domingo, 5 de maio de 2019

[AÇÃO GAMES 022] THE ADVENTURES OF WILLY BEAMISH (PC, 1992) [#218]

Posteriormente esse jogo foi portado para o Sega CD, mas eu não recomendo essa versão. O jogo tem tanto loading no Sega CD que ele leva UMA HORA A MAIS do que a versão de PC para ser terminado só por causa dos loadings, sendo exatamente o mesmo jogo!


Tendo crescido sem um PC nos anos 90, eu não posso dizer exatamente que seja o maior fã do mundo de Point'n Click. Suponho que eu não seja o único, dado que esse genero praticamente morreu salvo um outro arroubo saudosista. Porém eu consigo me divertir com os títulos da Lucas Arts, seja por seus puzzles bem pensados, o senso de humor ou o esforço visual que eles colocam em seus jogos. 


Já os jogos da sua concorrente na época, a Sierra, são... bem mais dificeis de amar. Isso porque os seus jogos requerem mais do que resolução de puzzles, eles exigem decorar o roteiro inteiro através de tentativa e erro.


Tem um exemplo bem iconico disso em The Adventures do Willy Beamish que é quando para ter acesso a última localização do jogo você precisa pagar o guarda com um token especial. Como conseguir esse token? Pegando na fonte não muito longe da onde o guarda barra a sua passagem... exceto que na hora que você precisa dele tem um piquete de grevistas bloqueando a fonte. Você devia ter adquirido o token uma hora e meia atrás no jogo checando a fonte três vezes (nas duas primeiras você só ganha moedas comuns que não servem). Sim, os jogos da Sierra tem um prazer sádico de te meter em um beco sem saída que você só vai descobrir que não mais como vencer o jogo HORAS depois porque deixou passar um detalhezinho as vezes até aleatório. Literalmente horas.



Em outra cena do jogo, Willy Beamish está sendo vigiado por uma baby-sitter que se transforma em um morcego e tenta matá-lo. Tirando a cena de fantasia que é completamente alienigina ao tom do resto do jogo, o que diabos você tem que fazer é tão nonsense quanto. Você encontra um pouco de spray debaixo da pia que pode ser usado como repelente - o que faz sentido, mas não resolve o problema. Depois de procurar por um longo tempo, eu descobri que há tem um rato morto embaixo da cama no quarto da irmãzinha de Willy que você precisa pegar - porque diabos eu pensaria em procurar um rato morto embaixo da cama? Enfim, o que você tem que fazer é usar o rato na mesa da sala de visitas para distrair o morcego (?!?) e então usar o aspirador de pó para sugar o morcego. Como se faz isso? Bem, você tem que mudar o cursor para uma espécie de mira que nunca existiu em qualquer outro ponto no jogo até agora usando um botão que você nunca usou até então e nunca usará novamente.

Boa sorte tentando descobrir isso sozinho.  

"Brazzers"


A menos que você seja do tipo que mente para si mesmo que se diverte jogando Battletoads e outras coisas que dependem muito mais de Sindrome de Estocolmo do que de diversão para serem apreciadas, é realmente dificil recomendar os Point'n Click da Sierra.

O que é verdadeiramente uma pena que jogar esse jogo seja tão frustrante e dependa quase exclusivamente de tentativa e erro para ser jogado, porque as aventuras de Willy Beamish tem genuinamente ideias boas rolando nele.

A propaganda e as revistas da época vendiam o jogo como um "Denis, o Pimentinha Simulator" e que Willy era o kid descoladão que usava óculos escuros dentro da sala de aula porque IT'S SO BAD! 


Na verdade, é um pouco mais complexo que isso.

A história do jogo é que Willy Beamish é, de fato, um garoto problemático ao ponto que você tem uma "barra de traquinagem" e se você aprontar demais ela vai enchendo, e é game over. Sim, sua barra de vida é o seu peraltometro.

Nesse aspecto as propagandas estão certas. 

Se o seu Troble Meter encher, é escola militar e game over
O que as propagandas da época não falam é porque Willy é desse jeito. No jogo, vemos que a mãe dele é uma socialite de classe média que está tão ocupada consigo mesma que sequer perceberia se o menino ateasse fogo em si mesmo, o pai dele trabalha trocentas horas por semana e nunca está em casa e a irmã só tem com preocupação na vida dar umas pimbadas com o namorado rico e capitão do time da escola. Não é atoa que essa criança seja tão problemática!

Sério, esse jogo meio que me lembrou de Bully - aquele jogo da Rockstar que todo mundo lembra por ser o GTA dentro de um colégio interno onde você é o bully da escola e promover a violencia escolar e sei lá mais que babaquice jornalistas da Record inventam hoje em dia, mas ninguém parece lembrar de que o jogo começa com o nosso problemático personagem principal apanhando do padrasto na frente da mãe dele e a coroa só "bem feito, você mereceu seu merda". É surpreendentemente uma discussão mais profunda que isso, mas suponho que pouca gente que esteja interessada em discussões profundas jogue videogame... enfim...

De qualquer forma, o objetivo do jogo é que Willy tem que levar 2500 Trumps para participar do campeonato de videogames (no qual ele treina arduamente no seu videogame Nintari). Dinheiro esse que não virá de outras fontes porque seu pai acabou de perder o emprego e a familia Beamish está apertando os cintos ... exceto a Sra. Beamish, que está pensando em que caras ricos ela poderia ter escolhido na juventude ao invés desse perdedor desempregado de 40 anos com quem ela está casada agora.

Pesado, não?

Willy sendo seduzido pela fase drag queen do Macaulay Culkin

O jogo então é sobre Willy tentando levantar essa grana usando seu sapo de estimação, o Taradinho (sim, esse é o nome mesmo) em um concurso de salto em distancia de sapos... e de alguma forma ele acaba envolvido em salvar a cidade da conspiração de uma empresa de adoçantes e a greve dos encanadores.

Daria um filme animado que eu assistiria, definitivamente. Alias mais do que isso, já que o jogo é todo feito em cartoon animado e não é nada mal animado - já que a Sierra reuniu uma equipe que entendia bastante do riscado.  Pat Clark tinha trabalhado em He-Man em 1985. Rene Garcia trabalhou em animações desde os Flintstones dos anos 60 à pequena sereia em 1989. A experiência de Sherry Wheeler tinha passagens com He-Man, She-Ra, Bravestarr, e como um artista para um episódio de Os Simpsons em 1990. Eles e muitos outros em uma equipe composta de 40 mais membros criaram o mundo de Willy Beamish quadro a quadro, digitalizando as celulas e colorindo em computador.

Adicionalmente, esse jogo tem uma quantidade impressionante de animações exclusivas para as cenas de morte, não a toa levantando comparações com Dragon's Lair. 

Uma das minhas telas de Game Over favoritas é essa onde Willy de alguma forma vai parar em um episódio de Twilight Zone

De todas as coisas que a Sierra pode ser acusada, ser preguiçosa definitivamente não é uma delas.

E de toda forma assistir uma animação desse jogo não é tão diferente do que você faz nele já que mais de 60% do jogo é praticamente uma visual novel. Quando você chega em um lugar os dialogos desenrolam automaticamente com paradas para você fazer escolhas de dialogos (cujas escolhas erradas podem arruinar o seu jogo) e apenas em dados momentos de "ação" você interage com o estilo Point'n Click. Então eu diria que Willy Beamish é uma visual novel com elementos de Point'n Click, praticamente um avô de jogos como Danganrompa e Phoenix Wright.

Willy Beamish não é um jogo muito bom de se jogar de um genero que por si só já é bem datado, mas é uma experiencia interessante de se assistir se você tiver a oportunidade. Taí algo que eu não digo de muitos jogos.

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