domingo, 17 de novembro de 2019

[AÇÃO GAMES 019] MARIO PAINT (SNES, 1992) [#282]



Como eu posso ou não ter mencionado a essa altura, eu não cresci com um computador. Como tal, fora de algumas raras interações na casa de parentes, eu não tive a oportunidade de experimentar as maravilhas do MS Paint por um bom tempo.

Eu sei que vai soar absurdo para as crianças de hoje, mas antes da internet ser - bem, a internet como a conhecemos hoje - a maior diversão que tinhamos era brincar com o Paint no computador. Você ficaria surpreso o quanto uma criança consegue se entreter com absolutamente qualquer coisa, e aqueles PC da Positivo com cheirão forte de plástico eram o lugar onde a magia acontecia. Eu lembro que eu praticamente aprendi a digitar quando eu datilografei toda Gamers Book do Final Fantasy 7 no Word, usando o melhor do meu word-fu para imitar a diagramação da revista.

Porém anos antes disso, muitos anos antes, na verdade, a Nintendo já havia apresentado o conceito do Paint a milhões de crianças no mundo inteiro. Claro que já haviam outros "jogos" parecidos no Mega Drive (como Art Attack) e no Nintendinho (Videomation)



Só que a Nintendo sendo a Nintendo, bem, é claro que eles não sabem brincar e pegaram aqueles bons três metros de distancia para vir de voadeira com os dois pés no peito. E, por mais primitivo que Mario Paint possa parecer hoje, na época foi a coisa mais espetacular que uma criança poderia ver na locadora. Quer dizer, olha o tamanho da caixa desse bastardo! E vinha com um mouse e um mousepad de plástico!


 Se você acha que a Nintendo de vez em quando tira umas ideias loucas da bunda para impressionar as crianças e enloquecer os pais (Nintendo Labo, oi!), saiba que não foi ontem que eles começaram a fazer isso.


Como o nome na lata implica, Mario Paint apresenta um programa de desenho muito semelhante em design geral ao MS Paint acima mencionado. Essa não foi a primeira tentativa de fazer um jogo de desenho, mas é definitivamente a primeira a ter toda máquina criativa da Nintendo atrás dela, o que definitivamente é uma boa coisa presságio. Na verdade, a Nintendo foi além de apenas fazer o seu "Nintendo Paint" e adicionou uma grande quantidade de recursos extras que não seriam encontrados diretamente no PC na mesma época.



Além do Paint básico com diferentes tamanhos de caneta, tinha a capacidade de preencher cores com o balde de tinta funcionava de forma mais inteligente e melhor que o equivalente para Paint da época, assim como a ferramenta de desenhar figuras geométricas era bem melhor de usar também.

Na verdade, toda apresentação da ferramenta tem aquele padrão de Nintendo de qualidade e tudo é estupidamente intuitivo e fácil de usar, só bater o olho e você já tem uma boa ideia do que cada ferramenta faz e como usa-la (o que é mais do que eu posso dizer o Paint 3D, né microsoft?)

O jogo também tem caracteres de idioma (ocidentais e as duas formas de japonês já que o jogo teve apenas uma versão universal lançada, não sendo regionalizado nem para o Japão nem para os USA)além da  capacidade de copiar e colar objetos facilmente. Usuários intrépidos também podem criar seus próprios selos usando um editor que permite adicionar cor pixel a pixel para criar a imagem desejada.

Foi aqui que pediram um carimbão do MEGA HOMEM?

Claro, há mais do que apenas um emulador primitivo de MS Paint aqui. Mario Paint também tem um programa surpreendentemente funcional para criar música onde o usuário pode colocar efeitos sonoros longo das claves de sol em vários instrumentos diferentes, como guitarras, bateria, buzina e piano, e até alguns sons mais originais como o Game Boy, gatos ou uma risada creepy de criança.

Você pode escrever músicas em 3/4 ou 4/4, ajustar o ritmo na reprodução e até criar acordes que se comportam como em uma escala musical de verdade (tipo você pode colocar o som de game boy na primeira linha ele faz um dó, na última ele faz um si). Melhor ainda, por causa do avançado sistema de som do Super Nintendo, os tons e sons realmente soam como instrumentos reais, não versões MIDI baratas (como é o caso do Mega Drive, deus como eu odeio o som dessa coisa), então você pode realmente criar musicas de verdade uma forma totalmente visual!


Então, você pode desenhar, pode criar música, e isso é bom, sim, mas com certeza seria mais legal ainda se você pudesse colocar essa imagem em movimento... oh não, espere, você pode!

Mario Paint também tem um programa de animação bem simples, então se você quiser criar uma bela cena do oceano e um peixe saltando da água, ou um carro andando numa estrada deserta e solitária, você pode fazê-lo se quiser. Você sabe, arte!

Arte, eu te digo!

Agora, eu disse que o recurso de animação é muito simples e, de fato, é; você pode ter no máximo nove quadros de animação, e quanto mais quadros você usar, menor será a imagem em movimento, mas ainda assim, lembre-se, isso foi em 1992. Se você fosse uma criança nessa época, sua cabeça implodiria com a possibilidade de fazer um desenho animado no seu Super Nintendo.


No entanto, talvez a maior diferença entre o Mario Paint e praticamente todos os outros kits criativos, até hoje, é que a Nintendo sempre fez o melhor para dar a melhor apresentação possível ao seu produto. E isso inclui, neste caso, tornar cada pequeno detalhe do jogo algo divertido e interessante. Mesmo os mais comuns e chatos.

Pegue a tela de título, por exemplo. O fundo branco bem básico com “MARIOPAINT” rabiscado em preto, com Mario de 16 bits correndo em direção ao fundo. Para entrar no jogo propriamente dito, você clica no próprio Mario, mas clicar nas letras também faz com que coisas diferentes aconteçam, como clicar no “O”, que o transforma em uma bomba com um fusível que explode e sopra todas as letras ao redor. Clicar na letra "A" faz a letra cair e todo mundo sempre tentou acertar o Mario com ela.



O jogo nem passou da tela título e já estamos nos divertindo! Que bruxaria é essa?!

Até mesmo apagar uma imagem é mais divertida do que precisa ser, já que tem uma série de ferramentas de borrachas para limpar a tela das mais variadas formas, como o foguete que leva sua imagem embora quando ele decola ou o efeito da água que lava a tela. Claro, se você cometeu um erro, pode trazer essa imagem de volta clicando no rosto de seu fiel companheiro, Undodog. Sim, a Nintendo chegou ao ponto de dar ao botão para o CTRL+Z com um rosto de personagem e um nome.


Em outra nota positiva, você pode salvar seu projeto na bateria interna do jogo, assim você não precisa se preocupar com a obra-prima de nove quadros de um homem robô colidindo com um prédio no futuro distópico e a trilha sonora por trás dele desaparecendo para sempre quando você desligar o Super NES, ou ter que gravá-lo com uma filmadora para mostrar aos outros no futuro.

Na verdade, o recurso de save é outra peculiaridade divertida, pois se manifesta na forma de uma máquina gigante que pega pedaços de dados e os transforma em gotas que são coletadas com segurança na memória do jogo. No lado negativo, você só pode salvar um projeto e leva um longo tempo para salvá-los; essa não é a época de pressionar Ctrl-S para salvar uma imagem instantaneamente.

O jogo também já vem com alguns poucos desenhos prontos para apenas colorir, como o Mario montado no Yoshi em uma alegre cena do Mushroom Kingdom ou então para recortar e colar, com um desenho de um bolo com vários acessórios para copiar e colar nele.


Note-se que Mario Paint marca a estreia do mouse do Super NES, que vinha com o próprio jogo. O mouse fez algumas poucas aparições na biblioteca do Super NES, mas obviamente, esse é o jogo com o qual ele é mais associado e, ao mesmo tempo, mais de 25 anos depois, ele ainda funciona muito bem. O mouse tem um layout bem básico, apenas dois botões roxos montados em uma caixa cinza com uma trackball por baixo, mas é bastante responsivo, e ainda funciona muito bem hoje, como seria de se esperar do acabamento com o padrão Nintendo de qualidade.

Como eu não cresci com um computador, Mario Paint foi minha primeira experiência usando um mouse, e eu suspeito que esse seja o caso de muito mais gente, por isso a Nintendo ajudar a introduzir essa nova tecnologia (vital para a vida adulta, diga-se passagem) para pessoas que podem não teriam interagido com ela de outra forma é algo espetacular.

Existe até uma feature no jogo que ajuda a ensinar proficiência com o mouse, talvez a característica mais lembrada de Mario Paint em geral, o famoso minigame Coffee Break onde você manipula um mata-moscas e abre caminho através de ondas cada vez mais agressivas insetos. Mais uma vez, como é que a Nintendo conseguiu transformar um minigame projetado para ensinar habilidades de mouse em um clássico? Esses japoneses tem que ser estudados pela NASA.


Embora seja difícil classificar o Mario Paint como um jogo, é certamente um conceito fascinante. Porque, ao mesmo tempo que é um conjunto de ferramentas criativas muito completo, com recursos suficientes para fazer um trabalho bastante elaborado, ao mesmo tempo é casual o suficiente para que as crianças entendam a mecânica e, considerando que ele foi feito para rodar em um equipamento que não tem nem 2Mega Hertz de processamento direito (a titulo de comparação, o computador que eu estou escrevendo esse texto trabalho com 3.2 GIGA Hz de processamento!), é um feito impressionante!

O que eu posso dizer, eu realmente amava Mario Paint quando criança e mesmo que hoje ele seja uma peça de museu completamente desnecessária (qualquer celular xingling tem uma suite de aplicativos criativos melhor instalada hoje), para sua época foi algo que a apenas a Nintendo poderia pensar.

Sabe, poucos jogos representam o que faz a Nintendo tão diferente de qualquer outra empresa no ramo como Mario Paint. Eu não vou dizer que a Nintendo nunca erra, porque eles erram bastante, mas mesmo quando eles erram... é porque eles realmente estão tentando coisas novas. Mesmo fracassos como o Virtua Boy ou Zelda II são erros tentando fazer algo novo, algo diferente.

Então, eu sou posso realmente agradecer por ter tido um "jogo" como Mario Paint durante a minha infancia. Obrigado, Big N, mesmo que com essas telas de loading que me dão medo até hoje!


Sério cara, que merda é essa?!