quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

[AÇÃO GAMES 014] THE LEGEND OF MYSTICAL NINJA (SNES, 1991) [#174]



Uma pergunta bastante razoavel para se ter em mente quando se faz um videogame é se perguntar porque, cargas subaquáticas tonicas, as pessoas deveriam prestar atenção no seu jogo? Afinal, para qualque genero que você possa pensar existem bazingalhões de títulos nesse genero. Isso é verdade hoje - nesse exato instante, existe o impressionante número 27663 jogos na Steam - mas já era verdade para o SNES em 1991.

Existem algumas coisas que você pode fazer para diferenciar o seu jogo dos demais. Uma delas é ter uma ideia para um gimmick único ou pouco explorado (como a arma-luva de Rockin Kats ou o teleporte de espada do Final Fantasy XV). Outra é ter ter gráficos excepcionais, ou um estilo de arte particular. Por fim, mas não limitado a isso, o jogo pode ter um foco no humor com uma escrita particularmente inteligente ou inimigos ridiculos.

The Legend of Mystical Ninja (ou Ganbare Goemon, no original em japones) é um jogo pouco popular da Konami que faz todas essas coisas.





Vagamente inspirado no herói do folclore japonês, Ishikawa Goemon - mais ou menos o equivalente japones de Robin Hood, que roubava dos ricos para ajudar aos pobres e representava a resistencia do homem comum a tirania dos poderosos - a premissa é bastante simples: A princesa Yuki foi raptada por uma gangue de bandidos, e cabe ao desconcertado Kid Ying (porque os americanos não fariam a mais remota ideia de quem é Goemon, então decidiram apelar para um nome engraçadinho) e seu fiel companheiro, o corpulento Dr. Yang resgatá-la através do Japão.


Dois jogadores podem se unir no que poderia ser melhor descrito como um beat'm up, porém os inimigos morrem com um golpe só e você tem que explorar vilas em um esquema meio labirintico, então é algum tipo de hibrido entre Zelda e Beat'm up. 

A maior parte do jogo se passa em vilazinhas onde você pode entrar nas casas das pessoas em busca de pistas, lojas onde você pode comprar itens, ou minigames para ganhar mais dinheiro. A quantidade de minigames nesse jogo é impressionantemente bem variada (tem desde jogo da cobrinha a air hockey, passando por masmorras em primeira pessoa como Phantasy Star e até mesmo Gradius - além de pelo menos mais DEZ tipos de joguinhos).

Acho que eu estava brincando? Gradius, bitch!

 Grande também é a variedade de lojas onde você pode comprar equipamentos, aumentar sua barra de vida, hoteis para descansar, etc. Basicamente, tudo que você encontraria em uma cidadezinha de RPG pode ser encontrado aqui - o que é uma mudança bem vinda para o genero.

Sério, a quantidade de coisas a fazer nas cidades para um jogo que nem RPG é, é impressionante
Perto do final do nível você encontra Tanuki Yokai, uma tradicional coisa cachorro-guaxinim do folclore japones mais conhecido por ser o espírito com o sacão enorme. O que me faz pensar que japoneses de quatro séculos atrás tinham mais maturidade para lidar com bolas do que nós temos hoje.



Obviamente, na versão ocidental do jogo o Tanuki é (literalmente) castrado da sua característica mais visivel:


Oh, espere, suas bolonas foram mantidas! Surpreendente, Nintendo, realmente surpreendente. De qualquer forma, a partir do momento que você crusa pelo guaxinim sacudo o jogo passa a ser um jogo de plataforma, dentro do qual eventualmente você enfrentará o chefe da fase.

Soa muito comum, com certeza, mas o diferencial de Mystical Ninja é o charme da animação de tudo isso. Tudo é desenhado de uma maneira muito caricatural, com a cabeça de todos tão grande quanto o resto de seus corpos, mas com um estilo de arte mais suave do que, digamos, Super Mario World, que permite animação mais fluida. É obviamente muito japonês, com reações exageradas dano e alguns inimigos com ataques ridículos, como o homem que carrega um peixe (e sim, você tem que derrotar tanto o homem quanto o peixe que se agita depois que ele o derruba) , ou os atores kabuki gordos que gingam sobre o nível do parque de diversões e gostam de sair daquelas coisas recortadas de papelão que você enfia a sua cabeça para fazer parecer que você está posando como outra coisa.


 Adicione a isso cutscenes usando o bom e velho humor japones tão consagrado pelos animes...


... com os melhores efeitos visuais que o Mode 7 podia produzir no começo da vida do SNES, e você tem um jogo que não só tem sprites muito gostosos de se ver como roda muito agradavel.



Todos esses acertos visuais, felizmente, não são prejudicados pelo gameplay; Na verdade, jogar o jogo é muito bom. A curva de aprendizado é bastante suave; você provavelmente não notará nenhuma seção extremamente difícil, e muito raramente você será sobrecarregado por inimigos ou é solicitado a realizar saltos de precisão - exceto nas últimas fases, quando esse tipo de coisa é esperada até - o que normalmente é a perdição dos jogos de ação do Super NES.

Você começa com um pequeno cachimbo (ou uma flauta, para o segundo jogador) com quase nenhum alcance, mas é capaz aumentar seu alcance coletando bonecos de Maneki-neko. Outras armas envolvem shurikens que podem ser disparados ao custo do seu dinheiro ou bombas que podem ser arremessadas mas essas precisam ser compradas em lojas. Se você receber dano, no entanto, sua arma retrocederá um nível de alcance.


Eu realmente recomendo esse vídeo do Gaijin Goomba, onde ele explica que todas as bizarrices do jogo... na verdade não tem nada de aleatórias, são todas tiradas da cultura japonesa de uma forma ou outra. Esse site também faz uma lista das referencias, é realmente interessante.

Legend of the Mystical Ninja é um título altamente subestimado que merecia um destaque melhor no SNES. É um jogo de ação-aventura extremamente bem equilibrado, com muitas distrações agradáveis ​​para manter as coisas interessantes para aqueles que gostam de se aventurar fora do caminho comum. Eu gosto de acreditar que os designers se divertiram muito fazendo o jogo, e eu posso facilmente imaginar um grupo deles se amontoando ao redor da mesa e discutindo ideias como “e se nós colocarmos uma loja onde você pode jogar air hockey com o segundo jogador? ”ou“ e se tivéssemos um chefe que fosse apenas uma cara gigante de kabuki que salta e cresce quando você o acerta? ”enquanto os outros riam e davam ideias mais sem noção ainda.

Eu não tenho muitas queixas a respeito desse jogo, sendo a maior dela se aplicando aqueles que não usam emuladores: o sistema de passwords é de uma burocracia soviética. Primeiro, você precisa rastrear edifícios onde você recebe "entradas de logbook" que são os passwords, e eu realmente recomendaria você ter caneta e papel à mão, porque o tamanho e a complexidade dessas senhas rivalizam com códigos de lançamento nuclear. 

Gente, sério, qual a necessidade disso?
 Mas, então, se isso é o pior que eu consigo pensar a respeito do jogo, então esse é um título bastante sólido. Eu recomendo fortemente que você jogar esse jogo se puder, e se esse jogo não conseguir fazer você rir ou pelo menos sorrir, você precisa marcar uma consulta médica imediatamente para tirar o bastão entalado na sua bunda.



DETONADO NA EDIÇÃO 015