso seriam eleitos totalmente de boa mesmo todo mundo sabendo que isso acontece), mas o FBI não poderia permitir isso! Assim, eles recrutam a cantora desempregada Patti Passionate para se infiltrar no ramo do entretenimento controlado pela mafia e colocar esse esquema sórdido a baixo!
Assim segue o jogo, alternando entre controlar Larry em sua busca por pimbadas selvagens através do país e Patti, usando seus dotes para fazer a América grande novamente!
Tão inteligente quanto o conceito pode ser, no entanto, o próprio jogo tem alguns problemas. Como eu disse antes, a Sierra estava tentando abraçar a politica da Lucas Arts de tornar o jogo acessível e possível de ser terminado não importa o que você faça, o que é uma coisa e foca o jogo mais em resolver os puzzles do que uma decoreba para usar os comandos certos na hora certa, mas a coisa é que parece que eles não sabiam muito bem como fazer isso...
Onde a LucasArts já tinha aprendido a manter a dificuldade de um jogo sem depender de itens que desapareciam e te forçavam a reiniciar o jogo, a Sierra não tinha a prática disso. Então, o que você tem é um jogo que não só pode ser derrotado sem ser reiniciado, o que é bom, mas também pode ser derrotado sem precisar se esforçar muito.
Por exemplo, no começo de Larry 5, você recebe uma filmadora para registrar suas façanhas com as várias mulheres que você conhecerá ao longo do caminho. Este é o ponto crucial da sua missão durante todo o jogo: FILMAR SUAS PERIPÉCIAS SEXUAIS. O que, alias, é uma coisa terrívelmente errada - filmar atos sexuais sem o conhecimento da pessoa - agora que eu penso nisso. Anos 90 para você. Mas enfim, meu ponto é que é possível deixar a PornProdCorp sem o carregador de bateria necessário para que a filmadora funcione. Em um jogo da LucasArts, você pode chegar ao momento em que é necessário começar a gravar, apenas para que Larry diga “Opa! Minha câmera não está carregada! Não posso arriscar não colocar isso em fita. Melhor voltar mais tarde.”
Isso deixaria o jogador descobrir que ele precisava encontrar o carregador. Ele voltaria ao estúdio, encontraria e continuaria com sucesso. Mas como o game design da Sierra ainda era das “salas que se tornam inacessíveis quando você sai, não pegou o item sentou na graxa”, não há como voltar ao estúdio uma vez que você vai para o aeroporto. Então, se você esqueceu o carregador, o jogo vai apenas dizer "Pena que você não colocou isso na fita" e deixar você prosseguir mesmo que você tenha falhado descaradamente em sua missão. Apenas não importa, continua de qualquer jeito e vamo que vamo.
Enquanto eu totalmente apoio jogos mais acessíveis que exigem mais do que decoreba do roteiro do jogo, até algum pensamento criativo, não colocar desafio nenhum também já é demais.Isso torna o jogo estupidamente fácil. Em um ponto você encontra uma imigrante ilegal que precisa de um green card. Obviamente que ela vai te recompensar por isso com uma boa e velha chave de xavasca... o que novamente me fez pensar no quanto de coisas erradas tinha essa época... mas enfim, obtê-lo requer ter lido uma placa no início do jogo e ter ligado para um número em um telefone público para encomendar um, mesmo que você não tinha idéia porque você precisaria de um no momento. Mas se você não fizer isso, se você chegar lá sem o item, apenas conversar com ela mais algumas vezes fará com que ela faça sexo com você de qualquer maneira, tornando a coisa toda sem sentido.
Melhor tela de quit game ever |
Enquanto eu totalmente apoio jogos mais acessíveis que exigem mais do que decoreba do roteiro do jogo, até algum pensamento criativo, não colocar desafio nenhum também já é demais.Isso torna o jogo estupidamente fácil. Em um ponto você encontra uma imigrante ilegal que precisa de um green card. Obviamente que ela vai te recompensar por isso com uma boa e velha chave de xavasca... o que novamente me fez pensar no quanto de coisas erradas tinha essa época... mas enfim, obtê-lo requer ter lido uma placa no início do jogo e ter ligado para um número em um telefone público para encomendar um, mesmo que você não tinha idéia porque você precisaria de um no momento. Mas se você não fizer isso, se você chegar lá sem o item, apenas conversar com ela mais algumas vezes fará com que ela faça sexo com você de qualquer maneira, tornando a coisa toda sem sentido.
Pelo menos na seção de Larry, há ocasionalmente um "caminho difícil" para resolver um quebra-cabeça. As missões de Patti são ainda mais fáceis, geralmente consistindo apenas de uma sala ou duas. Depois de pegar alguma coisa, basta olhar em volta porque você acabará usando-a na mesma sala. Se isso não for suficiente, existem dicas abundantes nas descrições de item e sala, e você é solicitado a salvar depois de eventos importantes. É como se o jogo quisesse que você termine logo para que ele pudesse voltar para a cama.
O humor do jogo alterna entre o esperado de comédia fisica em uma sex comedy (não duvida por um segundo que Larry levará um golpe no saco até o fim do jogo!), boas piadas de observação (como sobre a qualidade do sistema de som dos aeroportos), e algumas que são apenas anos 90 demais para você deixar passar sem sentir desconfortavel.
amirite? |
Por exemplo, em determinado ponto Patti precisa se infiltrar em um estúdio de gravação de rap e para isso, coincidentemente um xerox explode uma carga de toner na cara dela, fazendo ela ficar com blackface para passar desapercebida em meio aos negros. Uau, anos 90, pare. Apenas pare, tá bom?
Larry 5 é um jogo razoavelmente bom, mas podia ter sido muito mais. A história precisa de uma reformulação importante, mas os quebra-cabeças são bastante sólidos. Eu realmente gosto da ideia de que existem diversas formas de superar o desafio, porém isso se perde já que os designers nunca realmente forçam você a para pensar e resolvê-los. Teria sido uma boa abrir o mundo do jogo um pouco e permitiro que você retornasse às áreas anteriores, em vez de faze-lo avnaçar automaticamente independentemente de suas realizações - se não deu certo na escola publica brasileira, não é em um jogo de computador que começará a funcionar.
Tal como está, Larry 5 parece mais como “My First Little Adventure Game” do que o quinto título de uma série. É um ponto de entrada bastante amigavel para quem nunca jogou um Point'n Click e quer jogar um tutorial introdutório ao gênero, mas os jogadores mais experientes vão se desapontar.
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