domingo, 26 de maio de 2019

[AÇÃO GAMES 015] RIVAL TURF (SNES, 1992) [#227]



Eram 4 da manhã de uma terça-feira de 1991 na sede da Jaleco, em Tóquio. Pelo expediente tipico de trabalho de um cidadão japones, o dia útil já estava a todo vapor. Porém, nada particularmente digno de nota parecia que aconteceria naquele dia, dado que era uma terça-feira e todos sabemos como essas danadas são.

Isso até que Yoshiuki Jaleco, office-boy/secretário/cantineiro/gerente de marketing/vice-presidente de finanças irrompe a porta esbaforido, um cartucho de Super Famicom em mãos e uma pilha de Famitsus. Eram todas iguais, mas Yoshiuki sabia que as revistas que não vendiam eram recicladas para fazer manga de Bleach, então ele comprava sempre todas que podia para salvar o papel desse destino terrível. Porém isso não era importante hoje, e sim as noticias estarrecedoras que ele trazia da rua:

- Final Fight foi lançado para o Super Famicom! - ele exclamou.

Sem pressa alguma, Haru Jaleco, sua filha de 15 anos/funcionaria com mais de dez anos no mercado o olhou pouco interessada por um instante antes de continar desenhando inbetweens para Sailor Moon.

- Todo mundo sabe disso, oto-san. - ela respondeu.
- Sim, certo, mas... o jogo foi lançado com modo apenas para um jogador!!!

O som de um garage kit de Macross pode ser ouvido se espatifando ao fundo. Não que isso tenha alguma relação com a cena, apenas isso acontecia o tempo todo porque esses garage kits eram feitos de material flexivel o suficiente para fazer poses eróticas, mas frágil o suficiente para que quebrassem quando caíssem e o otaku tivesse que comprar outro. A tecnologia japonesa é de fato incrível, mas esse não é o ponto aqui.

O ponto aqui é que a Jaleco tinha uma missão conferida por kami-sama em pessoa: lançar um jogo de briga de rua o mais rápido que fosse possível para aproveitar esse filão de que não existia um beat'm up para dois jogadores no SNES ainda.

Agora, a Jaleco nunca foi exatamente um celeiro de talentos e seus jogos são eternamente lembrados por... bem, na verdade, não são. Todo mundo faz meio que uma ideia que os jogos da Jaleco existem, mas eles não são bons (nem ruins) o suficiente para serem lembrados por nada. Agora imagine um jogo de uma empresa que já não é lá essas Brastemp sendo feito a toque de caixa porque, piadas minhas a parte, faltava um jogo de briga de rua para dois jogadores no começo da vida do SNES.

Essa é a história de Rushing Beat (provavelmente tem esse nome devido ao desespero para lançar o jogo antes que alguém lançasse algo parecido), adaptado no ocidente como "Rival Turf!". Com ponto de exclamação e tudo. Oh boy...



A primeira parte de qualquer franquia de jogos é relembrada de uma de duas maneiras: um jogo terrível que será consertado a muito suor e sangue depois de uma legião de sequências, ou um diamante bruto cujas bordas irregulares serão suavizadas e refinadas por seus sucessores. Rival Turf! cai com força, sem para-quedas, na primeira categoria.

Não ajuda nada o fato do jogo ter sido trazido para o ocidente com o nome "Rival Turf!" com uma das capas mais horrivelmente ridículas de jogo da história da humanidade … e, infelizmente, a capa ainda sim é a parte mais divertida de todo o pacote.

Ao contrário do que o nome e a capa podem sugerir, o jogo não é sobre adolescentes gangsta enfrentando uns aos outros como The Warriors. Em vez disso, é a história do seu filme de ação padrão: dois policiais enfrentam um cartel de drogas sozinhos, espancando sistematicamente o ranho do nariz de todos os membros das gangues e abrindo caminho até o chefão. Se fosse um filme, seria estrelado pelo Steven Seagal ou pelo Charles Bronson e teria "de fogo" ou "de sangue" no título. Vingança de Fogo, Ruas de Sangue, Jornada de Fogo/Sangue. Você sabe, os filmes feitos para passar na Bandeirantes.

Nossos heróis são o policial durão Nelson, que na versão americana virou negro... exceto que eles esqueceram de mudar isso nas cutscenes do começo e do final do jogo, onde ele volta a ser branco.




Na versão japonesa, o cara branc... digo, Jack Flak tem a namorada sequestrada e pede ajuda ao seu melhor amigo, Oozie Nelson para limpar o chão com a cara de punks como um bom cidadão americano temente a Deus. Na versão americana essa coisa de "namorada" foi totalmente cortada e agora Flak e Nelson são apenas dois policiais no cumprimento do dever.

Não é claro em nenhuma das versões porque Nelson se veste como o M. Bison, talvez fosse o antigo uniforme da policia, aposentado quando ele passou a ser associado a um ditador barão das drogas dos videogames e Nelson apenas é apegado aos velhos tempos. Eu não sei, o seu palpite é tão bom quanto o meu neste tema.


De qualquer forma, uma olhada neles já diz tudo que você precisa saber: Flak é o personagem mais rápido, vulgo Piruetinha, enquanto Nelson é o clone não licenciado do Hagar.

A jogabilidade é o que você espera desse molde: espanque punks, mova-se para a direita, repita ad infinitum. Não ajuda muito que existam apenas DEZ  tipos de inimigos diferentes repetidos a exaustão em quase uma hora de jogo, mas enfim. Prepare-se para socar muitos "Katos" e "Goros", que são apenas Katos com outra paleta de cor. Alias se formos excluir os sprites recoloridos, existem menos de 6 tipos de inimigos diferente nesse jogo. Fun.

Por algum motivo qualquer (literalmente, já que o jogo não tem história entre as fases), nossos heróis embarcam em uma viagem de helicoptero sem escalas até a região norte do Brasil, onde enfrentarão os líderes punks nas metropoles paraenses. Realismo 10/10.

 
A maioria dos jogos de briga de rua adiciona alguma coisa interessante no seu design ou algum truque que os faça se sobressair, mas a Rush Beat honestamente não tem nada disso. Você tem sua seus socos básicos, um ataque pulando que não serve para muita coisa, a capacidade de agarrar e arremessar e... é isso. Teoricamente, seu personagem também pode correr segurando L ou R, mas isso não muda nada realmente já que as telas são pequenas e isso não gera nenhuma animação diferente. Há também o sempre invencível ataque especial que gasta sua barra de energia, porém aqui ele gasta pontos que você ganha para cada punk que você derrota.

 A única real diferença desse jogo é o Angry Mode, um estado de invencibilidade e força elevada obtido ao ser atacado demais. Enquanto essa explosão de poder é boa e inclina as chances um pouco a seu favor, você pode realmente fazer isso apenas uma vez por vida, a menos que você pegue um item de saúde, vindo na forma de refrigerante (possivelmente cerveja?), Sushi ou clássico. frango assado no chão. Naturalmente, também existem armas, mas elas realmente só vêm em duas variedades e mais atrapalham do que ajudam.

Você poderia pensar qeu essa cena faz sentido dentro de algum contexto... e nesse caso você estaria errado.

A detecção de colisão é altamente furada e quando você acerta alguém, os ataques não passam a sensação de força. Os personagens voam pelo ar sem respeito com as leis da gravidade e da física. Mesmo quando um personagem está caído, ele cai de um jeito que parece pouco convincente, como se simplesmente tivesse escorregado em uma casca de banana ao invés de ter levado um soco na boca. Não há peso para nenhum dos ataques, e atirar um inimigo em uma multidão de inimigos não resulta no mesmo nível de satisfação que no título da Capcom.

Isso é basicamente tudo o que pode ser dito sobre como funciona Rush Beat. É o tipo mais básico de briga de rua que pode existir e, fora o pequeno diferencial do angrey mode, não há realmente nada que este jogo tenha de exclusivo ou que não tenha sido melhor feito por qualquer clone de Final Fight. Se alguma coisa, ele passa uma sensação geral de jogo feito bem as pressas, com vários componentes parecendo fora de sintonia.

Eu gosto de como muitos dos punks desse jogo estão apenas deitados cuidando da sua vida ou encolhidos de medo diante do espancamento provido pelos heróis. Isso vai ensinar vocês a não serem punks, punks!


Além disso, o jogo não tem polimento e não é muito bonito de se ver ou escutar. Os cenários de fundo, embora não abomináveis, têm um visual desbotado e não são exatamente exemplos da capacidade gráfica do SNES. A música é muito ruim, com músicas que não são dignas de nota, e que terminam em menos de um minuto.

 Se há alguma graça salvadora em Rival Turf! é o modo para dois jogadores. Quase qualquer jogo é divertido com um amigo, até mesmo algo como sem inspiração como Rushing Beat.