segunda-feira, 11 de outubro de 2021

[PC] ECSTATICA (Agosto de 1994) [#770]


Antes de começar os trabalhos, eu queria na verdade abrir te pedindo um favor: olhe essa capa. Eu quero dizer, olhe bem essa capa. Ela não é horrível, realmente. Um cara sem rosto e uma moça magumbífera fogem de uma vila em chamas e monstros. Conceito legal, arte bacana, massa. Sim, claramente é um jogo sombrio sobre uma jornada rumo ao horror final.

Essa é a capa do jogo, já o jogo em si...

Os cara realmente se deram ao trabalho de fazer genitais de bolas pro personagem, num guentei

Eu não sei, cara. Normalmente eu não costumo implicar com gráficos dos jogos antigos, especialmente um jogo de computador de 1994. Mas cara... tem alguma coisa nesses gráficos que fazem cada um dos meus poros gritar em horror uníssono. Esse jogo é encrenca, esse jogo é problema e eu posso saber disso apenas olhando esses gráficos...

... e ao mesmo tempo, eu não consigo parar de olhar para esse jogo. Sabe, eu não compartilho essa grande paixão que as pessoas tem de ver desgraça. Eu não assisto snuff films, eu não vejo telejornais, na verdade eu sequer desacelero quando passo por um acidente de transito para ver a desgraça e tripas como todo mundo adora fazer. Eu realmente não faço isso. Porém, apenas porém, vendo esse jogo eu meio que consigo entender a sensação.

Esse jogo é tão errado, tão ruim, tão tosco de todas as formas possíveis e imaginaveis... que é fascinante olhar pra ele! Sério, esse jogo é tipo o equivalente do The Room para videogames, um acidente de trem tão completo e tão absoluto que não tem como se maravilhar com a tosquice dele. Esse jogo é como se uma adaptação de filme para jogo da Ocean e um filme da Cannon dos anos 80 tivessem uma noite mescalinesca de amor, e o resultado nove meses depois é esse jogo. Esse é o tipo de jogo que esse jogo é.


Nossa história é bem simples, tão simples quanto se pode imaginar: você está andando com seu cavalo mutante com cancer (ou que é um personagem de Jojo pra ter os musculos inchados desse jeito) quando sua água acaba. Você então para no vilarejo mais próximo afim de encher o seu cantil. O que possivalmente poderia dar errado?

Após essa breve cutscene você assume controle do seu personagem (mais sobre isso daqui a pouco), e bem, verdade seja dita eu poderia colocar  um gif aqui dos primeiros instantes que você controla esse jogo mas esse é um dos jogos que precisa, que implora que você também ouça os efeitos sonoros. Sério, é realmente vital:

Cara, sério, eu realmente não sei o que dizer... o jogo mal começa, tu nem sabe o que os botões fazem direito ainda e o jogo te MOI NA PORRADA. Mas sério, não é um soquinho ou dois, tu apanha mais do que tapete em dia de faxina, apanha que dá gosto.

Junte a isso esses gráficos estranhos que por algum motivo são feitos de bolinhas e não de triangulos, como é o padrão dos jogos 3D com coisas sem sentido nenhum acontecendo na tela. Tipo nessa cena acima, que você apenas se solta... pq sim, e era isso. Simples assim. Tipo, what?

Vc está preso pelos pés, então decide se soltar e cai como um saco de batatas no chão, apenas pq sim. Ou então essa cena fabulosa que os padres te dizem que vc não pode tocar na reliquia sagrada... e vc afofa a cara deles com a dita cuja. 


Esse jogo é repleto de momentos involuntariamente hilários assim, e eu digo involuntariamente porque claramente a intenção do jogo era ser de terror. Mas com os personagens mais inchados que a Graciane Araujo e a bifa comendo mais do que em paródia de filme de kung fu, não tem como levar a sério uma desgraça dessas.

Eu entendo as razões pra que isso provavelmente pareceue uma boa ideia, incluindo permitir uma melhor animação do que os polígonos ofereciam na época, e modelos de personagens mais detalhados do que o elenco de ALONE IN THE DARK que parecia ter sido espancado no rosto com uma pá. 

Em um momento, você está batendo um papo com o demonio dentuço...


O gameplay em si, é estranho. Como qualquer jogo desse tipo nessa época, os controles são terríveis. ALONE IN THE DARK parece que eu estou jogando Scarlet Nexus em comparação. Não ajuda muito que os controles tanque menos responsívos conhecidos pelo homem sejam explorados com o fato de que você está constantemente sendo perseguido por um lobisomem malvado do mal. Você pode fugir, mas ele simplesmente spawna do nada aleatoriamente, em vez de em intervalos específicos, e é mais do que poderoso o suficiente para moer sua vida imediatamente. Existem inimigos muito mais fracos também, incluindo alguns duendes, que tambem agroam em você como se estivessem sendo pagos pra isso e te moem na porrada, porque tudo te moi na porrada com esses controles pavorosos.

Porém não bastasse o combate ser tenebroso por causa dos controles, tem ainda que as quests raramente te dão dicas do que fazer a seguir. Seu modus operandi basico é andar aleatoriamente, o lobisomem e os duendes spawnam aleatoriamente pra te moer no pau, torcer pra achar algum item e então depois torcer pra achar um lugar pra usar ele. É meio como uma versão survival horror de SAM & MAX HIT THE ROAD. Com controles como se você estivesse usando luvas de boxe.

E então tem esse cara enforcado, just because

O aspecto positivo, pelo menos, é que é que quando você consegue fazer as coisas acontecerem, elas são muito estranhas. Bizarramente estranhas, de um jeito "WTF eu estou vendo?!". No final do jogo, por exemplo, você enfrenta o diabo com uma arma capaz de matá-lo e ele oferece um acordo - entregue a ele a arma e vc será recompensado. Essa recompensa, então, é ser escoltado a um harém pessoal para ser abanado com folhas pelo resto da eternidade por homens nus em máscaras de BDSM e botas altas, com o diabo indo embora e dizendo "HAW HAW HAW". Eu não estou inventando isso.

Como muitos jogos dessa época, é bem curto se você sabe o que está fazendo - o speedrun dele tem aproximadamente 12 minutos, mas como eu já disse, o jogo é confuso como o inferno de se saber o que fazer porque, dicas e conselhos não estão no topo da lista de prioridades dos designers. O final bom também contém um ótimo momento "Por favor, não pense nisso", já que a ponte que sai da cidade nunca é reparada. Quando o herói resgata a garota cujo cérebro está produzindo toda a estranheza (o nome dela é Ecstatica, porque aparentemente esse é um nome agora), eles apenas aparecem no outro lado através do poder do amor ou algo assim. 



Uma curiosidade é que depois que Ecstatica original foi feito, os desenvolvedores decidiram que uma tecnologia como essa era boa demais para ser guardada apenas para o "terror" e começaram a trabalhar em um novo projeto - que nunca foi lançado, infelizmente. Era para se chamar Urban Decay, e a ideia era trazer esse estilo gráfico para um mundo de gangsters e crimes de rua e tiroteios de vida ou morte. O que poderia dar errado?


Hã... deixa pra lá...

Não dá pra dizer que não é um jogo curioso de se assistir, sempre tem algo nível THE ROOM acontecendo, pena mesmo que jogar ele seja doloroso. Definitivamente é um jogo super memoravel, embora não pelos motivos que os desenvolvedores imaginavam, pena que a única coisa que equipare o efeito hipnotico de assistir esse acidente de trem é a ruindade de joga-lo.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 088