[#1148][Dez/97] MEGA MAN LEGENDS (ou "Mega Man Dash" no Japão e "Mega Man 64" no Nintendo 64)
No final de 1997, começou de 1998, haviam duas regras petreas não escritas na indústria dos videojogos: uma era que todo mundo e a mãe de todo mundo tentaria lançar uma franquia de jogos de luta pra ver se colava (sério, quando até a fodenda Sunsoft atirou um "vai que cola, né" com WAKU WAKU 7 né?).
A segunda regra era que todas as gentes e a senhora projenitora de todas as gentes também tentariam pegar uma franquia em 2D e passa-la para o 3D pq o futuro era o 3D, amirite? Quer dizer, vendo o quão espetacularmente bem SUPER MARIO 64 fez isso... o quão dificil pode ser, não é?
Oh boy...
Claro, nem todas as empresas eram a Nintendo e nem todos os produtores eram o homem, o mito, a lenda Miyamoto, então a qualidade dessas conversões tendia a variar. Adicione a isso que muitos jogos teriam que ser inteiramente repensados para funcionar em 3D (como BOMBERMAN 64 que virou um jogo de plataforma 3D), então tinhamos todo tipo de resultado com essa brincadeira realmente.
Mano, o que dafuc é essa capa japonesa do jogo?
Porém, sem a menor sombra de dúvida, uma das mais estranhas dessas tentativas de conversão para o 3D de uma franquia consagrada foi nosso querido bombardeiro azul, o Mega Menino sapequinha favorito de todos.
AH PARA, NEM DEVE TER FICADO TÃO ESTRANHO ASS...
É O QUE, MEU AMIGO?
Sim, isso mesmo Jorge. Esse jogo nosso campeão da justiça, o bombardeiro azul, está envolvido não com derrotar 8 mestres robôs do Dr. Willy, mas sim em balançar o Toddynho. Mais pra frente tem uma cena também que ele entra no quarto da Roll trocando de roupa because Japan, mas essa não tem imagem e fica apenas no dialogo... até a Roll parece ter uns 10 anos nesse jogo, isso ia dar uma cadeia mermão...
EU NÃO REALMENTE COSTUMO ASSOCIAR "ISSO DÁ UMA CADEIA" COM JOGOS DO MEGA MAN, SABE?
Ninguém costuma. Ainda sim, esse jogo existe. E não apenas ele existe como consegue a façanha de ficar MAIS estranho ainda pq esse jogo é essencialmente o plot de One Piece.
ACHEI QUE ESSE ERA O JOGO DE MEGA MAN EM 3D, DA ONDE ONE PIECE?
Eu não disse? Mas então, vamos começar do começo...
Em uma versão futurista da Terra, o mundo está inundado e a humanidade vive em uma coleção de ilhas esparsas, mal conseguindo sobreviver. Sua esperança está em 'cavadores', caçadores de tesouros que procuram em ruínas antigas fontes de energia chamadas 'refratores' que podem ajudar a sustentar a população restante - o objetivo final é encontrar o 'motherlode', uma fonte de energia gigantesca e infinita.
Ou seja, são essencialmente piratas em busca do UM PEDAÇO!
Nosso herói aqui é Mega Man Volnutt com seu esquadrão - a engenheira e otimista garota Roll, seu avô Barrel e um macaco engraçadalho chamado Data. Mais precisamente, o jogo começa quando a Mega gangue são atacados por piratas e forçados a fazer um pouso forçado de sua nave (o Flutter) em uma ilha conhecida como Kattlelox. A partir daí, eles se envolvem na defesa da ilha contra ataques de piratas, enquanto exploram as ruínas subterrâneas em busca de refratores e descobrem alguns segredos antigos ao longo do caminho.
VOCÊ NÃO TAVA DE BRINCADEIRA, ISSO É UM ARCO DE ONE PIECE MESMO!
Então, e eu não acho que é por acaso. Esse jogo é do final de 1997, naquele ano One Piece tinha sido lançado e estava bombando na Shonen Jump, então eu totalmente vejo a Capcom pegando a ideia para o seu jogo.
O que eu vejo menos é pq diabos isso é um jogo do Mega Man... quer dizer, eu sei que é por causa do nome que vai vender o jogo, mas a Capcom literalmente pegou um jogo de tiro em terceira pessoa que eles tavam fazendo e tascaram o Mega Homem na ultima hora.
Sério, esse é um daqueles jogos que se trocar os poligonos do personagem por qualquer outro não muda nada, na verdade no mundo do jogo sequer faz sentido que o Mega Man seja um menino chamado Volnutt que por razão nenhuma se veste de azul. Ninguém mais se veste assim e as pessoas apenas ignoram que você é completamente diferente de todo mundo por razão nenhuma.
Mas bem, o objetivo real do jogo é chegar ao One Piece antes dos piratas e para isso você precisa obter acesso a cada um dos três “subportões” escondidos nas dungeons embaixo da ilha, com a ideia de que isso terá algum tipo de efeito no misterioso “portão principal” da ilha. Isso leva você a tretar com os piratas, a família Bonne frequentemente... e tenho que dizer, eles tem bastante carisma, isso tem que ser dito.
Eles tem aquela vibe de vilão pateta e incompetente que é muito ruim em ser malvada (aos moldes de Equipe Rocket), levando na cara de forma constrangedora se metem com o menino Volnutt - aka MegaMan. Eles têm muito mais personalidade do que os antagonistas que Mega Man está acostumado a enfrentar.
Na introdução da antagonista Tron Bonne (sim, sério), por exemplo, tem ela fugindo de um cachorro de rua e precisando de você para salvá-la enquanto ela se refugia em um poste de luz. E essa comédia permanece ao longo da história enquanto eles brigam uns com os outros durante seus fracassos coletivos. Eles também são acompanhados por um grupo de miniservbots amarelos que servem como lacaios inúteis, mas divertidos, anos antes de Meu Malvado Favorito os tornar populares (eu particularmente gostei de uma cena em que eles estavam preocupados em receber uma multa de estacionamento enquanto esperavam por Tron Bonne).
Claro, o elenco principal de Volnutt and Roll também é sólido - eles têm uma espécie de vibe de desenho animado de sabado de manhã, tem até uma cena hilárias em que Mega Men pega um refrator, estilo Indiana Jones, e espera que as armadilhas óbvias apareçam. Estranhamente, nada começa a desabar ou rolar atrás dele e Volnutt fica tipo "ué?!?".
Tem também toneladas de aldeões... exóticos... ao redor de Kattlelox, cada um com suas próprias histórias que evoluem lentamente conforme o enredo avança – é quase como The Legend of Heroes primitivo nesse respeito.
Nesse sentido, a decisão da Capcom de optar por um mundo brilhante, colorido e de baixo polígono com cel-shading (ainda que nos estagios primitivos da tecnologia) combina perfeitamente com o tom do jogo - com o bonus que o faz parecer bonito até hoje. Tem também dublagem esporádica aqui e acolá que é tão cafona quanto você pode esperar, mas honestamente isso se encaixa extremamente bem no tema geral de Legends.
Então o jogo, apesar da coisa do "Mega Man" ser uma palha assada comercial, o jogo tem uma atmosfera profundamente charmosa e cativante. A unica coisa menos charmosa e cativante é... bem, infelizmente jogar o jogo.
A maior parte da jogabilidade real ocorre nas dungeons subterranea. Sob a ilha de Kattlelox tem um complexo de dungeons interligadas, cheios de inimigos para lutar e itens para coletar. Os itens podem ser qualquer coisa, desde dinheiro a artefatos e peças de novas armas.
Só que... as ruínas são bem menos impressionantes do que a cidade. E menos colorida também. Elas também consistem em formas geométricos simples e não são muito diferentes umas das outras visualmente. O que não é algo muito fora de propósito para 1997 no Playstation, só ver outros dungeon crawlers como REVELATIONS SERIES: Persona ou KING'S FIELD.
Não vou dizer que é bonito ou mesmo muito interessante, mas va lá, para a época é passável. O que é menos passavel, entretanto, é a jogabilidade do jogo e é aqui que o ilariê faz ô-ô-ô.
Em primeiro lugar, não tem nenhuma profundidade nos inimigos ou no combate em geral - com exceção dos chefes que tem mecanicas próprias, mas no jogo mesmo é apenas atirar e desviar. Isso, também, é passável para a época. Não genial, mas passável... ou seria, não fosse a pequeeeeena coisa que os controles desse jogo são bem merda. Tipo, mano, bem mesmo.
Enquanto os conceitos periféricos do jogo certamente merecem pontos pelo esforço, infelizmente sua execução não se sustentam sozinhos e apenas levam à frustração.
Em sua essência, eu provavelmente descreveria o jogo como um jogo de tiro em terceira pessoa... só que funciona assim: o direcional move Mega Man nas quatro direções cardais (frente, trás, esquerda e direita), enquanto R1 e L1 giram a camera.
Até aí não parece tão catastrófico, SUPER MARIO 64 faz algo parecido usando os botões amarelos do N64 pra girar a camera. Só que contudo, todavia, entretanto, tem duas diferenças fundamentais: primeiro que o jogo tem uma pequena IA que microgerencia sua camera, não é SEMPRE que você precisa negociar isso.
Mas a diferença mais importante é que SUPER MARIO 64 não é um jogo de tiro. Mega Man Legendas, por outro lado, é um jogo de tiro em terceira pessoa que vc usa a camera pra mirar, então vc tem que ficar girando manualmente o controle o tempo todo... o que o torna toda experiencia bem lenta e cumbersome de uma forma que drena toda diversão que o jogo poderia ter.
Enquanto MEGA MAN X ajudou a evoluir a aumentando a mobilidade por meio de dash e saltos na parede, Mega Man Legends vai na direção oposta e torna esse jogo incrivelmente travado e burocrático.
A câmera (e a mira) está travada diretamente atrás de MegaMan, e o cara vira como um tanque. O Dualshock estava apenas começando a se estabelecer e, portanto, a mira analógica dupla não é uma opção. A unica opção viavel é confiar na trava de mira automática do jogo... que é um sistema bastante desajeitado. Não tem uma maneira clara de mudar de alvo, nem realmente saber o que pode ser alvejado, mas é mais ou menos a única maneira de atingir algo acima de você.
Mas pior mesmo é que enquanto você usa a mira automática o jogo te trava no lugar... e esse é um daqueles jogos que não foram feitos pra vc ficar travado no lugar, a dificuldade dos inimigos se movendo come o couro da sua bunda se vc ficar parado. E ficar parado é a melhor forma de mirar, sério que a Capcom não viu um problema aqui?
A versão de Nintendo 64 é um tanto melhor nesse sentido, permitindo movimentar nas diagonais com o analogico, mas infelizmente permanece o bullshit de travar no lugar para a mira automatica e aí fode o meio campo.
E isso é uma pena, pq o que não falta nesse jogo é charme e conteúdo, ele tem toneladas de conteúdo já que ele é repleto de sidequests, minigames, até mesmo uma mecanica para reconstruir a cidade atacada pelos piratas e desbloquear outros eventos. É uma pena que ideias divertidas como essas não tenham sido usadas com uma jogabilidade mais agradável porque, se fossem, teriamos um verdadeiro clássico do PS1 aqui - do jeito que está, o jogo é okay, mas dificilmente eu chamaria de "um jogo essencial pra ser jogado", isso quando ele não é frequentemente frustrante.
Na tentativa de renascer o Mega Man para um novo público, a Capcom criou um mundo deslumbrante cheio de intriga, mistério e bem anime-like, mas infelizmente eles se esqueceram de ajustar a jogabilidade para torná-la agradável de se jogar. Tem um jogo lindo título inicial do PS1 aqui e certamente vale a pena olhar para apreciar a atmosfera e o mundo aqui, apenas que jogar ele não é tão divertido assim.
Ah, bem, quem sabe na continuação eles mantenham o que deu certo e resolvam o que não está funcionando aqui. Aí sim teriamos um jogo lendário do PS1, mas será que Volnutt é Mega Homem o suficiente para a tarefa? É o que veremos... algum dia.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES Edição 125 (Março de 1998)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER Edição 048 (Março de 1998)