sábado, 18 de setembro de 2021

[SNES] THE FIREMEN (Setembro de 1994) [#760]


Eis algo curioso quando você pensa sobre isso: bombeiros nem perto tem o nível de admiração que a mídia criativa tem pela aplicação da lei ao longo dos anos. Você pode recitar títulos para programas de TV de polícia sem nem precisar pensar sobre isso, mas e os programas dedicados aos homens e mulheres que realmente fazem coisas boas para a sociedade, como salvar pessoas de incêndios em vez de filmá-las com a câmera do telefone? Bem, eu consigo lembrar de Chicago Fire. E eu acho que tem aquele anime Fire Force, mas eu nunca assisti e anime não dá pra botar a mão no fogo... viram o que eu fiz aqui, hã, hã?

Essa é uma forma bem ... única... de ser um bombeiro, tenho que dizer

Mas além disso? Na-da. Para um trabalho que ainda ocupa os sonhos aspiracionais de muitas crianças e exige um regime de treinamento físico exaustivo para ser elegível para o papel, simplesmente não há respeito suficiente por aqueles que assumem o dever. Eu meio que entendo que é mais fácil escrever episódios quando existe um inimigo palpavel e crimes odiosos cometidos, é meio dificil vc antagonizar algo incorporeo como o fogo.

E durante os anos 90, o mundo dos videogames não teve uma participação muito maior de jogos destinados àqueles que se dedicaram a nos salvar de mortes horríveis e ardentes (geralmente de nossa própria culpa). O Sega Saturn ganhou o Burning Rangers em 1998, uma versão de ficção científica totalmente anime-like sobre combate a incêndios e resgate. E quem poderia esquecer o FAHRENHEIT no 32X? Quase todo mundo, eu acho. Mas hoje vamos falar do jogo de bombeiros original, o primeiro a botar os combatentes do fogo e resgatadores de gatinhos de 1994 no Super Nintendo quando a Human Entertainment - sempre a empresa para transformar ideias únicas em jogos muito jogáveis ​​- lançou The Firemen.


Porque verdade seja dita, os jogos da Human não são particularmente espetaculares mas definitivamente são criativos: como por exemplo o jogo de terror para Super Nintendo, Clock Tower (e sério, fazer um jogo de assustador no SNES não é algo simples de ser feito) ou o Titanic simulator SOS.

Mas então, que tipo de jogo é esse joguetim de bombeiros para o Super Nintendo lançado no Japão e na Europa, jamais tendo a desbravar terras americanas?


The Firemen é um top down shooter single player (apesar de ter dois personagens na tela, já chegamos a isso) onde uma mangueira de água substitui sua arma e você assume o papel de um veterano bombeiro grisalho chamado Pete. Ele junto com seu parceiro controlado por IA, Danny, foram chamados para extinguir um incêndio na empresa química fictícia chamada Metrotech em Nova York. O prédio da Metrotech tem dezenas de andares, e o incêndio também aconteceu durante a festa de Natal da empresa, o que significa que muitas pessoas ficaram presas lá dentro. Pete e Danny têm o que é preciso para domar esse pesadelo explosivo, bem como afastar as acusações de que o enredo é uma cópia completa de Die Hard e Inferno na Torre? Vamos descobrir!

Como muitos jogos de 16 bits, The Firemen começa com uma introdução de texto rolando lentamente que mostra como e porque você está prestes a entrar no papel de um velho bombeiro e salvar um arranha-céu da destruição completa. Quer dizer, é tipo o maior incendio da história dos incendios, porque eles mandaram apenas dois bombeiros?


Uma frase da abertura é particularmente interessante: “O ano é 2010. A civilização avançou pouco nos últimos 20 anos.”. Mesmo em 1994 já existia essa coisa de "antigamente que era bom, daqui pra frente a sociedade vai só decair". Assim como os tiozões de hoje que dizem que não se faz mais nada que preste, já tinha esse tipo de pensamento no ano. E se hoje nós achamos que é ridiculo achar que1994 foi o ápice da cultura, em 2050 vamos achar o mesmo desse pessoal que hoje reclama de tudo.

De qualquer forma, uma vez que o prólogo acabou, nós começamos o jogo... ou começaríamos, não fosse o fato que esse jogo tem toneladas de dialogo antes e depois de cada fase. Normalmente isso não seria muito um problema, não fosse o fato ... que os personagens não tem nada interessante para dizer. Não existe uma grande trama, nem uma grande conspiração, nem grandes dramas pessoais nem nada, é basicamente encheção de linguiça de anime ruim, sabe? Japoneses tem uma tendencia desagradavel a verborragia (tenho certeza que eles acham o mesmo da gente, só que o contrário) e é basicamente muita falação que não leva a lugar nenhum. 


Isso definitivamente é um aspecto negativo do jogo - lendo o manual eu descobri que dá pra pular esses dialogos apertando Select, mas eu apreciaria se o jogo me dissesse isso.

Dito isso, vamos falar do jogo em si, combater fogo com fogo! Bem, com água, mas vc entendeu a ideia. Como eu disse, imagine um top down shooter onde vc atira em um bazilhão de inimigos vindo pra cima de você (não tão diferente assim de um SMASH TV da vida). Só que ao invés de balas você dispara água, e ao invés de humanos implorando para viver apenas mais alguns segundos, vc atira em ... chamas que se movem quase sensientemente.


De longe, a coisa mais agradável em The Firemen é a rapidez com que a ação rola, os controles não deixam nada a desejar do que você poderia esperar de um jogo desse genero de 1994. Na verdade esse jogo só é jogável porque os controles são afiados assim, porque o jogo funciona como um híbrido de top down shooter e bullet hell, com sua mangueira de incêndio sendo a única defesa que você tem contra ser queimado e ao mesmo tempo abrir caminho. 

O problema não é muito que o jogo faz de errado que um jogo do genero deveria fazer, pelo contrário ele faz até bem o que um jogo desse tipo deveria fazer para o ano que foi lançado. O problema é que o jogo não faz muito além disso, para não dizer nada além disso.

Você abre caminho em meio as chamas a pau e corda, desviando do bullet hell de fogo do jeito que dá durante uma hora e meia e... é isso o jogo. Não existem itens, level design, habilidades de personagem nada, é sua água infinita contra o fogo e é isso. Pra vc ter uma ideia, é um daqueles jogos que é dificil até dizer em que fase você está só de olhar porque o jogo todo parece completamente identico - todos os andares parecem iguais e todos os inimigos são apenas chamas, a única exceção é que de vez em quando você encontra um Dalek flamejante just because. Ok, essa parte foi legal, porque sempre somos a favor de pirodaleks


Mas eu dizia que a falta de variação tom é algo que cansa depois de uma hora e pouco de jogo. É legal ter momentos de tensão, mas ter o jogo inteiro em "momento de tensão" é algo que cansa antes cedo do que tarde. Especialmente quando o jogo não tem passwords, save e nem vidas extras.

O jogo oferece poucos recursos extras a sua disposição, um deles são as pessoas no prédio para salvar. Vc não precisa salvar ninguém nesse jogo, pode apenas rushar para o final da fase. Mas em o fazendo, explorando salas adicionais, você pode encontrar pessoas para serem resgatadas e ao faze-lo recupera inteiramente sua barra de HP, sendo esta a única forma de recuperar energia no jogo. Então kudos ao jogo por recompensar a exploração de forma significativa, isso tem que ser dado a eles.


A outra coisa interessante que o jogo oferece é o que fiel companheiro Danny - um colega bombeiro tão útil que  até onde eu sei, é o único bombeiro da história capaz de extinguir um incêndio cortando-o com um machado. Eu posso respeitar isso. Ele também é um desses raros momentos em um aliado controlado por IA do computador consegue ser extremamente útil para sua causa. Eu ainda preferiria que esse jogo fosse coop, mas em não o sendo, seu colega controlado pelo computador não faz feio.

The Firemen vale pela curiosidade de alugar um fim de semana, e a Human merece créditos pela tentativa de narrativa estilo filme de ação americano, mais a ação frenética que a acompanha é uma boa ideia. Pena que, como na maior parte dos projetos da Human, eles não tem o talento para bancar sua proposta criativa.


O resultado aqui é que Firemen é top down shooter apenas comum, que ganha pontos extras pela proposta diferente mas que claramente overstay your welcome.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 087


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Edição 004