Então chegamos aquela época da edição, meninos e meninas do meu Brasil baronil. A hora de falar sobre mais um jogo para o Sega CD, Sabe, vocês podem se perguntar se eu não canso de esculhambar a Sega sai edição entra edição e a resposta é que eu realmente me questiono se não existe mais na vida do que isso.
Por isso hoje vamos fazer algo diferente: vamos falar de quando a Sega tentou fazer algo certo, apenas para variar!
Mas ok, vamos começar do começo: como todos sabem a esse ponto, a Sega tentou vencer a guerra contra a Nintendo apostando na tecnologia de CDs e essa não era uma ideia ruim. Em um cartucho de videogame cabiam no máximo 5MB de informação para os jogos, em um CD o espaço era 100 vezes isso. Boa ideia, certo?
Certo. Tanto que até a Nintendo considerou ter seu próprio drive de CD para o Super Nintendo, fazendo uma parceria com a Sony para isso... que não deu muito certo, hmm, me pergunto o que será que foi feito desse projeto hoje em dia...
Nah, não deve ter dado em muita coisa. Mas voltando a Sega, então assim foi feito e a Sega lançou o Sega CD - um acessório para acoplar ao Mega Drive e rodar jogos em CD... que custava trezentos dolares e usava sua própria entrada de energia.
Heh, boa sorte tentando colocar dois desses (o do Sega CD e o do Mega Drive) na mesma tomada. Adicione a isso a politica da Sega de lançar todos os jogos do Sega CD também em cartucho para Mega Drive e temos que, pouco surpreendentemente, o Sega CD foi um fracasso de vendas.
Uau, foi um combo de ideias ruins que é dificil dizer por onde começar, mas acho que nenhuma foi tão espetacular quanto ao invés de simplesmente permitir que seus criadores fossem fazendo os jogos sem finalmente não ter mais que se preocupar com o tamanho do jogo e simplesmente colocando tantos assets quanto quisessem, afinal um CD tem 500 MB de espaço, eles tinham que fazer um jogo que mais tarde rodaria no Mega Drive em cartucho então tudo que eles podiam fazer de diferente era adicionar traquinas removiveis como videozinhos e musicas em faixa de CD.
Surpresa com o "inexplicavel" fracasso de vendas do Sega CD, a Sega então decidiu procurar ajuda profissional para resolver o problema do seu acessório. E foi assim que ela pediu a JVC que fizesse uma unidade integrada do Mega Drive com drive de CD, talvez isso fizesse a coisa ir!
Agora, a ideia não era ruim. A JVC era uma das maiores produtoras de aparelhos de midia doméstica do Japão (de fato, a maior rival da Sony em cameras, videocassetes, walkmans e toca-discos na época) e a própria empresa que inventou o VHS. Eu inclusive tive um aparelho de DVD da JVC, lembra quando você precisava de um aparelho exclusivo para rodar midias fisicas? Faz tempo, heim?
Então assim foi feito e a JVC se tacou a fazer um Mega Drive com leitor de CD que fosse um aparelho só, e não um acessório que bizonhamente tinha seu próprio bitocão para colocar na tomada. Nascia assim o Wondermega!
O Wondermega tinha um visual futurista e, ao contrário do Sega CD que era uma gaveta que saia para fora para você colocar o CD (logo precisava de um motor para isso e era mais caro), usava uma tampa que abria para cima para que você colocasse o CD. Ora, deixar o aparelho mais barato certamente era uma solução bem vinda!
O Mega CD original e sua tecnologia de bandeja de CD externa |
... e a versão mais barata do Wondermega de só usar uma mola para abrir a tampa mesmo. |
Resolvidos dois grandes problemas do Sega CD, o preço e a fonte de energia, parece que agora a coisa vai, né Sega? De bonus, a JVC adiciou algumas funções de karaoke - porque os japoneses adoram isso - e um controle de seis botões (ao contrário dos apenas três que o Mega Drive tinha). Outras adições ao Wondermega:
- Saída em S-Vídeo;
- Indicador de potência (sim, o Sega CD não tinha uma luzinha para dizer se estava funcionando);
- Entrada pra MODEM (Sega MegaNet);
- Entrada pra microfone;
- Entrada pra teclado MIDI;
... hmm, yeah... about that...
O Wondermega só tinha um pequeno, minusculo, imperceptível detalhe... o Wondermega era mais caro que o Mega Drive e o Sega CD juntos.
Por algum motivo que aparentemente ninguém sabe explicar (provavelmente deve ter um blog japones contando essa história, mas boa sorte com isso), o Wondermega foi lançado ao equivalente a 600 dolares! Era o dobro do preço do Sega CD! Com esse dinheiro você poderia comprar um Mega Drive, um Sega CD e uma família que te amasse de verdade e não te desse consoles da Sega!
Agora, sendo um pavoroso fracasso de vendas no Japão, como você compensa isso no lançamento americano? Se você respondeu "hã, eu não sei, baixando o preço?" isso só prova que você não entende nada sobre videogames.
A resposta certa é, obviamente, lançando ele nos Estados Unidos dois anos depois (em 1994, quando a próxima geração de consoles já estava chegando), com um nome muito mais idiota e com uma campanha de marketing que tentava induzir as crianças a epilepsia!
Sem mais delongas, contemplem o X'Eye!
Mas nada tema, se você ainda não vê razão para gastar SEISSENTOS DOLARES em um aparelho mais caro do que simplesmente comprar um Mega Drive e um Sega CD, a JVC pensou nisso também: todo mundo sabe que o que realmente vende um console são jogos, e por isso eles criaram seu próprio jogo com o mascote da empresa, o Wonderdog!
Wonderdog é uma paródia de Superman, onde o planeta K9 está condenado e o cientista que previu a catastrofe manda seu único puppy para a Terra, onde ele terá uma chance de sobreviver - sem imaginar que a radiação do Sol lhe dará incriveis poderes como o cão maravilha!
Err... eu não tenho muita certeza do que eu vi aqui...
Do que eu TENHO certeza é que Wonderdog é um jogo aborrentamente bosta devido a um problema tão grande que eu não sei como ninguém envolvido na produção desse jogo percebeu isso:
Wonderdog tem um dos piores ataques que eu já vi em um jogo na minha vida. Basicamente o ataque do nosso protagonista maravilha é atirar uma estrelinha no chão para ela quicar e acertar os adversários. Eu entendo que eles tentaram emular a flor de fogo do Mario, mas parece que essa flor de fogo tomou todos copos de café do mundo porque essa coisa sai quicando loucamente e você nunca tem muito controle de onde ela vai parar.
A unica coisa pior que o seu ataque são as batalhas contra os chefes: você pode literalmente ficar parado atirando e o chefe morre antes que ele consiga te matar. Uau, isso é de um amadorismo empalidecedor até mesmo para os padrões de um jogo do Mega Drive!
O level design é basicamente inexistente, com você segue em linha reta a moda louca onde nada importa, naquele estilo de construção de fases que é tão bem conhecida dos jogos de Amiga. Para ter uma ideia, o personagem tem uma habilidade de planar segurando o botão de pulo e isso não é exigido uma única vez durante o jogo. Quando você tem uma mecanica que pode ser muito bem ignorada pelo jogo, sabes que estas a cagaire, o pá!
Eu juro para vocês que eu tento escrever sobre a história da Sega sem terminar em qualquer conclusão do tipo "uau, o que eles estavam pensando?!", mas a verdade é que a Sega não se ajuda. Pagar 600 dolares pelo privilégio de jogar um jogo absolutamente merda como Wonderdog quando você poderia jogar o mesmo jogo bosta por quase metade do preço?
UAU, O QUE ELES ESTAVAM PENSANDO?!