sexta-feira, 7 de outubro de 2022

[#997][Abr/96] CONGO THE MOVIE: The Lost City of Zinj

Todo mundo sabe a esse ponto que em 1993, o JURASSIC PARK arrebentou a boca do balão em bilheterias e adoração do publico. O que, obviamente, despertou nos estúdios a vontade louca e ululante de encontrar o "próximo JURASSIC PARK". Tá, mas... o que é um "próximo JURASSIC PARK? Alias, o que é um JURASSIC PARK?

Bem, essa é fácil de responder: JURASSIC PARK é um livro de Michael Crichton tretando com animais assassinos em um terreno que eles controlam. Então, obviamente, qualquer estúdio mataria para adaptar outro livro do Miguelzinho... mas não é como se ele tivesse outro livro sobrando sobre animais ultra perigosos em que humanos precisam se meter num território que eles controlam...

... exceto que ele totalmente tinha. E essa é a história de como Congo virou filme.


Até porque as outras opções eram uma bolha no fundo do oceano com um alienígena maluco dentro (Sphere). Um cara entrando com um processo de assédio sexual contra uma garota (Disclosure). Vikings lutando contra canibais (O 13º Guerreiro)... e a nossa obra de hoje, Macacos Assassinos Protegendo Seus Diamantes (Congo). Juro, nenhum dos livros do Miguelzão faz o menor sentido cientificamente, mas são aventuras interessantes. Quando viram filmes, entretanto, nem sempre é esse o caso.

Verdade seja dita, o filme está mais preocupado em copiar cenas de Jurassic Park do que adaptar o livro (até colocaram uma cena igual da revelação dos braquiossauros, só que com girafas), então não é inteiramente culpa do Miguelito esse filme.

Isso sendo dito, todo o enredo de Congo provavelmente deve ter saído de uma redação de 4ª série: “Era uma vez um homem que amava tanto um macaco que ensinou o macaco a falar. E uma vez que aprendeu a falar, o primata começou a reclamar sobre como queria voltar para a selva. Então o homem de chapéu amarelo e seu macaco se juntaram a um monte de outras pessoas estranhas e foram para a África. Uma das pessoas estranhas era uma senhora louca que está tentando encontrar diamantes para seu Super-Laser. No caminho, alguns hipopótamos assassinos atacam. Então eles encontram uma cidade perdida de diamantes, mas é protegida por Macacos Assasinos. A maioria das pessoas e dos macacos morrem. Alguns não. E tem uma explosão de vulcão. Fim."

É difícil resmuir a história de Congo com um tom de voz sério. Mas, felizmente, a pura loucura, a insanidade, o ridiculo de tudo isso é a verdadeira diversão a ser extraída desse filme. Esse filme é tipo uma paródia ruim de Indiana Jones que se leva a sério, e a maior parte do ridiculo disso tudo tem a ver com o nosso grupo de heróis e o quanto eles fingem não notar o quão ridiculos eles são.


O protagonista é um cientista sem a menor noção da vida, ridiculamente ingênuo e obsecado por seu macaco - não sem, é claro, dizer frases totalmente bregas como "macacos são inofensivos, as pessoas que são perigosas". Olha, meu amigo, um gorila é um animal de 150kg que tem mais força do que um fisiculturista. E ele ainda é um animal, o filme tem diversas cenas desse bicho andando no meio do pessoal como se fosse nada demais... mas é! 

Meu deus, se esse animal se assustar ou apenas invocar com alguma coisa - que é o que animais fazem, caso você já tenha passeado com um cachorro ou uma criança pequena na vida - ele facilmente quebra o braço de alguem isso na melhor das hipoteses!


Mas de qualquer forma, o ponto aqui é que nosso herói é tão louco por seu companheiro primata que ele não percebe que Amy, a gorila, é UM CARA COM ROUPA DE BORRACHA E ANIMATRONICOS RUINS! Sério, se esse filme queria ser o próximo Jurassic Park... definitivamente não tem o orçamento de um.

Não apenas os animatronicos não tem o charme do filme que o inspirou, como todas as locações parecem filmadas em um mato qualquer e frequentemente até em estúdio numa tela verde! Mas sigamos!

Eu  dizia que não é realmente surpresa que Amy pode falar já que ela faz coisas muito mais inadequadas durante o filme como fumar um charuto. Ou beber um martini, ao que nosso herói informa que não é grande coisa dar ALCOOL PARA UM ANIMAL, é apenas quando ela está nervosa.

Na verdade, Amy é basicamente um daqueles animais inteligentes de filme da Sessão da Tarde que apronta mil confusões: Amy pinta. Amy parece triste com a derrocada da civilização ocidental. Amy salta de paraquedas. Se me disserem que tem um filme onde a Amy joga basquete, eu diria que está de acordo com o tom da coisa.

Claro, vc poderia se perguntar se colocar um dinossauro falante no time faria Jurassic Park melhor ou pior... e Congo parece responder essa pergunta satisfatoriamente.

Juntando-se à tripulação de loucos temos Tim Curry como um filantropo romeno em busca de suas pedras brilhantes - e Tim Curry com sotaque do leste europeu é o ponto alto desse filme, definitivamente. Além disso temos Ernie Hudson, que é o guia experiente na selva e aparentemente o único com noção do quão ridicula aquela aventura toda é. 

Ah, e tem também essa senhora que pode ou não ser a Meryl Streep (ou possivelmente aquela moça do Jurassic Park) que está procurando por seu noivo e tem todos os gadgets legais. Em um ponto, ela monta um acampamento protegido por (lembre-se, este é o interior do Congo, onde eles tiveram que carregar essas coisas incontáveis quilometros na selva) cercas a laser e metralhadoras automáticas. Ah, e eu mencionei que o noivo dela é… BRUCE CAMPBELL? Nosso querido Ash está neste filme apenas nos primeiros cinco minutos, mas ei, esses são os melhores cinco minutos da história do cinema.

Se Congo está tentando fazer um ponto sério... eu não peguei a ideia. Tem uma discussão no início do filme sobre como os macacos podem ser ensinados a falar por outros macacos, e como os “macacos assassinos” são um completo bullshit... exceto que no final do filme eles provam que a maioria dos macacos é anti-humana ao extremo assassinato, e até o cara que ama macacos atira neles sem vacilar. 


Com efeito, se macacos morrendo te deixa feliz, então este é realmente o filme para você. Eles levam tiros, laser, explodidos e até são derretidos por lava. Eu acho. Quer dizer, muitas das cenas de ação são feitas naquele tipo de câmera lenta borrada que é dificil entender o que está acontecendo na tela, o que me lembra muito Battlefield Earth.

Todos os animais nesse filme são bem mal feitos, não apenas os primatas. Incluindo os Hipopótamos Assassinos. Porque é claro que tem hipopotamos assassinos, dã. Hipopotamos são os mamiferos mais perigosos da Africa, mas quando eles atacam no rio a cena mais parece saída do Jungle Cruise de um parque da Disney, onde o guia tem que atirar no hipopótamo a cada uma das cinco milhões de vezes que ele salta para fora da água no barco. 

... o que ainda não é tão ridiculo quanto a cena deles abatendo misseis disparados contra o avião deles usando sinalizadores. Em pleno voo. Calculando o desvio do vento. Uau, esses cara são tão bons que é muito ruim. ssa cena é meio que indicativa para todo o filme. Ou você acha que é muito tosco e desiste do filme, ou você acha que é muito tosco e continua assistindo pq tem coisinha na cabeça. Como é o meu caso.

Bem, a essa altura vc já pegou a ideia da coisa: um filme desconexo que só são atiradas cenas sem a minima noção de nada (incluindo conotações racistas de como um americano médio acha que é a Africa) apenas pra tentar ser o jogo Jurassic Park. 


Para um filme sobre suspense e aventura, Congo não é emocionante e, na verdade, é bastante risível. Você tem pessoas entrando em uma zona de guerra que não têm ideia do que está acontecendo - mesmo na era pré-internet, alguém poderia ter perguntado sobre a estabilidade da região antes de ir, e para um especialista em primatas, o Dr. Peter Elliot com certeza não sabe nada sobre o ambiente em que está soltando a Amy.

Então para terminar eu vou fazer algo diferente, eu vou postar essa que honestamente é a melhor review do filme que eu achei no Google (literalmente na sessão de reviews do Google, não como link de pesquisa) e é a melhor review que qualquer um poderia escrever a qualquer tempo:

My brother was scared of this motion picture when he was 8 but as his courage evolved the apes were no longer as frightening. Everyone seemed really sweaty especially Larua Liney but to be honest it didn't appear her sweat would have had an odor, the only thing emanating from her was sheer brilliance! I once had a dream where Tim Curry and I were sharing a slice of sesame cake but as I was preparing to tell Timmy to stop eating it I came to the realization that it was actually carrot cake and therefore I was totally amenable with continuing to eat. (The carrot cake didn't taste great).  
My best friend in highschool developed a real issue with the consumption of raindrop drink the irony behind this is that her name was Amy as well ☹. As you can see this movie has touched nearly every aspect of my life and humanity in general and will continue to do so for generations upon generations. Although it has since been re-released on Blu ray you will be hard pressed to replicate the feelings and emotions this movie elicits without viewing it in its orginal format on VHS. This is like Citizen Cane, Casablanca, and Gone With the Wind all wrapped in one thrilling masterpiece. Stephen Hawking claims there's billions and billions of stars in the universe and if thats true this movie deserves every single one of them as 5 stars is not nearly enough. I highly recommend.

E... hã, ah sim, depois disso eu suponho que tenho que falar do jogo de Saturn desse filme ainda, por algum motivo... bem, vamos colocar assim: estamos agora um quarto de século após o lançamento e a vida muito curta do nosso amado SEGA Saturn. Isso é o suficiente para que, surpreendentemente, haja uma geração inteira de gamers que ainda não eram nascidos quando o foi lançado. 

O que é o ambiente perfeito para que mitos e concepções erradas sobre Saturno se formem e cresçam sem controle ou sem contestação e, com o passar do tempo, se tornem cada vez mais difíceis de provar ou refutar. O que isso tem a ver com Congo: O Filme – A Cidade Perdida de Zinj?  Bem, apenas que Congo é frequentemente confundido com outras licenças de filmes ruins, como The Crow: City of Angels, Batman Forever ou Dragonheart – Fire and Steel como a nata da porcaria da biblioteca de Saturno. 


No entanto, devemos nos perguntar... quantos de nós jogaram completamente essas abominações horríveis, os erros mais cruéis de Saturno? É possível que tenhamos simplesmente aceitado noções de longa data sobre certos jogos sem dar a eles a hora do dia? Poderia o Congo ser um diamante bruto raro, esquecido pela grande maioria dos gamemaníacos?

A resposta é não. Claro que não. Mas também não é tão horrível quanto se diz por aí na internet, tem isso também.


O jogo em si é um jogo de tiro em primeira pessoa no estilo Doom. Você começa sua aventura na selva do Congo onde seu avião caiu e você pegou uma doença tropical (o que faz com que a tela  fique zoada de vez em quando). Em seu caminho estão gorilas mutantes, mosquitos gigantes, totens de vudu, camaleões gordos gigantes por alguma razão e e (sem brincadeira) macacos voadores. Parece que esse jogo é o crossover entre Congo e o Magico de Oz, veja só você.

A coisa que mais chama atenção nesse FPS são os seus cenários em 3D onde o terreno é todo acidentado, e as diferenças de altura no chão são surpreendentemente fluídas para um jogo dessa época. O que, junto com um automap torna o jogo navegável. Então o level design é bastante okay na verdade, mais do que vc poderia esperar.


O problema mesmo é o resto do jogo. Especialmente os inimigos: eles são apenas um .png mal recortado que vem voando pra cima de você com a fúria de mil sóis amarelos e antes que você perceba está tomando porrada de tudo que é lado mesmo que você avance na maciota.

Não existe uma progressão na IA dos inimigos, é mais vc entrou no range deles eles agroam com fúria e ódio - quando um bom FPS deveria dar um respiro pra vc poder mirar e atirar. Porra, o próprio Doom fazia isso! FPS não é dedo no cu e gritaria... mas esse jogo é.


Com uma programação melhor esse poderia até ser um jogo divertido, pq os valores de produção estão lá, mas a grande verdade é que esse jogo parece ter sido rushado durante a produção para que o lançamento pudesse possa coincidir com o lançamento do filme, merchandising de camisetas, etc. Não é o primeiro jogo a ser arruinado por esse mal e, infelizmente, não será o último.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 017 (Agosto de 1995)

O jogo tinha uma versão para Mega Drive, mas como dá pra ver a ideia subiu no telhado

Edição 021 (Dezembro de 1995)

Edição 034 (Janeiro de 1997)