sábado, 1 de abril de 2017

[AÇÃO GAMES 009] GHOSTS'N GOBLINS [#011]



Existem duas formas de fazer um jogo dificil: a forma preguiçosa e a forma trabalhosa. A forma preguiçosa é artificialmente adicionar elementos baratos que vão sacanear a vida do jogador apenas para aumentar a duração do jogo. Yo Noid é um excelente exemplo disso.

A outra forma é um tanto mais trabalhosa: você faz o jogo filhadaputamente dificil, mas dá todas as ferramentas para o jogador se defender para quando ele falhar, e ele vai falhar, culpe a si mesmo por seus erros. Ele dá uma margem de dialogo no gameplay. Dark Souls é o melhor exemplo disso, o jogo é dificil mas sem ser apelativo.

E dentre os jogos dificeis bons (ou seja, jogaveis) - o que exclui perolas podres como Yo Noid e Silver Surfer), com certeza Ghouls 'n Ghosts é um dos mais dificeis de todos os tempos. E um dos melhores também.


Nosso herói, senhoras e senhores. Esse vai ser um
dia daqueles, não vai?

Seu personagem aqui é ninguém menos que o Cavaleiro Arthur (o jogo chama ele assim, deve ser primo do rei), que teve sua esposa Prim Prim (sério?) roubada por ninguém menos que o cramuião. Sem mentira, o último chefe é Lucifer mesmo. Então como todo herói dos anos 80, ele pega sua armadura, sua lança e vai abrindo caminho nas fileiras do inferno a ferro e fogo.

Acabei de perceber que pela descrição parece que ele só fez um perfil no Badoo, mas eu quis dizer que ele vai salva-la.

De toda forma, você viaja através de uma terra sombria, lutando contra ghouls e fantasmas com um grande arsenal de armas diferentes. Nem todas são boas, contudo e aqui está uma das pegadinhas do jogo: um dos segredos do Ghouls ‘n Ghosts é escolher sabiamente qual tipo de tiro poderíamos disparar, já que as armas são bastante diferentes entre si e se determinados trechos das fases eram bem difíceis, encará-los com a arma errada tornava a missão impossível.

As melhores armas são a lança (inicial), a faca e o hadouken. Só que no meio da corrida por sua vida você pode acidentalmente pegar outra sem querer... e aí fodeu de verde e amarelo, meu amigo. Porque mesmo você morre sua arma não volta a inicial, e o jogo sabe disso - colocando armas ruins em pontos chaves no seu caminho para ferrar sua vida.


Ter que reiniciar o jogo por estar com a arma errada não é nada incomum.

Em compensação a tudo isso, o jogo entretanto é extremamente justo onde ele precisa ser: ele tem checkpoints e continues infinitos. Ou seja, você pode tentar quantas vezes quiser sem precisar começar o jogo todo. Descrevendo assim parece fácil, mas isso é uma ferramenta para balancear a alta dificuldade do jogo que de outra forma seria injogavel.

Me surpreende muito que até mesmo a versão de Arcade seja generosa - logo ela que deveria existir apenas para arracar fichas desesperadamente das crianças: no Arcade você tem três vidas por ficha e se morrer começa do último checkpoint. As vezes ser menos ganancioso trás maiores beneficios a longo prazo. Uau, nem parece que estamos falando da mesma Capcom de hoje, não?




Outro aspecto não apelativo do jogo é que os inimigos não são imortais - a maioria morre com um golpe, alguns mais fortes com 3 e não há o desgraçado respawn aleatório que fode a vida em Ninja Gaiden, por exemplo. A Capcom realmente não usou nenhum truque barato para esse jogo, ela bateu no peito e disse "a dificuldade é essa, eu garanto que será o suficiente". E de fato foi.

Terminar tirando um x1 com Lucifer... essa é a hora
que a sua mãe entra no quarto, certeza.

A única coisa que eu posso reclamar é que a jogabilidade é meio troncha, Arthur é meio travado para virar e seus pulos não tem como influenciar quando ele está no ar (ao contrário do Mario, por exemplo). Embora eu ache que isso é mais uma limitação técnica da época do que uma filhadaputice programada.

Outra coisa que ajuda muito no jogo é o seu senso de humor. Parece estranho, afinal como midia tipicamente adolescente que são videogames são meio que inseguros demais para poder rir de si mesmos mas esta é uma notavel exceção. Arthur perde a armadura quando leva um hit e fica de cueca samba-canção, que é como o vemos quase o jogo todo afinal. Sim, esse é o lendário jogo do herói de cueca de coraçãozinhos, lide com isso.

Mas o que o dá realmente o clima de galhofada é a trilha sonora do jogo, que faz um contraponto perfeito a toda dificuldade da coisa. Sério, escuta só:



Videogames que se garantem o bastante para rir de si mesmos são jóias raras. E essa filhadaputice da dificuldade é uma perola em muitos aspectos.

EDIÇÃO 009


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 091 (Maio de 2002)




MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 035 (Novembro de 1998)