sexta-feira, 6 de agosto de 2021

[SCD/SCD32X] FAHRENHEIT (Maio de 1995) [#740]


Quando eu falei sobre SUPREME WARRIOR, o jogo que me faz cobiçar um 3DO, eu comentei que quando eu era criança, imaginava que jogos de Full Motion Video eram na verdade espaços 3D em imagens filmadas (ou animação) que você poderia ir para qualquer lugar. Como isso seria tecnicamente possível eu não fazia ideia (magika, basicamente), mas então eu era criança e não realmente entendia sobre questões tecnicas.

Hoje que eu sei um pouco mais das coisas, entendo que isso não era tecnicamente possível em 1995... e mesmo hoje seria complicadinho de fazer. Os prazeres da inocência, eu te digo. Não, espera FBI, essa frase não quer dizer o que vocês acham que quer dizer!

Então meu pontos que jogos em FMV eram basicamente filmes rodando em que você aperta um botão para não "morrer", ou as vezes ativar um filme diferente e só - não é como se você tivesse liberdade para rodar por aí dentro de um filme como eu imaginava que fosse quando criança.

Porém se fosse possível fazer tal coisa, fazer um ambiente de free roaming dentro de um "filme", o que eu não imaginava é que esse jogo aqui foi o que mais perto chegou de realizar tal proposta.

Fahrenheit é outro pacote dos jogos dos sonhos de criança para Sega CD, se em  KIDS ON THE SITE você era uma criança operando maquinário de construção pesado (o que parece realmente awesome quando você é pequeno e não entende nada sobre trabalho), aqui você faz outra coisa que parece realmente awesome para crianças: ser bombeiro. Entrar em prédios em chamas, resgatar pessoas e animais... e impedir um cientistas louco de detonar uma bomba nuclear? Uau, bombeiros fazem mais coisas do que eu podia imaginar.

O FBI está ocupado o campeonato interséries, então mandaram os bombeiros mesmo

Seja como for, a produção da Sega foi realmente caprichada aqui porque as cenas de andando por uma casa em chamas realmente parece com um incendio de verdade, coisas desabando, tudo pegando fogo, aparelhos elétricos desabando, enfim uma produção que não fica devendo a uma produção televisiva para evocar o melhor do Faustão dentro de você.


Não apenas o cenário é decente o suficiente, mas o jogo toma algumas medidas para garantir o senso de urgencia e confusão que deve ser entrar em prédio em chamas. Primeiro que existe um limite de tempo (que representa o seu suprimento de oxigenio do seu equipamento, já que não dá pra respirar dentro da fumaça), segundo que como a camera balança e chacoalha nem sempre é muito claro para que lado o personagem está indo (você aperta ir para a direita, mas as vezes a camera se mexe e o que você achou que era direita faz ele ir pra esquerda, ou algo assim).

Normalmente eu veria isso como um defeito de design, mas eu totalmente entendo que isso é intencional para representar a desorientação que a experiencia propõe. Eu realmente imagino que para um bombeiro na vida real se mover em um prédio em chamas colapsando deve ser caótico e confuso desse jeito, então kudos pelo esforço extra da Sega.

Shit is on fire, yo

Então o jogo é basicamente isso, você anda por uma casa em chamas a cada tela escolhendo para qual próxima tela vai ir. Não existe um hud com mapa atualizado em tempo real (até porque bombeiros não tem isso), mas os mapas das fases vem com o manual do jogo - então você tem que se orientar no bom e velho metodo texano de olhar no papel mesmo e tentar entender o que é esquerda, direita, cima ou baixo. Mais uma vez, dentro da proposta caótica do jogo e isso é okay. De verdade.

Com base nessa estrutura você tem missões dentro das fases. Na primeira fase, por exemplo, você tem que encontrar e desativar dois itens inflamaveis dentro da casa (para impedir que ela exploda de vez, estudos sugerem que estar dentro de uma casa que explode apresenta riscos moderados a sua saúde) para só então encontrar uma pessoa dentro da casa em chamas - e depois dar o fora dela.


É uma proposta simples, mas bacana dentro  do possível: navegar pela casa é interessante, as filmagens da casa em chamas tem valores de produção até inesperados, tem a sensação de urgencia, tem várias coisas acontecendo e a sensação de ser um bombeiro é bem representada. De modo geral, é uma experiencia interessante se mais nada pela novelty disso.

... ou seria, se a Sega não tivesse gasto todas ideias, esforço e orçamento na primeira fase, pq a segunda e a terceira são incrivelmente repetitivas e tediosas. E sim, são apenas três fases. Pq não, sério, esse é o mapa da segunda fase:



E o que você tem que fazer aqui é entrar em todas as salas até achar o seu alvo. Eu não to de sacanagem, é isso o jogo. Entrar de sala em sala nas 30 e poucas que tem distribuidas em três andares quadrados. Na ultima fase não é muito melhor que isso, você tem apenas que andar em um labirinto para deter o cientista louco com uma bomba nuclear (pq bombeiros estão fazendo isso, afinal?).

É definitivamente mais desafiador que a fase do hotel porque o mapa da terceira fase tem mais de um ponto de entrada possível e você tem que se achar no mapa até para deduzir onde vc começou, mas não realmente mais divertido porque não tem nada pra fazer senão andar por corredores vazios.


Eu entendo que a Sega não tinha o orçamento, tempo e até mesmo interesse em fazer o jogo mais variado como a primeira fase, mas isso daí já é sacanagem também né!

Ah bem, enquanto 2/3 do jogo são dolorosamente tediosos, ao menos encontrar algum conforto de que o jogo faz o seu melhor para conseguir ter uma música-tema tão constrangedora quanto NIGHT TRAP. Feel the heat... of the fire!


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 016


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 003