domingo, 4 de março de 2018

[AÇÃO GAMES 005] GHOST HOUSE (Master System, 1986) [#129]



Antes de começar, permita-me preparar o cenário ... 

Eu estava sozinho em uma sala modestamente iluminada com um silêncio que era perturbadoramente palpável. O ar frio passou passivamente pelo pescoço, me mantendo tenso e alerta. Com a abundância de videogames como minha única companhia, eu exibi coragem e cautela cartucho após cartucho em busca do espécime perfeito para o próximo review. 

Quando meus olhos começaram a vagar, notei um canto escuro e estranho com um console que havia sido negligenciado pela internet: o Sega Master System. 



Sim, o videogame que foi uma piada de mau gosto no Japão e nos Estados Unidos, porém prosperou no Brazil-zil-zil e na Europa. O que significa que todas as reviews de jogos exclusivos de Master System majoritariamente estão em português, e se tem uma verdade na vida é que brasileiros nunca falam mal da nostalgia. Quer dizer, sério, esse é um país em que Cavaleiros do Zodíaco é visto como um anime bom... mas divago. Eu tinha que fazer algo a respeito, lançar uma nesga de luz neste passado pantanoso dos videogames. Sim, eu recomecei a narração.

Era minha missão.

Com apenas um momento de hesitação, arrisquei-me a me perder nas brumas do esquecimento e fiz um inventário cuidadoso do que estava no meu caminho, sempre ciente da presença sobrenatural permeando o ar. À medida que a mão trêmula pegava Golvellius: Valley of Doom, algo me atingiu pelas costas! 

Eu caí para a frente - coração batendo, medo dançando dentro do meu estômago. Era isso. Meu fim com certeza. A visão borrada entrou em foco depois que eu corri tudo que pude para longe do objeto nefando como pude. Lá estava. A ameaça. Eu temi pela minha vida. 

Era um cartão Sega. 

Não! Não pode ser! 

Mas era! 



Tenho certeza que muitos de vocês já sabem, mas o Master System originalmente foi equipado com um slot de cartucho e um slot para cartão. Os cartões do Master System (que parecem com o que hoje conhecemos como cartões de SD) eram mais baratos e vendidos no Japão em lojinhas tipo R$1,99.

O que, honestamente, não era uma ideia ruim. Eu sei que zoar a Sega é uma das minhas paixões mundanas, mas créditos onde créditos tem que ser dados. Claro que para isso eles tinham uma capacidade de memória da Dory depois de assistir um pornô alemão, sendo que seu limite máximo era 250k (quando os cartuchos de Master System podiam ter até 2MB de jogo).

O jogo mais popular lançado neste formado foi Hang On, o clássico do arcade. E entre os menos, estava Ghost House. E embora cartões de Master System nunca tenham sido lançados  no Brasil, foi justamente aqui que este jogo encontrou a imortalidade na infância de milhares de crianças como o jogo do Chapolin... sobre o qual eu totalmente não vou falar aqui hoje!

Então, hoje conheceremos a sombria história de Ghost House. Quem pode dizer que tipos de horrores me esperam? É um bom jogo? Ou é uma horrível monstruosidade? Em breve, descobriremos! 



Eu, neste exato momento, não tenho idéia do que pode ser Ghost House. Eu estou assustado. Com uma vontade de ferro e nervos de aço, coloco o cartão e - merda. Não está funcionando.

Vamos tentar novamente ... ... Não. Nada ainda. Poxa jogo, tu está quebrando o clima aqui...

 Meu coração esta batendo desesperado. O tempo esta acabando. Pensando enquanto corro, procuro por uma pitada de álcool, logo seguido por um cotonete de algodão confiável. Um rápido toque na placa deve consertar isso. Eu coloco o cartão mais uma vez. Nada!?! O destino desta review parece sombrio. Medidas desesperadas me levaram a um golpe rápido no slot do cartão e ... Funcionou! 

E ... caramba, esse jogo é uma bagunça.



Ok, então você é um tipinho chamado Mick, que está prestes a herdar algumas "jóias da família". E depois de superar o desapontamento de aprender que "jóias da família" não são uma metáfora para órgãos genitais, são apenas ... jóias antigas comuns ... você descobrirá que o enredo é tão raso quanto o esforço que os desenvolvedores colocam neste jogo.

Basicamente, cada rodada você explora a casa dos fantasmas procurando por cinco joias. Mas aqui está a pegadinha - Drácula tem todas elas. Então, você tem que vagar por um labirinto de salas sem inspiração batendo em morcegos, múmias e outros vários monstros até aparecer uma chave, o que não demorará muito para encontrar. Uma vez que você adquiriu a chave, é hora de encontrar um caixão e libertar Drácula.

Quatro dos cinco Dráculas são chamarizes, mas o quinto é o verdadeiro. Uma vez que você pegou as cinco joias, procure a saída. Está feito, Próximo estágio. Seus ataques são tão básicos quanto eles podem ser. Saltar em inimigos ou socos. Precisa de uma arma? Tocar em um candelabro fará com que uma espada voe de fora da tela. Se você pular no topo da espada, você pode coletá-la e usá-la para um número limitado de ataques, aumentando tanto o alcance quanto a potência. Só que se a espada do power up que vem voando atingir você, você toma dano.

Tocar uma lâmpada mágica fará com que uma flecha venha no lugar da espada - a flecha não dá nada, só dano mesmo. Se você pular em 16 dessas, você se torna invencível por uma curta duração. Ótimo em teoria, mas - além de ser um número estranhamente específico - sem um contador, como eu deveria controlar o quanto eu já peguei para guardar para o Dracula?

Energia pode ser coletada na forma de pequenos blocos de pontos de interrogação - que eu não sei qual é a questão aqui. Não tem outro item além de energia extra, então pra que a interrogação?

Ok, acho que isso resume o básico, sim? Hora de manchar a reputação deste jogo.



 Quando joguei pela primeira vez Ghost House, eu não tinha ideia do que estava fazendo. Conforme progredi, comecei a juntar algumas coisas. Durante uma briga acalorada com Dracula (que é quase impossível, já que ele se move através da tela livremente e você não), meu personagem estava prestes a conhecer seu criador, o famoso vampiro e seus capangas ficaram de repente congelados, me dando o tempo que precisava para derruba-lo.

Eu acabei de descobrir na sorte que saltar na lâmpada do teto congelaria tudo na tela. Impressionante! Ou pelo menos eu assim pensei. Na próxima vez que tentei isso, não funcionou. Então, depois que eu joguei a primeira vez sem sucesso, procurei no manual de instruções. Claro, como tudo mais com este jogo, as instruções não te dão explicação nenhuma (para não dizer algumas informações erradas)



Foi só graças a uma explicação on-line que eu aprendi que as luzes no teto, de fato, congelam todos na tela. Mas você só pode fazê-lo cinco vezes. O que faz sentido. Cinco vezes, cinco Dráculas. Bom negócio, certo? Bem, eu vou te dizer, antes de chegar no primeiro Drácula você já acertou pelo menos três luzes porque os corredores são apertados.

E mesmo quando você guarda para o chefe, você provavelmente vai congelá-lo em um local inconveniente / inacessível. Também não durará muito, então fique com certeza para chegar rapidamente a ele. Ah, e tecnicamente há seis Draculas, já que você luta com o real duas vezes em algumas fases.

Tudo bem, além da natureza esotérica da Ghost House, o que mais está errado aqui?


Vamos começar com os gráficos. Este jogo parece mais devastador do que a minha privada no dia seguinte a eu ter descoberto o Xis-Enfarto. É um design preguiçoso, apenas amplificado pelas terríveis escolhas de cores que fazem o teatro Amazonas empalidecer no quesito mau gosto. Se você pensou que o Virtual Boy machuca seus olhos, você obviamente não jogou a segunda fase de Ghost House.


Falando de design pobre, cada nível parece muito com o anterior senão por uma troca da paleta de cores e a adição de múmias no segundo nível. Ah, a propósito, também há toneladas de buracos invisíveis no chão e teia de aranha irritantes que grudam em você. Divirta-se com isso.


Ao longo dos estágios, existem escadas para subir e as portas para serem atravessadas. As portas não são atribuídas a salas específicas da casa e a reentrada nunca retorna para o mesmo local. Entrar em uma porta leva um segundo ou dois, mas o que é realmente legal é que você pode realmente ser atingido enquanto isso está acontecendo. Maneiro, hein? Eeeeeeee se um inimigo suficientemente grande o toca durante este "processo de entrada de porta", ele cancela e você deve entrar de novo. Irado!

Escadas são um problema tradicional em jogos de 8bits, mas aqui elas levam o prêmio pois qualquer dano que você tira irá derrubá-lo e te fazer cair no chão. O que também é divertido é tentar escalar para outra plataforma enquanto um monstro está pairando sobre você, tornando 100% impossível chegar ao topo.

Sobe a escada agora, seu fodetio!

Os controles são gerenciáveis. Eles podem ser um pouco sensíveis, embora respondam melhor do que você esperaria. O ritmo sem parar deste jogo é que certamente não ajuda. E quero dizer sem parar mesmo. Não acho que haja um momento em que você possa ficar parado sem ser atingido. A dificuldade do jogo é, bem ... uma vez que peguei o jeito, passei pelos dois primeiros níveis bastante rapidamente. Se você guardar as luzes de teto para todas as batalhas de Dracula, em teoria, você deveria estar bem.

Além disso, depois de cada batalha com um vampiro, você recebe um coração que restaura sua saúde. No entanto, como mencionei antes, usar o poder de congelamento nem sempre sai como você deseja. E ter que lutar contra Dracula sem isso às vezes é impossível. Ele continua voando rapidamente e erraticamente como um morcego e transformando-se aleatoriamente em homem.

O melhor momento para atacar é quando ele está em sua forma humana, mas esses momentos são breves e imprevisíveis. Além disso, você sempre batalhará em salas com vários níveis, dificultando ele estar no mesmo plano quando ele se transformar no Conde. Sem padrões discerníveis, você apenas vai socando aleatoriamente na esperança de golpeá-lo o suficiente, o que é pura preguiça e incompetência nas partes dos desenvolvedores.



Com sorte dá para ir até a segunda fase, mas é só até onde vai também. Ele se torna implacável após o segundo nível. Nem tente atacar sem a espada. E acerta-lo durante a batalha é quase impossível com ele em forma de morcego voando em você a cada dois segundos, juntamente com todos os outros inimigos na tela. Ah, e digamos que você está prestes a matá-lo, mas então se move para um ponto em que ele não está mais na tela. Ele desaparece e você tem que conseguir outra chave, reabrir o caixão e recomeçar a luta com ele de energia cheia.

Após o segundo nível, este jogo realmente é uma merda. Torna-se quase impossível e inconcebível vencer sem savestate. O problema é que os inimigos costumam encurralar você em uma posição em que você absolutamente não pode lutar de volta, e sua saúde é drenada a uma taxa constante sem qualquer tipo de invencibilidade momentânea para se recuperar. Este é frequentemente o caso quando você luta contra o Drácula, cujo ataque incessante faz qualquer tipo de contra-ataque uma impossibilidade em muitas situações. Esta é a marca registrada de desenvolvedores de jogos sem talento que não sabem como fazer um jogo devidamente equilibrado com batalhas de chefe bem projetadas.

Quem diabos programou isso, Beavis e Butthead?



Okay, hora de falar sobre horrível ataque aos meus ouvidos que é o áudio da Ghost House. A música não é ruim, se você pode superar o fato de que há apenas duas faixas em todo o jogo. É rápida, sucinta e meio assustadora, estabelecendo o tom certo para um jogo que totalmente não possui atmosfera de outra forma. Então, se eu estou dizendo que a música é boa, como a trilha desse jogo pode ser um problema?

Bem, a música é boa quando você consegue ouvir ela. Isso porque a paisagem sonora desse jogo é uma bagunça horrível de smacks irritantes e blips de personagens na tela, e seu próprio personagem é o maior culpado desse crime contra os tímpanos. Eles tentaram fazer um efeito meio cartoon onde cada passo que ele leva é acentuado por um "tinininini", sabe? Só que com a placa de som do Master System temos uma agulha furando seus tímpanos a cada passo.



Tudo sobre este jogo parece preguiçoso. Parece lixo, não tem nenhum esforço na história, trama ou design geral, e o conceito é bastante mediano. E enquanto eu sei que deveria odiar este jogo ... eu não sei, eu meio que me diverti. Derrotar com sucesso Dracula e navegar a estranha interface do jogo é satisfatório. E, enquanto Ghost House é incrivelmente repetitiva, a tarefa de colecionar jóias é suficientemente rápida para sentir como uma realização. 

Olha, objetivamente, este não é um bom jogo. Mas depois que descobri como funciona, dá pra se divertir um pouquinho? Sim, um pouquinho. Mas bem pouquinho, só até a segunda fase. 


Na edição 009 o jogo saiu de novo porque nem a Ação Games lia a Ação Games