[AÇÃO GAMES 052] MEGA MAN X (SNES, 1994) [#406]

1994 foi um ano muito importante para os videogames. Um dos mais importantes, na verdade: não só foi o ano que o mundo veio a conhecer o Playstation - que pauta a industria de consoles até hoje - como foi o ano de ouro do Super Nintendo. O ano em que o console de 16 bits da Nintendo colocou a pá de cal na guerra dos 16 bits e esmerilhou com a cara da Sega. No mesmo ano tivemos Final Fantasy VI, Earthbound, Donkey Kong Country, Mortal Kombat 2 foi lançado no SNES sem nenhum tipo de censura e, só de zoeira, a Nintendo lançou aquele que eu considero até hoje o melhor jogo da sua geração, uma obra prima em todos os sentidos: Super Metroid. 1994 foi um ano do caralho pra Nintendo, a season finale perfeita onde ela foi rainha absoluta do mundo.

Claro, na temporada seguinte ela seria atropelada por uma força que ela sequer conseguiria conceber, mas por hora foi pura glória e vitória. E pra abrir esse ano de triunfo, nada como um jogo exclusivo para SNES que eu considero não apenas o melhor jogo de ação 2D jamais produzido nos anos 90 (e um dos melhores até hoje, embora The Messenger seja pica das galaxias), mas um jogo que mudou o rumo da história dos videogames.

Estou falando, é claro, da Magnum Opus da Capom em se tratando do bombardeiro azul: Mega Man X.

Veja, eu gosto muito de Mega Man - com certeza foi uma das franquias que moldou minha vida enquanto jogador - mas se alguma coisa nos ultimos jogos da série (Mega Man 5 e especialmente Mega Man 6) eu disse mais de uma vez que a franquia estava esgotada após tantos jogos com o mesmo tema. Quer dizer, existe um limite até quando você pode fazer oito robos mestres baseados em objetos (algo como o “Privada Man”), lhe dar uma fase temática e repetir isso antes do jogador começar a sentir que não faz mais muita diferença. Ao final de Mega Man 6, já estavamos em 48 vezes que isso foi feito, e 48 é um número muito grande para ser repetido.

Eu repito mais uma vez que nenhum jogo do bombardeiro azul é realmente ruim (nem mesmo Mega Man 6), mas a esse ponto a série meio que já tinha se tornado ruído de fundo. Se a Capcom pretendia que Mega Man fosse relevante novamente, e por isso eu quero dizer esperar que ele gerasse outra meia duzia de sequencias, então eles não tinha muita opção senão chutar o balde e repensar Mega Man desde o começo e recriar a coisa toda como uma versão maior, mais ambiciosa e modernizada de si mesma.

Isso quer dizer que apenas Mega Man 7 não seria bom o suficiente para isso, era preciso uma mudança mais radical ainda. Era preciso Mega Man X. Mas o que é Mega Man X?

Bem, a primeira coisa que você vai notar é que Mega Man X é um jogo mais bonito que o seu antecessor do Nintendinho. Mas então, dã, isso é apenas o esperado. Sim, claro que o jogo de SNES vai ser mais bonito que o do NES, aquele “Super” de “Super Nintendo” não é porque ele pode colocar uma capa e sair voando e combater o crime ou algo assim. Fuck, ele é o SUPER Nintendo, é claro que o jogo vai ser mais bonito.

Ainda sim, não é apenas mais bonito, novas escolhas de design foram feitas aqui. Mega Man não parece mais um menininho simpático e sim um robo badass com uma armadura super cool!

My fucking god, como o Mega Man ficou maneiro! Sabe, normalmente eu sou contra essa coisa de “anos noventização” da coisa e transformar um personagem simpático e fofinho em uma versão badass dele mesmo (sério, a fase do Homem Aranha com o Venom me dá engulhos até hoje), mas então estamos falando de uma franquia que honestamente já deu o que tinha para dar. Nesse caso não é apena aceitavel, é o ÚNICO JEITO.

Então, é, eu aprovo o novo Mega Man super cool.

Não tão cool quanto o Mega Waifu, entretanto

E claro, um Mega Man cool precisa de movimentos cools. Agora nosso bombardeiro azul não apenas atira e pula e dá aquele carrinho fofo, agora ele escala paredes como um fucking Ninja(s) Gaiden (há!) e tem um movimento de Dash que é awesome! E o motivo desses movimentos serem awesomes não é só porque eles parecem uber descolados, e sim porque também eles respondem desumanamente bem. Puta merda, esse jogo é o paragon do que todo jogo de ação deve almejar ser na vida.

Quer dizer, os controles da série Mega Man sempre foram muito, muito bons, mas aqui a responsividade do Mega Man devia fazer 90% da biblioteca do Mega Drive e 97% da biblioteca do Nintendinho cometerem um sabaku coletivo, porque puta merda como esses controles são bons. Fuck yeah baby, é dessa porcaria que eu estou falando! Hell yeah! E você atira, e desliza, e escala paredes, e eu diria que você controla cada pixel de onde o Mega Man vai como se fosse uma extensão do seu corpo, mas a verdade é que eu não controlo o meu corpo tão bem assim.

Enfim, a jogabilidade desse jogo é tão boa que... tão boa que... meu deus, como é bom jogar esse jogo...

Não apenas você pode pilotar esses mechas suits em algumas fases, como em dados momentos o piloto está dando bobeira fora do suit e você pode ir full GTA nele: matar e roubar seu possante

MAS enfim ... isso ainda não é o que faz “Mega Man X” ser “Mega Man X” e não “Mega Man 7 mas com um numero romano pra parecer mais badass”. Não. É necessário mais do que isso. Tudo que o jogo fez até aqui é awesome, mas não deixa de ser esperado de uma continuação em um console da nova geração. Nós precisamos ir além disso.

Mega Man X também tem segredos e itens colecionaveis, mas novamente isso não é nada que os jogos anteriores já não fizessem. São itens secretos em locais que exigem uso criativo das armas que você coleta? Sim. São power ups bem colocados em fases com um level design tão bom que faz você ter vontade de chorar de felicidade? Definitivamente.

E um dos segredos desse jogo é literalmente o Mega Man soltar um hadouken que pode derrotar qualquer inimigo - incluindo chefes - com um hit? PELAMORDEDEUS CAPCOM SÓ TEM UM TANTO QUANTO EU SOU CAPAZ DE AMAR E EU TENHO MULHER E DOIS DOGUINHOS EM CASA, PARE DE MONOPOLIZAR TODO O MEU AMOR!

Enfim, os heart tanks que aumentam sua barra de vida e os subtanks que dão barras de energia reservas podem não ser exatamente inéditos na série, mas holy shit como eles são bem utilizados. Tudo isso é lindo, é realmente lindo mesmo, MAS, veja bem, MAS ainda não é o que faz Mega Man X ser Mega Man X.

Dá pra ir cavar mais fundo ainda, dá pra ir além. E, eu juro em nome de São Miyamoto, a Capcom foi. God, como ela foi. Finalmente falaremos agora do que faz Mega Man X ser de fato Mega Man X, e porque esse jogo que chegou abrindo 1994 com voadera de dois pés na jugular é tão importante assim para os videogames: tema.

Não, sério, sem Mega Man X, simplesmente não haveria Death Stranding. Não, sério, eu não to zoando com você, isso é o quão importante esse jogo é não apenas mecanicamente como narrativamente para a história dos videogames. De todas as coisas do mundo, um jogo do adoravel menininho-robo com cara de sapeca. O Mega Homem.

Mas como isso aconteceu?

Sério, o Mega Man de Nintendinho tem muito cara de sapeca

Bem, uma coisa totalmente inesperada que a Capcom aprendeu com Street Fighter é que (prepare-se para o que eu vou dizer porque o choque vai ser gigantesco) jogadores de videogames são seres humanos. Eu sei, chocante e cientificamente controverso, mas por favor permaneça ao lado da minha tese absurda. O que isso quer dizer é que, em última instancia, videogames não são jogados com os dedos, como um mero exercicio fisico. Quer dizer, alguns até são, mas os verdadeiros grandes jogos não são assim. Não. Videogames são jogados com o cerebro, e inevitavelmente o cerebro humano desenvolve sentimentos a respeito daquilo com o que passa tempo. Então não é tanto O QUE você coloca na frente do jogador conforme ele passa de uma fase que importa, e sim COMO ELE SE SENTE enquanto ele faz isso.

E porque eu digo que a Capcom aprendeu isso com Street Fighter? Ora, porque esse jogo é o estudo de caso perfeito. A Capcom descobriu que as pessoas que jogavam muito Street Fighter acabavam escolhendo um personagem especifico para ser o seu principal personagem (uma pratica que em português acabou sendo chamada de MAINar) e se focando em um só personagem você dominava completamente os movimentos dele, os tempos de resposta e a otimização de quadros de movimentação para aperfeiçoar combos.

Ok, mas a pergunta que realmente importa é: COMO as pessoas escolhiam os personagens que elas adotariam como o seu principal? É aí que o fator humano entra. Claro, algumas pessoas escolhiam o personagem por motivos puramente mecanicos: o personagem mais fácil de dar os golpes para ela, com maior alcance de ataques ou com combos mais apelões (caham, jogar com o Eddy Gordo em Tekken 3, caham). Isso era uma coisa, fato. Porém não era nem perto de ser tudo, tinha muito mais coisa envolvida aí.

As pessoas escolhiam personagens também por representatividade, por projeção, ou apenas porque o conceito daquele personagem parece tão badass pra você que ele tem que ser o seu personagem - não é por falta do que fazer que as empresas de jogos de luta passaram a investir tanto em backgrounds e histórias para os seus jogos.

Por exemplo, quando eu era criança eu gostava muito de jogar com o E. Honda porque era a primeira vez na minha vida que eu via um personagem gordo como eu não ser o motivo de piada ali. Pelo contrário, ele era foda e eu conseguia trancar o adversário no canto sem ele ter chance de se defender e ninguém está fazendo piadas de gordo agora, hã? Hã?

VOCÊ REALMENTE SE PROJETOU NISSO, HEIM?

É, mas esse é o meu ponto. Eu reparei, por exemplo, que é bastante frequente garotas que jogam videogames escolherem a personagens feminina do jogo. Ou talvez você goste de jogar com o personagem do seu país, as estastiticas de gameplay da Capcom de Street Fighter 5, por exemplo, mostram que o Blanka é apenas o 37^o personagem mais usado pelos jogadores. Porém se você filtrar apenas entre os brasileiros jogando, ele passa a ser o quinto. Isso se aplica a vários outros países. Representatividade importa nos games, e a Capcom foi uma das primeiras a entender isso.

Ou talvez você escolha um personagem não porque você se vê nele, mas porque você gostaria de ser ele. Power fantasy é uma coisa real em muitos generos do entretenimento humano e muitas industrias são construídas em cima disso. Existe um motivo para atores pornô masculinos serem caras atléticos com paus de dois metros de comprimento, e esse motivo não é que o publico alvo desses filmes realmente sente tesão por ver abs trincados. Projeção. Eu quero fingir que esse cara sou eu, e eu quero ser esse cara foda (curiosamente, a pornografia japonesa envereda menos pelo campo da projeção e sim mais da representatividade, a maioria dos pornos japoneses são com caras comuns bem lames que a menina tem que praticamente abusar dele porque o seu publico jamais diria “esse cara sou eu” pra um macho alfa pegador... mas isso é outra discussão). Ou os filmes de ação dos anos 80, por exemplo, caras super machões invenciveis bombados vencem o mal sem suar e com frases de efeito de quem está levando a situação numa brincadeira.

Um filme de ação que o herói só se fode nessa porra? Isso era legalmente permitido?

Até Die Hard, TODOS os filmes de ação eram feitos assim. Em Street Fighter, por exemplo, talvez o que te apeteça seja a ideia de ser um milhonário excentrico que mete porrada apenas porque ele pode, como o Ken, ou ser um toreador narcisista que faz as mulheres suspirarem, como o Vega.

Ou ainda não seja nada disso, talvez o que te compre nessa viagem não é que você se vê nesse personagem ou você queira ser como ele, e sim apenas que ele é tão foda, o conceito dele é tão badass que você investe bastante nesse personagem apenas pelo quão cool ele é. O melhor exemplo disso é John Wick, o filme faz tão bem a coisa de vender o quão foda ele antes que ele dê o primeiro tiro que ... aarrrrrgghhh COMO ELE É COOL!

Um dos exemplos mais iconicos dos videogames é aquele que eu (e muita gente concorda comigo) já citei como o melhor jogo do Super Nintendo: Super Metroid. Uma das coisas que fazem o jogo fazem você ter vontade de gritar PUTA MERDA COMO ISSO É AWESOME está além do seu level design espetacular e sua jogabilidade divina, está na sua protagonista Samus Aran.

No ano de 2058, a colonia humana no planeta K-2L foi saqueada por piratas espaciais, como era comum naquela região da galaxia. Algumas horas depois uma nave de comerciantes chozo (uma raça antiga que parecem homens-passaro) atendeu o chamado de socorro de K-2L e encontrou uma colonia repleta de corpos dilacerados pelos piratas. Porém eles encontraram mais do que isso, eles também descobriram que naquela fatidica manhã de 2058 os piratas espaciais cometeram o maior erro da sua história: uma criança humana sobreviveu entre os corpos sem vida dos seus pais. Uma menina chamada Samus Aran.

Os chozo levaram menina Samus para o seu mundo e a criaram como uma de sua espécie, e Samus cresceu alimentada pela raiva e pela fúria de que ninguém, nunca mais, em lugar algum, passaria pelo que ela passou. Ela extinguiria até o último dos piratas espaciais, e ela faria isso sozinha porque aquela era a vingança dela. Pode não ser emocionalmente saudável crescer pensando assim, mas puta que o pariu em chamas tamborilantes como isso é cool! Samus Aran é praticamente o Batman, só que no espaço e caçando piratas espaciais completamente sozinha! HOW FUCKING COOL IS THAT?!? Esse é um dos motivos que eu, e qualquer gamer DE VERDADE, sempre fica tipo “what da fuck are you talking about” quando alguém diz que gamers tem problemas com protagonistas femininas fortes. Cara, apenas não. Ou você tem essas palhaçadas, ou você é um gamer de verdade. Nunca os dois.

Outro exemplo perfeito disso é o seguinte: pense rápido, agora de pronto, em um personagem de beat’m up. Valendo, foi! Bem, grandes são as chances que a primeira coisa que você pensou foi em um dos conceitos mais cools da história dos videogames: quando uma gangue decidiu sequestrar a filha do prefeito de Metro City para chantagea-lo afim de que ele parasse com sua politica de por ordem em uma cidade corrupta e violenta. O possivelmente teria funcionado, não fosse o singelo fato que o prefeito em questão é apenas esse cara:

Em retrospecto, essa acabou se provando ser uma péssima ideia para os punks. Não pouco surpreendentemente, a trama de Final Fight é uma das poucas que eu lembro de pronto em um beat'm up mesmo trinta anos após o jogo ter sido lançado porque é tão cool que HAUUUUUUURAJNKFAKLFHJHNUJUJH

IMPRESSÃO MINHA OU VOCÊ ACABOU DE DAR UMA CABEÇADA NO TECLADO?

Hã... impressão sua... é... mas enfim, suponho que eu tenha feito meu argumento claro o suficiente de que em videogames conceitos importam quase tanto quanto gameplay. Com efeito, a menos que o gameplay seja absolutamente cagado, um jogo com um conceito badass já sai muito, muito na frente (sim, Dinosaurs for Hire, eu estou olhando pra você porque puta que o pariu, como que você me ferra com DINOCEROS MERCENÁRIOS meu filho?!?).

Agora que estamos todos na mesma página, posso então prosseguir com a coisa que a Capcom entendeu que a ÚNICA forma de manter Mega Man vivo após SEIS jogos era se focar em apelar para os sentimentos dos jogadores. Eles poderiam fazer os gráficos mais bonitos que pudessem (e fizeram), não seria suficiente. Eles poderiam fazer os controles mais TIGHT que pudessem (e fizeram), não seria suficiente. Eles poderiam fazer todas inovações de mecanica de jogo que conseguissem espremer em um cartucho de Super Nintendo (e fizeram), não seria suficiente.

Para Mega Man dar certo, teria que ter mudanças mais profundas do que isso. Teria que ser uma mudança que transcenderia o mero gameplay (que, eu volto a enfatizar, SEMPRE foi muito bom nessa série) e ganharia corações e mentes.

E após três paginas de texto finalmente eu posso chegar no ponto de me fazer entender o que é que faz Mega Man X ser Mega Man X. Mais do que gameplay, corações e mentes. Entendem agora porque esse jogo é tão fucking importante?

Mas... como ele faz isso? Bem, para entender a execução dessa obra, é necessário entender o background antes. Ele não é tão importante quanto a execução dentro do jogo, mas o contexto de forma alguma é indispensável.

Nos últimos anos de sua vida, o bondoso roboticista Dr. Thomas Light tinha uma preocupação cada vez mais crescente: durante anos e anos a sua maior criação, o Mega Man, havia protegido a humanidade das maquinações do terrível genio do mal, o Dr. Willy.

Mega Man enfrentou o Dr. Willy incontáveis vezes (com efeito, atualmente a sequencia do Mega Man clássico está no Mega Man 11!) e triunfou cada uma delas, impedindo que os planos de usar robos para dominar o mundo se realizassem. O que era cool, mas justamente essa era a grande preocupação do Dr. Light: quem protegeria o mundo quando ele se fosse?

Quer dizer, Mega Man era awesome, mas ainda sim é uma máquina. Ele não viveria para sempre, e eventualmente ele se tornaria obsoleto para lutar e até mesmo deixaria de funcionar. E ele, o Doutor Light, já era um homem de idade avançada. Ele não estaria lá para fazer o próximo Mega Man. Ele também não podia passar seus conhecimentos a ninguém, o risco de termos outro Dr. Willy usando essa tecnologia para o mal era apenas grande demais.

Então, novamente, quem protegeria a humanidade do próximo Dr. Willy quando o Mega Man se fosse e ele mesmo não estivesse ali para fazer um novo Mega Man? Dr. Light passou os últimos anos de sua vida pensando sobre isso, e pensando bastante.

Diante desse problema aparentemente insolúvel, ele decidiu então dedicar o que restava da sua vida ao seu mais ambicioso e arriscado projeto: MEGA MAN X. Tão arriscado, de fato, que o nome "X" vem justamente de ser uma variavel matemática não previsiviel. O projeto X poderia dar muito certo, mas ao mesmo tempo poderia dar fenomenalmente errado. Mas o que é, exatamente, o projeto X?

Veja, até aquele ponto robôs existiam naquele mundo, e eram capazes de pensamentos inteligentes e raciocinio - até mesmo alguns sentimentos (Proto Man é orgulhoso, por exemplo). Só que eles ainda eram máquinas, e obedeciam as três leis da robótica:

1) um robô não pode ferir um humano ou permitir que, por inação sua, um humano sofra algum mal;

2) os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei; e

3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.

Mesmo Mega Man não era uma exceção a essa regra, ele ainda era um robô e seguia sua programação. Por isso ele nunca matou o Dr. Willy quando teve a chance, mesmo sendo uma escolha mais segura para toda humanidade. O que o Dr. Light precisava para poder descansar em paz era algo além disso, um robô plenamente livre e capaz de tomar suas próprias escolhas. Um robô que não apenas vivesse para sempre para proteger a humanidade, mas que continuasse aprendendo e evoluindo para garantir que a raça humana sempre teria um protetor justo e bondoso (seja upgradeando ele mesmo, seja construindo um sucessor caso fosse necessário). Ou seja, um robô com o seu intelecto e o senso de justiça do Mega Man.

O Dr. Light sabia que a única forma de um robô ser assim a única forma seria faze-lo livre de qualquer inibidor de programação, e ser plenamente capaz de sentir tanto quanto um ser humano. Agora, eu sei o que você está pensando. Eu sei EXAMENTE o que você está pensando:

Hã, uma máquina capaz de pensar por si própria que não responde a ninguém que senão suas próprias decisões? Porra, esse cara nunca assistiu Vingadores - A Era de Ultron? Porque o que você está fazendo é EXAMENTE o Ultron, o que possivelmente poderia dar errado né?

Bem, felizmente para a raça humana, a resposta é que não, o Dr. Light não era um imbecil. Claro que ele considerou o quanto essa ideia poderia dar fenomenalmente, filhadaputamente errada. Por isso quando ele terminou de construir o X, ele apenas não ligou ele e torceu pelo melhor. Não. O que ele fez foi, ANTES DE LIGAR O X, colocar ele em uma capsula onde um computador faria um diagnóstico da sua mente e calcularia a probabilidade do X se tornar maligno.

A boa noticia é que ele decidiu fazer isso antes de foder com a porra toda, o que teria evitado muitos filmes de apocalipses das máquinas. A noticia ruim é que esse diagnóstico levaria entre 30 e 50 ANOS para ser feito. Desnecessário dizer que o Dr. Light não viveria esse tanto para ver o resultado final do seu projeto X. Mas tudo bem, ao menos após esse tempo, caso o diagnóstico mostrasse que o X não seria uma ameaça para a humanidade, ele despertaria e tudo daria certo...

... certo? Quer dizer, CERTO?

Alguma coisa saiu errada, muito errada. Trinta anos se passaram e o X não despertou. Então cinquenta. Então mais de um século já havia se passado e nada do X acordar. Tanto tempo se passou, de fato, que a raça humana simplesmente esqueceu dos dias em que um simpático bombardeiro azul lutava contra o Dr. Willy para proteger a humanidade.

O que foi mais sorte do que juízo, porque nesse século e pouco nenhum "novo Dr. Willy" surgiu e acabou que parece que o tal X do Dr. Light acabaria não sendo necessário. Foi um século de paz onde nenhuma maior catastrofe aconteceu, afinal. E essa teria sido o final da história, teria sido o final da franquia toda, se por total e completa cagada um roboticista que tinha como hobby arqueologia (você sabe, pra dar uma descontraida entre um robo e outro) chamado Dr. Cain.

Dr. Cain encontrou a capsula onde X estava desativado, e começou a mexer nos computadores com mais de um século até ver a mensagem deixada pelo Dr. Light, que é justamente a tela inicial do jogo do Super Nintendo:

O Dr. Cain fez umas contas estruturais básicas (vulgo "olhou ao redor") e percebeu que aquilo ali tinha bem mais do que trinta anos. Ou seja, a essa altura deveria estar tudo certo... certo? Então ele tirou o X dali e não apenas o ativou, como estudou como ele funcionava.

A coisa é que o Dr. Cain não era, nem de perto, um gênio como o Dr. Light e não realmente entendeu TUDO que fazia o X funcionar. Entendeu o suficiente entretanto para aprender mais sobre essa nova tecnologia de processamento cognitivo que fazia os robos serem capazes de pensar livremente e terem sentimentos.

Ao que ele decidiu aplicar - mais uma vez, a tecnologia que ele não entendia 100% - criando assim uma nova geração de robos que foram chamados de Reploids. Ora, o que possivelmente poderia dar errado?

Com uma nova geração de robôs capazes de pensar fora da caixa, e capazes de sentirem compaixão, a qualidade de vida humana subiu exponencialmente em poucos anos. Com ajuda dos Reploids, a vida na Terra nunca foi tão segura, tão boa e tão fácil para os humanos.

Claro, sendo seres capazes de pensar livremente, é inevitavel que alguns Reploids se tornassem ambiciosos, crueis ou mesmo malignos. Esses Reploids foram chamados de Mavericks, e rapidamente os próprios Reploids se encarregaram de tomar conta da situação: criaram uma força tarefa em resposta a isso reunindo os melhores e mais poderosos Reploids para serem Maverick Hunters. E por um tempo foi bom, os Maverick Hunters mantinham as coisas sob controle com relativa tranquilidade, já que não era tão comum assim Reploids se tornarem Mavericks. Quando acontecia, eles logo tomavam conta da situação.

Enfim, Abel City foi uma cidade construída pelo Dr. Cain (viram o que eles fizeram aqui? Hã? Hã?) como prova de conceito para a coexistência pacífica entre Reploids e humanos, e logo o sucesso disso a tornou capital economica e cultural do mundo.

Estava tudo certo. O próprio X acabou se tornando um Maverick Hunter (até porque mais o que ele ia fazer nesse novo mundo? Entregar ifood?), porém não era dos mais brilhantes não já que apesar de toda tecnologia que criou os Reploids ser baseada no seu cerebro, seu equipamento era bastante ultrapassado já que ele era um robo construído séculos atrás. X era apenas um Maverick Hunter classe B, porque se tem algo que o Japão adora colocar nas suas histórias é a tal da classificação e ranks e tal. Puta paixão por organização, pelamor da Skynet...

O que, ironicamente, acabou sendo a salvação da humanidade no dia em que o comandante dos Maverick Hunters, Sigma, junto com 8 dos melhores Hunters classe A se rebelaram e deram um golpe de estado tomando o controle total de Abel City e assassinando pelas costas os Hunters que se opuseram ao golpe (mode order 66). Como X era um Hunter chinelão, acabou ficando de fora do rolo.

Oh, uma rebelião das máquinas quando os Reploids se deram conta de que embora eles fosse muito uteis para a humanidade, os seres humanos não agregavam muita coisa para eles em troca. Daí para ir full Bolsominion de "raça superior" era só questão de tempo realmente, quem poderia prever uma coisa dessas?

Não esse cara, aparentemente

Sendo um dos Maverick Hunters que sobreviveu a insurgencia, X é rapidamente despachado para investigar a insurgencia de seus antigos companheiros e é aqui que o jogo começa. Não na velha tela de seleção de fases, mas em uma fase introdutória onde a verdadeira magia da Capcom acontecerá.

Não, me corrijo: a magia do jogo já começa antes mesmo disso. Na tela de Game Start do jogo:

Normalmente as telas de Press Start tem um cursor, uma seta, uma mãozinha, o diabo vestindo maria chiquinha que seja. Mega Man X, no entanto, tem o nosso personagem título e quando você aperta start ele dispara esse raio verde bonitão com um som maneiro de tiro poderoso! Uau, parece tão cool!

Porém aí você começa o jogo e aperta os botões para ver o que acontece, e o que acontece é isso:

Espera aí, isso não é a coisa verde maneira da tela inicial, isso é o limãozinho genérico que o Mega Man sempre atirou antes dele ser X, ou Y ou qualquer letra que você queira usar. Pessoalmente sempre gostei do B alemão, então por mim totalmente teria um Mega Man ẞ. Mas hey, isso sou eu. O ponto é, nenhum botão dispara a porcaria da coisa verde legal, e eu quero disparar a coisa verde legal!

Conclusão óbvia:

Segure esse pensamento, ele será importante para onde eu quero chegar. A fase introdutória do Mega Homem X é uma puta masterclass de como se faz um tutorial sem ser babaca com o jogador, coisa nível 1-1 do Super Mario 1.

Logo na tela inicial, você já se depara com isso:

Caso você nunca tenha jogado um videogame na vida, essa tela já te diz o que você precisa saber: tem uma parede na esquerda, então obviamente você tem que ir pra direita. Ok, vamos pra direita, é o que vamos fazer durante esse jogo todo e é bom que já tenhamos aprendido isso agora, NA PRIMEIRA TELA do jogo. Informação útil, cool, cool.

Então você está indo pra direita, feliz e contente, quando ISSO acontece:

OH GOD OH GOD TIRA ISSO DE MIM TIRA ISSO DE MIM!

Quer dizer, eu não preciso esfregar na cara de vocês meu phd em fucking física quantica nuclear neutrina para dizer que eu não quero que a BOLA DE ESPINHOS DA MORTE encoste em mim. Isso é bastante intuitivo, realmente.

Porém o interessante é o que acontece quando ela encosta em você: você não morre. Mega Man perde um pouco de energia, e isso é tudo. Isso é realmente importante, porque é a segunda lição que aprendemos nesse jogo: você pode cometer alguns erros, esse não é um daqueles jogos punitivos. Sua barra de energia tem um tamanho bacana, então ok we cool bro. We cool.

Quanto a RODA DE ESPINHOS DA MORTE em si, existe algumas coisas que você pode fazer a respeito dela: você pode atirar nela, mas grandes são as chances que você não a destruirá a tempo de evitar tomar o dano. Isso é intencional, porque o jogo quer te ensinar que está tudo bem ser atingido. Mas você também pode pular sobre ele, e isso é outra coisa que o jogo quer que você aprenda. Afinal são as duas coisas que o Mega Man faz, pula e atira. Ele podia se chamar Pulaeatira Man até onde me consta. Alguns inimigos você pode desviar, outra lição aprendida.

Porém para o segundo inimigo do jogo você tem que aprender a atirar quer queira ou não, porque não tem como pular por cima desse filhodaputa molhado:

Ok, então até agora nós aprendemos que você tem que ir para a direita, alguns inimigos você pode evitar mas outros só metendo bala. Massa, estamos com exatamente 15 segundos de jogo e essas ideias já são como se fossem a minha segunda pele, eu me sinto um com o controle, eu posso sentir o poder, fuck yeah, eu estou pronto para qualquer coisa que vocês jogarem na minha fren...

... HOLYPUTAQUEPARIU OLHA O TAMANHO DESSE ABELHÃO! MEU DEUS É UM PUTA ABELHÃO ROBO FODEU PRA MIM ACABOU TUDO ADEUS MUNDO CRUEL JÁ ERA JUDITE JORGE PODE FICAR COM MINHA COLEÇÃO DE TAZOS PORQUE EU NÃO PASSO DESSE ANO!

A luta contra esse sub-chefe ensina algumas coisas. Primeiro, que haverão sub chefes, que eles serão enormes na tela e muito awesome (quer dizer, é um fucking abelhão robo). Segundo, ele dropa essse andadores pernudos e como você pode ver, o tiro passa por baixo deles. Se você tiver a ideia louca de "hã, e se eu pular e atirar na cabeça deles?", então você descobrirá que alguns inimigos tem pontos fracos especificos.

Estou aprendendo coisas conforme eu respiro, eu sou uma máquina de conhecimento! Porém nada do que você aprender será mais louco do que acontece quando você vence a luta (que não é tão dificil assim, realmente):

Bem, é isso. Acabou. Mega Man X caiu em um buraco que não tem como pular fora dele. Já era, caputz, game over. Fim de jogo, não tem esperança em como sair daqui. Nunca, jamais, já era. Afinal, o X vai fazer o que? Sair voando? Ele é o Mega Man X, não o Mega Man Space-X por causa... dos foguetes... hã, a Space-X não existia nessa época então suponho que essa piada não...

... hã, deixa pra lá. Eu dizia que vou fazer o que, atravessar as paredes como se eu fosse o fucking Mega Jogobugado Man X? É, claro, qual é a chance de...

... espera, eu deslizo pelas paredes? Essa fumacinha claramente indica que tem um atrito ali e eu estou caindo mais devagar. Definitivamente eu estou deslizando pela parede, o que é legal, mas isso não resolve realmente o meu problema. Ok, sou o Deslizaparede Man, grandes porcarias.

... a menos que, não, espera, seria loucura, mas... quem sabe? E SE, veja bem, E SE eu apertar o botão de pular (que é o único comando que eu tenho para ir para cima) enquanto estiver deslizando pela parede? Eu sei que é loucura, alguns diriam que é doentio, mas o que realmente eu tenho a perder a este ponto? Passar mais tempo hangeando com o cadaver de uma abelha robo gigante? Eu acho que vou tentar minhas chances com pular deslizando pela parede e...

SUCK IT MOTHERFUCKERS, I'M THE GRAVITY ITSELF! Uhuuu nada pode parar minha fúria de escalação, eu sou o bombardeiro azul do eixo Y agora, bitches! Ahuga boy!

HÃ, OK, DESCULPA CORTAR O SEU BARATO, MAS... ENSINAR AS MECANICAS BÁSICAS NA PRIMEIRA FASE É O MINIMO QUE UM JOGO TEM QUE FAZER.

Você não está errado, Jorge. Infelizmente, a maioria dos jogos está e poucos jogos realmente tem essa finesse de ensinar suas mecanicas de forma organica na primeira fase. O que normalmente os jogos fazem, e mesmo hoje isso acontece, é enfiar telas de e telas de texto com tutorial, ou simplesmente não tocar no assunto e você termina o jogo com "ah, é, eu tinha esse poder, esqueci dele".

Não, caralho! Você não coloca coisas no jogo que o jogador vai esquecer, isso é game design ruim! Esse problema de tutorial é tão sério, tão grave que até mesmo fucking The Witcher 3 mete telas de tutorial na sua cara, as quais você ignora porque elas são muito chatas pra caralho e você quer apenas jogar o jogo, e depois você não sabe como faz as coisas e tem que pesquisar na internet.

Deixa eu repetir: Witcher 3, a lenda, o jogo dos jogos, o mito, não consegue acertar essa parte. A FUCKING PERFEITA LINDA MARAVILHOSA CHOCOLATANTE CD PROJEKT RED NÃO ACERTA ISSO E MEGA MAN X DEU UMA AULA DE UMA FORMA DIVERTIDA EM MENOS DE UM MINUTO!

Parece obvio, parece fácil, mas o que a Capcom fez aqui não é nada senão a obra de Deus, eu te digo. Palavra. Mas okay, Mega Man X está lá, rodando todo bonitinho e pimpão, ensinando você a jogar o jogo enquanto você joga, todo mundo se diverte, good times, mas hey, olha a hora! Sabe que horas são?

É HORA DE ENTRAR PRA FUCKING HISTÓRIA, BEACH! É ESSA A HORA DE QUE É AGORA!

HÃ, A COISA DE USAR LETRAS MAIUSCULAS É A MINHA COISA, VOCÊ ESTÁ...

ARGGGGGGUJ*KDJLPÇ~´´~[SUYHT6RT54TYHU-

NOSSA, MEGA MAN X REALMENTE MEXE COM VOCÊ, NÃO?

Deveras. Lembra de toda minha conversa sobre tema, e conquistar o jogador, e sobre a tela de Press Start? Pois bem, amarre bem a sua cabeça porque cada atomo do seu cerebro será dinamitado nos próximos momentos.

No final da fase introdutoria uma nave desce do céu e sai dela um carinha usando um fucking mecha suit. Um robo usando um mecha, neato. E ele não lava o chão com a sua cara, ele fucking deixa o chão tão limpo de esfregar a sua cara que daria pra você realizar uma neurocirurgia na Imperatriz da Lua de tão esfregado que foi com a surra que você toma.

O que é pior, você não sabe nem se está causando dano nele realmente porque o chefe não tem uma barra de vida. Sim, verdade, nos jogos anteriores de Mega Man os chefes tinham barras de vida, mas essa é uma nova série com novas regras, como você vai saber que não é assim agora que rola?

Além disso os chefes abelhas robos de antes na fase não tinham barras de vida, provavelmente é assim que esse jogo rola e eu sou apenas ruim nele, ou o jogo é muito dificil, ou o Mega Man X realmente é apenas um Maverick Hunter classe B ultrapassado de um século atrás que não tem negócios se metendo nos assuntos dos robos modernos.

Você é apenas fraco, impotente e está apanhando mais que um um pé de alface na passeata vegana 2021. You suck, o seu mega man suck, tanto faz, e você não é bom o bastante nem pra passar do primeiro chefe. E, apenas para te humilhar, só de zoeira, ele ainda nem se dá ao trabalho de te matar. Não, isso seria bom demais para um pedaço de lixo como você, nah.

Ao invés disso, ele apenas te prende nessa gaiolinha de energia, como o alfacezinho metido a besta que você é:

Ele então te agarra, você chora como se tivesse acabado de tomar 7x1 da Alemanha, ele ri malignamente, ferrou tudo e você suck. Já era. Agora realmente já era.

E então, quando não havia mais esperanças, quando tudo parecia perdido... um som começa a ecoar. Espera, eu já ouvi esse som antes, ele parece muito, muito mesmo com o som de tiro carregando dos jogos antigos do Mega Man - só que melhor, uma versão mais gostosa de se ouvir e mais limpa, mas eu reconheceria esse som em qualquer lugar do mundo.

Mas poruqe um som de tiro carregando se eu estou aqui Davi Luizando e dizendo que só queria trazer alegria para o meu povo?

HOLY MOMOLI! É É É A COISA VERDE DA TELA DE PRESS START! É A COISA VERDE QUE EU QUERO SÓ QUE AGORA ELA É AZUL MAS EU QUERO ELA MESMO ASSIM! E ELA ARRANCOU O BRAÇO DO ROBO COM UM TIRO! Meu deus, eu não consegui nem arranhar ele com meus limõezinhos, mas esse tiro arrancou o braço do cara fora, kaplow, blow!

Que coisa mais absolutamente foda! My fucking god, quem é o responsável por esse momento mágico de fodelice?

Que... mas que... meu deus... meeeeeeuuuuu deeuuuuuuussssssuuuuuuuu quem é esse robo tão cool, tão maneiro, tão descolado que eu nem conheço e já considero muito? Ele botou o bandido pra correr concentrando o tiro... é isso, segurando o botão de tiro, é assim que eu faço a coisa verde da abertura!

Mas mesmo assim, a minha coisa verde não é nem de perto tão maneira quanto a coisa azul desse robo tão cool, tão descolado, tão apaixonante! Por que eu não estou jogando com esse robo uber maneiro e ao invés disso estou aqui preso em gaiolinhas como um idiota? Eu não quero ficar preso em gaiolinhas, eu quero ser o cara que arranca braços! Eu quero ser o robo vermelho fodelão, porque eu não posso ser o robo vermelho fodelão?

E então ele fala comigo (OMFG senpai me notou!), o nome dele é Zero a proposito, e diz o seguinte:

É isso! É isso que eu quero! Eu quero ser como ele! Eu quero ter uma armadura maneira, eu quero ter um tiro fodelão, eu quero botar terror no coração dos chefes inimigos! Eu quero ser como o Zero e ele está me dizendo que eu posso ser! Puta que o pariu, sai da frente que eu tenho uma missão pessoal a cumprir!

E esse é o tema de Mega Man X: poder. Você quer ficar mais poderoso, você quer ser mais cool, você quer fazer coisas maneiras e você vai trabalhar cada fibra do seu ser daqui pra frente para chegar lá.

Sim, em muitos jogos você ganha equipamento, level up, magias e tal, mas em Mega Man X isso é diferente. Essas coisas não são uma ferramenta que você precisa usar para terminar o jogo (ou ter sua vida facilitada), não, é um objetivo em si próprio que você traçou no seu coração porque você quer se sentir poderoso, você quer sentir que é bom o bastante para andar com alguém tão cool quanto o Zero.

E isso, crianças, é o que chamamos de "tema". É sobre o que o jogo é realmente, é sobre o que você fica pensando enquanto não está jogando o jogo. Como você se sente jogando o jogo é muito mais importante do que level design, gráficos ou som. É a ideia que te move, é o conceito que agarra realmente o seu coração.

Nos anos seguintes muitos jogos aperfeiçoaram essa ideia de trabalhar não apenas o que você faz na tela, mas principalmente como você se sente a respeito disso. Jogos como The Last of Us e Death Stranding elevaram essa coisa a um status de pura arte, mas foi no simples Mega Man X a primeira vez que eu realmente senti um "tema" em um videogame. Eu tinha um objetivo dali para frente, um lugar que eu queria chegar não porque essa era a quest ou porque é assim que se joga o jogo, mas porque é o que realmente me faria feliz.

E quer saber de uma coisa? Aqui, só entre nós? A Capcom fucking entrega exatamente o que você trabalhou tanto para conseguir ao longo desse jogo. Conforme você avança nas fases dos 8 robos mestres, você coleta não apenas as armas dos chefes que você derrotou, como pedaços de uma armadura projetada pelo Dr. Light para o caso de que o X viesse a precisar dela no futuro. Cada pedaço da armadura te dá alguma habilidade palpavelmente nova, e sua sensação de poder aumenta.

As botas permitem você fazer dash, o peito diminui pela metade o dano que você toma, a cabeça permite quebrar blocos e o canhão do braço permite você concentrar o tiro um nível acima do normal, inclusive permitindo usar ataques especiais das armas que você ganha dos chefes.

A arma do Sting Chameleon, por exemplo, é só um raio que se divide em três. Meh, super weak dude. MAS se você tiver o power up do braço e puder concentrar o tiro dela, BAM, motherfucking invencibilidade temporária because I'M WAR ITSELF!!!

O trabalho que você tem para se preparar é imensamente recompensado nesse jogo, e todos os power ups fazem você se sentir um pouquinho mais perto de ser o Zero, um pouquinho mais cool. Por exemplo, você pode enfrentar o Flamming Mammoth com o X-Buster normal, você sabe, pulando e atirando... COMO UM IDIOTA.

Você pode fazer isso. Você pode até mesmo usar a arma contra a qual ele é fraco, o tornado do Storm Eagle (meu deus, esse jogo é tão bom que eu estou citando os nomes chefes de cabeça, juro que eu não olhei no google nem nada). Yeah, cool, você pode fazer isso também, sure.

Mas sabe o que você quer fazer? Sabe o que você REALMENTE quer fazer? Eu te digo o que você quer fazer: usar a arma do Boomer Kuwanger e BADABOOM, cortar a tromba dele! Holy shit, isso totalmente parece algo awesome que o Zero faria, e eu posso fazer isso agora!

Saiba você, arrancar a tromba dele não é apenas uma mudança cosmética awesome (porque é), mas também faz com que ele perca o seu ataque de jogar oleo que pode ser inflamado depois. Fuck yeah, é disso que eu estou falando baby!

Falando em derrotar chefes, derrotar os chefes também afeta outras fases. Por exemplo, se você derrotar o Storm Eagle, a nave onde é a luta dele cai em cima da usina elétrica onde é a fase do Spark Mandril. Isso quer dizer que a fase do Spark Mandril é diferente se você derrotou ou não o Storm Eagle antes: se você não derrotou o Storm Eagle a fase é repleta de lugares dando curto circuito e um sub chefe tem o poder de disparar rajadass de eletricidade em você.

Agora se você já derrotou o Storm Eagle e a nave dele caiu em cima da usina, a danificando, então ela está sem energia e por consequencia não tem várias partes com o chão eletrificado, assim como esse sub chefe não tem o ataque de eletricidade.

Sério, a sensação de saber que a fase mudou por conta de uma coisa que eu fiz é tão boa, mas tão boa, é disso que eu to falando baby! Da mesma forma se você derrotar o Chill Penguin então a estação climática dele sai de controle e a fase do Flame Mammoth fica sem vários poços de oleo que poderiam ser incendiados dificultando a sua vida, e derrotar o Launcher Octopus na fase aquática faz a fase do Sting Chameleon inundar - abrindo um caminho aquatico para pegar um heart tank.

Enfim, essas pequenas mudanças são legais e te fazem se sentir poderoso - o tema do jogo - mas nem de perto tão legais e tão poderoso quanto o ato final do jogo. Após derrotar os oito robos mestres, eu normalmente digo que a parte do castelo é a menos interessante de todas nos jogos do Mega Man. Bem, não aqui. De fato, essa é a MELHOR parte do jogo!

Isso porque ao chegar no final da primeira parte do castelo, você encontra velhos conhecidos:

Zero e Vile parte para a sala do chefe, onde você ouve sons de luta por alguns instantes enquanto você corre para alcança-los. Quando você chega lá, eis o que você encontra na sala:

Eita mil forninhos de Giovana! Agora Zero foi capturado e você é a última esperança! Mas tudo bem, não entre em panico X, você não é mais o mesmo robozinho moloide que teve sua cara esfregada no chão no começo do jogo. Você treinou duro por esse momento, você se esforçou e...

... ah, fuck. Parece que não tem jeito mesmo, agora ferrou de vez. Bem, valeu a tentativa, eu suponho, mas talvez seus sonhos sejam apenas grandes demais para um pequeno robozinho azul. Se nem o motherfucking Zero conseguiu derrotar o Vile, que chance nós temos?

A chance que nós temos é criada quando Zero escapa de sua prisão e com suas últimas forças se autodestrói, levando o mecha suit de Vile no processo. Vile então apenas ri do quão inutil esse sacrificio foi, se matar apenas para dar mais uma chance a um perdedor ser derrotado por ele de novo é apenas patético. Vile não tem nenhuma dúvida que não precisa da armadura para derrotar um simples Maverick Hunter classe B.

O que até poderia ser verdade em algum momento do passado, mas esse Mega Man não é mais o frágil bombardeiro azul que você espancou como uma Maria Mole, Vile. Eu trabalhei muito duro por esse poder, e o sacrificio de Zero-senpai que confiou o futuro em minhas mãos não será em vão!

Eu não sou mais o mesmo robozinho assustado de antes, EU SOU O MEGA MAN X!!!

Não pode ser... um mero Maverick Hunter classe B... como pode... ter tanto poder... aaarrrgggggghhhh psssssshhbboooooomm

Cara, eu gosto tanto de Mega Man X. Sério, esse jogo é lindo, é espetacular, é chocolatante ad infinitum. Todo esforço que esse jogo faz é no sentido de estabelecer o tema, e então te entrega isso de uma forma tão satisfatória. Bem poucos jogos conseguem esse nível de precisão no que eles tentam entregar, algo que você legitmamente deseja como jogador é algo que é relevante a toda experiencia do jogo.

Tema. É isso que faz o seu jogo brilhar, e é sobre isso que Mega Man X é.

Caso você não tenha pego o upgrade do canhão de braço até então, Zero te dá o dele com suas última forças e confia o destino da humanidade a X. As shipagem pira!

Normalmente nas reviews de Mega Man eu falo sobre os chefes e curiosidades e tal, mas como vocês podem ver não é o que eu fiz hoje. Quer dizer, esse texto já está enorme e teria tanto a ser dito que ele ficaria mais maior do que já está... porque é assim que acrescentar palavras funciona... eu poderia falar de como, por exemplo, a batalha final contra o Sigma é brilhante porque ele é muito dificil e provavelmente você vai usar todos os seus subtanks e ainda perder..

E aí você fica "que merda, vou ter que encher meus subtanks de novo e isso vai levar tipo minutos e vai ser um saco eu ter que esperar isso tudo antes de poder tentar de novo", mas então os criadores do jogo meio que perceberam isso e colocaram uma forma fácil de você encher os subtanks logo antes da luta contra o chefe...

... PORQUE A GRAÇA DO JOGO É O DESAFIO SER A LUTA DO CHEFE, NÃO A BUROCRACIA CHATINHA PARA VOCÊ CHEGAR LÁ! Deus, como eu queria que tantos mais jogos dessa época entendessem isso! Minha vida seria tão, tão melhor...

De fato, minha vida seria tão imensamente melhor se mais jogos fossem como Mega Man X porque, caso eu não tenha deixado claro o suficiente, esse jogo é lindo. De verdade, é.

No final do jogo, Mega Man vê o castelo de Sigma explodir enquanto reflete qual o proposito da sua existencia. Ele nasceu para lutar contra aqueles que até a pouco eram seus irmãos de armas? Para lutar pela justiça? Mas... a que preço?

1994 é o ano que começam as vacas gordas nos videogames, e as coisas só vão ficar melhores e melhores daqui pra frente. E não teria como pedir um jogo melhor para abrir esse ano espetaculindo do que essa perola chamada Mega Man X.