terça-feira, 21 de setembro de 2021

[MEGA DRIVE] COMIX ZONE (Julho de 1995) [#762]

Eis aqui um jogo que eu estava esperando bastante para jogar, já que eu ouvi bastante sobre ele na época - incluindo ele ter sido capa da Ação Games. Comix Zone foi o último jogo desenvolvido pela Sega para o Mega Drive, sua obra de despedida do seu console após seis anos de serviços prestados. E muitos dizem que uma obra-prima, não menos que isso.

Eu nunca joguei esse jogo até então, será este realmente o caso? Ou será apenas um jogo  medíocre coberto por camadas de nostalgia? É o que descobriremos a seguir.

Essa arte japonesa da capa me lembra alguma coisa, yare yare daze...

Ao longo dos tempos, é algo rotineiro alguém ter a ideia de emular uma midia em outra. Um livro que tenta emular as cenas de ação de um filme, uma história em quadrinhos com elementos de um videoclipe musical, filmes que tentam emular um jogo. E claro, sendo a mais jovem das midias audiovisuais, jogos que tentam ser alguma outra coisa.

Hoje em dia é rotineiro, e de certa forma até esperado, ouvir falar em jogos com narrativa cinematográfica - ou seja, jogos que tentam emular filmes seja nas cutscenes, seja no gameplay (como os jogos do David Cage, por exemplo). Então você pode imaginar que não é uma figura de linguagem tão fora de proposito um jogo dos anos 90 que tentasse emular uma revista em quadrinhos - a grande midia dos jovens até então.

Comix Zone é mais ou menos isso, porém ele não é apenas um "jogo com elementos da HQs" como outros já fizeram antes, não, ele é um passo mais dedicado que isso: ele é literalmente uma revista em quadrinhos jogavel. E por "literalmente" eu estou falando sério, esse é o level design do jogo:


Agora essa é uma ideia original, se eu já alguma na vida. Quer dizer, é uma ideia tão única que essa formula não pode sequer ser tentada novamente sem que alguém diga "hey, isso é Comix Zone", isso é o quão único esse jogo é. Mas... como você joga isso?

Bastante simples: Comix Zone é um beat'm up em que você "luta" um painel de cada vez, ao eliminar todos inimigos do painel aparece aquela setinha de beat'm ups para seguir para o próximo painel, embora é possível achar passagens secretas e usar a quebra de quarta parede de uma HQ para ir por outros caminhos. Algo tipo assim:


Esse modelo de "paineis" tem inclusive uma vantagem tecnica para o jogo: com essa formula você pode quebrar o jogo em telas de loading sem parecer que está fazendo isso. E se você pode enfiar um loading, quer dizer que o jogo precisa carregar menos coisas na memória RAM do console de cada vez, o que significa que sobra espaço para fazer sprites maiores, animações melhores e cenários de fundo mais detalhados.

Não por acaso e sim especificamente devido a essa formula de "paineis", esse é um dos jogos mais bonitos do Mega Drive, e essa foi uma ideia realmente inteligente da Sega. Se um beat'm up normal decide enfiar uma tela de loading a cada leva de inimigos, ele seria achincalhado até o final dos tempos pela bocabertice de fazer isso, mas da forma que esse jogo é apresentado... é apenas parte natural do jogo.

Então o resultado é que temos um jogo com uma ideia completamente única na história dos videogames, com gráficos espetacularmente bonitos para um Mega Drive (permitidos exclusivamente justamente por causa da sua apresentação) e o resultado disso é um sucesso espetacular, certo?


... bem, seria. Não fosse o fato que enquanto jogo, esse é um beat'm up bem ruim.

Como é relativamente comum nos jogos da Sega, Comix Zone funciona muito bem nas páginas de revista e rodando a demo na TV da loja, mas assim que você pega o controle nas mãos as coisas deixam de ser tão maravilhosas assim.

Meu deus, ele precisa realmente defender tanto assim?

No que tange aos beat'm ups, CZ é um jogo tão básico quanto básico pode ser. E isso quer dizer que basicamente o que você tem que fazer é esmagar o botão de soco nos inimigos e... é isso. Quer dizer, é TUDO isso. Eu que beat'm ups não são a formula mais criativa do mundo, mas em 1995 qualquer jogo do genero que tentasse valer o peso de seu cartucho ao menos TENTAVA fazer alguma coisa diferente.

Seja na movimentação dos personagens, seja nos ataques especiais, quem sabe itens, ou até um modo coop para apimentar as coisas. Comix Zone não faz nada disso, parecendo simplesmente um jogo que foi magicamente arrebatado de 1986 e dropado sem cerimonia em 1995. Esse é um jogo dolorosamente repetitivo e simplista mesmo para os padrões de um genero que já é dolorosamente repetitivo e simplista pela própria definição.

Cê acha que eu estou de má vontade, mas DEZESSEIS SEGUNDOS esmagando o botão pra derrubar um inimigo COMUM E CORRIQUEIRO que não revida é pra acabar com a sanidade de qualquer um!

E nessa toada, não ajuda muito que a Sega decidiu aplicar a sua velha politica de "não deixar que as crianças terminem o jogo em uma alugada de fim de semana para fazer eles comprarem", aumentando a duração do jogo (que pode ser terminado em aproximadamente 40 minutos) através de um nível ridiculo de dificuldade.

Mas a qualidade da animação é realmente impressionante

CZ é um dos beat'm ups mais dificeis do Mega Drive, e até onde eu consigo lembrar, de modo geral. Pra começar, esse jogo não tem vidas extras e nenhuma opção de continue, save ou password. Pelo que eu pude entender, acredito que o jogo te dá UMA vida extra nos níveis três e cinco, mas o jogo sequer tem um contador de vidas então não dá pra ter certeza de quais são as condições para ganhar essa migalha.

Porém o que torna esse jogo realmente dificil é que a jogabilidade desse jogo é travada e burocratica de uma forma que eu não via a muito tempo. Virar o seu personagem de um lado para o outro na tela leva uma era glacial inteira, entre apertar o botão e o seu personagem fazer a ação demora tanto que parece que eu estou jogando SHAQ FU.


A história é full COOL WORLD, em que a criação de um cartunista ganha vida e troca de lugar com o seu criador, precisando mata-lo dentro da HQ para se tornar real. Só que no lugar de um ripoff da Jessica Rabbit, temos... esse dudete aí. Pois é.

Isso fica pior ainda nas poucas seções pequenas em que você tem que pular sobre um pequeno buraco ou está pendurado sobre um poço sem fundo, apenas para ser derrubado por um inimigo voador porque o seu personagem não reage rapido o suficiente. 

Como curiosidade, uma das adições mais bizarras e que eu não consegui descobrir o motivo de terem colocado isso no jogo é que você também sofre danos ao socar portas, barris e caixotes. É realista, okay, mas também é um jogo sobre um cara em uma história em quadrinhos que soca mutantes cobertos de lodo e o fato que vc precisa socar portas para avançar apenas torna o jogo ainda mais difícil. 

AH COME FUCKING ON!

E não é como em outros jogos onde você está apenas atingindo esses objetos apenas para pegar itens, há muitos pontos onde os obstáculos que estão bloqueando seu caminho precisam ser destruídos, OBRIGANDO você a perder saúde para seguir em frente. Fazer o jogador tomar dano por socar objetos, muitos dos quais você é OBRIGADO a atacar, é uma das ideias mais cuzonas que eu já vi em um jogo.

Até parece que a Sega que nunca fez um beat'm up na vida, porque os erros aqui são primários em jogabilidade e escolha de design. Como dá pra ver, Comix Zone é um beat'm up medíocre que recebe um passe por conta da originalidade da ideia e sua execução única. Dessa vez passa sem tomar um "The Worst Of", mas não voltem a fazer isso!

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