Se você cresceu com um Amiga como
videogame nos anos 90, é muito provável que uma de suas memórias mais
firmes deve ser… hm, quer saber? Esquece isso. Quer dizer, se você teve
um Amiga, não há tem como possivelmente eu imaginar como foram suas
memórias de infância. Qualquer coisa entre férias em Aspen, e ser criado
no esgoto por tartarugas com nomes de artistas da renascença, eu
suponho. Sério, quem diabos teve um fucking AMIGA?
De qualquer forma, vamos falar sobre um dos principais títulos do sistema: A Sombra do Cramuião.
Em um mundo de fantasia a ser
especificado, o maligno SENHOR DAS TREVAS MALETOTH tinha o hábito
moralmente questionável de sequestrar crianças para dar-lhes sangue de
bestas alterado magicamente, a fim de transformá-las em super monstros,
que serviriam como seus minions DU MAUUUUUU. Tudo certo até aí. Porém,
os planos do vilanico DENTERUIM são postos em cheque quando um de seus
minions recupera suas memórias de humano e decide picar a mula para fora
dali – esse seria você, e é aqui que o jogo começa. Basicamente você é o
Forrest Gump monstrão, e tem que correr em direção a um objetivo nunca previamente estabelecido.
Sabiam motivar os jogadores como poucos, essas histórias dos anos 80, viu…
Fala-fala a parte, Shadow of the Beast foi a tentativa da Reflections (hoje mais conhecida pela série Driver, Watch Dogs e… Just Dance?) de fazer o seu Altered Beast.
Enquanto é louvável se inspirar em um dos arcades mais populares de uma
década, isso meio que foi só até onde os caras chegaram. “Hm, acho que daria pra pagar a Netflix do mês se nós fizermos nossa própria versão de Altered Beast” foi todo processo criativo que esse jogo teve.
Então o que você faz é andar, socar
coisas e… bem, é isso na verdade. Esse é todo o jogo. Você tem um pulo
horrendo de ruim, que não serve para muita coisa a não ser desviar de
inimigos pequenos demais para você socar (não tem plataformas nesse
jogo), e seu ataque é muito curto, fazendo você ser atingido boa parte
das vezes que for tentar socar alguma coisa.
Eu não sei quanto a vocês, mas um jogo
que consiste basicamente de “andar e socar”, e a parte de “socar” não é
divertida, parece um problema muito grave para mim.
Ah sim, e o jogo é curto também. Tipo
realmente curto. Não essa frescura de hoje de “ain, o jogo tem só 10
horas de duração, roubaram meu dinheiro, mimimi”. Essa geração criada a
leite com pera me fode a paciência, viu. Enfim, dizia eu que
a aritméticao jogo dura menos de vinte minutos.
Oh, mas não se preocupe muito quanto a
isso: os caras da Reflections pensaram bem em como resolver esse
problema, e adotaram o expediente padrão dos anos 80 sobre como alongar
artificialmente os jogos. Esse câncer de bunda é difícil, mas
filhadaputamente difícil. Sério, eu
já joguei um monte de jogos insanamente difíceis, e enquanto me falta a
habilidade e a paciência para completá-los, eu aproveitei a maioria
deles. Agora, este jogo… é o jogo mais difícil que já joguei, e na pior maneira possível. Eu
não me importo quando um jogo é difícil para mim porque falta-me
habilidade, mas eu fico muito frustrado quando é difícil devido ao seu
design muito ruim.
Caso esteja se perguntando, inimigos brotando aleatoriamente mais rápido que a velocidade da luz em um mangá do Kurumada + controles mais duros que o coração da sua ex é a minha definição de MUITO RUIM.
Para adicionar ofensa a injúria, o jogo é
horrivelmente mal programado. Tipo, se você fizer as coisas fora da
ordem que os programadores pensaram (tipo derrotar o chefe antes de
conseguir a chave) ele simplesmente trava. Estamos lidando com
profissionais aqui, hein?
Mas caso, numa improbabilidade
aristoteica de que você seja o bilauzudo do videojogo, e consiga lidar
com o liquidificador de merda com a tampa aberta que a Reflections jogou
na sua cara, eles têm mais uma carta na manga: o jogo tem apenas uma
vida, sem continues.
Ah, na boa, na moral cara…
Aí você pode se perguntar (estás
perguntador hoje, hein, amiguinho?): mas espera, algo errado não está
certo aqui. O jogo é mais curto que todos os minutos que eu já passei
transando na vida. O gameplay foi classificado como crime de guerra na
convenção de Aia… Como pode esse ser um dos melhores e mais memoráveis
jogos na biblioteca do Amiga?
Bem, basicamente por dois motivos.
Primeiro porque o Amiga não tem os padrões realmente mais altos, né? Por
favor… mas, mais importante que isso realmente, é porque o jogo é
visualmente espetacular. Não só os personagens são grandes e bem
detalhados ao ponto de que fariam um Arcade chorar lágrimas de
tungstênio, como o jogo conta com DOZE CAMADAS de efeito de parallax.
Fucking DOZE, o que era impressionante em 1989.
Sério, o jogo é estupidamente bonito
para os padrões da época. Mesmo hoje ele não faz nada feio, de verdade.
Mas, mais importante que isso, é o quanto é legal todo visual dele.
Digamos que se Lovecraft tivesse uma banda de metal, a capa teria os inimigos e obstáculos desse jogo.
Para um jogo que se chama SHADOW OF THE BEAST,
o conceitual do jogo faz muito bonito, com direito a cadáveres, sangue,
espigas de aço e instrumentos de tortura (claro que a versão do SNES levou um corte bonitaço, mas isso é outro problema).
Com efeito, a única coisa mais maneira
que o visual do jogo é a sua trilha sonora, que é basicamente composta
de um metal melódico que PUTA MERDA ME ENGRAVIDA SEU LINDO!
Não, sério, ouve só um negócio desses:
Que DILIÇA MERMÃO…
… exceto se você (muito provavelmente) conheceu o jogo no seu port para Mega Drive, que é famoso por ter uma placa de som composta por aqueles tecladinhos brancos da Casio, aí tu tá fodido e meio mermo, mermão.
Mas, enfim, meu ponto é que SOTB
tem uma apresentação auditiva e visual espetacular, pena que não vem um
gameplay espetacular de brinde. E você aí achando que jogos de bosta
que colocam 4k/1080p de resolução pra disfarçar um jogo mal feito é uma
coisa moderna, né?
VERSÃO PARA MEGA DRIVE
Edição 009