sexta-feira, 7 de julho de 2017

[AÇÃO GAMES 008] POWER BLADE (NES) [#073]



Quase três décadas atrás na sede da Taito, eu gosto de imaginar, os desenvolvedores tiveram oito horas de reunião afim de criar uma trama brilhante que resultaria no melhor jogo de plataforma de todos os tempos: Power Blade. 

A fim de inventar uma obra-prima, eles precisavam saber o que fazia o gênero funcionar. Eles, portanto, examinaram os jogos contemporâneos, dando especial atenção aos seus pontos fortes e deficiências. Após uma consideração cuidadosa, eles selecionaram elementos premium do gênero e os uniram em uma amalgama de grandeza - ao mesmo tempo que apagaram os problemas que esses jogos tinham. Eles esperavam que seu trabalho produziria o rei dos jogos de plataforma.
Pela frequência com que o título é citado entre os maiores clássicos do Nintendinho, você já pode imaginar como essa história termina.

Vamos tirar um momento para apreciar a última frase do texto em sua magnitude


Power Blade leva os jogadores a um paraíso global onde todas as funções da sociedade são realizadas por um enorme computador mestre. Tudo estava indo bem o suficiente até que uma frota de terroristas alienígenas invadisse o computador, colocando toda a civilização à sua mercê. Para retomar o controle do computador infectado é necessário invadir cada um dos seis complexos de segurança vizinhos, liberando o acesso ao mainframe central e assim tirar as caras com o computador hackeado... o que me leva a pergunta de como os aliens conseguiram fazer isso em primeiro lugar sem ninguém perceber? Ou foram eles que inventaram esse sistema de defesa que não existia antes? Perguntas que jamais veremos respondidas... PORQUE HOMENS DE VERDADE NÃO TEM TEMPO PARA PERGUNTAS!

Para combater os nêmesis extraterrestres, a Terra precisava de um machão badass, o tipo de homem robusto resistente que levanta pesos ao comer bacon e não assiste UFC porque o amadorismo o ofende. Surge Nova, um homem de regatinha dos anos 90 que realça seus musculos másculos e óculos escuros. Ele é a última pessoa que qualquer ameaça mecânica ou terrorista espacial gostaria de encontrar em um beco escuro (ou um bem iluminado, para esse propósito).

Alieníginas invadiram o computador que controla
a Terra, que por acaso tem uma interface que é
a cara do Rogel Delgado. Parece roteiro de
episódio de Doctor Who.
Nova parece ter frequentado a academia desde os sete anos de idade, e seu treinamento rigoroso lhe concedeu força suprema e agilidade de alto nível. Com este atletismo incrível, ele é capaz de navegar de forma graciosa por todas fases intrincadas. Cada nova cena apresenta uma situação ou obstáculo diferente para superar, desde piscinas ácidas até plataformas móveis no céu. Você guiará Nova enquanto ele luta em espaços apertados repletos de sentinelas robóticas e escadas bem guardadas (sério, quase toda escada tem um inimigo parado no fim dela), tudo em um esforço para acessar a sala de computadores de cada estágio.

Mas a missão do nosso Mister Machão não é uma simples questão de encontrar uma porta e valsar porta adrento, no entanto; Todas as entradas estão bloqueadas e requerem um cartão de identificação que tem que ser obtido com contato infiltrado em cada etapa. Isso deixa Nova com a tarefa de procurar pelo agente secreto em todos os recantos antes de enfrentar o chefe da fase

Nova é mais do que capaz de enfrentar todos os desafios que a Taito colocou perante ele. Mesmo os mais odiosos dos buracos ou monstruosos inimigos são brincadeira de criança graças à rapidez e ao poder do homem. Os desenvolvedores abençoaram o guerreiro com controles responsivos, permitindo que ele salte longas distantes com facilidade e devaste seus inimigos com precisão mortal. Ao contrário do que era muito comum nos jogos da época, Nova não volta para trás quando atingido porque ele é apenas macho demais para ser empurrado.

Nosso herói é tão descolado que ele só consegue
ficar parado nessa posição de "whoa, dude!"
Não que criaturas ou qualquer outro grupo tenham uma chance real de atingi-lo: Nova vem equipado com a única arma que um homão da porra pode se orgulhar em usar: um bumerangue gigante. 

Ele pode usar este dispositivo simples como nenhum outro jamais usou, jogando-o em todas as oito direções, mesmo que esteja no ar. Em poucos segundos, ele pode meliantes robóticos a sucata de metal e, em seguida, pegar vários power-ups para aumentar a força, alcance e numeros da arma. Com todas atualizações, a Nova pode lançar até três bumerangues de alta potência até a borda da tela simultaneamente, dizimando facilmente as forças robóticas sem um segundo pensamento.

Entretanto, uma arma principal overpower não era suficiente. Não para Nova, oh não. Em cada estágio, repousa uma powersuit que permite a Nova usar o homônimo do jogo. Ao contrário do bumerangue, a Power Blade pode cortar obstáculos e paredes e aniquilar a maioria dos inimigos com um único tiro. Com este brinquedo em mãos, nenhum oponente tem a menor chance contra Nova.

Nem se espera que nenhum deles tenha, porque a Power Blade e Nova são ambos perfeitos. Perfeitos demais, na verdade.

Como se pode ver, a versão original japonesa do jogo (Power Blazer) é um tanto quanto menos... desnecessariamente máscula.
Mas não tem como negar que é um dos jogos mais bonitos da biblioteca do NES, e a trilha sonora inspirada em Mega Man não fica muito atrás não.



Considere tudo o que escrevi acima e pergunte-se: "Alguma coisa parece genuinamente divertida?" Eu não vejo os jogadores se divertindo com excitação enquanto pisam um exército de autômatos ultrapassados, destruindo muitos inimigos antes que eles possam sequer dar um único tiro. Não ajuda também que muitos oponentes só precisem de um golpe ou dois antes de cair, eliminando a necessidade de prestar atenção a elementos como posicionamento do inimigo e padrões de movimento. A situação só piora quando você consegue a Power Blade, o que transforma qualquer nível em um grande abatedouro. Graças ao complexo de Deus que as atualizações de armas como a powersuit podem lhe dar, 90% do desafio potencial do jogo é tornado nulo.

Os tiros dos inimigos não atravessam paredes,
então o proposito desse inimigo abaixo é um dos
mistérios que permanecerão sem solução na
história da humanidade.

Sem um combate difícil, o ônus do desafio depende inteiramente de segmentos de plataforma. Isso é um problema, já que o aspecto da plataforma não consegue impressionar. Graças ao movimento impecável de Nova, você não terá problemas para superar a maioria das armadilhas. Muitas delas são as mesmas lacunas básicas encontradas em quase todas as plataformas. Poucas são complicadas, e mesmo aqueles que são ainda não parecem extremamente desinteressantes. A Taito deveria ter percebido que existe uma razão pela qual alguns jogos são escorregadios ou incluem knock-back quando um personagem é atingido. Tais fatores podem tornar as configurações simples bastante complicadas.

Características únicas poderiam ter atenuado o tédio provocado pela falta de dificuldade, mas quase tudo sobre Power Blade é emprestado de algum outro jogo. O exemplo que todos citam é a seleção do fase semelhante ao Mega Man, embora os problemas de imitação sejam mais profundos do que isso. Conjuntos inteiros de outros títulos aparecem. Em uma cena, por exemplo, você pulou sobre piscinas de ácido enquanto evitava projéteis disparados por homens-peixe? Castlevania, alguem?

Além de cenários copiados e colados, você também encontrará muitos inimigos familiares, especialmente os monstros que você pode reconhecer da Castlevania. Você verá cameos de Medusa-heads na forma de pequenas máquinas que voam em padrões ondulados. Esqueletos que desmoronam quando atingidos e remontam-se pouco depois. E assim vai. É semelhante a ouvir os maiores sucessos de um gênero musical interpretado por uma banda medíocre.

Um dia a Taito tentará esconder que chupinhou Vingador
do Futuro, mas esse dia não será hoje!
De certa forma, é como Power Blade parodiasse a si mesmo. A história é sobre uma humanidade que presumiu criar uma sociedade perfeita ao entregar a soberania mundial a uma inteligência artificial sem pensar nas consequências. Power Blade si não é muito diferente desse cenário. Ele tentou abordar problemas comuns a muitos jogos de plataformas sem pensar nas consequencias de "resolver" esses problemas.

Será que nenhuma outra empresa nunca percebeu que knockback ou controles não tão precisos eram irritantes e só a Taito percebeu isso, ou será que eles sabiam dessas coisas mas elas existem nos jogos por um motivo? Jogar Power Blade ilumina essa questão muito bem.

Nem sempre o que você quer é o que você precisa.

Enfim, o que parecia ser a fórmula para um jogo de plataformas perfeito acabou sendo o maior problema do jogo, que somado a falta de ideias originais no level design acabam diminuindo algo que tinha estilo (brega, mas estilo) para ser um dos maiores jogos do Nintendinho.