Uma das coisas que os fãs da Sega mais reclamam hoje em dia é que a Sega não trata bem suas franquias. Acho que com exceção de Yakuza, é seguro afirmar que a Sega não faz a mais remota ideia do que fazer com suas marcas - tanto em publicidade quanto em títulos. Se você gosta de uma franquia da Sega, uma certeza que você pode ter na vida é que jamais vai ter ideia alguma se outro jogo disso será lançado, e na ocasião de ser lançado se não vai ser algo tipo exclusivo para os arcades no Japão, coisas assim.
Quer dizer, se a Sega faz essa putaria com seus hardwares, imagina com seus IPs, né? E bem, o que pode ser menos surpresa ainda para as pessoas é que isso não era realmente melhor nos anos 90. Com efeito, era bem pior.
Por exemplo, Shinobi é uma das boas franquias da Sega. Run'n Gun raíz, correr e atacar, bons controles, limpo e simples, culminando em SHINOBI III: RETURN OF THE NINJA MASTER como um dos melhores jogos do Mega Drive. Então seria de esperar que a Sega lançasse o Shinobi para Saturn com fanfarra e estrondo, né? Então... não.
Uma das coisas estranhas sobre Shinobi Legions é que, apesar de ser o último jogo de uma franquia central da Sega na época, ele foi publicado no ocidente por uma empresa diferente. Considerando que a Sega não voltaria a fazer outro jogo de Shinobi até 2002 (aí então para o Playstation 2), é bastante claro que Sega não tinha ideia do que fazer com a franquia.
E em retrospectiva, isso fica meio óbvio vendo esse jogo já que ele é apenas o jogo do Mega Drive com atores digitalizados no lugar de sprites. Na verdade, é mais um passo atrás comparado com a versão de Mega Drive se formos honestos - mesmo que o produto final não seja ruim.
Enquanto a série Shinobi sempre foi ... hã, curta ... no departamento de história nesse jogo disso, optou por oferecer mais narrativa ao jogo. Mais ou menos. Isso porque entre uma fase e outra, a Sega colocou uma historinha filmada que é basicamente um episódio de tokusatsu dos anos 90, com os valores de produção que você poderia esperar de um toku dos anos 90.
Eu sou suspeito para falar, já que eu gosto dessas breguices japonesas, mas o episódio de toku é de longe a melhor coisa desse jogo, com todos os efeitos especiais feitos no paint e atuações over the top, com uma trama tão ridicula quanto sobre uma tecnica secreta que pode... hã, não é dito exatamente pra que eles querem essa tal tecnica, mas ela definitivamente serve para alguma coisa já que todo plot gira em torno de sequestrar a namorada do nosso Shinobi-boy, a única capaz de passar adiante tal tecnica. Quer dizer, eu espero que ela faça alguma coisa mas não apostaria dinheiro nisso.
Trapezotadas niponicas a parte, isso dá ao nosso herói Sho um motivo para jogar shurikens no rosto dos seus inimigos para salvar sua namorada (na verdade são kunais, mas o menu de opções do jogo mesmo chama de Shuriken). Ou, neste jogo, cortá-los com sua katana. Isso porque ao contrário dos jogos Shinobi anteriores, Legions coloca mais ênfase em se aproximar de seus inimigos e cortá-los com a espada, em vez de matá-los à distância. Para conseguir isso, os designers nerfaram as shuriken (ou shurikins, como diria a Ação Games), tornando-as lentas para serem lançadas. Além disso, eles aumentaram o conjunto de golpes disponíveis (alguns até envolvendo comandos de jogos de luta) e a velocidade da espadada.
Uma mudança no estilo de jogo não é uma coisa ruim per se, pois nesse caso fatiar os inimigos é satisfatório tanto pelo som como pelo gif dos imimigos sendo cortados ao meio com sangue. É brega, mas é de breguice que a gente gostcha. Outra vantagem dessa nova abordagem é que para compensar o nerf nos ataques a distancia os inimigos no jogo têm menos ataques a distancia do que no jogo anterior. Em suma, este é realmente um Shinobi mais fácil do que os do Mega Drive - que são jogos absurdamente dificeis, chegando a virar verdadeiros bullet hells em alguns momentos.
O problema é que essa mudança no foco para o combate corpo-a-corpo não veio com controles correspondentes, com controles um pouco lentos e sem resposta. Alguns comandos às vezes não são registrados e os pulos duplos falham sem motivo. O que eu quero dizer é que esse jogo responde PIOR que o jogo do Mega Drive, e isso para um jogo que é 100% sobre jogabilidade... aí complica, né amigo?
Verdade que comparado a outros jogos de plataforma com gráficos digitalizados esse Shinobi não é TÃO ruim, na verdade esse jogo é bastante funcional, mas não dá pra um jogo de Saturn ser comparado com seu equivalente de Mega Drive e ser PIOR. Assim não pode, assim não dá!
E não ajuda muito que esse genero de jogo dependa tanto dos controles, porque os designs dos próprios níveis não são criativos - consistindo basicamente em avançar em linha reta, ocasionalmente tendo que pular em uma parede mas não muito mais que isso - a única exceção são os dois níveis finais que substituem os corredores em linha reta por fases com buracos da morte e vários one hit kills. Grande...
Os gráficos, como já foi comentado, são atores digitalizados que parecem mais feios que os desenhos do jogo para Mega Drive - embora ainda seja mais bonito que os primeiros gráficos poligonais da época, e não atrapalha o gameplay de qualquer maneira.
Em conclusão, se você pegar o jogo isoladamente, Shinobi Legions é um run'n gun funcional para Saturn, embora sem nada de especial. Só quando você o compara a versão de um console inferior é que você fica desapontado. Como eu disse, a Sega tinha pouca ideia do que fazer com suas franquias principais no Saturn - tanto que mesmo Sonic mal teve um jogo no Saturn - é isso é bem óbvio.
A única coisa mais óbvio que isso é um ninja tentando se esconder vestido de branco.
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