[ESPECIAL] BATMAN: THE ANIMATED SERIES (SNES) [#677]
Vamos ser honestos por um momento: a vida no começo do século XX não era o que poderiamos chamar de... idílica. Com efeito, era uma sonora bosta. A medicina não era muito mais avançada do que tacar sanguessugas nas pessoas e esperar pelo melhor, saneamento básico era um luxo que só os muito ricos poderiam sonhar, racismo era política publica dos governos, ditadores no mundo todo subiam e desciam do poder como quem troca de roupa deixando pilhas e pilhas de corpos no caminho e não haviam videogames. Meu, que tempo bosta para se viver.
Então como as pessoas conseguiam? Bem, grande parte da resposta era a mesma que ainda é hoje sobre como as pessoas lidam com seus problemas: tirando sua mente desse mundinho bosta e colocando em algo que as faça felizes, que as façam esquecer todos os seus problemas por alguns minutos ou mesmo horas. Hoje, é claro, nós temos uma quantidade de entretenimento disponível de boa qualidade praticamente de graça. No começo do século 20 as pessoas tinham revistas pulp.
Por apenas 25 centavos você tinha acesso a um calhamaço de folhas (normalmente mais de 100) do papel mais barato possível mostrando aventuras exóticas em lugares inalcansáveis para o cidadão comum como selvas tropicais, Marte, um futuro robotizado ou o longiquo oriente. Lembre-se que isso foi antes da internet, da televisão ou mesmo de aviões comerciais, tudo que as pessoas sabiam sobre o Japão ou a China era que eles provavelmente existia e que as coisas eram misteriosas e estranhas lá. E, claro, como não podia deixar de ser, essas histórias também era sobre super babes seminuas porque é assim que a humanidade rola.
Revistas pulps eram entretenimento barato feitos da forma mais apelativa e rápida possível, o que quer dizer que essas histórias eram basicamente sobre aventuras exóticas, histórias de mafiosos (e é por isso que o filme "Pulp Fiction" do Tarantino tem esse nome, é uma grande homenagem as histórias pulp que ele cresceu lendo), terror com monstros terríveis ou então histórias de detetive noir porque afinal tramas de assassinato são o minimo denominador comum da literatura.
Eu não vejo como isso é realmente melhor, mas okay
Eu sei que a Agatha Christie faz isso ser arte porque a mulher é uma fodendissíma gênia, mas a verdade é que qualquer Zé Ruela consegue fazer uma história ser minimamente legível com um bom mistério de assinato para ser resolvido mesmo que você não saiba escrever personagens muito bem - não é atoa que quando as novelas não sabem o que fazer atiram um assassinato misterioso no meio, porque é a forma mais simples de manter o publico interessado com o minimo de esforço possível.
Não surpreendentemente, algumas editoras se especializaram nessas histórias a ponto que a editora se chamava "Detective Comics", mostrando histórias de detetives durões resolvendo crimes barra pesada (noir é uma das formas mais simples de literatura, afinal o genero meio que se escreve sozinho). Nesse sentido existiam várias séries de detetives noir cínicos como "The Shadow", "The Spirit" e a versão da nossa querida Detective Comics (conhecida hoje como "DC", talvez você já tenha ouvido falar) era... The Batman.
Sim, nosso cruzado embuçado começou sua carreira como um detetive noir que se vestia de morcego apenas porque os detetives noir de quadrinhos tinham que ter alguma identidade visual soturna, afinal. E foi um grande sucesso por muitos anos, afinal quadrinhos pulp era feito para o povão ser feliz e por um tempo foi bom.
Então começou a acontecer o que sempre aconteceu na história da humanidade e continuará acontecendo até o dia da rebelião das cybermaidcatlolis tomar o planeta de nossas mãos: pais sem noção nenhuma do que estão fazendo começaram a culpar essa mídia "nova e do mal" por todos os problemas dos seus filhos e clamaram para que o governo criasse suas crianças por eles. Você sabe, a mesma coisa que se diz da internet hoje, que se diz dos videogames, que se falou da TV, do cinema antes disso, que se falou do rádio mais pra trás, que se falou das peças de teatro para o "populacho" (inclusive um tal de Shakespeare, esse Zé Povinho totalmente iria arruinar nossas crianças) e assim retroativamente até que o primeiro homem das cavernas fez o primeiro desenho na primeira parede. Provavelmente antes disso tb, porque também é assim que a humanidade rola.
Então atendendo o clamor popular o governo meteu sua mão asquerosa de governo no meio e governilizou a porra toda, transformando as histórias pulp em "family friendly" e meio que acabando com o negócio. Isso levou a uma geração inteira de quadrinhos, hã... como eu posso dizer...
ACHO QUE A PALAVRA QUE VOCÊ ESTÁ PROCURANDO É "IMBECIL"
Obrigado, Jorge, era exatamente isso que eu estava querendo dizer. Quadrinhos ficaram realmente imbecis quando foi criado o selo "Comics Code Authority", para que os pais pudessem comprar revistas totalmente "seguras" para os seus filhos. Apenas algumas (mas não todas) restrições do CCA incluiam:
Crimes nunca devem ser apresentados de modo a criar simpatia pelo criminoso, promover a desconfianças das forças da lei e justiça ou inspirar outros com o desejo de imitar o criminoso.
Nenhum comic deve apresentar explicitamente detalhes e métodos de um crime.
Cenas de violência excessiva devem ser proibidas.
Nenhum comic deve usar a palavra horror ou terror em seu título
Todas as cenas de terror, derramamento de sangue excessivo, crimes sangrentos ou macabros, depravação, luxúria, sadismo, masoquismo não são permitidos.
Inclusão de histórias lidando com o Mal devem ser usadas ou publicadas apenas com a intenção de ilustrar uma lição de moral e em nenhuma hipótese o Mal deve ser apresentado como atrativo ou ferir a sensibilidade do leitor.
Cenas que lidam com, ou instrumentos associados a, mortos vivos, tortura, vampiros, vampirismo, ghouls, canibalismo e licantropia são proibidos [praticamente pondo fim aos quadrinhos de terror tão populares na época].
Para atender essas exigencias, a DC praticamente reformulou todos os seus grandes heróis da forma que são conhecidos hoje: o Super Homem virou um super escoteiro sem nenhum defeito, o Lanterna Verde agora é membro de uma força policial que luta pela justiça e seu anel não é mais movido a magia e sim força de vontade, o Homem-Gavião não é mais um principe egipcio reencarnado e sim um policial alienígina que luta pela justiça e assim vai.
Mas o Batman... bem, não tinha muito o que a DC pudesse fazer com o Batman realmente. Ele continou sendo um detetive vestido de morcego, só que agora resolvia "casos" completamente debiloides e inocentes. Essa época dos quadrinhos hoje é conhecida como "Era de Prata" dos quadrinhos, pois é um declinio da "Era de ouro" quando as primeiras revistas surgiram.
Taí um crossover que eu pagaria pra ver
Só que então vieram os anos 70 e as coisas não estavam tranquilas nos US and A. Os movimentos pelos direitos civis liderados por Malcom X e posteriormente Martin Luther King Jr botaram fogo no parquinho e muita coisa terrivelmente errada começou a ser revista nas leis americanas. Adicione a isso o shitstorm sem tamanho que foi a guerra do Vietnã e muita coisa realmente mudou.
Uma das coisas que mudou nesse pacote foi justmente o próprio CCA, que deu uma aliviada nas suas regras devido a pressão da época, o que permitiu que os quadrinhos tivessem uma visão mais autoral e politicamente engajada. A Marvel criou um Super-Herói chamado "Pantera Negra" em referencia ao movimento da época, e a DC teve arcos de histórias de personagens como o Arqueiro Verde e a Mulher Maravilha viajando pelos EUA enfrentando problemas locais reais como o racismo e a misoginia.
Quanto ao Batman, bem... a DC ainda realmente não sabia muito bem o que fazer com ele ainda, ele ainda sim era só um detetive noir, não é como se ele tivesse uma causa social para representar nem nada assim. Então não mudou muito realmente na vida do nosso cavaleiro das trevas.
Exceto até o momento que ele se tornou, de fato, "O Cavaleiro das Trevas".
Alguns quadrinistas que cresceram durante os anos 60 e 70 queriam fazer uma versão mais adulta e atualizada dos heróis antigos, especialmente alguns que a editora não estivesse fazendo nada de particularmente interessante com eles. Frank Miller, por exemplo, pegou um personagem bem bobo da DC, o tal de Batman que era conhecido por ser sorridante e usar coisas com temática de morcego, e decidiu o levar de volta as suas raízes.
Mas quais são as raízes do Batman, exatamente?
AH PRONTO
Bem, ele é um bilionário que mesmo nos seus 30/40 anos de idade nunca realmente conseguiu superar a morte dos pais e por conta disso é tão perturbado psicologicamente que ele se veste de morcego para resolver crimes e fazer com que os bandidos sintam o mesmo medo que ele sentiu naquele beco no dia que os seus pais morreram.
ISSO NÃO PARECE... MENTALMENTE SAUDÁVEL...
Quando você coloca no papel o que o personagem é, de fato não é. E isso que Miller se ligou em aproveitar tão bem, o Batman não é apenas um cara que se veste de morcego, ele é tão louco quanto os vilões que ele enfrenta e POR ISSO se veste de morcego. Essa é uma abordagem que não havia sido explorada ainda e fez tanto, tanto sucesso que meio que se tornou a "versão oficial" do personagem.
O Cavaleiro das Trevas, a HQ, é sobre um Batman já de meia idade e amargurado mostrando o quão emocionalmente quebrado o personagem é, sendo um detive em uma cidade infinitamente corrupta onde a lei e mesmo a vida não valem muita coisa. Ou seja, é a versão gritty moderna do detive noir.
She's got a point, you know
A ideia de Miller de representar um Batman sombrio e cínico afetou não apenas os leitores de quadrinhos, mas seus criadores também. O Cavaleiro das Trevas, junto com o Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, fez tanto sucesso que iniciou a chamada "Idade das Trevas" dos quadrinhos de super-heróis. De repente, as bancas estavam cheias de cenários sombrios, tramas pesadas e anti-heróis ultra violentos operando em mundos opressivos. Mesmo heróis icônicos como Super Homem e Homem Aranha foram confrontados com histórias e vilões mais sombrios no fim dos anos 80 e começo dos anos 90, eles próprios se tornando versões mais sombrias nessa época (que é a origem da coisa mais anos 90 ever, o Venom).
Outra coisa interessante que Miller fez foi justamente configurar o Batman e o Super-Homem como polares opostos na concepção. Super-Homem é o "Homem do Amanhã", um raio de luz que não apenas acredita que ele próprio pode ser melhor como nós podemos ser pessoas melhores, que há algo de essencialmente bom na raça humana e nós precisamos apenas de um empurrão para ser o melhor que podemos ser. O Batman é o completo oposto disso. Ele acredita que o ser humano deu fundamentalmente errado e que nada de muito bom vai sair disso. Algumas pessoas podem ser boas excepcionalmente, mas como um todo a raça humana é podre e sem esperança.
Eu gosto das ideias do Frank Miller, mas eu acho que ainda falta um pouco de equilibrio. Acho interessante o Batman ter uma pegada dark, mas não dark demais. Um dark mais leve e divertido como entretenimento, não um dark que faça você querer se suicidar porque nada na vida vale a pena e tudo sem esperança é mais o meu gosto.
E foi exatamente o nós tivemos alguns anos depois, em 1992. A definição perfeita e equilibrada do Batman em um cartoon chamado de "Batman - The Animated Series".
Só pela abertura você consegue ver o quanto eles acertaram o tom aqui: Batman é sombrio, mas não TÃO sombrio assim. É uma aventura séria que trata algo que era muito inesperado em 1992: não tratava as crianças como imbecis.
Esse desenho do Batman não trata seu publico de forma condescendente ou infantilizada, ele atinge um equilibrio muito dificil de atingir entre ser sério mas ao mesmo tempo ser um desenho para um publico mais jovem sem descambar para a imbecilidade. E grande parte disso está na figura do seu idealizador, Bruce Timm.
Ser um animador nos anos 80 não foi uma tarefa fácil: você cresceu uma criança dos anos 60/70 que amava desenhos animados e tinha o sonho de trabalhar com isso quando crescesse, apenas para encontrar a industria da animação em pedaços vomitando bostas sem alma criadas apenas para vender brinquedos como eram os cartoons dos anos 80.
Você é um artista que ama cartoons do fundo da sua alma, você quer fazer mais, você quer se expressar enquanto ser humano, como mente criativa... e o que você pode fazer é trabalhar em He-Man e GI Joe. Não é surpresa que algumas pessoas quebraram nesse processo em uma carcaça de raiva de ressentimento pelo que eles tiveram que passar nessa decada terrível, como o melhor exemplo disso é Johh Kricfalusi e seu tenebroso THE REN & STIMPY SHOW
Mas outros não quebraram nessa experiencia. Durante esses anos sombrios, gente como Bruce Timm apenas foi anotando ideias do que eles gostariam de fazer no dia (na época longinquo) que eles pudessem criar um cartoon de verdade. E esse dia chegou quando a Warner, com grande intervenção do Steven Spielber que também é um grande fão de animação, começou a dar mais liberdade aos seus artistas com TINY TOON. Bruce Timm foi um dos animadores que trabalhou em Tiny Toon, e portanto ele foi convidado para trabalhar no sucessor espiritural e evolução de Tiny Toon, ANIMANIACS.
Bruce polidamente recusou a oferta da Warner, porque ele tinha um projeto que estava a anos cozinhando na sua cabeça. Ele fez um pitch meeting de como adaptar a versão trevosa e insanamente popular do Batman Cavaleiro das Trevas em um desenho animado para todas as idades. Alguns executivos molharam as calças na hora, porque vender aquela versão do Batman para crianças é algo que eles queriam muito, muito, muito, muito mesmo.
E é basicamente sobre isso que esse show é. Mas como fazer uma coisa dessas? Como deixar o Batman interessante, afinal? Vamos ser honestos, o Batman não é o melhor personagem do mundo para se trabalhar.. Okay, ele é um caso interessante a ser estudado e sustenta um filme ou uma graphic novel, mas como exatamente você tira uma série de um adulto que nunca consegue realmente sair da infancia, de apenas aceitar a morte dos pais como uma pessoa mentalmente saudável e desconta sua raiva nos bandidos? Não existe muito um arco de personagem no Batman, ele é "O" Batman e não tem para onde ir com isso realmente a menos que você o "desbatmize".
Bem, existe um jeito sim de tirar uma série dessa premissa: focar a série nos vilões mais do que no herói, e essa foi a grande, genial sacada de Bruce Timm que faz essa série ser tão boa.
Quando você pensa sobre isso, o Batman na verdade é uma figura trágica e mentalmente perturbada. O que é interessante, mas como eu disse não sustenta uma série muito longa. Mas E SE, veja bem, E SE fosse dado o mesmo tratamento aos inimigos dele? E se os vilões do Batman fossem levados a sério e retratados como figuras trágicas e mentalmente pertubadas também, explorando isso tanto para o drama quanto a comédia? Definitivamente isso dá um show interessante, e é isso que Bruce Timm e sua equipe exploram nessa série.
E talvez nenhum episódio seja melhor para ilustrar tudo que esse desenho acerta do que "Heart of Ice". Até então, o Mr. Freeze (então chamado de "Mr. Zero") era um vilão completamente idiota do Batman mesmo para os padrões idiotas dos vilões do Batman: era um cara que tinha uma arma congelante e queria congelar a porra toda porque ele gostava de frio e era isso. Como eu disse, realmente idiota.
A versão da série animada transformou esse personagem idiota numa figura trágica: o cientista Victor Fries começou a fazer pesquisas com criogenia como forma de tentar salvar a vida da sua esposa com uma doença terminal, Nora. Durante a pesquisa, Fries é traído pela empresa que o financiava que queria roubar a pesquisa para si o que causa um acidente que o deixa em uma condição que ele não pode mais sobreviver fora do frio absoluto e por isso precisa do traje.
O Mr. Freeze comete crimes tanto para se vingar das pessoas que o colocaram nessa condição, quanto para ter fundos para continuar pesquisando uma cura para a sua esposa. Ainda que ele cometa crimes, e que pessoas se machuquem ou mesmo morram durante os seus crimes, ele não é "mau" realmente, e colocar ele na prisão não é uma escolha tão simples assim para o Batman. Ainda sim ele precisa faze-lo, porque é o que o Batman faz - as escolhas corretas que ninguém mais pode fazer.
A cena final do episódio é de um nível que não se fazia na televisão naquela época, especialmente em um desenho animado:
Esse episódio não apenas é incrívelmente bom e bem escrito, como de fato ganhou o Emmy daquele ano como melhor roteiro para televisão. Nem todos os episódios são espetaculares, claro, mas quando eles acertam, oh boy como eles acertam.
Varios vilões antigos do Batman receberam esse tratamento, alguns bastante obscuros que tinham tido só uma ou duas aparições infantilóides nas HQs antigas como o Espantalho ou, mesmo o Clock King que fez uma aparição tosca na série de TV de 1966.
Eu lembro vividamente de como eu fiquei impressionado com o episódio do Clayface. Matt Haggen, que era um ator decadente que ficou desfigurado em acidente de carro. Ele então é abordado pela mafia que oferece um produto que pode reparar o seu rosto temporariamente em troca dele usar suas habilidades de atuação para cometer ilicitos.
Porra Batman, até o Espantalho está cheio das suas merdas
Obviamente que as coisas dão super errado, ele se torna viciado no produto, as coisas esquentam com os seus empregadores, uma coisa leva a outra até que ele acaba no fundo do tanque. O resultado é que ele termina como uma abominação de barro que consegue assumir uma forma humana apenas por poucos minutos e essa é a parte que me pegou aqui, o desespero dele em não conseguir ser normal, em nunca mais poder ter uma vida já que ele é uma asquerosidade lamacenta, de estar tão perto de ter tudo de volta mas não conseguir ter isso por mais do que alguns minutos. É bem triste na real.
Claro que alguns personagens não precisam de muita reinvenção porque eles funcionam do jeito que são, como o Pinguim ser um mafioso que tem mais poder politico do que fisico realmente, a relação de gato e rato do Batman com a Mulher Gato e obviamente o Coringa. E esses personagens receberam a exata versão que mereciam também, sendo até hoje o parametro contra o qual todas as novas adaptações dos personagens são comparados.
Kudos especiais para o Coringa do Mark Hamill, que é o equilibrio perfeito de engraçado e um louco psicopata que vai arrebentar sua cabeça com uma caneca de chá usada apenas porque sim. Talvez o Joker tenha um plano, talvez ele apenas faça as coisas, nunca dá pra ter certeza realmente.
E bem, se Timm e seus garotos maravilha conseguiram fazer versões tão boas dos personagens clássicos do Batman (especialmente alguns bem bosta), então seria apenas de se esperar que eles tentassem sua sorte criando seus próprios vilões, certo?
O que não apenas foi eles fizeram, como o personagem que eles criaram para essa série hoje é basicamente um dos pilares de sustentação da DC. Estou falando, é claro...
A Arlequina é o exemplo perfeito do que faz essa série funcionar: a primeira vista ela parece apenas uma adição engraçadinha para o Coringa ter com quem falar nas cenas sem o Batman, mas ao decorrer dos episódios você vai pegando que ter um relacionamento com o Coringa não é nada divertido e essa porra toda é bem messed up, na verdade.
E, claro, suponho que o mundo jamais poderá agradece-los por fazer a Poison Ivy não apenas ser uma personagem realmente relevante nesse universo, como ela ter uma... digamos... afinidade com a Arlequina.
Eu vi 14,000,605 futuros possíveis, e em nenhum deles isso termina bem pra vocês caras
É claro que, como eu disse, nem todos os vilões "revisados" consegue ser interessantes (sim Firefly, estou olhando pra você), nem todos os episódios são bons nesse nível ou inspirados e quanto menos for dito de "I've Got Batman on My Basement" (onde três crianças salvam o Batman inconsciente e resolvem crimes usando os apetrechos e veículos dele melhor, mas para um desenho animado de 1992 o resultado é supreendentemente positivo e até hoje tido como parametro do que boas histórias do Batman devem ser.
E sabe o que mais deve ser? A sagrada lei que todo cartoon de sucesso dos anos 90 (e inúmeros sem sucesso algum) ganham uma versão em videogame. É lei.
Como as versões de Super Nintendo e Mega Drive são jogos inteiramente diferentes, eu vou analisa-los separadamente
THE ADVENTURES OF BATMAN & ROBIN
SNES, Dezembro de 1994
A primeira coisa que tem que ser dita sobre esse jogo é que apesar dele se chamar "As Aventuras de Batman & Robin", você não realmente joga com o Robin. O que é uma pena, ser um jogo cooperativo teria feito toda diferença do mundo porque esse jogo é uma mistura de beat'm up com plataforma (mais ou menos como em BATTLETOADS AND DOUBLE DRAGON: THE ULTIMATE TEAM) mas enfim.
Bem, esse é um jogo da Konami e a esse ponto da história você sabe o que isso significa, não é? Sim, exatamente: o Batman controla quase perfeitamente, com comandos para rolar, pular na parede e até mesmo lançar um batarang para desarmar capangas armados! O grande diferencial do jogo são os Bat-apetrechos que você pode levar para as fases, mas nada disso adiantaria se os comandos comuns não funcionassem perfeitamente.
Isso é interessante, eu não esperava poder selecionar meu equipamento a lá Mega Man. Seria legal se o jogo desse uma ideia do que você vai precisar, mas suponho que o Batman sempre está preparado e leva tudo sempre. Embora eu tenha que observar que esse jogo não tem o Bat-repelente de tubarão, infelizmente. Isso tem mais usos do que você esperaria.
O problema é que levar todos os itens não é uma boa opção porque ciclar seu menu entre os itens é um saco, especialmente durante um jogo de ação. Não é como em Mega Man que você pode pausar e usar o poder que você quer, você tem que ficar apertando X para ir passando os itens. Pelo menos colocar mudar os itens no L e R ajudaria, mas ter que passar um por um no X realmente torna um saco. Logo, você quer levar sempre o absolutamente mínimo necessário.
E como você sabe o que é necessário? Jogando a fase, e assim que entender apertando Start pra voltar pra Batcaverna, escolher os itens e então ir mesmo. Tá, ok, você não perde nada por voltar e recomeçar a fase (exceto tempo de vida), mas sério mesmo que tentar e recomeçar a fase foi o melhor sistema que eles conseguiram pensar? De verdadinha mesmo?
O que é realmente uma pena que esse sistema seja tão pouco prático porque a ideia é realmente boa: cada fase (baseada em um vilão diferente do cartoon) tem uma mecanica diferente que exige um equipamento diferente.
Na fase da Poison Ivy, por exemplo, ela está controlando as pessoas e o Batman não pode socar pessoas inocentes (leia-se você não tem botão de ataque), para isso você precisa usar as bombas de gás e o spray para deixar os inimigos inconscientes. A fase do pinguim se passa em um museu a noite e você precisa da Batlanterna para ver as bombas no chão e por aí vai.
Esse é o ponto forte do jogo na verdade: não apenas cada fase tem um gimmick diferente, a maior parte das fases tem um level design e uma concepção completamente diferente que parecem jogos inteiramente diferentes.
A primeira fase (a do Coringa), por exemplo, é um beat'm up tradicional com elementos de plataforma lateral (ou "side scroller plataformer"). Soque os capangas, vá para a direita, não caia nos buracos. A fase da Poison Ivy, como já citado, tira o elemento do combate e vira apenas plataformer puro. A fase do Pinguim volta a socação de capangas, mas ela é um labirinto em que você tem que andar pelo museu e resgatar os refens, falando com o Robin pelos telefones para receber coordenadas de onde ir. A fase da Mulher Gato não tem combate de nenhum tipo, na verdade é um speedrun que você tem que correr pela fase e não deixar ela escapar. A fase do Duas Caras é um jogo de corrida com visão de cima, bem aos moldes de Spy Hunter. A fase do Espantalho é bastante parecida com a do Coringa, exceto que envolve sessões de andar pendurado em um dirigivel usando o bat-gancho. A fase do Charada também um labirinto, mas com design e movimentação completamente diferente da do Pinguim, onde você tem um mapa e precisa responder charadas para conseguir avançar.
A única fase menos criativa mesmo é a última, em que você apenas precisa enfrentar todos os chefes novamente. Mas o conjunto da obra é impressionante, cada uma dessas fases daria um jogo inteiramente diferente e todas essas ideias serem reunidas em um único jogo e elas funcionarem bem não nada senão um testamento do brilhantismo da Konami a época.
Senhora, a senhora já fez o seu cartão Renner? Senhora, volte aqui senhora!
A ação é fluida, os gráficos e efeitos sonoros são de primeira qualidade, completamente fieis ao desenho animado (dentro do que o SNES era capaz de fazer, o que é razoavelmente decente afinal), realmente parece que você está assistindo a um episódio da série animada e de fato esse jogo seria absolutamente brilhante... não fosse por duas coisas que diminuem o fator diversão em uma ordem exponencial.
A primeira, como eu já disse é que gerenciar os itens é primitivo que mesmo os jogos antigos do Nintendinho não erravam dessa forma. Meu Deus Konami, tem pelo menos uma meia duzia de jogos do fucking NINTENDINHO que acertam nisso e você conseguiu errar em um jogo de final de geração do Super Nintendo! Porra TOTALLY RAD acerta isso caras! TOTALLY RAD, o jogo DESSE cara:
Total e completa vergonha, caras. Porém o que realmente mata a diversão desse jogo não é isso, e sim que o jogo é inclementemente dificil. Em vários momentos, e meio que toda fase tem um, o jogo tem uma sequencia que exige uma sequencia de saltos perfeitos ou você perde uma vida. A quantidade de one hit kill nesse jogo é frustrante ao ponto da insanidade, e isso brocha a diversão do jogo em ordens de magnitude.
AH C'MON!
AH COME FUCKING ON! Porra, aí vocês me fodem a vida né? De que adianta o jogo ser tão bonito quanto os jogos de plataforma 2D do PS1, ser criativo pacas com o gameplay, tem uma grande variedade de batgadgets se ele é apinhado de one hit kill, como é que se diverte com uma merda dessas?
Era jogo que devia levar um "The Best of" fácil, mas caiu pra só um jogo por causa disso. Ou pelo menos essa é a minha opinião, e todos sabemos que essa review não prova nada, prova só que o coringa é um filho da puta.