domingo, 24 de fevereiro de 2019

[AÇÃO GAMES 013] MONKEY ISLAND 2: LeChuck's Revenge (PC, 1991) [#190]



Geralmente é difícil encontrar uma única frase que possa representar um jogo perfeitamente. Há algumas muito boas, claro, como o famoso "Keep you waiting, huh?" de Metal Gear ou "War never changes" de Fallout. Mas de modo geral isso não é muito comum e geralmente explicar um jogo - mesmo um jogo ruim - é algo que exige mais palavras do que isso.

Monkey Island 2: A Vingança de Le Chuck pode ser facilmente explicado pela fala do aspirante a pior pirata do mundo, Guybrush Threepwood: "Eu roubei um monte de coisas e causei duas grandes explosões."

Obviamente, com um resumo assim, este jogo é um trabalho de qualidade que todos vocês devem tentar jogar. Na verdade, o restante do review para além desse ponto, é quase inútil - mas estou me sentindo generoso hoje, então aqui vai o meu comentário a respeito.


Depois do maior combate baseado em bebidas anti-espectrais que o Caribe já viu, Guybrush Threepwood estava no topo do mundo. Ele tinha uma riqueza inimaginável, a bela governadora pirata Elaine Marley e o respeito dos bandidos pelos sete mares. Infelizmente, sua vida logo virou uma letra de música sertaneja e seu amor o deixou, seu dinheiro secou e o respeito de seus pares desapareceu depois dele publicar inúmeras autobiografias cafonas. Ou seja, Guybrush é o equivalente caribenho de um ex-BBB. No entanto, Guybrush não se daria por derrotado e estava disposto a recuperar seus dias de glória - dessa vez encontrando o lendário tesouro Big Whoop, um tesouro tão tesouresco que é tipo o One Piece só que com 1800 episódios a menos.

Lançado apenas um ano depois do jogo original, Monkey Island: Le Chuck's Revenge seria melhor descrito como uma expansão para o Segredo da Ilha dos Macacos do que uma continuação: em termos mecanicos é exatamente o mesmo jogo, só que com três mapas novos para explorar. Claro, a animação esta melhorada assim como a trilha sonora esta um ano de tecnologia melhorada (o que de 1990 para 1991 significava uma vida de diferença).

O humor ainda segue o mesmo tom de dialogos nonsense, porém alguma coisa parece meio estranha aqui. Fica uma impressão bastante sonora que o time da LucasArts teve apenas alguns poucos meses para fazer esse jogo, já que ele foi lançado pouco mais de um ano depois do anterior se você considerar algum tempo de espera após o lançamento para ver se ele fez sucesso suficiente e uma continuação seria aprovada até uns meses antes para distribuição e marketing.

O que eu quero dizer é que esse jogo tem um feel de continuação da Disney lançada direto para o DVD, sabe? Quer dizer, ainda é muito bom, ainda tem o padrão Disney de qualidade... mas não é exatamente a mesma coisa, é?


Por exemplo, no primeiro jogo você precisa conseguir dinheiro. Como você faz isso? Encontrando um circo armado no meio da ilha, conversando com os donos e descobrindo que eles estão sem um homem bala porque o anterior está... gozando de licença saúde por motivos não especificados. Então Guybrush se qualifica para o trabalho desde que ele tenha um equipamento de proteção adequada porque senão o sindicato vai ferrar com a vida dos donos do circo. Felizmente Guybrush é o feliz proprietario de uma panela, e isso servirá como proteção. O que acaba tão bem quanto soa, mas GB embolsa os dobrões que você precisará em sua aventura.

Na continuação a situação é muito parecida, você precisa de dinheiro e como você faz isso? Super Simples: vá até o hotel e solte o jacaré de estimação do balconista - o que o fará ir embora para perseguir o bichinho. Isso permite que você roube a ração do jacarézinho e com essa ração você pode colocar em uma armadilha para capturar um rato. De posse de um rato você entra na cozinha do bar e joga o rato no ensopado, depois sai pela janela e pede um ensopado como cliente. O Ratatuile servido fará o cozinheiro ser demitido e você pode pegar o emprego dele. O que significa que o dono do bar vai te pagar uma semana adiantado e com esse dinheiro você pode ir embora e nunca mais olhar para trás.


Uau, isso é definitivamente mais elaborado... mas também é mais cruel, não é? Quer dizer, você fez um cara que estava de boas na dele ser demitido só para pegar o adiantamento e sair correndo. Em outro momento, Stan - o vendedor de barcos usados - faz um retorno como vendedor de caixões usados (?!?) apenas para ter seu fim dentro de um caixão fechado a pregos pelo nosso herói. Eu não acho que isso tenha sido uma decisão deliberada já que o tom geral de patetice e galhofa permanece, então é mais o resultado de você fazer um jogo três vezes maior que o original em um terço do tempo.

Outro aspecto no qual isso fica notavel também são nos puzzles: embora alguns puzzles sejam absurdamente criativos como esperado da série Monkey Island (como você ter que usar um macaco como chave inglesa because "monkey wrench"), alguns são tão fora da caixa que ninguém seria capaz de pensar nisso e a única forma de avançar é através de tentativa e erro.



Por exemplo, no confronto final contra LeChuck você precisa coletar um fluído corporal dele para poder fazer um boneco de vudu e combate-lo. Como você consegue isso? Bem, basicamente testando todos os itens em seu inventário (aproximadamente uns 30 até aquela altura) e ver o que funciona. Acontece de ser um lenço, que ao ser usado em LeChuck faz ele assoar o nariz e você tem o cataplasma que necessita. A coisa é que não tem nenhuma dica que indique isso. Seria fácil ele dar uma espirradinha, ou estar com o nariz escorrendo, ou Guybrysh comentar que ele tem alguma coisa no rosto que precisa limpar. Mas não, você não tem nenhuma dica e só tentando tudo mesmo.

Outro exemplo que me vem a mente é na mesma cena, você também precisa de um pedaço da barba dele. Para fazer isso você precisa atraí-lo até o elevador e fechar a porta na cara dele para cortar a barba. O problema é que quando você mexe no elevador sem ele estar ali a porta só vai até a metade e nunca fecha completamente, então não tem como você imaginar que quando o LeChuck estiver ali ela vai se comportar de uma forma completamente única. Ai fica dificil trabalhar, né amizade? 



De fato a própria Lucas Arts percebeu que eles erraram um pouco a mão e adicionaram um "modo fácil" na versão original do jogo, que elimina as quests mais nonsense do jogo. Na versão remaster o modo fácil" foi substituído por dicas e highlights .

Isso não quer dizer, e eu não gostaria de passar essa impressão, que eu não gostei do jogo. Apesar dos seus problemas, a Vingança ed LeChuck ainda é uma expansão de seis horas de um jogos mais divertidos de todos os tempos e você não tem muito como errar em uma descrição assim. O enredo, como em todos os jogos desta série, baseia-se principalmente no diálogo maravilhoso/excêntrico entre o seu personagem e todas as outras pessoas que você encontra, e o MI2 não é uma exceção. Agora há mais do que o dobro de pessoas com quem conversar do que da última vez, além de numerosas piadas internas e referencias para encontrar. É mais do que você amou no primeiro jogo, só que maior e mais ambicioso.

Aqui o jogo é dividido em quatro partes, na qual a primeira consiste em reunir 4 itens para fazer um boneco de vudu para se livrar de Largo, o bully que atormenta a Ilha da Sarna. Resolvido o "Largo Embargo", a segunda (e maior) parte consiste em viajar pelas três ilhas do arquipelago para encontrar os quatro pedaços do mapa que levarão ao lendário Big Whoop. No terceiro e quarto trechos é que efetivamente lidamos com a vingança de LeChuck (ressucitado graças a niveis fenomenais de incopetencia de nosso herói). Especialmente na quarta parte o jogo se desmancha em um bando de tolices completamente à la Monty Python, com direito a um final tão confuso e inesperado que eu estou surpreso que o jogo apenas não foi interrompido pela policia da comédia.

As much wood as a woodchuck could chuck,
If a woodchuck could chuck wood.


Monkey Island 2, claro, é incrivelmente engraçado. Há dezenas e dezenas de momentos estranhos e memoráveis durante toda a aventura. Em um deles, Guybrush fica inconciente e tem um sonho em que seus pais há muito perdidos o visitam, mas acabam se transformando em esqueletos e cantando uma variação da música folclórica “Dem Bones”. Não é apenas estranho e viajado, mas também fornece algumas dicas para um quebra-cabeça posterior. Também é insanamente cativante. Enfim, MI2 é um jogo sólido, e merece todo o status de clássico, embora a comparação com as continuações para DVD da Disney sempre acabem voltando: sempre é algo que você sempre vai poder sentar e se divertir com ele, apenas tem aquela cara de continuação do original, sabe?