sexta-feira, 11 de agosto de 2023

[#1145][Dez/97] SHINING FORCE 3: Scenario 1 - The Titan of Aspia

Após um longo inverno (tanto literal quanto metaforicamente), estamos de volta. E o motivo do afastamento não é aquela desculpa meia boca de quem tá perdendo o tesão no projeto ou algo assim, e sim que... bem, vamos dizer que fazer uma mudança sozinho não é algo que eu recomendaria nem pra gente que ouve música sem fone no busão, mas enfim. O outro motivo pelo qual essa review demorou, entretanto, é que esse é um jogo longo e um que eu queria conferir com bastante calma pq... bem, vamos começar do começo.

O jogo original da série, SHINING FORCE: The Legacy of Great Intention é um dos meus jogos favoritos de Mega Drive. Olha, pensando de cabeça assim, acho que junto com SPARKSTER são OS meus dois jogos favoritos do console da Seguinha. Em grande parte pq ele é um excelente RPG Tático (especialmente para a época) e não é como se esse genero fosse popular no ocidente na época dos 16 bits.


Essa é a boa noticia, a noticia ruim é que conforme o tempo foi passando, a Sega foi colocando cada vez menos esforço nos jogos apenas fazendo a engine rodar com novos mapas. Sabe aquela coisa de continuação que é apenas um DLC do mesmo jogo com novas fases? Bem, SHINING FORCE CD e SHINING FORCE 2 são essencialmente isso.

Não são jogos ruins ou quebrados nem nada, mas são essencialmente apenas novas batalhas para o mesmo jogo de Mega Drive com praticamente nenhuma história. Meh. E verdade que para além desses, a Sega também tentou tirar leite da vaca com outros generos como dungeon crawler SHINING THE HOLY ARK, o relançamento do jogo original SHINING IN THE DARKNESS e até mesmo um action RPG pavorível chamado SHINING WISDOM. Como dá pra ver, não é como se faltassem jogos de Shining Force, o que faltava mesmo era um jogo que me encantasse como o primeiro SHINING FORCE: The Legacy of Great Intention.


Eis então que em dezembro de 1997, a Sega decidiu deixar os markeys schmarkeys de lado e voltar as origens. Shining Force 3 é um RPG Tático mas com uma história inteiramente nova e ambiciosa. Isso por si só já seria interessante, um SF de volta as raízes (mas sem ser uma expansão do primeiro jogo), mas aí a Sega foi aumentou as apostas do brinquedo: Shining Force 3 é na verdade um jogo dividido em três partes, três jogos completamente separados (chamados "Scenario 1", "Scenario 2" e "Scenario 3") só que com um truque macetante.

E que truque é esse, vc pergunta? Bem, os três jogos na verdade são uma mesma história que é contada por três pontos de vista diferentes. Nesse primeiro jogo, jogamos com o cavaleiro Synbios do reino de Aspiria e enquanto ele resolve suas tretas, volta e meia ele cruza com o principe Medion e o mercenário Julian. O segundo jogo é contado pelo ponto de vista de Medion e o terceiro pelo de Julian.


Porém não é só isso: o save do primeiro jogo pode ser exportado para o segundo e este para o terceiro. O que quer dizer que em certas lutas quem vc mata ou não, que personagens recruta ou não, que escolhas faz ou não é carregada para o jogo 2 - aproximadamente DEZ ANOS antes de Mass Effect explodir a cabeça de todo mundo com essa coisa de carregar suas escolhas e feitos para os outros jogos, a Seguinha já tinha feito isso em Shining Force 3.

Aí sim, papai!


Mas calma que tem mais: a história desse jogo não é apenas filler pra ter lutinhas como foi o problema de  SHINING FORCE CD e SHINING FORCE 2. Não, pelo contrário, ela é a narrativa mais ambiciosa da Sega de fazer uma trama de intriga política até então e vai mais ou menos assim: o principado de Aspinia já fez parte do Império de Destonia, mas se separou após uma guerra de independência que se arrastou durante anos. 

Porém isso não quer dizer que tudo esteja bem e bom, e as tensões permaneceram entre Aspinia e Destonia após a secessão, marcada por disputas fronteiriças que terminavam em combates sangrentos. Quando o jogo começa, o cavaleiro Synbios está fazendo parte de uma comitiva que representa Aspinia em uma conferência de paz na cidade neutra de Saraband. 


O problema é que no meio da conferencia de paz algo acontece (alguém já viu uma conferencia de paz que terminou bem na ficção?) e esse algo é que o imperador de Destonia foi sequestrado por ninguém menos que o rei de Aspinia! Minina, o babado! Choquei!

Com efeito, tão chocado quanto ficou Synbios já que ele estava do lado do rei esse tempo todo! Ou seja, o sequestro do imperador foi realizado por um doppleganger em uma armação de Destonia para justificar uma nova guerra. Foi um golpe preciso e orquestrado: pq no instante em que as tropas de Aspinia estavam confusas se o seu rei era um filho da puta e a quem deviam lealdade, Destonia já tava com todo mundo em posição pra passar o carro.


A primeira metade do jogo é essencialmente você escoltando o rei de volta a capital, sendo caçado em toda Aspinia ocupada tanto pelos soldados de Destonia quanto por cavaleiros de Aspinia que acreditam que o rei tentou dar um golpe e começar uma nova guerra.

A segunda metade do jogo, entretanto, é para se aprofundar um tanto mais em quem estava por trás do golpe e que emprestou forças a Destonia para executa-lo: cultistas do deus profano, o Secto de Bulzome. Ao longo do jogo, Synbios tem encontros periódicos com Medion, o príncipe mais jovem de Destonia, que não comprou muito essa história e desconfia que tem caroço nesse angu e embora em lados opostos da guerra, os dois trabalham juntos para identificar a verdadeira ameaça.


Colocando assim, a trama do jogo não é tão diferente assim de FINAL FANTASY TACTICS: uma guerra em que ambos os lados estão sendo manipulados por religiosos. Os nobres acham que estão usando o poder da seita, mas mal sabem eles que estão servindo para atender a agenda de um deus profano. Maaaas... falaremos de FINAL FANTASY TACTICS daqui a pouco. 

O que importa é que a Sega realmente veio pra dar uma voadora com os dois peitos no pé (ou algo assim): um sistema de combate sólido (embora não tenha mudado quase nada desde o Mega Drive, não precisa consertar o que não está quebrado), uma narrativa politicamente ambiciosa e um projeto de três jogos com save carregado.


O que possivelmente poderia dar errado?

EU CONHEÇO SEU HISTÓRICO COM A SEGA O SUFICIENTE PARA SABER QUE VOCÊ VAI CONTAR COM BASTANTE DETALHES EM COMO A SEGA FODEU A PORRA TODA DEVIDO A SUA PASPALHICE...

Então, é totalmente algo que eu teria prazer em fazer... não fosse o fato que não foi o que aconteceu. A Sega não fez nada particularmente errado aqui, só que...

AHA! EU SABIA QUE TINHA UM "MAS"!

Então... é a Sega, né? Até quando tá certa, ela tá errada.

Sega in a nutshell

O resultado desse projeto ambicioso e com uma consideravel parte de esforço da Sega é que Shining Force 3 Scenario 1 foi um fracasso de vendas no ocidente, ao ponto que os scenarios 2 e 3 nunca foram lançados fora do Japão. Só que a coisa curiosa disso é que esse jogo foi demolido nas vendas não por causa dos defeitos desse jogo, e sim pq a Sega deu azar. Simples assim, azar.

Veja, SF3S1 é um jogo totalmente okay em comparação com outros RPGs Táticos da época, mesmo os melhores da parada como ARC THE LAD 2 ou VANDAL HEARTS. Então pq SF3S1 tomou ferro quando seus pares da época se sairam okay? Bem, por um motivo bastante simples na verdade: entre jogos como ARC THE LAD 2 ou VANDAL HEARTS aconteceu um ACONTECIMENTO que só acontece uma vez a cada geração (frequentemente menos) no mundo dos RPGs Táticos. Sim, vocês sabem exatamente do que eu estou falando, é isso mesmo que você está pensando:



Puta falta de sorte meo. Se esse jogo tivesse sido lançado seis meses antes... pq é tipo você lançar um joguinho de plataforma 16 bits totalmente okay... só que está todo mundo jogando DONKEY KONG COUNTRY 2: Diddy's Kong Quest, saca? Tipo isso, só que amplificado por mil.

 SF3S1 foi o primeiro RPG Tático que eu joguei após FINAL FANTASY TACTICS (se você não contar HEIR OF ZENDOR: The Legend and the Land, o que é uma questão bastante em aberto) e eu não conseguia NÃO fazer as comparações com o clássico da Square. Tipo a intriga politica é bem intencionada e tal, mas depois da obra prima que aborda questões sociais e conflitos de classe, SF3 parece apenas... esforçado.


Ou então o sistema de classes não tem nada de errado com ele (como eu disse, foi mantida a mesma mecanica de classes e EXP do Mega Drive, se não está quebrado não conserte), mas... cara, como a gente volta a normalidade do "okay, é legalzinho" depois de um POUTA petardo que é o sistema de classes de FINAL FANTASY TACTICS?

Mas a parte importante disso é que essa também foi a sensação que o publico no final de 97 teve. e explica a recepção morna das vendas do jogo. Quando vc tem um jogo que é bem escrito enquanto literatura mesmo (e não a um nível "tá, é okay para um videogame"), é dificil voltar para ... é passável para um videogame.


E "passável" é meio que a palavra aqui: embora a história faça sentido (ao contrário de alguns jogos JRPG que permanecerão não nomeados), é muito enrolada com tantos nomes de lugares e personagens fictícios que as vezes vc tem muita dificuldade em entender o que estava acontecendo. O que me lembra um pouco o problema que eu tive com TACTICS OGRE: Let Us Cling Together, embora não tão enrolado (sério, naquele jogo eram tantos nomes e vc tinha a sensação de pegar o trem andando que eu apenas desligava o cerebro).

Ainda sim, reitero que o problema foi mais o timing do lançamento pq ser o primeiro grande RPG Tático após FINAL FANTASY TACTICS é uma tarefa ingrata que não acho que possa ser vencida. Não em 1997, pelo menos. Porém não acho que mesmo isso seja culpa da Sega. Quer dizer, que outra opção eles tinham? Não lançar o jogo? Segurar o jogo mais seis meses, e aí paga os boleto como?

Foi um puta azar mesmo.


Então... qual é o meu veredicto sobre o jogo? Quer dizer, uma vez que você afasta a sombra de que esse jogo não é, nunca vai ser e na real nem tenta ser FINAL FANTASY TACTICS... ele é um bom RPG Tático, isso não pode ser tirado dele, obviamente. A questão é... ele vai além do "bom"?

Hmmm... kinda? Quero dizer, o jogo não é difícil de entender e pode ser surpreendentemente viciante. Verdade que ele não está cheio de opções e estatísticas como outros SRPGs (mesmo alguns de Super Nintendo são MUITO mais complexos em mecanicas que ele, como BAHAMUT LAGOON por exemplo), mas ele diverte no feijão com arroz que ele se propõe a fazer. Verdade que o que era incrível em 1993 no Mega Drive, é bem menos incrível quatro anos depois uma geração depois. Não ruim, mas não incrível tb.


Os gráficos são pixelados estouradaços, o que não envelheceu bem, mas não deixa de ser impressionantes por não estarem em fundos pré-renderizados como era popular na época, mas renderizados em 3D em tempo real. Então kudos onde kudos são devidos.

Se tem algo que esse jogo faz mecanicamente único, o que não é muito, é que morrer em uma batalha não faz você perder XP. Você volta pra igreja mais próxima e precisa pagar as ressurreições e depois recomeçar do zero a luta, mas você mantém o EXP. Como não tem batalhas aleatórias nesse jogo, essa é a forma de "grindar"... o que não é tão ruim assim.


A estratégia desse jogo é apenas ir avançando, e se chegar numa hora que seu nível não dá mais e vc morre... vc não perde nada realmente, só precisa recomeçar a luta. É, eu posso viver com isso. Adicionalmente, o jogo não tem muitos abertos genéricos e o level design do mapa sempre te dá batalhas diferentes. De vez em quanto até tem missões extras, como tentar resgatar refugiados de serem massacrados com trens em movimento bloqueando seu caminho ou tentando lutar contra um golem que continua jogando pedras em você. 

Mas não é sempre também, definitivamente esse jogo não tem os mapas criativos de VANDAL HEARTS, o que significa que depois de um tempo ele fica meio cansativo já que é um jogo longo. A pior parte é que o conjunto final de batalhas, que exige que você upe os personagens que vc não estava usando até então e isso adiciona tipo umas 10 horas de grinding no jogo

Isso tudo me leva a conclusão, no fim do dia, que SF3S1 não é um jogo ruim, mas também não é um "The Best of" mesmo quando vc afasta a sombra de comparação com FFT. Espero que essas pontas duras sejam melhor polidas nos Scenários 2 e 3 (que ao que parece tem tradução de fãs apesar de não serem lançadas no ocidente, então jogaremos provavelmente), e verdade que até o momento de qualquer forma é o melhor RPG Tático do Saturn... mas então isso não quer dizer lá tanta coisa assim também, né?

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 125 (Março de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 044 (Novembro de 1997)


Edição 047 (Fevereiro de 1998)


Edição 055 (Outubro de 1998)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 023 (Outubro de 1997)


Edição 027 (Fevereiro de 1998)


Edição 028 (Março de 1998)


Edição 053 (Novembro de 1998)