terça-feira, 20 de agosto de 2019

[AÇÃO GAMES 026] FELIX THE CAT (Nintendinho, 1992) [#261]

 


No final de 1992, o Nintendinho 8 bits estava tão obsoleto como as mulheres estarão no dia que a ciência criar cyberloliscatgirlsmaids para uso doméstico. Por isso é de alguma forma estranho que justamente na edição de janeiro de 93 um jogo de Nintendinho receber o selo do "The Best of Ação Games". Não que queira dizer muita coisa, é a revista que deu nota máxima para o criminalmente tenebroso Race Drivin

Mas ok, vamos ver esse tal de Gato Feliz, acho que todos podemos ser a favor de gatos felizes...


 Neste post nós não falaremos sobre o filme de 1988. Nós nunca falaremos sobre esse filme.

Nossa história começa a cem anos atrás, em 1919, quando a Paramount (a mesma Paramount que hoje é conhecida por franquias com grandes nomes e quase nenhuma qualidade, como Transformers, Sonic e Missão Impossível) teve uma ideia.

Nessa época já existia um nucleo de cinema e as pessoas já tinham seus atores favoritos (sendo Chaplin o mais popular dessa época). Também já existiam animações aleatórias que passavam nos cinemas. Então porque não fazer uma série de animações com um personagem recorrente, como se fosse um ator?

Esse conceito é bastante obvio hoje, mas naquela época ninguém tinha pensado seriamente nisso ainda. Foi assim que surgiu "o gato Felix", o primeiro personagem recorrente de desenho animado. Diga-se de passagem, ele surgiu em um curta... bastante perturbador, para dizer o minimo:

Folias Felinas, 1919


Uau, é uma mistura de estar tentando algo novo com o senso de humor da época, adicionando algumas doses de racismo... que, uau...

Enfim, o Gato Felix foi tão popular que se tornou também o primeiro desenho animado a ter merchandising, tendo seus bonecos vendidos em lojas - novamente, algo que é absolutamente comum hoje, mas até então era algo inédito.


O reinado do Gato Felix durou até o final dos anos 20, quando uma segunda geração de animações - agora com cor e som - tomou de assalto os cinemas. Felix perdeu seu posto para Mickey Mouse, Tom e Jerry e outros desenhos dessa época, para nunca mais recuperar sua popularidade.

Nos anos 50 a Paramount tentou ressucitar o Gato Felix, criando uma série animada para TV pelo qual ele é mais conhecido até hoje com personagens como sua namorada Kitty, seu amigo cientista Pointdexter e o malfeitor Professor - que queria sempre roubar sua bolsa mágica capaz de produzir qualquer coisa.




Não é um desenho absurdamente popular, mas ... bem, as pessoas sabem, que ele existe? Eu acho? Enfim, de tempos em tempos alguém tenta desencavar o gato Felix (tivemos um filme absurdamente pavoroso nos anos 80, uma animação bem esquisita e "moderna" nos anos 90 e é para ter uma nova série ano que vem), e em 1992 foi a vez da Hudson Soft tentar emplacar o gatoloso em um joguete no então já semi-defunto Nintendinho.

Cara, aquela animação dos anos 90 era bem estranha mesmo...

Seja como for, o jogo não perde tempo em abraçar os clichés dos videogames dos anos noventa já que o jogo abre com Felix recebendo uma ligação do Professor, deixando-o saber que ele seqüestrou sua namorada Kitty. 

 


Desde o início, tudo parece exatamente como qualquer outro jogo na história do Nintendinho: Felix pode correr, pular ou atacar com uma luva de soco que sai da bolsa mágica, e fichas estampadas com o rosto de Felix podem ser colecionadas de forma similar às moedas de Super Mario Bros. Existem até Bolsas Mágicas gigantes escondidas que você pode apertar para baixo e entrar, exatamente como os canos de Super Mario Bros., com tokens escondidos para serem coletados antes de voltar pela mesma maneira que Felix entrou.

Enfim, parece uma cópia barata de Mario...



... e é exatamente o que esse jogo é, sem vergonha nenhuma disso.

Exceto que ele é uma "cópia" muito bem feitinha. Olhando além das aparências por alguns minutos e o que você nova é que um jogo de plataforma chocantemente sólido e bonitinho.

Enquanto coletar cem fichas Felix dá ao jogador uma vida extra, como esperado, cada múltiplo de cinco dá três garrafas de leite por 500 pontos cada, e cada múltiplo de dez tokens dá a Felix um power-up de coração que concede um upgrade. Esse é o grande gimmick diferencial do jogo, a bolsa mágica de Felix se transforma e modifica a forma com que o felino folião se move e até mesmo ataca.


 No primeiro upgrade a bolsa solta uma explosão de estrelas que cerca Felix por um breve segundo, explodindo em todas direções. No segundo upgrade a bolsa se transforma em um carro com um ataque à distância, a buzina ataca a uma distância muito maior do que a luva de soco padrão ou as estrelas do primeiro upgrade. A terceira e última transformação transforma a bolsa em um tanque completo que tem a mobilidade do carro e dispara uma bala de canhão que é mais forte que a buzina, mas ataca em arco.

Nas fases aereas e aquaticas também existem três versões do upgrade para veículos aereos e aquaticos, somando um total de 9 power ups diferentes.


Existem duas formas de perder o power up da sua bolsa e retornar ao estágio anterior: o primeiro, obviamente, é tomar dano. A outra é que depois de um certo período de tempo, Felix faz o downgrade e para impedir isso você tem que ficar recolhendo corações pela fase. Então, mecanicamente, o jogo é meio que como Adventure Island que você precisa ir avançando e recolhendo itens para poder manter seu melhor ataque possível.

Felizmente (ou eu deveria dizer... Felixmente), o jogo não é babaca com isso e os corações para manter sua barra de upgrade são faceis de conseguir desde que você siga em frente. Adicionalmente, não é como se o jogo fosse impossível de ser jogado com a forma básica de Felix e a luva de soco, é mais uma comodidade que é legal ter. Até porque esse não é um jogo particularmente dificil (em 1992 a maioria dos jovens já tinha migrado para os videogames da próxima geração, de modo que o público do NES e do Master System eram majoritariamente crianças, então fazia mais sentido os jogos não serem mais tão dificeis asism).

 
Os controles respondem exatamente como você espera deles e as musicas são muito agradaveis. Não tem nada de inovador no design das fases ou nas mecanicas de jogo, mas mesmo assim o Gato Felix é um joguinho bem charmoso feito com bastante carinho e atenção. É um jogo desconhecido porque foi lançado já no ocaso do Nintendinho, se tivesse sido lançado em seu auge certamente seria um clássico.


EDIÇÃO 027