quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

[AÇÃO GAMES 014] TERMINATOR 2: JUDGEMENT DAY (Arcade, 1992) [#183]



Um truque que muitas desenvolvedoras de jogos utilizavam no começo dos anos 90 era gastar seus melhores recursos e ideias no começo dos jogos e então mais para o fim tocar o foda-se porque, honestamente, o número de pessoas que chegaria até o fim dos jogos não conseguiria ganhar nem uma eleição no Vaticano. Videogames não eram feitos para serem terminados e por isso tantos jogos tem finais tão ruins, essa coisa de esperar que um jogo seja jogado inteiro é uma comodidade relativamente recente.

Por isso é realmente surpreendente (embora não para melhor) que um jogo quebre essa formula, embora eu acho que entenda o que aconteceu aqui. Vamos ver: você não precisa de muito para fazer as pessoas jogarem seu arcade de Terminator 2. Quer dizer, é um jogo baseado em um dos melhores e mais completos filmes de todos os tempos (talvez o unico defeito que eu consiga apontar nesse filme é que não tem o The Rock) em que você pode literalmente pegar uma metralhadora e atirar em robos do mal que odeiam o bem.


Mesmo as versões domésticas do jogo tinham  lá o seu charme, porque foram desenvolvidas para serem jogadas com as fodendas BAZUCAS do SNES e do Mega Drive:



Então, a ficha/jogo já estava vendido sem esforço algum, e esforço algum foi colocado nas primeiras fases desse jogo. E quando eu digo nenhum, é nenhum mesmo.



 Basicamente isso é o que você verá nas primeiras fases do jogo, ou alguma variação disso que não tem impacto nenhum no gameplay. Você atira em coisas cinzas que aparecem na tela tentando não acertar humanos que não se movem sob nenhuma circunstancia. Tenho que dizer que, embora sua devoção a obedecer ordens de não abandonar o posto seja louvavel, parece pouco realista. E meio que é isso. De vez em quando alguma nave aparece para ser atingida, mas é até onde vai.

Light Gun games não são conhecidos por serem o pináculo da criatividade humana, e esse jogo não faz esforço nenhum para desmistificar isso.


A parte mais diferente do jogo é essa fase onde você tem que proteger John Connor e impedir que sua picape se torne a mestra do patobol, como diria o narrador do Rock'n Roll Racing. 

Eu gosto especial dos exterminadores dourados nessa fase porque eles são uma ameaça menor, talvez porque a maior parte da sua CPU seja dedicada a correr ao lado do caminhão. Eu, que suponho estar jogando com o T800, também não tenho um caminhão, então eu também devo estar correndo ao lado dele. Tenho que questionar a perspicácia tática de John Connor se ele não coloca a máquina de matar super-humanamente precisa no comando daquela grande arma na traseira do caminhão. Temo que a resistencia humana não esteja em tão boas mãos quanto as máquinas acham que está.

É apenas depois da quarta fase, praticamente 3/5 do jogo, que as coisas começam a ficar interessantes.

Spoilers
Por algum motivo, talvez porque os desenvolvedores perceberam que passaram tempo demais com fases praticamente iguais, toda primeira metade do filme é pulada e começamos direto na invasão da Cyberdine. O que é uma escolha de prioridades no minimo curiosa, porque a cena de perseguição de moto daria uma fase de shooter bem mais interessante que a terceira incursão na intro de 20s do filme, mas o que eu sei, não é mesmo?


Existem muitas coisas incríveis acontecendo ao mesmo tempo aqui. Em primeiro lugar, seu objetivo não é apenas sobreviver enquanto hordas de inimigos repetidos aparecem e sim destruir tudo na Cyberdine. De fato, existe um contador no alto da tela mostrando quantos objetos faltam ser destruídos. Isso significa que tudo no cenário é interagivel - ou seja, destruível porque você só atira nesse jogo - e isso é muito legal.

Lembre-se, a Cyberdine tem que ser destruída para impedir que eles criem a Skynet e por isso tudo tem que ser espatifado. Tudo, até o dinossauro de pelucia roxo pendurado no teto. Mesmo ele, não podemos correr riscos aqui.


A outra coisa que eu gosto nesse cenário é que Sarah e John Connor ficam atravessando o cenário no meio do tiroteio fazendo seu jogging de tiozão fora de forma. É tão dificil perceber um austríaco com uma minigun atirando em tudo que se move para NÃO passar na frente? Aposto que eles estão usando aqueles tenis de joggin das propagandas da Ação Games, é a única explicação.

Por fim, mas não menos importante, é que todos os policiais de Los Angeles que você atira caem segurando a perna quando são baleados. Isso é fiel ao filme, em que John diz ao T800 para não matar ninguém. Não é tão fiel ao jogo, entretanto, porque os policiais caem segurando a perna mesmo depois de levar vários tiros repetidos no rosto.

Porque os policiais ignoram completamente a Sarah Connor fazendo jogging na frente deles é algo que só podemos ponderar sobre, mas suponho que eles não são tão imunes ao fato austríaco com a minigun quanto ela.


Sabe, a missão do Exterminador de manter John Connor vivo seria bem mais simples se ele percebesse que tem algo de perigoso ao entrar no fogo cruzado do maior tiroteio civil da história dos EUA. A única coisa mais impressionante que seu descaso por sua segurança pessoal é a lealdade destes cientistas para com a Cyberdyne, enfrentando o Exterminador do Futuro armados com nada mais mortal que as garrafas de Mirinda. Uau, que lugar legal de se trabalhar para ter funcionários tão fieis assim...

... hey, espera um minuto... uma empresa de tecnologia super legal de se trabalhar desenvolvendo um sistema global pela internet que praticamente domina o mundo?


OH!

Bem, enquanto os agentes da Google não vem me buscar porque eu descobri o segredinho deles, continuemos com a fase.


O futuro substituto do agente Mulder em Arquivo X aparece para uma boa e velha alteracação, mano a mano, hombre a hombre, maquina a maquina. O que significa que depois de alguns tiros Arnold e sua gangue tem que sair correndo em panico com as mãos para cima, porque o T1000 é um robo muito mais avançado, afinal.


O que é exatamente o que nossos heróis fazem, fugindo com uma van da policia que estava dando sopa. Ou melhor, John e Sarah fogem, porque Arnold parece preferir correr ao lado do veículo. Bom que ele fez isso, porque o T1000 volta com um helicoptero para abalroar o furgão e você tem que metralha-lo para que ele se afaste.

Essa cena acaba ficando involuntariamente engraçada porque o helicoptero avança na direção do furgão e você tem que ir tipo "passa T1000, passa! Casinha T1000!".


Depois de ter seu helicoptero destruído, o T1000 tenta novamente com um caminhão indestrutível - boa escolha da parte dele, diga-se de passagem. Infelizmente para ele, sua cabeça não é indestrutível e é onde os tiros devem ir. Eu não sei porque o T-1000 está sentado com a cabeça exposta, na verdade. Ele poderia ter adotado uma forma de poça e dirigido usando apenas tentaculos para enxergar. Ele teria vencido então, porque eu seria incapaz de vê-lo. A verdadeira razão para o fracasso da Skynet é que ela não consegue pensar fora da caixa. 
 

O que se segue é a batalha mais criativa do jogo, você tem outro tiroteio com o T1000 mas agora seu objetivo não é derrota-lo a bala e sim furar o caminhão tanque de nitrogenio liquido para baixar a temperatura corporal dele e recriar uma das cenas mais iconicas dos anos 90.

 

Para fazer isso você precisa furar o caminhão tanque, obviamente, e então atirar nas pernas dele para que ele tropece em cima de uma das poças que se formarem quando estiver passando por ela (felizmente ele tem ataque de nervousour e fica andando o tempo todo). Realmente criativo.


Como todos que assistiram o filme lembram, a batalha não termina aqui entretanto. Parece que essa metalurgica tem um plano de carreira tão bom quanto a Cyberdine, porque funcionarios dela descem em cordas de rapel para passar fogo em uma criança e seu escravo robô. Eu não lembro dessa cena no filme, mas acredito que foi um acréscimo grandioso.

Essa cena é tão aleatória, com caras descendo das cordas para atirar em você por motivo nenhum, que eu realmente ri. Se alguém imaginava que era impossível haver um elo perdido entre o Terminator 2 e um clipe da Madonna, é porque nunca jogou esse jogo.

Após esse involuntariamente hilário trecho, a batalha final contra o malvadão do futuro. A coisa boa é que a este ponto o T1000 parece ter desenvolvido TDH, porque não decide se quer atirar em você ou esfaquear John Connor com seus braços-laminas - se você deixa-lo fazer isso é Game Over, alias.

Sabe, eu tenho que dizer que o que deu para ver do John Connor no futuro, ele não parece um líder tão bom assim, sabe? Basicamente o plano dele foi dar uma de Leroy Jenkins contra uma instalação da Skynet e torcer para que o seu único T800 reprogramado vencesse toda horda de máquinas que eles tinham lá. O que só deu certo porque esse era um T800 com fichas infinitas de emulador, mas ele não tinha como saber disso. E mesmo assim, não vejo porque não poderia ter sido qualquer outro no lugar dele, ficar parado enquanto o Arnold te protege não é TÃO dificil assim também, né?


Tal qual no filme, seu objetivo aqui é meter chumbo no T1000 até ele cair no poço de aço derretido. O que é legal, é fiel ao filme. Mas depois dos metalúrgicos ninjas assassinos do inferno, eu esperava algo igualmente ridículo como empurrar ele para o poço com o toque da morte do Pai Mei ou algo assim. Infelizmente não, balas terão que servir mesmo.


Assim, Jão Connor salva o mundo ao preço de se despedir da única figura paterna que ele conheceu na vida. Bem, é um sacrificio pesado, mas certamente valeu a pena a longo prazo.


Ou não.

E este foi Terminator 2: Judgement Day para arcade. Um fliperama que começa muito, muito, mas muito chato mesmo e depois da metade se torna um jogo completamente diferente e até mesmo (involuntariamente) engraçado.