Quando me perguntarem que cara uma pilha de boletos a pagar causa em alguem, eu lembrarei do Bruce Willis na capa desse jogo até o ultimo dos meus suspiros. Definitivamente uma grande vontade de estar ali é algo em falta...
De toda forma, a regra é clara: se tem um filme com pew pew pow pow nos anos 90, obviamente que vai ter um videogame licenciado disso. Raras vezes esse jogo vai ser excepciolindo, como GOLDENEYE 007, mas na maior parte do tempo estamos presos com coisas como THE LAST ACTION HERO pq foda-se você, é por isso. De toda forma, filme é igual a jogo licenciado.
Isso sendo posto, bem um dos grandes heróis de ação dos anos 90 foi Bruce Willis estrelou alguns filmes clássicos, como DIE HARD e THE FIFTH ELEMENT, assim como participou de vários que são absolutamente medianos (como o bizarro HUDSON HAWK). Então, em qual dessas categorias este petardo do ator no Playstation se enquadra?
NENHUMA
Mas oi? Como assim? Tem o Bruce Willis na capa do jogo, tá escrito que é um jogo do Bruce Willis, como esse não é um jogo baseado em um filme dele?
NA VERDADE ELES PAGARAM PRA TER O BRUCE WILLIS NESSE JOGO - O ATOR MESMO - SEM NENHUM FILME ASSOCIADO. OU MELHOR, PAGARAM NAQUELASPois é, Jorge, essa é uma história bem curiosa na verdade: a ideia original da Neversoft (em parceria com a Activision, a dupla que algum tempo depois daria ao mundo as aventuras skatistas do Toninho Gavião) era fazer um jogo de ação com um boneco controlado por IA para ser seu buddy. Manja Bioshock Infinite? Tipo isso, vinte anos antes.
SEJE como for, essa ideia evoluiu para colocar o Bruce Willis como esse sidekick da IA, então ele falaria mil frases, faria cenas de ação e toda porra completinha pra você sentir que o boneco é realmente seu parsa vivo mesmo, saca? O que, no papel, é uma boa ideia. E na pratica tambem, saiba você, quem não quer um jogo de ação com o Brução da Massa como seu bro?
Bem, quem não queria isso seria a Activision, pq ela viu o envolvimento necessário do Bruce Willis nesse projeto e percebeu o quão caro isso ficaria. Assim, eles - que tavam pagando - chamaram o estudio pra conversar e disseram "ó mermão, assim não vai dar, baixa a bola ae que a grana tá curta!". Dessa forma, o projeto sofreu uma "leve" mudança: agora Bruce Willis seria o personagem jogavel, ele teria no máximo uma meia duzia de frases gravadas, a captura de movimento e o escaneamento do seu rosto e foi bom, beijo me liga. O resultado é que as falas foram gravadas em dois dias, e a maioria delas que você ouve são o tipo de frase cafona encontrada nos filmes de ação da época.
Alias a propria ideia do sidekick de IA obviamente era demais pro PS1 tankar - mesmo hoje isso é dificil fazer dar certo - de modo que eventualmente ela foi abandonada e o jogo virou só tiro porrada e bomba com o Brução e era isso. Curiosamente, não muito tempo depois a Neversoft usou essa mesma engine para realmente fazer o seu jogo mais famoso - TONY HAWK PRO SKATER e posteriormente o jogo do Miranha, the more you know...
O enredo é o puro suco do que você esperaria dos anos 90. Nossa história aqui se passa em uma colônia alienígena onde a religião é a força motriz e a ciência é considerada má graças aos ensinamentos de uma figura chamada Reverendo. Esse tipo maligno genérico quer ressuscita os cavaleiros do apocalipse em uma tentativa de causar estragos em geral - por razão nenhuma que ser mal como um pica-pau.
Para evitar que alguem atrapalhe seus planos, ele prendeu todos os cientistas (mas estranhamente não os militares, ou outras pessoas que você pensaria que estariam mais bem equipadas para derrubar seu império do mal...). Felizmente, nosso homem, Kincaid, é um cientista, e estar trancado o deixou bastante chateado. Como o próprio Brucey diz ao longo do jogo, é hora de abrir uma lata de merda.
Como ultimo cientista livre do mundo, então cabe a Trey pegar em armas para revidar... e essa frase não faz muito sentido, quer dizer, eu não vejo como ser um cientista te qualifica para... hmm, suponho que eu estou colocando mais esforço pensando nesse plot que os seus próprios criadores.
Por outro lado, se o plot não é lá essas coisas, o mesmo não pode ser dito da trilha sonora que não apenas tem System of a Down tocando como pelas fases você passa por telões mostrando clipes live action da banda. Neato!
Mas falando do jogo em si, Apocalypse é um jogo de tiro em terceira pessoa (qualé, o que mais você esperava, um puzzle?), em que o jogador controla Trey Kincaid – com um nome assim que ele deve saber desde cedo que ele seria um salvador do mundo, NUNCA o mundo foi salvo por um cara com um nome como Dave - enquanto ele explode e, ocasionalmente, pula e rola, percorrendo vários níveis cheios de carnificina.
O controle neste jogo é quase condescendentemente simples (especialmente se você tiver um Dual Shock): a alavanca da direita move Kincaid, o direito controla onde ele atira. R1 pula, R2 seleciona armas, L2 usa bombas de limpeza de tela e L1 rola. Mas a complexidade não é realmente um problema em Apocalipse. Caso você não tenha um Dual shock, os botões normais do controle (triangulo, quadrado, X e bolinha) atiram nas respectivas direções.
Ou seja, essencialmente esse jogo é um SMASH TV com gráficos 3D são muito bons. Embora os personagens pareçam pequenos, as explosões são grandes e substanciais, e a escuridão dos ambientes da cidade cria uma boa atmosfera de um mundo no limite. Há também vários toques interessantes - na sequência de fuga da prisão, por exemplo, as telas da prisão mostram uma notícia detalhando sua fuga e mostram o momento em que você se liberta de sua cela (na verdade, elas mostram os primeiros segundos de jogo),
Infelizmente, como é comum nos top down shooters, o level design são realmente pouco inspirados. É raro que você se depare com um nível que tenha mais de uma rota, são apenas corredores pra você atirar em tudo que existe.
No fim do dia, por baixo do valor de produção brilhante e da estrela de grande nome, este jogo não é realmente nada de especial. É repleto de ação e as armas são interessantes, mas ele fica repetitivo antes cedo do que tarde. Existe um motivo pelo qual top down shooters era um genero praticamente extinto em 1998, e Apocalypse não faz nada para mudar essa imagem. Talvez se tivesse sido estrelado pelo Steven Seagal...
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 133 (Novembro de 1998)
EDIÇÃO 134 (Dezembro de 1998)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 040 (Julho de 1997)
EDIÇÃO 058 (Janeiro de 1999)