Hoje, jogos de tiro em primeira pessoa não são tão especiais. Você não consegue realizar uma simples busca no Google sem esbarrar em um deles, na verdade se você pegar o seu smartphone nesse momento e dizer "Ok Google, me mostre imagens das coxas da Rikka", grandes são as chances que você terminará essa ação jogando algum jogo de tiro em primeira pessoa. Apenas aceite, é assim que as coisas são.
Porém, em 1991 as coisas eram bastante diferentes. Enquanto jogos de tiro em primeira pessoa existiam nos computadores, ninguém realmente imaginava que o Super Nintendo pudesse rodar um jogo assim tranquilamente - taí Racing Drivin que não me deixa mentir, rodando a gloriosos 5 quadros por segundo.
Muito menos então que o primo modesto e portátil do Super NES, o Gameboy conseguisse fazer isso. Quer dizer, o poder de processamento do Gameboy era o que? Duas batatas chips e uma foto do Cumpadi Washington?
Por isso ninguém, e eu digo absolutamente ninguém podia esperar que a Xanth Software F/X conseguisse lançar um jogo de tiro em primeira pessoa para o modestissimo Gameboy. Como eles conseguiram fazer isso sem o portatil implodir em chamas é talvez o maior feito da história dos videogames (embora você literalmente consiga sentir o aparelho suando em bicas quando mais de um objeto aparece na tela). Então Faceball 2000 para o Gameboy é nada menos do que um fodendo milagre, e roda relativamente bem, todas as coisas consideradas.
Mais impressionante do que isso é o fato que esse jogo pode ser jogado multiplayer. Se você tivesse até 15 amigos que tivessem gameboy e cada um com uma cópia desse jogo, todos vocês 16 poderiam conectar seus gameboys uns nos outros e entrar na arena para tirar um versus. Que cena linda.
O que é uma ideia tão radical quanto imprática. Se você tinha um Gameboy, poucas são as chances que você tivesse amigos. Quiça 15. E que todos todos vocês escolhessem comprar esse jogo... bem, não acho que preciso calcular as chances. Ainda sim, você entendeu o conceito.
Chick Magnet, eu te digo |
Então, Faceball 2000 é um feito técnico absolutamente impressionante. É um jogo absolutamente bosta, mas a realização é incrível. Agora, você pode estar se perguntando porque eu estou falando tanto da versão do Gameboy se o meu negócio são jogos de console.
Ora, muito simples: a versão do SNES é um port do jogo para o Gameboy, lançado um ano depois e com multiplayer limitado a 2 jogadores. Ou seja, grande parte (para não dizer todo) charme do jogo é sua impossibilidade tecnica de existir, estripada disso (não que o SNES seja uma puuuuuuuta máquina, mas certamente é menos impressionante que o Gameboy rodar esse jogo) a experiencia se resume ao gameplay e... bem, como eu disse, é um jogo meio bosta.
Ora, muito simples: a versão do SNES é um port do jogo para o Gameboy, lançado um ano depois e com multiplayer limitado a 2 jogadores. Ou seja, grande parte (para não dizer todo) charme do jogo é sua impossibilidade tecnica de existir, estripada disso (não que o SNES seja uma puuuuuuuta máquina, mas certamente é menos impressionante que o Gameboy rodar esse jogo) a experiencia se resume ao gameplay e... bem, como eu disse, é um jogo meio bosta.
Vê, você começa nesta arena. Há uma parede à sua direita, uma parede à sua esquerda, uma parede em algum lugar à frente, e você está em um corredor. Sendo a pequena bola sorridente que você é, você começa a flutuar para frente. Chocantemente, as paredes se dimensionam ao seu redor. A sensação de 3D não é apenas alguma ilusão: você realmente passando por um corredor em 3D. Muito fixe. Então você percebe outra cara sorridente. ''Seu piltre!", você grita alto o suficiente para acordar o bairro. "Perecei, vil vilão!"
Então você pressiona um botão, e aparece um uma bolha. É uma bolha amarela, e ela flutua preguiçosamente em direção ao seu adversário. Ele vira e o tiro que você acabou de disparar lentamente erra. Horrorizado, você começa a flutuar para longe do seu oponente. Mas não há necessidade: seu oponente não disparou um tiro sequer. Em vez disso, ele parece estar contemplando as obras de algum filósofo antigo, talvez Confucio.
Atordoado com a sua boa sorte, você pressiona o botão de tiro novamente. Você dispara outra bolha e ela não se move mais rápido do que o último que você disparou. Em sua pressa para corrigir o seu alvo, você virou muito para a direita, no entanto, e o segundo tiro se perde. Agora você estaria tremendo em suas botas se você usasse alguma ao invés de ser apenas um smiley flutuante.
O oponente finalmente decide que talvez devolver fogo será apropriado, e assim que você vê uma esfera que dirige para você. Tudo é em Slow-Motion. Então, a próxima coisa que você sabe, é que você tomou um hit. Sua tentativa de esquivar foi um fracasso total.
Se você está pensando agora que faceball 2000 é um jogo ruim que sofre por causa de sua detecção de hit péssima, você está certo. Mas o problema maior nem é esse e sim que esse pequeno paragrafo acima é TODO o jogo. Ok, atirar em emojis em um labirinto 3D é uma novidade impressionante para a época, mas isso é TODO o jogo e após 15 segundos você já fez tudo que tinha para fazer nesse jogo... que dura mais de duas horas!
Santa insanidade matemática, bátima!
Santa insanidade matemática, bátima!
Então Faceball 2000 é um jogo bem ruim, mas uma exibição tecnica bastante impressionante. Mesmo no Super Nintendo o sistema simplesmente não foi feito para lidar com três dimensões. Mesmo que os pisos e as paredes sejam lisos, e mesmo que as bolas pareçam mais com bolhas deformadas do que com armas, é impossível esquecer que o que você está olhando não deveria ter sido possível na caixa cinza e roxa da Nintendo, quanto mais em seu modesto portatil.
É claro que a questão no final do dia é a seguinte: o Faceball 2000 realmente vale a pena ser jogado? E a resposta, infelizmente, é que, a menos que você seja um esquisito apaixonado pela história dos videogames, não é. Eu adoraria ver alguém atualizar isso, é claro. Com alguma arquitetura impressionante e vibrante e a ação frenética que tenho certeza que os desenvolvedores tinham em mente quando fizeram o Faceball 2000, uma atualização poderia ser o hit do ano. Pensando bem, eu diria até que Splatton é o sucessor espiritual de Faceball 2000, sendo quase vinte anos depois o jogo que as bolinhas coloridas (ou não no gameboy) ousaram sonhar em 1991