[SNES/MD] THE PAGEMASTER (novembro de 1994) [#669]
Das coisas da qual Ted Turner pode ser acusado na vida, "não tentar ajudar" não é uma delas. Ele é um cara realmente bem intencionado e quer fazer a coisa certa, isso ninguém pode negar, porém se ele consegue transformar em ações suas boas intenções... isso é um cavalo de uma cor inteiramente diferente.
Sabe, eu estava olhando aqui e ele tem uma vida realmente interessante: aos 25 anos de idade o seu pai se suicidou e ele herdou a "Turner Outdoor Advertising", que valia aproximadamente um milhão de dolares - o que não é taaaaaanta coisa para uma empresa assim. Porém com a administração dele a empresa cresceu e ele expandiu comprando rádios locais que eventualmente se tornaram a CNN - que hoje é a maior rede de notícias do mundo.
O que quer dizer que hoje Ted tem mais dinheiro do que ele sabe descrever em números. Muitas pessoas menos nobres usariam isso para financiar a pesquisa para desenvolvimento de cybermaidcatlolis para uso doméstico...
"PESSOAS", NÉ?
... caham, mas Ted não. Ele colocou seu dinheiro para fazer a diferença, quando por exemplo nos anos 90 a coisa da consciencia ambiental passou a ser um tema popularmente debatido pela primeira vez. O que realmente é um tema importante, e nunca antes tinha sido debatido a nível tão popular como tal - até então era meio que coisa de hippies que não tomam banho e usam drogas.
Pois Ted achou que seria mais útil ainda popularizar esse assunto entre as crianças, de modo que ele encomendou a sua emissora que criasse um desenho animado para passar essa mensagem positiva. Nascia assim CAPTAIN PLANET AND THE PLANETEERS, um dos desenhos que se tornou um simbolo dos anos 90... não pelos motivos certos.
Bem, pelo menos a música tema é boa, isso tem que ser dado a eles
Então nota 10 pela intenção, nota 3 pela execução. Porém se você acha que isso saciaria a sede de Ted por fazer um mundo melhor, está muito enganado. Porque a seguir ele decidiu se abraçar sobre outro tema: fazer as crianças lerem mais.
Pode parecer estranho, mas o mundo antes de Harry Potter era muito diferente do que era hoje. Livros não eram algo "cool" como hoje, quando é raro você ver alguém falando mal de livros enquanto mídia. Nos anos 90 livros entre os jovens eram coisas toscas de perdedores, uma realidade onde crianças não apenas leem como escrevem suas próprias histórias (mesmo que sejam fanfics) ser algo completamente normal era impensavel até então.
Eis aí então a tentativa de Ted de incentivar a leitura e para isso ele não economizou recursos: contratou as maiores estrelas de filmes família que podia pagar na época com nomes como Christopher Loyd, Whoopi Goldberg, Leonard Nimoy, Patrick Stewart e especialmente a grande estrela dos filmes family friendly dos anos 90, Mac... Mc... Maca... Mc'n Cheese Culking. Adicione a isso que mais da metade do longa é feito em animação, o que também não é barato, muito marketing envolvido e temos aqui um projeto ambicioso para fazer livros populares novamente.
Pagemaster, o mestre da fantasia. O que possivelmente poderia dar errado?
Meu deus, Ted, sério, apenas pare de tentar nos educar sobre temas importantes: VOCÊ NÃO É BOM NISSO! Ah, e uma curiosidade interessante: a parte live action desse filme foi dirigido por Joe Johnston, mais conhecido hoje por ser o diretor do primeiro filme do Capitão América. As coisas que a gente faz pra pagar um boleto, eu suponho.
Além de todos os problemas elencados pelo Nostalgia Critic a respeito desse filme, eu acho que realmente o maior problema dele é que ele é um filme feito para exaltar a leitura... por gente que está cagando para a leitura. Uma boa indicação do tom da coisa é que o filme tem alguns erros bem crassos aí, como por exemplo "O Corcunda de Notre Dame" ser categorizado como terror ("eu não sei nada a respeito senão que ele é um monstro feio, então mais o que poderia ser se não terror?"), ou "O Médico e o Monstro" em que o Dr. Jeckyl se transforma no incrível Hulk vitoriano.
Vcs sabem que as pessoas não caem paradas desse jeito, né? Não é assim que pisos molhados funcionam e se eles não sabem nem isso...
Ok, isso não é só culpa desse filme e sim é uma trope estabelecida no cinema, mas se você vai fazer um filme exaltando os livros então vc deveria realmente olhar o livro pelo menos, porque aí você saberia que o Mr. Hyde não é um "monstro verde fortão", ele é descrito no livro como "as pessoas tem a impressão dele ser feio, embora elas não saibam dizer exatamente o porque". É uma coisa mais psicológica na verdade, o "monstro" é uma metafora e o que incomoda as pessoas quando elas olham para Mr. Hyde é que ele exala maldade e desprezo que fazem sua postura e suas feições parecerem metaforicamente desumanas, não literalmente.
Novamente, isso não é um problema a menos que você queira fazer um filme homenageando os livros, mas no fim a mensagem que você passa é que os livros não importam e é só esperar sair o filme. Se bem que com todo o esforço que colocaram no plot desse filme eu não poderia esperar outra coisa, afinal esse é o filme que a personagem da Whoopi Goldberg no final revela que podia fazer um tapete voador mágico que teria feito eles passarem voando sobre o oceano ao invés de se aventurar num barco a remo numa sessão que durou 1/3 do filme.
"O Cão dos Baskerville" não é sobre literalmente... ah, eu desisto...
Ou seja, é um filme esquecível feito sobre um tema que seus realizadores não poderiam cagar mais a respeito. Sinto muito Ted, parece que deram de mão na sua grana nesse daqui.
E, como não poderia deixar de ser... um grande investimento cinematográfico dos anos 90 não estaria realmente completo sem um jogo (no melhor dos casos) esquecível associado a ele. O que nos leva ao jogo de hoje então, que infelizmente é uma adaptação fiel do espírito do jogo: um jogo muito esquecível sobre um tema que seus realizadors não poderiam cagar mais a respeito.
Para começar, eu gostaria de mostrar a tela de título desse jogo:
Nenhum botão foi apertado aqui, o jogo exibe a tela de título durante 2 segundos (eu contei, são dois segundos exatamente) antes de pular pro demo do gameplay. E isso que a tela nem é feia nem nada, é só... dois segundos, cara? Eu definitivamente não vou botar minha mão no fogo por esse jogo, ainda mais um feito pela Probe - uma das parceiras master de fazer plataformas lixosas de Amiga.
Os gráficos do jogo são decentes e lembram o filme, embora você poderia dizer que não são espetaculares para um jogo do final de 1994. Acho que o maior problema nem é tanto a execução dos gráficos em si, mas o conceito: você não entende o que essas coisas na tela deveriam representar.
Tipo esse checkpoint rebolando aí é o que, exatamente? Porque pra mim parece um vibrador mágico, mas eu suponho que deveria representar alguma outra coisa... eu acho...
A jogabilidade é o que você poderia esperar de um jogo de plataforma ocidental: something something amiga-like. Seu personagem pula como se estivesse em duas luas juntas, nada parece ter peso, os inimigos são largados na tela de qualquer jeito, você já sabe aquela rotina de que nada parece importar no jogo.
HÃ, VOCÊ SABE QUE TER DUAS LUAS JUNTAS AUMENTARIA A GRAVIDADE E NÃO DIMINUIRIA, NÉ? NÃO É ASSIM QUE A GRAVIDADE FUNCIONA...
Desculpe Jorge, não posso te ouvir porque estou voando pela tela como um lemingue com sapatos mola! Gravidade dupla lá vou eeeeeeeeuuuuuuuu!!!
Seu ataque básico é pular nos inimigos, e como boa cria do Amiga... a hit detection é aquelas que você nunca sabe se vai tomar dano ou matar o inimigo até que pule - o famoso "hop'n bop de Schroedinger", because Amiga.
A boa notícia é que a coisa não é tão ruim quanto poderia ser porque a dificuldade é bem domada aqui. Não existem nuvens de inimigo voando pra cima de você e você naõ tem poder de fogo pra abater eles antes de tomar dano como em tipico jogo Amiga-like, então você pode ir no eu próprio ritmo. O que quer dizer que esse jogo é pelo menos jogavel. Não bom, mas jogavel.
E eu também gosto dos power ups dele, são três diferentes: pular mais alto, e pendurar no teto e atirar... sei lá que merda é essa, eu disse que não dá pra entender o que são as coisas nesse jogo. Cada vez que você toma dano perde um dos power ups, se tomar dano sem nenhum power up perde uma vida. Como eles são relativamente abundantes, é okay - como eu disse, dá pra jogar.
No fim, é um jogo que enquanto não é tenebroso, provavelmente você vai esquecer que existe no caminho entre terminar de jogar e ir desligar o videogame. O que é exatamente o mesmo que pode ser dito do filme, então não dá pra dizer que não é uma adaptação fiel.