Sabe que dia é hoje, crianças? Apenas o meu tipo favorito de dia: dia de falar mal da Sega! O que acontece de ser todo dia, mas divago. Mesmo porque o jogo é uma porcaria porém feito com as melhores das intenções.
Após o crash dos videogames no ocidente em 1983, a Nintendo reconstruiu o mercado de videojogos com o suor de sua testa e latinhas de Mirinda. E uma das medidas que eles tomaram para evitar que fossem uma nova Atari foi instituir o "Nintendo seal of quality". O selo Nintendo de qualidade era uma politica da empresa que colocava sérias restrições nos desenvolvedores afim de garantir que a biblioteca do NES não ficasse entupida de lixo sem sentido - um dos (mas nem de perto o único) problemas que quebrou as pernas da Atari.
Assim, os desenvolvedores tinham limitações bem sérias ao lançar jogos para o Nintendo Entertei... Entertain... enfim, o Nintendinho tais como cada empresa não pode lançar mais do que 4 ou 5 títulos por ano, cada jogo seria manufaturado pela própria Nintendo (o que quer dizer que você tinha que literalmente comprar os cartuchos dela para poder fazer seus jogos) e obviamente a Nintendo teria a palavra final sobre censurar o que achasse adequado em cada jogo. As empresas não ficavam felizes com isso, claro, mas todas essas limitações impediam que uma batelada de lixo afogasse o bom nome que o NES estava tentando construir.
E ainda sim, ISSO aconteceu. Imagine o quão pior poderia ter sido. |
Porque eu estou falando isso? Ora, porque a competidora direto da Nintendo - que entrou depois no jogo - precisava desesperadamente de alguma vantagem para superar a marca ja estabelecida. E que vantagem seria essa? Ora, quantidade ao invés de qualidade, é claro!
... o que terminou tão bem quanto soa dito em voz alta.
Por isso o Master System e o Mega Drive são apinhados de jogos portados a toque de caixa apenas para fazer volume e, atirando para todo lado, ver se acertavam em alguma coisa. Agora, se a Nintendo tinha contrato de exclusividade com os titulos mais consagrados das produtoras mais famosas da época (Capcom, Konami, Sunsoft, etc)... da onde exatamente viria essa "quantidade" que a Sega procurava para sua marca?
Resposta simples: além de terem desencavado a Eletronic Arts para fazer seus jogos de esporte, a grande fonte de jogos do Mega Drive era portar jogos de Amiga que absolutamente ninguém com um videogame de verdade teria o mais remoto interesse. É dificil explicar, mas quando você começa um jogo no Mega Drive meio que dá para dizer só pela trilha sonora ruim e pela interface que claramente foi pensada para um jogo de computador com teclado e mouse que você está jogando um port bosta de jogo de Amiga.
E poucos jogos são um exemplo melhor disso do que Corporation (rebatizado nos Estados Unidos de Cyber-cop porque parecer que seu jogo seria um The Sims executivo poderia não ser a melhor das ideias).
O quão portado nas coxas esse jogo é, você me pergunta?
Esse tanto de mal feito. Ao invés de apenas selecionar opções com o joystick, como qualquer jogo minimamente decente faria, Corporation te faz usar o controle para movimentar o ponteiro de um mouse. Isso funciona tão bem quanto a descrição soa, é claro.
Uma quantidade incomodamente grande de jogos para o Mega Drive tem esse problema de não apenas te fazer controlar um mouse como se você não estivesse usando um fucking joystick, como toda estrutura da interface em vários jogos urra que aquilo é um jogo de computador em um tempo que jogos de computador eram apenas um refugo barato dos videogames.
PGA GOLF TOUR, por exemplo, sequer se deu ao trabalho de tirar o sistema de menus do Windows 3.1 |
Você realmente não se ajuda, né Sega? Eu realmente não posso estressar o suficiente o quanto a interface desse jogo é desajeitada para ser um console doméstico e o quão não intuitiva ela é. Não, sério, olha que bagunça!
Eu não sei o que esses icones fazem, eu não sei se os itens mostrando na tela são os que eu estou equipado ou o que (dica: não são), eu não sei porque tem dois caras pelados de barriga tanquinho com censura nas coxas e porque algumas dessas tarjas vermelhas, eu não sei o que é essa bateria no meio da tela e obviamente eu não sei para onde ir.
Na verdade é melhor falar das poucas coisas que eu realmente sei: o Zzz pausa o jogo... se você levar o cursor do mouse até ele com o controle. E o botão Start não! Mas puta merda, porque diabos você não pode simplesmente pausar o jogo na porra do Start como qualquer jogo mameluquicamente decente na face da Terra?
Ah, eu sei a resposta: porque no Amiga não tem Start e esses safados portaram o jogo do jeito que ele veio. Pra que se dar ao trabalho de entregar algo minimamente polido, né?
Para pegar itens, por exemplo, você não pode só passar por cima deles. Primeiro, você tem que andar até uma das estranhas cúpulas cromadas que você vê espalhadas por todos os níveis. Então arraste ele até a tela no canto inferior esquerdo para ver o que o item é. Se você quiser pegá-lo, você tem que apertar start para acessar o menu (isso não pausa o jogo, alias), então usar o joystick como cursos para selecionar o comando “pick up”, então deixe o menu novamente e só então você pode se mover novamente. Repita isso para todo e cada item que você quiser pegar. E você tem que passar por um procedimento semelhantes ao acessar um terminal ou hackear uma porta.
Mas a pior parte de tudo isso é que, por debaixo de uma interface de dor e um gameplay formado pelo ódio de Jesus sobre a Terra, Corporation tem ideias BEM a frente do seu tempo. Não que você vá conseguir chegar nelas, mas elas são realmente boas.
Corporação se passa em um futuro sombrio onde robôs substituíram a maioria de seres humanos na força de trabalho, e a maior empresa que produz estas máquinas é a Universal Cybernetics Corporation. É, bela tentativa, Skynet. Enfim, depois depois de um número de assassinatos estranhos e horríveis nos arredores da sede de Londres da enorme corporação, e uma inexplicada rebelião de robôs na cidade, o serviço secreto chamado ZODIAC decide tomar medidas. O jogador assume o papel de um dos seis agentes que estão soltos no telhado da sede da UCC. A missão: infiltrar-se no edifício, pavimentar o seu caminho através de cinco níveis superiores e oito subterraneos e recuperar a prova de quaisquer atividades ilegais executadas pelo UCC.
O grande lance aqui é que você realmente tem que fazer isso: entrar, coletar provas e sair. De preferencia causando o minimo de bagunça possivel. Para fazer isso, você tem que evitar câmeras, matar os inimigos, ganhar níveis de acesso mais elevados para computadores, hackear computadores e assim por diante. Corporation é um tipo de bisavo de jogos como System Shock ou Deus Ex, e conceitualmente isso é muito legal.
Apesar de ser um jogo em primeira pessoa, você estará indo para a morte certa se jogar isso como se fosse Doom ou Wolfenstein 3D já que ele é um RPG de espionagem mais do que de ação. Então se você correr adiante e for visto por uma câmera de segurança, um alarme soará, atraindo todos os inimigos próximos. O que você tem que fazer é atirar nas câmeras à distância e tentar preservar a munição.
Sua diretiva básica em cada nível é encontrar um console de computador e aumentar o nível de acesso em seu cartão de segurança, depois usar o cartão em um elevador e se aventurar mais profundamente no covil da corporação.
Vale a pena olhar ao redor, no entanto, para obter equipamentos melhores. Visores permitem que você enxergue bolsões de gás prejudiciais à sua saúde ou emissões de energia, lockpicks abrem portas fechadas, jetpacks permitem que você voe. O computador portátil (que exibe um mapa HUD do nível) e a bússola (mostra a direção em que o terminal do computador se encontra) são absolutamente necessários se você não quiser se perder. Se você quiser evitar robôs e câmeras, a maioria dos níveis tem uma caixa de fusíveis onde você pode simplesmente cortar a energia para todo andar.
Sua força determina quantos itens você pode carregar; Se você está muito carregado, você perde energia mais rápido, então você deve largar todos os itens que você não precisa. Os quatro personagens humanos podem, ao longo do tempo, aprender habilidades psiquicas que lhes permitam voar sem jetpacks ou curar-se à vontade (enquanto os robos tem atributos melhores). Você pode ser atingido em partes do corpo especificas, e isso te prejudica de maneiras diferentes.
Como você vê, Corporation tem muitos conceitos que que eventualmente foram incorporados em grandes jogos. Eu definitivamente aplaudo o que eles tentaram fazer, pena que isso está enterrado atrás de uma camada intransponível de controles ruins, graficos incompreensíveis e o jogo rodando a meio frame por segundo. Realmente uma pena.