Em 1988, a Disney abalou a boca do balão com seu uber sucesso "Uma Cilada para Roger Rabbit". Embora não fosse a primeira vez que um filme de live action contracenasse com personagens de cartoon (a própria Disney já tinha feito isso quarenta anos antes em "A Canção do Sul", um filme que hoje eles tem vergonha e tentam varrer para debaixo do tapete pq... bem, é um filme dos anos 40 sobre negros, eu preciso te pedir pra imaginar como isso pode ter saído errado?), era a primeira vez que alguém colocava um orçamento de peso para fazer um filme assim funcionar.
De fato, a Disney investiu tanto nesse filme que até mesmo comprou os direitos para usar personagens da Warner, da Hannah-Barbera e da Universal. Sim, esse é um filme que tem Mickey, Pica-pau, Pernalonga e o Gato Felix no mesmo filme. A eterna pergunta "quem venceria em um duelo entre Patolino e Pato Donald" finalmente foi respondida. John Disney, tal qual o lendário filosofo dos dinossauros, disse "não poupei despesas".
Embora, verdade seja dita, não é exatamente por isso que "Uma Cilada para Roger Rabbit" é mais lembrado. E sim pelo fato de que, graças a esse filme, muitos meninos e meninas pelo país inteiro descobriram o que era ter uma ereção (antes que você pergunte, não, eu só assisti esse filme quando adulto, então não foi ESSA minha primeira waifu antes mesmo de eu saber que tinha uma palavra para este triste estágio de solidão existencial). Estou falando, é claro, da musa, da lenda, do mito, Jéssica Rabbit.
Porque nenhum filme policial noir está realmente completo até que uma
gostosa entre no escritório imundo do detetive trazendo um misterioso
caso para provar a inocência do seu marido coelho de cartoon. Espera, o que?
Bem, basta dizer que trinta anos depois ruivas de olhos de verdes ainda são o pão com manteiga das fantasias de solidão nerdicas, algo muito digno de nota em um mundo tão repleto de opções para tentar te fazer esquecer o quão triste e patética sua vida de nerd solitário é.
You sure are, Jess. You sure are. |
Mas ok, aquilo foi aquilo e isso foi isso. O que nos leva ao ano de nosso Senhor de 1992, quando executivos da Paramount estavam fumando cocaína e injetando maconha quando alguém teve a ideia de "hey, porque a gente não faz o nosso próprio Roger Rabbit?". O que não é uma ideia ruim, acho que gostosas 2D no mundo real é algo apelo atemporal, não é essa é a parte que as dorgas estavam envolvidas.
Isso seria quando eles decidiram dar o projeto para Ralph Bakshi. Aí sim as dorgas pegaram pesado.
Isso porque o filme da Disney foi entregue para o diretor mais family friendly que você pode pensar: Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro, Forrest Gump, O Expresso Polar). Ok. A Paramount quis atingir os mesmos resultados entregando o filme para o diretor MENOS family friendly possível, este sendo Ralph Bakshi. Apenas o diretor da primeira animação a receber censura 18 anos nos US and A. E não foi por frescura.
Fritz the Cat, 1972 |
Sabe aqueles desenhos da Nick dos anos 90 que eram incomodo pelo prazer de serem incomodos, como Ren and Stimpy e Rocko's Modern Life? Então, eles são inspirados no trabalho de Bakshi e ele realmente gosta de meter o dedo na ferida mesmo apenas porque é assim que ele rola. Assim, para surpresa de absolutamente ninguém, Bakshi escreveu um filme de horror animado, e um particularmente esquisito: o conceito do filme envolvia um cara que vai parar em um mundo de desenho animado, dá uma carimbada na passoquinha de uma transeunte lá e de alguma forma emboneca a safada, dando luz a uma criança híbrida que anos depois vai ao mundo real para assassinar o pai que a abandonou. Yikes.
A surpresa veio quando o filme estava para começar a ser filmado, Bakshi recebeu uma versão do roteiro dele alterada pela Paramount, mas que conforme os executivos era "basicamente a mesma coisa". Basicamente a Paramount queria fazer outro Roger Rabbit (com gostosa waifu e tudo), não um filme de terror.
Bakshi respondeu a isso de forma ponderada e cristã, como qualquer um de nós faria: deu uma porrada na cara do executivo. Literalmente. Ele também ameaçou abandonar a direção da palhaçada, e a Paramount ameaçou de volta que ele tinha um contrato para cumprir e se não fizesse o processinho ia comer solto. Ele apenas deu de ombros, decidiu que não valia o trabalho e aceitou filmar essa merda de qualquer jeito. Clima bom pra fazer um filme, né?
O resultado é que, para surpresa de exatamente zero pessoas, Cool World é uma bosta desconjuntada.
Mas que bosta horrenda pode realmente fazer jus ao seu nome de bosta horrenda sem um jogo de plataforma tenebroso para Super Nintendo feito pela Ocean? Você, sabe, a Ocean, aquela empresa conhecida por fazer todas as adaptações de filmes para Super Nintendo (como Hook, Robocop 3 e THE ADDAMS FAMILY: PUGSLEY'S SCAVENGERS HUNT e LETHAL WEAPON). Mais conhecida ainda como a empresa que coloca menos esforço em fazer as adaptações de filmes do que eu gasto para soltar um peido. E isso é muito pouco esforço, acredite.
Mas ok, estou sendo grumpy porque acabei de jogar DOIS jogos hediondos da Ocean, mas kudos onde kudos são devidos, Cool World pelo menos TENTA fazer uma coisa interessante com um jogo licenciado. Consegue? Não, pq é um jogo da fucking Ocean, mas ao menos aqui eles tentaram.
A maioria dos jogos licenciados no Super Nintendo são de plataforma e realmente não tentam fazer nada além disso. A maioria, como CHESTER CHEETAH: TOO COOL TO FOOL, é esquecível. Cool World escapa dessa pexa ao tentar ser um jogo de plataforma com elementos de point'n click (ou Adventure, como a Ação Games chamaria).
A maioria dos jogos licenciados no Super Nintendo são de plataforma e realmente não tentam fazer nada além disso. A maioria, como CHESTER CHEETAH: TOO COOL TO FOOL, é esquecível. Cool World escapa dessa pexa ao tentar ser um jogo de plataforma com elementos de point'n click (ou Adventure, como a Ação Games chamaria).
Como jogo de plataforma, o jogo é visualmente poluído e os controles são tão rígidos quanto um cadáver. Isso é mais culpa do filme do que do jogo, verdade, mas ainda sim tem sempre muita coisa acontecendo na tela ao mesmo tempo para o seu próprio bem.
Acho que não tenha um momento no filme que não tenha algo aleatório passando na tela apenas pq sim, então nesse sentido o jogo é fiel ao filme, eu suponho. |
Existem alguns inimigos que matam instantaneamente, e esquivá-los ou
combatê-los é inconsistente. E por que o pulo é no Y? Não consigo
pensar em outro jogo que não seja Cool World salto nesse botão. Enfim, é a sua corrida-do-moinho de sempre da Ocean: controles ruins e gameplay zero criatividade.
Já a parte que o jogo tenta usar elementos de point'n click, não é muito melhor executada, mas ao menos ganha pontos pela originalidade. Os puzzles são extremamente simples - os dois primeiros "quebra-cabeças" são entrar na biblioteca, encontrando um livro para devolver e angariar dinheiro suficiente para entrar na boate, mas eu não vejo a simplicidade como problema. O problema é que não vai além disso - o jogo tem apenas dois ou três puzzles assim, a sensação é que eles simplesmente desistiram da ideia no meio do caminho. Alias nem no meio, logo no começo mesmo, já que o tema praticamente morre depois da segunda fase.
Sabe o que isso parece? The Simpsons: Bart vs Space Mutants e isso não é elogio algum, mate.
Coletar um o que? |
Agora, sabe o que faz um adventure realmente funcionar? Ter a minima noção do que você deveria fazer ou qual é o seu desafio aqui! Ir para a direita não funciona, então o que você deveria estar fazendo para passar de fase? Os desenvolvedores acharam que não precisam te dizer isso.
Já que você é vomitado nesta terra de merda pixelizada sem nenhuma direção, o jogo é basicamente andar aleatoriamente morrendo para uma coisa ou outra. De fato, alguns itens que você tem que coletar vão te matar. Ocasionalmente (sempre), um carro da polícia cheio de homens Lego para e eles enxameiam sua bunda. Você então vai à delegacia onde a versão mais mal desenhada de Brad Pit existente diz para você se cuidar. Você então volta para o mundo menos cool ever e é imediatamente preso mais uma vez pela mesma cria de satã anã azul do inferno. Desta vez, no entanto, Pitt diz algo como "Eu avisei você !!!" e rouba todo o seu dinheiro. Agora que penso nisso, muitas coisas neste jogo roubam todo o seu dinheiro ou te matam se todo o seu dinheiro já tiver sido roubado anteriormente por outra coisa.
A pior parte é que como o jogo é tão visualmente poluído, você não consegue diferenciar quais bonecos na rua são inimigos que te matam/roubam seu dinheiro e quais são NPCs que você tem que interagir para seguir com suas quests.
Eu gosto mais pela Ocean ter tentado fazer do que pelo que ela fez, realmente. Teria sido fácil para a Ocean Software lançar Cool World como um jogo de plataforma padrão de filme, mas, em vez disso, eles criaram um jogo de plataforma estranho que secretamente quer ser um adventure. E falha completamente nisso, mas ao menos eles tentaram - mesmo que seja só para imitar o jogo do Roger Rabbit. Isso é alguma coisa, eu suponho.