Espaço, a fronteira final.
Estas são as viagens do blog C de Ação Games em sua missão de 171 edições para explorar novos jogos, para pesquisar novas experiências, revisitar velhos clássicos, audaciosamente indo onde nenhum gamemaníaco jamais esteve!
GhaH 'ej Duvan, SoH layerteS! Hoje é aniversário de 53 anos da estreia de Jornada nas Estrelas na televisão, e que forma melhor de celebrar isso do que falar sobre um jogo comemorando o aniversário da série? Então set seus phasers para atordoar e set course for awesome!
Como essa abertura é boa ainda hoje. Na verdade, eu acho a melhor abertura ja feita para uma série de TV.
Gene Roddenberry era um otimista incorrígivel. Tendo sido piloto de combate durante a segunda guerra mundial, ele havia visto e feito coisas das quais a maioria das pessoas não conseguiria dormir depois. Mas não ele. Tendo o ser humano em seu pior, ele ficou convencido de que as pessoas podiam ser infinitamente melhores do que isso.
Como escritor de ficção cientifica, Roddenberry então criou uma utopia onde a raça humana deixou para trás seus lado mais pequeno e mesquinho para ir audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve. Tenho que lembrar que estou falando dos anos 60, a caça as bruxas do macartismo ainda era algo bastante vivo na cultura americana e se você usasse camisa vermelha muito frequentemente e falasse "nós" mais do que 3 vezes por dia, provavelmente seus vizinhos ligariam para o FBI deixar um carro estacionado na frente da sua casa, seu maldito espião comunista!
Pois bem, a ficção de Roddenberry estamos no século 23 e essas bobagens já haviam sido deixadas para trás a muito tempo, ao ponto que a ponte da Enterprise era composta por um russo trabalhando ao lado dos americanos. Se isso não é algo ousado a se fazer no meio da guerra fria, eu não sei mais o que seria. Exceto talvez o fato que Star Trek foi o primeiro programa de televisão a apresentar uma mulher negra entre os protagonistas onde ela não era uma empregada ou serviçal socialmente inferior.
A tenente Uhura (interpretada por Nichelle Nichols), quarta na linha de comando da Enterprise (e que em mais de ocasião assumiu o controle da nave), era uma oficial tão qualificada quanto qualquer um ali. Novamente tenho que lembrar que estamos falando dos Estados Unidos dos anos 60, então dá para imaginar o quão grande isso foi. A tenente Uhura influenciou uma geração inteira, e frequentemente é citada por Whoopi Goldberg e Neil de Grasse Tyson como a primeira vez que eles viram na televisão que poderiam realmente ser alguém na vida. Ninguém menos que o próprio Martin Lutherking se declarava como o maior Trekkie que jamais existiu.
Bem, claro, se for visto hoje a série original de Star Trek ainda parece terrivelmente racista e sexista, mas isso realmente é mais culpa da sua época. Gene Roddenberry tinha o coração no lugar certo e o que ele estava tentando fazer, na época que ele estava tentando fazer foi algo muito a frente do seu tempo.
O primeiro beijo interracial da TV americana, indo audaciosamente onde nenhum trumpminion jamais esteve. |
De certa forma, Star Trek é para a televisão americana o que Doctor Who é para a televisão britanica, com algumas diferenças culturais indissociaveis entre os dois países. Quando Roddenberry escreveu o episódio piloto de Star Trek ("The Cage"), os executivos da CBS gostaram bastante do episódio, das ideias, da criatividade. Entretanto eles acharam "inteligente demais" para a televisão americana (segundo Rodenberry essa foi a expressão utilizada) e decidiram que ele teria uma segunda chance de fazer um episódio piloto (algo que não acontece muito, como você pode imaginar) desde que ele colocasse mais ação e, você sabe, TV stuff.
O resultado, todo mundo sabe como terminou:
A série teve duas temporadas, sendo cancelada ao final da segunda. Na semana seguinte ao anuncio do cancelamento da série a CBS recebeu mais de CEM MIL CARTAS. Foi a primeira vez que um programa de TV gerou uma campanha de fãs para salva-lo do cancelamento, e a CBS (que até aquele ponto recebia tão poucas cartas que respondia manualmente cada uma delas) não sabia nem o que fazer com aquela batelada de papel que chegava todo dia em sua sede.
Essa campanha foi particularmente importante para salvar Star Trek porque shows que não tinham uma terceira temporada não eram sindicalizados. Ser "sindicalizado" significa que qualquer emissora menor (tipo uma TV local do seu estado) podia negociar diretamente com o sindicato e adquirir os direitos de exibir o show por um preço infinitamente menor do que conseguir um acordo com a grande emissora que o produziu. Isso permitiu que Star Trek fosse reprisado inumeras vezes ao longo dos anos em pequenas emissoras, o que gerou um crescimento na cultura popular crescente ao ponto que recebeu um filme em 1979 (dez anos após o seu cancelamento).
Mais sete filmes se seguiram após esse, e o resto é história.
Mas bem, isso sendo dito, eu estou aqui para falar de videojogos e mascar chiclete - e eu estou sem chiclete. O que nos leva ao jogo de hoje. O ano é 1991 e Star Trek comemora seu 25o aniversário. Para celebrar esta data, um grupo de nerds da Interplay que cresceram assistindo pararam o que estavam fazendo (que seria treinar aqueles que viriam a formar a Blizzard) e decidiram que era uma boa hora para homenagear um seriado que tem tanto apreço na cultura nerd.
Agora, a coisa boa disso é que a Interplay (assim como sua sucessora viria a ser, a Blizzard) um estúdio qualquer que se contentava em fazer as coisas de qualquer jeito porque foda-se. Não, não era assim que eles rolavam.
Aquele ponto da sua história eles haviam acabado de lançar o excelente Out of This World e estavam com todo gás da Coca. Então, como fazer uma homenagem a altura? Ora, aproveitando que eles estavam em contato com a CBS para conseguir a licença do jogo, eles perguntaram se eles por acaso não teriam alguns roteiros não utilizados largados por aí em algum canto. E veja só, não é que eles tinham?
Assim, Star Trek: 25th Anniversary Edition é point'n click que na verdade é composto por sete episódios concebidos para serem episódios de verdade da série e sem relação entre si - como uma série de TV mesmo. Mesmo seu inventário não é carregado de um episódio para o outro.
Cada episódio tem aproximadamente meia hora de duração (se você fizer tudo certo, provalmente mais porque point'n clicks não são exatamente intuitivos de pegar e sair jogando) e cerca de quatro ou cinco telas para você explorar, resolver o puzzle e salvar o dia. Cada um dos sete episódios leva você a um local diferente e interessante com um número de mistérios menores para resolver. Um criminoso Klingon que afirma ser o Quetzalcoatl do mito asteca, uma nave estelar abandonada construída por uma raça a muito morta e esquecida, e uma colônia da Federação aparentemente atormentado por "demônios " são cenários que você encontrará neste jogo, e que totalmente parecem algo saído de um episódio da série clássica.
A melhor parte é que o jogo fez sucesso suficiente para que a Interplay conseguisse bancar um lançamento em CD - ao contrário do original, em disquetes - com muito mais espaço em disco. E o que vai nesse espaço original, você pergunta?
Ora o que senão vozes digitalizadas de todo o elenco da série!
A Interplay conseguiu reunir todo elenco principal da série para gravar as falas, e com efeito é a última vez que veriamos William Shatner, Leonard Nimoy, Nichelle Nichols e companhia trabalhando juntos em Star Trek. Tem algo realmente divertido em você selecionar usar o phaser em um momento inadequado e em resposta ouvir o próprio Dr. McCoy dizer "Damn it Jim! That's a phaser not a flashlight!", ou estar no meio de uma batalha e ouvir o escocês vagamente inteligivel do Sr.Scott dizer "She cannae take it, cap'n!" após levar outro tiro.
Claro, algumas das falas soam claramente como se estivessem sendo lidas de um roteiro... mas então quando você assiste as capacidades de atuação de William Shatner, isso não é tão distante de como as coisas eram na série afinal.
Oh noes, Klingons! Felizmente eles ficam tempo parado o suficiente para que eu navegue no inventário e selecione a arma para atirar neles! |
... mas não por muito tempo. O que eu disse sobre camisas vermelhas, menino?! |
Quanto aos puzzles em si, eu acabei achando mais divertido do que eu poderia esperar. Claro, grande parte porque você pode dar ordens para o Sr. Spock analisar coisas para você, mas mais do que isso o jogo tem algumas coisas a seu favor.
Como os episódios são relativamente curtos e você não carrega o inventário de um para o outro, não existe aquela coisa tão ruim em jogos desse genero que é você ter perdido um item duas horas atrás e agora descobre que não tem mais como terminar o jogo. Não, tudo que você precisa está sempre a, no máximo, quatro ou cinco telas de distancia.
Khaaaaaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnn!!!!! |
Adicionalmente, o jogo tem uma variedade surpreendentemente grande de soluções possiveis e na maior parte do tempo também evita aquele outro problema tão recorrente em jogos desse genero que é tentar adivinhar o que diabos especificamente o programador estava pensando quando programou o puzzle. Uma coisa que eu sempre digo é que eu nunca, em mais de trinta anos de videogame, ouvi UM jogador reclamar de "eu tentei uma solução criativa para esse problema e deu certo!" em um jogo. Mais jogos deveriam ser assim, sabe?
A maioria dos puzzles tem lógico e é simples o suficiente para que nenhuma solução seja obscura demais para ser encontrada, enquanto ao mesmo tempo é desafiador o suficiente para trazer uma sensação de realização quando o obstáculo é superado.
Por exemplo, tem uma hora que seu grupo é ameaçado por uma criatura aparentemente feita da energia elétrica. Phasers são tão inúteis quanto o seu redshirt, mas quando o cheiro de carne assada desvanece Spock observa que o chão da tem um alto teor de ferro. Com um phaser settado para kill, você deve derreter uma seção do chão e mergulhar um feixe de madeira no ferro fundido. Agora você tem uma barra de ferro, que pode ser jogado no monstro de eletricidade e o aprisiona.
Por exemplo, tem uma hora que seu grupo é ameaçado por uma criatura aparentemente feita da energia elétrica. Phasers são tão inúteis quanto o seu redshirt, mas quando o cheiro de carne assada desvanece Spock observa que o chão da tem um alto teor de ferro. Com um phaser settado para kill, você deve derreter uma seção do chão e mergulhar um feixe de madeira no ferro fundido. Agora você tem uma barra de ferro, que pode ser jogado no monstro de eletricidade e o aprisiona.
Como eu disse, não é nada tão impensavel assim e normalmente o Sr. Spock dá dicas de sobre o que deve ser prestado atenção no cenário.
Em resuma, ST25thAE é um bom jogo no seu genero, uma bela homenagem que não tinha como ter sido feita mais dentro do espírito da série. As seções de combate espacial são meio tronchas, mas pelo menos só é obrigatório duas vezes no jogo (embora você possa puxar mais briga, dependendo das suas escolhas de dialogo). Até onde jogos licenciados vão, esta empreitada (enterprise, viram o que eu fiz aqui? Hã? Hã?) da Interplay vai audaciosamente onde nenhum pegagrana barato jamais esteve!
Muitos jogos licenciados falham na ideia basica que os vende, que é passar a sensação que você está jogando uma versão interativa da série/filme em questão. Não este aqui, os efeitos sonoros, a estrutura dos episódios, a dublagem dos atores, não tem como ficar melhor que isso.
Bem, e isso é o que eu queria dizer sobre esse jogo. Não tendo mais nada a fazer aqui, só me resta dizer "beam me up, Scotty"