sexta-feira, 9 de abril de 2021

[MEGA DRIVE] RED ZONE (Dezembro de 1994) [#672]


Antes de começar, eu preciso dizer uma coisa: hã, guys, SUB-TERRANIA não é um sucesso tão grande quanto vocês acham que é ao ponto de anunciar que vocês são os criadores desse jogo na capa seja um ponto de venda.

Imagine por um momento que você é uma criança em janeiro de 1995 e que, por uma terrível infelicidade da vida, tem um Mega Drive. Bem, isso por si só já é ruim o bastante dado que significa que seus pais não te amam ou são pobres (não sei dizer qual é o pior), mas fica pior quando você vê que todas as outras crianças da rua que obviamente não foram adotadas numa liquidação estão tendo bons jogos para o Super Nintendo delas.

MEGA MAN X2SUPER TURRICAN 2 (que, apenas para cuspir na sua cara, é um bom jogo mesmo sendo uma série iconica do Amiga) e, é claro, aquilo pelo qual todas as crianças estão realmente perdendo seus marmores:  DONKEY KONG COUNTRY e seus gráficos que em 1995 ninguém podia entender como possivelmente um Super Nintendo podia rodar aquilo. É uma boa leva de jogos para passar as festas, definitivamente, o que só aumenta sua dor quando você olha o que a Sega preparou para o ano novo: 

Activator, 32X e CDX. Uau, apenas uau. Nossa senhora do santo socorro molhado, que combo de bosta heim? Se você era uma criança com um Mega Drive em janeiro de 1995, Deus não apenas está morto como o cadaver zumbi dele efetivamente te odeia.

Desesperado, você contempla as duas únicas saídas possíveis a esta situação: suicidio ou, pior ainda, virar torcedor do Vasco (o que eu não recomendo, é uma forma mais dolorosa e lenta de chegar ao mesmo resultado). 


Bem, agora imagine que uma empresa vem pra vc e te fala que ela vai te entregar um jogo não apenas tão moderno quanto os concorrentes do Super Nintendo, mas um jogo que apresentasse todos os efeitos gráficos que o SNES exibia e o Mega Drive não era capaz de reproduzir: backgrounds que se movimentam, texturas que pudessem ser rotacionadas, sprites vetorizados em 3D e até mesmo coisas que nem o SNES conseguia fazer, como cutscenes em Full Motion Video, tudo isso rodando no Mega Drive sem acessório algum.

Não um jogo de 32X, não um jogo de Sega CD, um jogo de Mega Drive mesmo, só o cartucho e Deus no sertão. Provavelmente seria algo que você, se fosse alguém de bom senso, diria que parece bom demais para ser verdade. Se bem que estabelecemos que você tem um Mega Drive e torce por ele, você não é uma pessoa de bom senso.

Parece uma pose totalmente natural para alguém ficar, afinal o poder das terríveis mulheres-carangueijo não pode ser subestimado!

Seja como for, essa é a proposta de Red Zone! Fazer o jogo mais foderoso que o Meguinha conseguisse rodar sem derreter em uma poça de piche (conhecida por ser dificil de tirar do carpete), a resposta da Sega para bater de frente com Donkey Kong Country.

Esse é RED ZONE... e o fato de que você nunca ouviu falar desse jogo meio que já entrega como essa história termina. Mas vamos começar do começo...


Okay, essa é nova. A primeirissima coisa que você vê ao ligar esse jogo é uma lista de todas as features aparentemente impossiveis de serem feitas no Mega Drive que ele faz, e ainda avisa que faz isso sem uso de hardware adicional. Considerando que para ver essa tela você já tem que estar com o jogo rodando no seu console e que ele não está rodando sem nenhum acessório, eu diria que meio que já deduzi essa parte.

Até porque comprar o jogo como sendo de apenas Mega Drive na capa e só depois descobrir que precisa de um 32X para rodar seria uma filhadaputagem do tamanho do mundo... uma que eu não coloco a Sega acima de fazer isso, entretanto.

Mas tá, depois desse merchan para promover o jogo que eu já comprei mesmo, o que mais eles podem jogar na tela pra me impressionar?


Ao som de tambores que lembram uma versão barata do tema do Exterminador do Futuro (embora aqui pareçam tambores repletos de caroços de acerola vencida já que estamos falando do medonho chip de som do Mega Drive), somos avisado que um ditador declara GUERRA NUCLEAR!

Bem, tecnicamente todas as guerras são nucleares já que os participantes sao feitos de atomos com núcleos, mas imagino que ele se refira a guerra com armas atomicas (novamente, não que alguma arma não seja formada por atomos). Imagino como se deu essa declaração de guerra:

"Estou declarando guerra nuclear!"
"Guerra? Contra quem, senhor?"
"Nuclear."
"Hã. sim, eu entendi que vamos usar armas nucelares, mas contra quem vamos usa-las?"
"Quem quiser participar, desde que tenha armas nucleares. Porque é uma guerra nuclear, oras!"
"Não é assim que guerras func... para onde vocês estão me levando? Esperem, eu retiro o que eu disse eu!"

E a lição que aprendemos hoje, crianças, é que se de alguma forma você acabar como acessor de um ditador comunista apenas sorrie e acene positivamente para tudo que ele disser

COMO VOCÊ SABE QUE O DITADOR DESSE JOGO É COMUNISTA?

Apenas um palpite, Jorge. Apenas um palpite...


REALLY SMOTH.

Verdade, essa é uma abertura em video bastante smooth mesmo. Conseguir comprimir um arquivo de video em um cartucho que não tem nem 5MB de tamanho é um feito impressionante, e eu realmente acho que a sacada de usar a paleta de cores tradicionalmente associada ao comunismo como disfarce para terem jogado a qualidade do video no vinagre foi uma sacada realmente muito inteligente.

Se eles continuarem tomando decisões espertas assim somada a uma tecnologia de compressão de imagens realmente incrível para o hardware, realmente esse jogo pode dar certo.

TU SÓ GOSTOU PORQUE O COMUNISMO É O VILÃO DESSA HISTÓRIA.

Eu jamais comemoraria isso, Jorge. Comemorar o comunismo ser retratado como a origem de todo mal seria o mesmo que comemorar que o fogo queima ou que a água é molhada, é uma coisa tão óbvia que sequer precisa ser mencionada.

Enfim, agora nossos heróis tem 24 horas para... impedir a guerra nuclear, eu acho, já que o generalo bizono não parece ter feito nenhuma exigencia e para isso é enviado...


Hã, basicamente o elenco de Lucifer versão anos 90?

Lucifer, Amenadiel e Maze embarcam sozinhos em uma missão para impedir a guerra nuclear que transformará o planeta em um deserto inabitável porque o governo não-comunista achou que era um plano mais do que suficiente. Que bando de imbecis viu... Ei, não é porque eu desprezo governos comunistas que eu tenho em muito melhor conta não os governos não-comunistas, tudo um bando de sorvetão na testa talkey?

Pode não parecer grande coisa hoje, mas o Mega Drive não tinha essa capacidade de rotacionar o cenário que nem o SNES faz, então foi um feito tecnico impressionante

A primeira coisa que chama atenção nesse jogo é o quanto ele é bonito para um jogo da quarta geração, de fato ele parece mais com os primeiros jogos do 3DO do que com um jogo de Mega Drive habitual. 

Mais ou menos o que a Rare fez para DKC no SNES, aqui a Zyrinx puxou alguns truques para fazer o Mega Drive exibir gráficos melhores do que você esperaria que ele fizesse. Como por exemplo o jogo usa gráficos vetoriais (como os que foram usados em OUT OF THIS WORLD) que são relativamente fáceis de um hardware calcular para dar uma ilusão de gráficos 3D.

O efeito pseudo-3D é realmente impressionante para a época

O problema não é a parte tecnica, que como eu disse parece um jogo de 3DO, e sim que... para surpresa de ninguém o jogo é uma bosta. Como sempre acontece quando a Sega tenta macaquear a Nintendo, eles não realmente entenderam o que fez Donkey Kong funcionar: o jogo ser visualmente bonito dá bons comerciais, mas nada adianta se o jogo for uma imensa bola de esterco flamejante.

Pra começar, esse é um DAQUELES jogos. Você sabe, AQUELES jogos: hyperdificil, você tem apenas uma vida, e como a camera é muito perto do seu helicoptero (para que o Mega Drive consiga exibir gráficos assim a camera tem que ser bem fechada) você tem que decorar absolutamente tudo que tem no jogo pra você ter qualquer chance de chegar a qualquer lugar.


Na verdade mesmo SABENDO onde estão os inimigos, isso não quer dizer muita coisa porque seu heleocopro é lento demais para manobrar e o mais simples dos inimigos não tem nenhuma dificuldade em drenar sua vida como se eles estivessem sendo pagos pra isso, como na imagem acima que dois inimigos bucha de canhão drenam 80% da minha vida sem esforço algum.

Outro problema é que o jogo, que já tem controles lentos e pouco responsivos, tenta ser realista também. Como? Simples: ao tomar dano nas laterais do heleocopro você perde seus misseis e ao tomar dano na cauda seu heliptero começa a girar em circulos pq é pra isso que aquela hélice na traseira do helicoptero serve, pra impedir que ele vire o pião da casa própria.

Jogando um jogo super dificil E compensando a cauda quebrada, THIS IS SO MUCH FUN!

Tá, caras, eu entendi. Se você tomar dano em tal parte do seu veículo ela para de funcionar, de fato é realista. Mas sabe o que NÃO é? Divertido de jogar. Quer dizer, puta merda caras, esse helicoptero já é uma porcaria que parece que tem lag, aí vocês estão me dizendo que eu tenho que ficar compensando manualmente que o rotor traseiro foi pro espaço?

Ah vão se foderem besuntados em chocotone! Quem foi que achou que isso seria remotamente divertido de se jogar? E nunca esquecendo que é apenas uma vida, itens de reparo são extramemente raros, o que resulta em...


Bem, o que mais eles podem fazer para tornar esse jogo mais desagradavel ainda de se jogar? Adicionar um limite de tempo apertado em casa fase?


... vocês tem que estar de sacanagem comigo... só pode ser piada uma coisa dessas.
Então temos um jogo que parece muito bonito, mas que os controles são como tentar realizar uma neurocirurgia sobre um ringue de patinação usando luvas de boxe, que são piorados pela tentativa do jogo ser "realista", dificuldade inclemente, uma única vida, limite de tempo cuzão... enfim, o combo completo para o jogo ter certeza que você não vai se divertir de forma alguma.

TÁ, EU ENTENDI QUAL É A DESSE JOGO, MAS... PQ VC ESTÁ FALANDO DELE?

Como assim?

NORMALMENTE TU NÃO FALA DE JOGOS DE NAVINHA, PQ ESTÁ FALANDO DESSE?

Ah, verdade Jorge! Esse jogo é tão ruim que eu quase esqueci de falar: ele não é APENAS um simulador ruim de helicoptero! Não, claro que não, ele também é um jogo de tiro ruim!


Parte das missões das fases é limpar helipontos para você pousar o seu possante e então o jogo passa para missões de tiro com visão de cima. O que torna as sessões de ação TÃO ruins é que o angulo de tiro é todo travado. Isso quer dizer que você só consegue atirar em angulos de 90 e 45 graus, sem intermediario.

E pq isso é um problema tão grave?


Pq a ÚNICA forma de acertar os adversários é entrar na linha de tiro deles. Sério, essa é a ÚNICA forma de atirar em inimigos: entrar na linha de fogo do inimigo, atirar e sair correndo antes que a bala dele te atinja. Para TODO E CADA inimigo no jogo.

Bem, pelo menos esse jogo pode ser elogiado pela consistencia: as partes do helicoptero não são nada divertidas, e as partes a pé são igualmente não divertidas. Quer dizer, olha o clusterfuck que é matar UM inimigo nesse jogo, agora imagina isso para CADA UM DELES?!?


As missões até tem certa variedade, mas não adianta muito se você não consegue, você sabe, chegar lá.

Enfim, esse é um jogo feito por alguém que jogou DESERT STRIKE e pensou "vou fazer um jogo igual só que pior, mas ele vai ser tão bonito que as pessoas não vão notar isso!". E foi o que ele fez. O que possivelmente até teria dado certo se tivesse sido feito alguns anos porque é assim que as coisas rolam na Sega (onde marketing fica acima de qualidade do jogo, taí SONIC THE HEDGEHOG que não me deixa mentir).

Conforme você toma dano na fase do helicoptero, desabilita os personagens que estarão disponiveis na fase de tiro. O primeiro a morrer é o negro, because anos 90.

Mas em 1995 os dias de trapaças da Sega caminhavam a passos largos para o seu ocaso e a este ponto ao menos os gamemaníacos já sabiam o suficiente para não sair em um jogo sem vergonha de ruim disfarçado com gráficos bons.

Sega does what Nintendon't.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 010


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 002