O Diabo da Tasmania, Taz para os intimos, é um personagem estranho. Originalmente ele apareceu em alguns episódios (não tão inspirados assim) do Pernalonga em 1964, onde ele era uma fera de apetite insaciavel e não muito esperta que tentava comer o protagonista - no que ele era selvagemente engambelado pela esperteza do coelho, como de costume.
Quase 35 anos depois, a Warner achou que seria uma boa ideia tirar esse personagem da geladeira e dar-lhe uma série como protagonista. Mais especificamente, uma sitcom sobre ele! Sim, nosso insaciavel marsupial que mal consegue articular duas palavras agora tem uma família suburbana, um emprego bosta e vários personagens recorrentes para piadas recorrentes (como Taz tentando e falhando em comer um Kiwi e ratos canibais tentando fazer o mesmo com ele
... o que eu tenho que dizer, foi uma ideia realmente boa. Eu adorava esse desenho quando era criança. e não apenas eu já que o desenho não apenas teve cinco temporadas como catapultou um inimigo aleatório do Pernalonga a uma das estrelas dos Looney Toons!
Mas hey, como pode haver um cartoon de sucesso nos anos 90 sem uma tentativa de capitalizar em cima deles com um joguete safadenho? A resposta simples é que não pode, então foi assim que a Recreational Brainware (cujo outro único jogo produzido é The Amazing Spiderman vs Kingpin) surgiu com Taz-Mania para Mega Drive.
Como você pode esperar, Taz-Mania é um jogo de plataforma. E como você pode esperar mais ainda, é um daqueles jogos em que as fases são estilo labirinto e você tem que rodar pra cima e para baixo para achar a saída. Eu realmente não gosto deste estilo de jogo, porém farei o melhor para não repassar isso na review já o jogo é do genero que ele é e não é culpa do genero se eu tenho um problema com isso.
Os bons jogos de plataforma não possuem uma formula tão dificil de decifrar: pegue um personagem carismático, coloque-o em uma missão passando por fases em cenários variados, dê a ele alguns poderes, adicione alguns itens aqui e ali, coloque alguns chefes ... e aí está você com um bom jogo de plataforma novinho em folha. Taz-Mania segue essa cartilha ao pé da letra.
Nosso história começa com o papa-Taz contando uma história para seus picorruchos pimpolhos tasmanianos:
Ao que nossos heróis reagem como qualquer adolescente reagiria quando o pai começa a contar aquelas histórias chatas pra caralho, mas faltam dois dias para sair a mesada então é importante fingir que se importa:
Agora, o que realmente me intriga nessa cena é... o que é aquele quadro ali atrás? Porque não estamos falando dessa sublime obra d earte ao invés disso?
Papa-Taz aproveita o raro momento de atenção de seus filhos e mostra ser um homem de cultura, exibindo seu cachimbo - prova definitiva que ele é um adulto de classe. Esse desenho animado passou no começo dos anos 90, então era assim que se mostrava que você tinha elegancia. Adicionalmente, essa era a piada recorrente na sitcom do desenho animado, que o pai deles sempre parecia descolado e classudo não importa o que acontecesse.
Dono de uma larica que empalideceria a Magali, Taz parte em busca do ovão da porra e essa é toda a história do jogo. O que, pensando bem, não é uma comparação justa. A Magali namora um menino só porque ele trabalha em uma padaria e ela pode comer a vontade enquanto estiver gerenciando a cueca virada dele - e em mais de uma oportunidade ela diz que é só por isso mesmo, não acho que exista um episódio de Taz onde ele se prostitua por comida. A Magali precisa de ajuda.
Seja como for, nesse jogo Taz pula e tem um gimmick como ataque especial: ele vira um tornado e enquanto está nessa forma ele é invencivel. O que é, ao mesmo tempo, seu maior poder e sua ruína.
Isso porque enquanto está rodopiando como o quase-australiano da casa própria, Taz de fato é invencível porém ao mesmo tempo ele se move tão rápido quanto o Sonic depois de experimentar uma cueca feita de wasabi e essa é a pegadinha aqui, porque o jogo é repleto de buracos e instadeaths, de modo que sair como um louco esgualepado vai apenas trazer dor.
Não come isso, Taz, larga a bomba! Não come a bomba! |
O segredo é rodopiar o bastante para matar os inimigos, mas não demais para que você não vire o tema do próximo Velozes e Furiosos, e isso é de fato uma mecânica interessante. Outro desafio do ataque tornado é que ele destrói não apenas inimigos, mas também itens benéficos como energia e vidas extras, então ele REALMENTE deve ser utilizado com parcimônia.
Agora, você pode estar se perguntando onde está o cocô desse jogo, não? Pq sempre tem um cocô.
WHERE IS THE POOP, RECREATIONAL BRAINWARE?
Bem, tem algumas coisas que esse jogo faz de errado. Em primeiro lugar, o jogo exige saltos as cegas demais para avançar. Isso quer dizer que é comum você chegar em um ponto em que seu único meio de progredir é pular as cegas e torcer para cair em uma plataforma, isso acontece simplesmente vezes demais.
Adiconalmente, mesmo que você saiba onde tem que pular (frequentemente não sabe) o pulo é estranho e você nunca tem total controle de onde o Taz vai cair. Errar o pulo e perder uma vida ou voltar para o começo da fase por causa dos controles é algo que também acontece vezes demais.
Esse é o lendário ovo que alimentaria uma familia de Diabos da Tasmania por um ano. Deve render pra caralho essa porra... |
Porém esse nem é o principal problema do jogo e sim que no terço final do jogo os desenvolvedores dão uma guinada bruta na dificuldade e o jogo passa a exigir uma série de saltos precisos enquanto introduz novas mecânicas que não são claramente explicadas.
Por exemplo, em uma fase perto do fim você tem que atravessar um rio saltando em toras em movimento. Não apenas isso já é dificil por si só devido aos problemas anteriormente mencionados, como também você tem que realizar saltos em profundidade já que existem três faixas de troncos boiando no rio e para trocar entre elas você tem que apertar alguma coisa durante um certo tempo durante o pulo. O que, exatamente, e por quanto tempo, é algo que não é dado aos mortais saberem.
E eu não vou nem começar sobre a fase dos carrinhos de mina...
Pensando bem, esse jogo é recheado com todo o truque de plataforma chato concebido por designers de jogos interessados em alongar artificialmente o jogo durante o jogo todo, não apenas no final. Dentro dos primeiros dez segundos você estará afundado em areia movediça enquanto é atacado por inimigos indestrutíveis!
Não ajuda que Taz coma tudo o que ele toca, então se você fizer um salto as cegas e tiver uma bomba quando você cair (normalmente tem), ele vai comer e tomar bastante dano. Claro, você pode cair rodopiando no tornado, mas boa sorte tentando parar o Taz depois que ele sair em disparada antes que ele caia em algum buraco.
Taz-Mania é um jogo muito bonito, tanto o audio quanto os gráficos fazem justiça ao desenho animado que o inspirou, e o personagem tem um gimmick interessante como ataque especial. Entretanto o jogo abusa demais da filosofia "papa-fichas" de tentar alongar artificialmente o jogo o tornando dificil do modo errado por vezes demais.
*por "dificil do modo errado" entenda-se quando o jogo decide que vai foder sua vida e você não tem ação possível a tomar contra isso, não é um questão de falta de habilidade sua (Cuphead é "dificil do jeito certo") e sim que não tem realmente nada que você possa fazer quanto a isso.