quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

[AÇÃO GAMES 001] CONQUEST OF THE CRYSTAL PALACE (NES, 1990) [#093]



O Palácio Celestial era um lugar de harmonia e prosperidade até que um evento terrível recaiu sobre si: o maligno ataque dos censores da Nintendo, que não podiam permitir o mais remoto resquício de menção religiosa em seus jogos. Então ele foi renomeado de Palácio de Cristal no ocidente, porém continuou sendo um lugar de harmonia, paz e felicidade.

Segundo o manual do jogo, "todas as coisas grandes e pequenas eram tratadas como iguais". Ou seja, é a propaganda de um país comunista se eu já alguma na minha vida. Todo mundo é igual pra caralho na Coreia do Norte também... O nosso Stalin aqui é o rei Bretor que, segundo a propaganda oficial do governo, encorajava as pessoas a serem boas e honestas. Aham, sei. O rei Bretor era casado com a rainha Zyla e o filho deles era o inocente e belo principe Farron.

As noticias de prosperidade do Palácio de Cristal se espalharam aos quatro cantos do mundo e logo o lugar se tornou um paraíso de igualdade social, onde povos de todas as raças viviam em harmonia e felicidade. Sim, porque antes do Facebook os SJW tinham que escrever suas fanfics em algum lugar né, mesmo que fosse no manual de jogos de Nintendinho.

Um dia um dissoniano... seja lá o que isso for, o cara que escreveu o manual estava mais perdido no mundinho dele que o Booker T e achou que esse contexto não era importante... estava cantando os louvores do Palacio de Cristal onde chovia leite e mana dos céus quando um espirito maligno do leste ficou interessado na história.

Você não odeia quando você está falando sobre as maravilhas do Palacio de Cristal com seu grupinho de amigos e um espirito maligno do leste vem de metido na conversa? Pois é.




Este seria Zaras, um terrível espirito da guerra do século 20... porque parece que espiritos da guerra são divididos por século, por algum motivo... que decidiu que ia acabar com esse comunistão repleto de hippies que colhiam florzinhas! Sabe, Zaras, tirando seu hábito de ficar stalkeando conversas dos outros, acho que eu realmente não consigo te odiar

O próximo passo foi que Zaras simulou um exército de guardiões malignos que... espera, ele o que? Como assim simulou, manual? É essa palavra mesmo que você quer usar? A pessoa que escreveu isso realmente falava inglês? Mas enfim, o exército simulado eliminou rapidamente o rei Bretor e a rainha Zyla... de alguma forma. Depois disso Zaras não parou por aí, transportando o povo do Palacio de Crystal para as estrelas e ... areas do céu que nunca haviam sido vistas antes? O que? Mas oi? O que isso possivelmente pode significar?

Restaram apenas duas pessoas no Palacio de Cristal: o guardião das chaves e das terras de Crystal, Zapolis e o principe herdeiro, Farron. Zaras tinha planos muito especiais para eles, provavelmente porque era um demônio com TDH e logo esqueceu o que estava fazendo ali. De qualquer forma, ele transformou Zapolis em um cachorro e Farron em um bebê. Depois disso o manual diz que Farron chamava ele de Zap, o que é uma informação interessante mas meio que fora da sequencia de eventos aqui, caras!

Caralho, desde a Bíblia eu não lia algo com tão pouca coerencia narrativa, mas enfim, continuando...

Zap deu uma de Aioros e saiu correndo com o bebê Athena Farron  antes que baixasse o Skywalker no Zaras e ele decidisse passar a faca na criancinha.

15 anos se passaram e agora Farron é um menino robusto e desenvolvendo uma curiosodade natural pelas partes macias das meninas e do entregador de leite, quando Zap revela que ele não só é um cão falante como Farron é o principe perdido do lendário Palacio de Cristal! Farron aceita tudo isso bastante bem até, todas as coisas consideradas, então é hora de pegar no espadão e CONQUISTAR O PALÁCIO DE CRISTAL!

Nossa, como alguém consegue escrever tão mal duas paginas de manual? De verdade, eu quase preferi estar lendo 50 Tons de Cinza. E apenas a titulo de curiosidade, o jogo te diz que na verdade Farron ja era um bebe quando o ataque ao Palacio de Cristal aconteceu, a menos que Zaras tenha usado sua magia para transformar o bebe... em um bebe? Honestamente, depois do Valdemar e da Mumia 2017 eu não duvido de mais nada quanto ao quesito "fazer idiotices para matar bebes".

Gente, não é tão dificil assim matar um bebê, tá bom? Hmm, acho que essa frase pode soar meio estranha fora de contexto, nessas horas eu agradeço que ninguém lê isso aqui...

A coisa realmente interessante a respeito desse jogo é que ele foi o primeirissim jogo desenvolvido por uma dupla que marcaria para sempre a história dos videojogos: o diretor Yasumi Matsuno e o compositor Masaharu Iwata.

Quem?

Apenas os caras que fizeram isso:



E isso!


E, mais importante do que tudo isso junto, ISSO:


Eu te digo isso: se um homem consegue fazer cavaleiros de chocobos parecerem fodas, não há nada que este homem não possa fazer. E todo esse talento, toda essa química entre Matsuno e Iwata que escreveu sua própria página no hall da fama dos videogames começou... em qualquer outro lugar, não aqui.

Veja, não me entenda errado, A Conquista do Palacio de Cristal não é um jogo ruim - apesar do seu manual tentar fazer parecer isso, mas também não é um jogo muito memoravel por muitos outros aspectos do que ser o começo da carreira de dois icones da industria gamística.

É um joguinho de plataforma bastante curto em que você avança e mata coisas com sua espada, e como quase tudo na época, filhadaputamente dificil. Com efeito, existem apenas dois aspectos no jogo que realmente chamam atenção.

Um dia eu verei o último chefe do jogo sem dar uma risadinha, mas este dia não será hoje!

O primeiro é o seu cão Zap. Um pouco parecido com Shadow Dancer, nosso herói tem um parceiro doguinho que está mais do que disposto a ir pra cima dos inimigos e gritar UAIDOUANAQUILME na cara deles. A diferença aqui, no entanto, é que para isso Zap injetou um concentrado de cocaína com café na bunda, pq o bicho sai quicando pela tela mais loucão que o Bin Laden jogando Bomberman. É um efeito bastante engraçado de se ver, na verdade.

É interessante também que Zap ocupa espaço fisico no jogo, e você pode subir em cima dele. Porque todos sempre quisemos ter um valente doguinho de montaria, estou impressionado que o jogo não tenha investido mais nesse aspecto. Pensando bem, acho que com um pouco de esforço seria possível transformar o jogo em um coop. Imagino que a produtora Quest não tivesse o tempo e os recursos (ou seria o tempo um recurso, hã?) para faze-lo em 1990, mas suponho que teria funcionado muito bem.


Isso porque enquanto Zap sai quicando mais doido que o coelho Ricochete em um comercial de pilhas (imagino que as unicas pessoas velhas o bastante para entender essa referencia estão no mesmo grupo de whatsapp de osteoporose que eu), ele tem sua propria barra de vida e sumona-lo em locais pouco salubres acabarão com toda sua saúde canina como nenhum lixo revirado foi capaz de faze-lo até então.

O que nos leva a segunda coisa diferente deste jogo: no meio das fases você encontrará uma vendedora ambulante chamada Kim, e ao encostar nela você irá para uma lojinha onde é possivel gastar o dinheiro que você coleta dos inimigos derrotados. O que é interessante aqui é que não só essa é a única forma de recuperar energia (comprando itens para isso) tanto sua quanto do cachorro Zap, mas também Kim vende uma arma especial em cada nível que é superefetiva contra o chefe daquele estágio.

Então CotCP tem um feeling meio de "Mega Man do homem pobre", as semelhanças desse sistema de armas especiais e o Zap fazendo as vezes de Rush doidão de crack são bastante palpaveis. Na lojinha também rola uma cutscene onde ela apresenta uma esquete de notícias sobre o que está rolando no reino, onde eu suponho que deveria ter sido uma satira a sessão de meteorologia dos telejornais mas é tão mal traduzido que realmente não dá para ter certeza.

Como assim, que sequestro? Quando aconteceu um sequestro nessa história?

Como bom jogo de console da Nintendo dos anos 90, também é digno de nota dizer o quanto a censura comeu solta para proteger as criancinhas americanas de verem coisas tão horríveis e nefastas que as imediatamente transformaria em competidoras de Keijo.

Existe uma fase que se passa no inferno (o Palacio de Cristal vence Manaus em dificuldade de se chegar por léguas de distancia) que é formada por cabeças sofrendo e seus inimigos são fetos do capiroto. Desnecessário dizer que na versão americana isso foi substituido por algo muito mais amigavel e família, como aranhas azuis de um metro de altura.



Conquest of the Crystal Palace é um jogo bastante decente, com bons gráficos (lembra bastante o jogo do Jackie Chan, que é bastante bom também) e boa jogabilidade. Tem uma coisa estranha que se você atacar enquanto está pulando seu personagem cai como um tijolo de seis furos, mas não é nada com que você não se acostume depois de um tempo. 

Devido a alguns problemas de distribuição o jogo nunca ficou realmente famoso no ocidente, o que é realmente uma pena já que a biblioteca do NES é repleta com MUITA coisa pior que isso.