Hoje muitos jogos são tratados pelas empresas por uma filosofia de "games como serviço", o que significa que eles se propõe a não apenas te vender um jogo e se fode aí maluco, mas continuamente ao longo do ano ficar corrigindo bugs, adicionando conteúdo, nerfando personagens, buffando outros e por aí vaí. O que até pouco tempo atrás era exclusividade de patches de jogos exclusivamente online, hoje é prática comum em qualquer grande jogo.
The Witcher 3, por exemplo, tem 16 DLCs entre armaduras, armas, roupas alternativas, novos ataques especiais e um game plus. Alguns deles são pagos, outros não - e é aí que a produtora tira dinheiro. Claro que esse é um jogo complicado de se jogar, já que se você for muito ganancioso e fizer um jogo que só pode completado comprando conteúdo adicional, muito provavelmente o tiro vai sair pela culatra e os gamemaníacos vão odiar o seu jogo. O que é um dos motivos pelos quais nós odiamos a Eletronic Arts (mas definitivamente não o único)
O que talvez você não saiba é que essa coisa de continuar perpetuamente trabalhando no seu jogo como uma eterna obra inacabada não começou com um jogo indie obscuro e sim com um titulo realmente grande. Um dos maiores de todos os tempos, na verdade: Street Fighter 2.
Street Fighter 2 foi lançado em 1991, Street Fighter 3 foi lançado em 1997, Street Fighter 4 em 2008 e SF 5 só em 2016. Então o que a Capcom ficava fazendo entre um lançamento e outro da sua marca? Ora, que pergunda, atualizando o jogo, é claro.
Ok, mas como você atualiza o jogo se na época quase não havia internet e muito menos nos arcades? Muito simples, na verdade: você vende ele de novo com um ligeiro update. Quantas vezes você consegue vender o mesmo jogo para as mesmas pessoas é uma tecnica que a Capcom elevou ao status de arte.
E o primeiro dessa série de updates de Street Fighter 2 é Street Fighter 2: Champion Edition. Que basicamente é o mesmo jogo só que com pequenos patches adicionados como poder lutar com dois personagens iguais (agora todos os personagens tem uma segunda cor de roupa ou de pele para diferenciar), os cenários receberam minusculos updates e agora você pode escolher os chefes.
UAAAAAAAAAAAAT?!?
Jogar com os quatro chefe finais de Street Fighter 2 é o grande ponto de venda desse jogo, e embora sendo claro que eles foram nerfados uma vez que se tornaram personagens controláveis, ainda sim foi um grande boom na época.
Agora, tem uma coisa interessante sobre os chefes de Street Fighter 2: tanto na versão americana quanto na japonesa, Sagat - grandalhão tailandes que acha todo mundo doido de pedra ...
É Sagat, senta lá... |
... ainda se chama Sagat. O mesmo não vale para os outros chefes do jogo que tiveram um samba do crioulou doido com a troca dos seus nomes entre a versão americana e japonesa.
Isso acontece porque na versão japonesa (a original) do jogo, o boxeador negro se chama Myke Bison - o que é uma clara referencia a Myke Tyson, que era o cara do boxe na época. A Capcom da América sentiu cheiro de processinho no ar e decidiu por bem trocar os nomes para não se incomodar, fazendo assim uma dança das cadeiras com os nomes dos chefes.
Porque não dar aos personagens novos nomes ao invés de apenas trocar? Porque é mais fácil assim já que muitos dos textos vinham em sprites prontos e não uma fonte para escrever do programa de edição. Então se os americanos quisessem criar um nome novo teriam que desenhar o nome de novo, sendo que é muito mais fácil só recortar e colar.
Tela japonesa do jogo, esse "M. Bison" aí é uma das coisas que eles queriam reaproveitar |
Bem, agora que estamos todos cientes do que rolou até aqui, vamos ver quem são esses quatro caras novos que temos para socar os coleguinhas.
BALROG
O boxeador americano inspirado em Myke Tyson era um campeão de boxe, até ser banido do esporte por lutar muito sujo fazendo coisas como dar cabeçadas e bater em oponentes que já estavam caídos. O que o tornou o "capanga fortão e burro que não faz muitas perguntas" perfeito para Bison contratar para a Shadaloo. Infelizmente para a Shadaloo, Balrog costuma ficar em Las Vegas e não faz muito para impedir a procissão que aquela base secreta se tornou.
Seu cenário é a própria cidade do pecado, onde ele e seus bros tentam vencer os oponentes causando ataques epiléticos com tanto neon na cara.
Nenhum dos chefes nesse jogo tem uma animação em seus finais, apenas texto. Porém o de Balrog é particularmente inspirado:
"As vezes, apenas o poder dos punhos de um homem pode salvar sua bunda nas ruas". Uma lição para a vida, crianças, não sei como o Vin Diesel ainda não usou em Velozes e Furiosos.
VEGA
O arquétipo de personagem de Vega é muito comum em mangás e animes: o narcisita de cabelo longo, extremamente popular com as mulher e alguma coisa afeminado em seus trejeitos, como o Zelos em Tales of Symphonia, o Kurama em Yu Yu Hakusho ou o Thranduil no Hobbit.
Apaixonado realmente apenas por si mesmo, e usando uma mascara para evitar que seu belo rosto seja ferido,Vega é usado por Bison como o principal assassino da Shadaloo, que concede a seus inimigos uma morte fabulosa! Tanto que o estilo de luta dele é ninjutsu misturado com habilidades de tourada, é claro. Porque não?
A história de Vega, no guia oficial da Capcom, é que ele pertencia a uma nobre família espanhola que ficou pobre, então sua mãe teve que se casar com um homem feio como o cão mas que era rico. Seu padrasto abusava dela, até o dia em que sua mãe acabou morrendo devido a violencia doméstica e Vega o matou. Desde então ele decidiu adotar uma cruzada pessoal em acabar com todas as pessoas feias do mundo, como o seu padrasto, e essa é uma causa que eu posso apoiar.
"Este mundo existe apenas para a beleza. Então naturalmente apenas um bonitão gostosão como eu poderia vencer", Vega diz alisando seu cabelo loiro. Hee. Hee. Hee.
Sheer poetry, my boy!
SAGAT
O tailandês doido de pedra e mestre do Muay Thay (que nos anos 90 nós chamavamos de boxe thailandÊs) era o último chefe no Street Fighter 1, onde após estar praticamente certo da vitória foi derrotado por Ryu com um shouryuken e ganhou uma cicatriz no peito como lembrança desse dia fatídico.
Sagat nunca aceitou de boa a humilhação e a derrota, e entrou para a Shadaloo porque Bison prometeu usar os recursos da organização para achar Ryu e lhe dar a revanche que ele sempre quis. Desde que em troca ele fizesse uns trabalhinhos para a mafia, sacumé, né?
Seu golpe mais iconico é o Tiger Uppercut, mas que todos nós entendiamos como "Tiger Robocop".
Em seu final Zé Gato não diz nada muito engraçado, mas sabemos que ele teve o confronto que queria com Ryu e agora vai dar uma chance para o mendigo favorito dos jogos de luta treinar e poder desafia-lo mais uma vez. Obviamente Sagat não tem Netflix.
M. BISON
Passados mais de trinta anos de Street Fighter, não se sabe nada sobre Bison. E por nada eu quero dizer absolutamente nada MESMO, não sabemos nem o que o "M." do nome dele significa (nós chamavamos ele de "maestro Bison"), sua idade, sua história, nada. Exceto que ele lidera uma organização do mal que odeia o bem e que tem poderes psíquicos e... bem, é isso na verdade.
E que ele gosta de estar certo.
Em seu final, Bison cria um exercito e domina o mundo, agradecendo ao jogador por ter feito o Bisoncalipse possível. E vocês riram quando ele pretendia fazer lavagem cerebral nos maiores lutadores do mundo para domina-lo!
Quem está rindo agora?!
MATÉRIA NA EDIÇÃO 019
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