Seus punhos estavam ensanguentados, mas ele continuava socando ritmicamente contra a rocha. Ele não tinha escolha, estava literalmente no inferno e a única forma de escapar dessa maldição era quebrar vários metros de rocha pura usando nada senão apenas suas as mãos nuas. Pior ainda, o destino dos amigos, de sua família atrás dele também dependia de sua provação torturante.
Finalmente, suas mãos nuas atravessaram a rocha, o ar fresco fluiu para o túnel apertado que ele havia cavado meticulosamente, mas seu alívio durou pouco. Do outro lado da rocha havia, de fato, a saída, a passagem a terra prometida. Para seu horror, entretanto, entre o Eden contado por incontáveis gerações de mamães Lemmings aos seus filhotes Lemminguinhos e o túnel de fuga recém-cavado no qual ele depositara todas as suas esperanças não havia uma inclinação gradual rumo a liberdade. Em vez disso, à sua frente havia uma queda uma dúzia de vezes maior que sua própria altura.
Folclore é uma coisa muito doida, quando você pensa sobre isso. Normalmente ele surge quando as pessoas precisam de uma explicação simples para algum evento sobre a natureza e passa a ficar cada vez mais e mais elaborado com o passar do tempo. Por exemplo: antigamente, as pessoas mais simples não sabiam porque os cadáveres ficavam inchados após a morte, então obviamente a resposta era que eles saiam por aí tocando o terror e bebendo o sangue dos vivos - já que não raramente esses cadáveres inchados rasgavam e era sangue podre pra caralho. Foi assim que nasceu o mito dos ghouls, que posteriormente foi refinado no imagino popular até se tornar o que nós entendemos como vampiros hoje em dia.
A explicação real é que os gases produzidos pelas bactérias que fazem a decomposição fazem isso.
As vezes, é claro, esses folclores nascem por parte de uma necessidade bastante especifica - como quando uma mocinha no norte do Brasil engravida de um vagabundo aleatório qualquer e precisa de uma "versão oficial moça decente" para poder seguir com a sua vida, então surge a desculpa que foi o boto safadão que usou seus poderes mágicos de pokemon. Ela finge que é verdade, a gente finge que acredite e bola ao centro, vida que segue e tudo certo.
As vezes as coisas apenas saem de controle na hora de recontar uma história, acontece bastante.
Um dos mais mirabolantes são sobre os lêmingues, pequenos roedores não muito espertos (diferente dos ratos) que costumam aparecer em hordas do nada em algumas regiões da tundra europeia e norte do continente americano, e as vezes desapareciam tão rápido quanto surgiam. A explicação para essas criaturas, é claro, que eles caíam dos céus durante a estação das chuvas e morriam quando a grama voltava a crescer na primavera. Bem, isso realmente explica tudo, não?
Esse mito foi refutado pelo especialista em história natural Olaus Wormius, que aceitava que os animais caíssem do céu, mas teriam que ter sido trazidos pelo vento, nunca gerados com geração espontânea. Porque, né? Vamos botar ordem aqui!
A verdade é que os lêmingues são roedores que se reproduzem tão freneticamente que a sua população se torna insustentável porque eles acabam com todos os recursos da região onde estão. Então eles saem em desespero migrando em bandos para outras regiões e, como não são animais muito espertos, eventualmente acabam caindo de penhascos ou se afogando no meio do vamo-que-vamo.
Isso levou ao mito que lêmingues cometiam suicídio em massa, embora nunca tenha sido registrado um único lêmingue ouvindo My Chemical Romance. O folclore do suicídio dos lêmingues ganhou ares de ciência em 1958, quando a Disney levou o Oscar de melhor documentário pelo filme "White Wilderness" que registrava esse curioso evento do folclore popular.
Apenas muitos anos mais tarde é que veio a tona que essa cena foi armada e a massa lemingueira foi jogada de um penhasco pela equipe do seu Didney. É óbvio que bobagens como algo ser verdade ou não tem zero influencia no imaginário popular, e até hoje esse mito é bastante forte.
Então porque não fazer um videogame sobre ele, né não? Espera, o que?