Imagine a seguinte cena: você é um nazista. Todo dia pela manhã sua rotina consiste em saudar seu poster de um cara com bigode feio, então assistir uma maratona de bebês focas sendo espancadas com tacos de madeira enferrujada enquanto enfia crayons no seu nariz... ou qualquer coisa que alguém com esse nível intelectual considere como diversão, enfim.
E então, vasculhando suas antigas gavetas para encontrar novas ferramentas para tornar a vida das pessoas pior por nenhum motivo maior que você ser um ser humano asqueroso e isso é a única coisa que te faz feliz, você acaba encontrando um antigo diario do seu avô, Papa Auchiwitz.
Surpreso, você descobre que sua vó era uma judia negra. Tudo pelo que você viveu a sua vida inteira é uma mentira (quer dizer, sempre foi porque eugenia não só é uma ideia demente, como cientificamente enfraquece a espécie, mas enfim). E você também descobre que é gay.
Bem, acreditem ou não, eu tive uma experiencia muito parecida recentemente.
Como é muito recorrente por aqui, esculhambar a Sega é um hobby particular meu. Não que eles se ajudem, mas eu admito que sinto um certo prazer em fazer bullying com a casa do Blast Processing. E um dos motivos para isso é que eu tive pais que se importavam comigo e me deram consoles da Nintendo durante a minha infancia.
... ou era isso que eu achava!
TAN TAN TAAAAAAAAAAAAN!!!
Nossa história começa no natal de 1991 quando eu ganhei meu primeiro videogame (antes disso eu jogava em um Odyssey 2, mas não era meu exatamente): um famiclone que atendia pelo nome de Bit System. Junto com ele vieram dois jogos.
O primeiro jogo que eu joguei naquela noite foi apenas... amor a primeira vista. Sabe quando instantaneamente você bate o olho e sabe que as coisas mudaram para sempre, mas para muito melhor? Bem, trinta anos depois aqui estou ainda escrevendo sobre videojogos por conta única e exclusivamente deste momento mágico:
... ou é isso que gosto de dizer para mim mesmo. A verdade é que antes de me apaixonar pelo jogo que mudou para sempre a história dos videogames... bem, ele não foi o meu primeiro. Não é assim que essa história começa.
O que eu raramente menciono é que na verdade Super Mario Bros não foi o primeiro jogo que eu joguei no meu Nintendinho. Antes dele eu testei o outro jogo que veio naquela noite, um jogo absurdamente obscuro que eu nunca vi ninguém falar nada dele: Duck.
Agora, isso é estranho, não? Existem muitos jogos pouco conhecidos no NES, claro, mas porque ninguém nunca falou nesse jogo em especial? Quer dizer, ele é um bom jogo! É um puzzle realmente criativo sobre um pato que tem que levar o seu ovo até sua casa no fundo de... bem, eu não sei o que esse buraco, mas enfim.
O segredo aqui é que você tem que ir descendo seu ovo pela fase, porém existem diversas formas disso dar errado. Se ele cair de uma altura muito alta, ele quebra. Se voce pular em cima dele, ele rola para o lado mas se não tiver espaço para rolar, ele quebra. Se você se afastar dele por muito tempo uma raposa surge (na época eu chamava de gato porque eu não conhecia raposas... eu não fui uma criança muito espera) e rouba ele.
Como ferramentas seu personagem-título tem a capacidade de abrir caminho bicando o chão e isso é usada de uma forma extremamente criativa para fazer um puzzle game. Os saltos laterais que você tem que dar para abrir caminho para o ovo fazem deste um bom jogo realmente.
Parte do apelo do jogo é que os níveis podem ser abordados de uma variedade de maneiras diferentes. Você vai levar o ovo através do buldogue, com esperanças de que você vai conseguir abrir caminho antes que ele chegue? Ou você vai cavar através da pedra metodicamente e evitar as quedas muito perigosas? Os níveis são brilhantemente construídos, e os produtores obviamente passaram um bom tempo desenhando eles, não são apenas jogados de qualquer forma.
Então se é um puzzle tão bacaninha, porque ninguém fala dele?
Bem, então... as pessoas falam, mas não dele exatamente. Isso porque Duck (ou Duck Maze, dependendo da região) é na verdade um hack de um jogo que nunca foi lançado para o Nintendinho chamado Penguim Land. Então alguém viu esse tal de Penguim Land, mudou os sprites (e a ave do titulo) e tascou não-licenciadamente no console da Nintendo.
Nesta aventura, o Comandante de Missão Sobremordida tem que se aventurar ao infinito e além para resgatar ovos que se perderam em planetas longiquos e... espera, como assim? Como, especificamente, ovos foram parar em planetas alieniginas? Eles não foram sequestrados nem nada, eles apenas estão lá!
... mas enfim, eu sei que ninguém joga jogos antigos pela coerencia narrativa de qualquer jeito. Penguim Land é o mesmo jogo que Duck, com algumas diferenças.
Os são melhores aqui e o jogo tem um timer que Duck não tem, e eu realmente prefiro sem já que puzzle com tempo não é uma coisa que eu goste muito. A versão de Master System também tem 50 fases contra apenas 20 na edição pirateada. Mas, mais importante que isso, a versão do Master System tem um editor de fases! Sim, você pode não apenas jogar mas criar seus próprio estágios!
Uau, isso é algo realmente legal, tenho que dizer!
Sabe, Penguin Land pode não ser uma obra prima da história dos videogames, mas é um jogo bem feito e bem pensado. Pode não ser glamuroso quanto Super Mario Bross, mas definitivamente é um bom jogo para ter começado a minha carreira gamer.
O que realmente implora a questão: quem fez este jogo? Quem fez o primeiro jogo que eu joguei na vida? A quem eu devo agradecer por ser parte tão fundamental de quem eu sou hoje, quem é o resposavel por uma parte tão grande do meu próprio ser?
Deixa eu checar na wikipedia...
... eu ... eu... eu... apenas... bem, eu gostaria de aproveitar este momento profundamente revelador sobre o meu passado e apresentar uma demonstração prática de como funciona o modelo criado pela psicologa suiça Elisabeth Kubler-Ross para compreender o sofrimento humano.
1) a negação;
2) a raiva;
3) a barganha;
4) a depressão;
5) a aceitação.
HELL NO QUE EU POSSO ACEITAR ISSO! Eu não acredito nisso, eu nem faço mais ideia de quem eu sou! Quem é esse estranho que me olha através do espelho? QUEM SOU EU?!?!