Em 26 de abril de 1986 ocorreu o pior e mais grave acidente nuclear da história da humanidade. Durante um procedimento padrão de segurança (um teste simulado de blackout), a combinação de péssimo treinamento de um funcionário publico da burocracia soviética com aquela manutenção carinhosa que só algo gerido pelo camarada Estado pode ter resultou na explosão de um dos tanques do complexo.
A explosão criou um incêndio que durante nove dias. Mais de uma semana jogando material radioativo na atmosfera e eu te garanto que algo que você não quer na vida é uma chuva de plasma radioativo durante mais de uma semana. Como material radioativo não se apaga com água, a solução do governo comunista foi literalmente construir uma cúpula de chumbo e concreto ao redor da usina.
Eventualmente mesmo isso começou a vazar radiação e de tempos em tempos ela tem que ser refeita Felizmente hoje em dia essa operação pode ser feita por robôs, como aconteceu em 2016, mas o mesmo não pode ser dito da época.
Eventualmente mesmo isso começou a vazar radiação e de tempos em tempos ela tem que ser refeita Felizmente hoje em dia essa operação pode ser feita por robôs, como aconteceu em 2016, mas o mesmo não pode ser dito da época.
Foram mobilizados mais de 66 mil servidores do camarada Estado para tentar resolver o problema, do qual mais de trezentas pessoas morreram no primeiro mês devido aos envenamento por radiação (muitos deles bombeiros, porque o governo comunista considerou mais importante não admitir que tinha algo errado do que avisar para eles que os caras estavam sendo enviados para UM FUCKING INCENDIO RADIOATIVO!!!)... segundo o relatório oficial do governo. Na contagem da National Committee for Radiation Protection of the Ukrainian Population, mais de seis mil pessoas morreram tentando resolver a cagada.
Qualquer que seja o número real, o fato é que até hoje os efeitos de cancêr na população ucraniana nunca foram totalmente medidos e não só a região ainda é um deserto radioativo, como ainda hoje é relativamente comum nascerem crianças e animais com algum tipo de mutação. E quando eu digo mutação, não é "X-Men cool" mutação. É o tipo não cool.
Tá, mas porque eu estou falando sobre isso? Bastante simples: em 1988 a empresa japonesa Data East achou que seria de bom tom fazer um jogo sobre isso. Claro, como o bom tom manda, eles foram particularmente sutis sobre tal, e por conta disso o jogo se chamando "Cherunobu" (que é o mais perto que o idioma japones permite de reproduzir a palavra "Chernobyll"). Extremamente sutis.
A foice e o martelo no titulo do jogo dão um toque extra de sutileza, certamente |
Nossa história é sobre um simples minerador que um dia tem sua vida completamente alterada quando a usina nuclear da sua pacata cidadezinha explode. Ele miraculosamente sobrevive a tragédia, mas mesmo assim percebe que algo estranho havia acontecido com ele. Ele havia recebido poderes radioativos e assim ele se tornaria...
... O CORREDOR ATOMICO!!!
... não, é sério isso. Em mais vinte edições da Ação Games, essa é a coisa de mais mal gosto que eu já vi na minha vida. Deus, isso é niveis Eromanga-sensei de errado! Mas puta merda, Japão, parabéns a todos os envolvidos! Muitos parabéns mesmo! Mas calma que piora.
Nossa aventura começa quando nosso heroico chernobense é capturado pelo governo para estudos, e naturalmente ele corre do cárcere... e nunca mais consegue parar de correr (uma consequencia indesejavel da mutação, eu suponho). Assim, nosso Foresteiro Gump amigo agora percorre o mundo enfrentando as aberrações nascidas da radição com seu poder de disparar as armas que ele encontra e de nunca conseguir parar de se mover.
Sim, é sério isso. O poder mutante dele é seguir sempre em frente e nunca conseguir parar. Pior X-Men ever.
"Larval" é um cara cujo intestino é composto por dois vermes (capazes de digerir qualquer material) biomecanicos (?!?) que ele pode projetar para fora e andar por com eles por aí. |
Wraith tem o "poder" de deixar sua pele invisivel. Não ele todo, apenas a pele. |
Essa é a Choir e ela... |
AH VAI SE FODER MARVEL!
... mas enfim, o ponto é que o CORRETOR ATÔMICO, de forma bem pouco surpreendente, teve sua história alterada para ser lançada no ocidente, especialmente a versão de Mega Drive. E de alguma forma, eu não tenho muita certeza se posso dizer que a emenda ficou melhor que o sonetto...
Um cientista que vive em um castelo no meio da floresta. Isso não é geralmente um sinal de que o cientista em questão está realizando experimentos éticos, revisados por seus pares para o aprimoramento da humanidade. Eu diria que há em torno de uma chance de 95 por cento que esses caras estão tentando reanimar tecido morto ou criar uma raça de híbridos animais-humanos.
Porém a vida pacífica da família Chelnov é subitamente quebrada, o que é bom porque um jogo sobre dois cientistas sentados em seu jardim bebendo chá provavelmente não teria sido tão emocionante. Um dia, enquanto Chelnov está fora em uma corrida, (Ooh, eu vi o que vocês fizeram aqui) sua casa é atacada por alienígenas.
"Eu não contei a ninguém sobre os Deathtarians porque eles diriam que eu estava louco. Mas você sabe que eu não sou louco, certo filho? Você acredita em mim, não é Chelnov? Bom, agora vá colocar este traje experimental movido a energia nuclear que eu fiz. "
Felizmente para a humanidade os Deathtarians não planejaram seu ataque muito bem e o pai de Chelnov só é morto depois que ele terminou arma anti-Deathtariana, o traje atomico. Tanto quanto eu posso chamar de "atomic suit " um colant de lycra e um capacete de motoqueiro, mas enfim.
Agora, você pode se perguntar, com justiça, se essa história realmente precisava de TRES MINUTOS para ser contada. Provavelmente não, mas ao menos já identificamos o videogame que o Peter Jackson cresceu jogando...
Bem, mas deixando de lado as inúmeras, inúmeras... e deus eu quero dizer muitas mesmo... bizarrices que cercam CORREDOR ATÔMICO, esse não é um jogo ruim realmente. Atomic Runner é a versão primitiva do que hoje nós conhecemos como "endless run", popularizado em jogos como Super Mario Run ...
... e Jetpack Joyride
Seu bonequinho se move da esquerda para a direita automaticamente e cabe a você salva-lo de suas próprias pernas loucas. O que torna Atomic Runner particularmente interessante é que ele adiciona elementos de Contra aí no meio.
Isso porque os Deathlarianos talvez não tenham pego muito bem como essa coisa de dominação mundial funciona, talvez eles sejam novos nisso, mas qualquer que seja o motivo o fato é que eles frequentemente trazem powerups para nosso herói, sem os quais sua vida seria muito mais dificil.
É claro que nem tudo são flores e o CORREDOR ATOMICO tem inumeros inimigos. Sendo os piores deles as paredes. Chelnov não pode encostar em nada e morre com um único hit de QUALQUER COISA. Eis o desafio, eis o nosso homem!
Oh não, uma parede! Minha única fraqueza! |
Porém, verdade seja dita, apesar de toda loucura e bizarrice, ATOMIC RUNNER é um jogo que controla bem. Chelnov atira com a mesma responsibilidez de Contra e seus saltos obedecem ao que você deseja. Adicionalmente você também pode pular na cabeça dos inimigos, o que pode não oferecer saídas dignas mas certamente é prático para te fazer seguir em frente.
Falando em Contra, a seleção de armas é inspirada no jogo da Konami oferecendo algumas opções diferentes de disparadores. Embora não seja uma variedade TÃO grande, mas as armas parecem diferentes entre si e isso é algo MUITO importante em um jogo de ação. Sério, o que adianta o jogo ter 8 bilhões de armas se todas parecem que são a mesma coisa?
... sim, Just Cause, estou olhando para você ¬¬
Em adição a isso, os cenários são do jogo são bastante criativos... porque aparentemente o mundo contaminado pelo vazamento de Chernobyll em escala global é basicamente Final Fantasy imaginado pelo William Gibson.
Eu não tenho muita ideia do que está acontecendo aqui, mas definitivamente é lindo! |
Em termos de apresentação, Atomic Runner é um dos jogos de Mega Drive mais bonitos de se olhar... embora jogar seja mais complicado. Apesar de todas as qualidades que eu citei sobre o jogo, voltamos ao velho problema dos arcades portados para consoles domésticos: Atomic Runner é simplesmente muito difícil para ser divertido.
Chamá-lo de implacável seria como chamar Beethoven de "um cara alemão que escreveu umas músicas" - tecnicamente verdadeiro, mas realmente não passa a ideia da escala da coisa. Atomic Runner não lhe dá muita chance em tudo: entre os estágios de rolagem automática, inimigos atacando de todos os ângulos, a sua falta de uma barra de vida saúde e a tendência de Chelnov não muito cair sobre os inimigos corretamente ao tentar pisotea-los (embora isso deve ser mais problema meu do que do jogo em si,) você vai morrer tantas mortes baratas que vai fazer você se perguntar por que você está ao menos tentando esse jogo. Se os Deathtarians são tão dedicados assim a dominar o mundo, talvez nós devemos apenas deixá-los porque definitivamente nós não temos metade dessa determinação.
E é uma pena porque a jogabilidade é muito boa, mas com tudo que o jogo joga em cima de você não tem como a coisa se sentir muito satisfatória. Claro, se eu tivesse ganho esse jogo quando criança e eu tivesse empregado todo o tempo que que só uma criança nerd sem amigos numa época sem internet pode dispor para memorizar o jogo e suas fraquezas, eu provavelmente teria amado, jamais só podemos especular sobre isso.
Jogar Atomic Runner é como criar um filhote de tigre selvagem - é maravilhoso de se ver e divertido de interagir, mas com o passar do tempo as chances de que ele coma sua cara metafórica aumentam dramaticamente. Não há nada de errado com a mecânica do jogo, exceto talvez pelo estranho comando de virar de costas: você tem que apertar o direcional e um botão do controle, o que pode ser uma dor quando você precisa fazer isso rapidamente e é especialmente agravante quando você percebe que eles poderiam ter apenas feito apenas com o direcional.
Fora isso, a jogabilidade é bastante divertida, rápida e nunca se torna complicada ou simplista demais. É apenas esse nível de dificuldade ridículo, sempre eliminando sua vontade de jogar. Há duas maneiras de passar pelo Atomic Runner - você pode colocar horas e milhares de mortes digitais tentando memorizar os estágios e aprimorar seus reflexos, ou você pode trapacear. Eu recomendo o último, porque acho que vale a pena mesmo que seja paenas para ver os estágios que são muito bonitos.
Afinal, onde mais você teria uma CYBER-ESFINGE!?!
Decifra-me ou hasta la vista, baby |