domingo, 28 de novembro de 2021

[#780][ARCADE] ELEVATOR ACTION RETURNS [Dezembro de 1994]


Elevator Action... cara, taí um nome que eu não pensava nele literalmente a decadas. Mais precisamente, eu nem pensava nesse nome pq esse é um daqueles jogos que eu sequer soube o nome por muitos e muitos anos, conhecia apenas como "o jogo do elevador". Por sorte, o título é bastante autoexplicativo.

Eu ganhei meu famiclone numa época que alugar jogos em locadoras ainda não era uma coisa - eu fiquei muito surpreso quando cheguei na locadora do bairro sexta-feira e tinha alguns jogos de Nintendinho pra alugar, eu nunca tinha pensado nessa possibilidade. Então os jogos que eu tinha pra jogar eram os jogos que eu tinha pra jogar, como eu já comentei sobre DUCK MAZE ser o primeiro jogo que eu joguei.

Outros jogos eram o FUTEBOL da Milmar, 1942 (um shmup) e... Elevator Action. Se eu não me engano, eu passei da primeira fase de Elevator Action poucas vezes na vida, mas eu ainda lembro da animação do espião saindo do prédio e indo embora de carro, era muito legal na época.


Ah, mas sim, Elevator Action é um arcade de 1983 (obviamente portado para o Nintendinho alguns anos depois) em que você é um espião que entra pelo alto de um prédio, vai descendo de elevador (daí o nome do jogo) e no caminho tem que entrar nas portas vermelhas para roubar segredos. Como não podia deixar de ser, todos residentes do prédio são agentes da Matrix programados para te meter pipoco no meio do caminho. O jogo tem alguns detalhezinhos interessantes, como você pode controlar o elevador ou até mesmo atirar nas lampadas para escurecer o andar.

Ainda sim, é um jogo bem simples (novamente, é um arcade de 1983), mas no que ele se propõe a fazer é competente para sua época.

Bem, mas e porque eu estou falando do Elevator Action? Pq ONZE anos depois a Taito decidiu que queria trazer o jogo de volta e a forma de fazer isso era fazer um gritty reboot dele.

UM ... O QUE?

Quando uma empresa quer trazer de volta algo que foi sucesso para crianças de uma geração, uma estratégia é considerar que aquelas crianças cresceram e agora querem uma versão adulta e séria, mais realista e complexa desse produto. O exemplo mais classico é Batman Begins: depois do carnaval de indução a ataques epiléticos que os filmes do Batman tinham virado (com direito a Batmamilos e Batcard), Christopher Nolan fez um filme sério, realista e sombrio do Cavaleiro das Trevas.

Outro exemplo bem famoso foi um video fanmade gritty reboot violento e dramático dos Power Rangers que eventualmente inspirou o filme de 2017.


Então agora que estabelecemos isso, isso nos leva a um Gritty Reboot de Elevator Action. O que significa gráficos atualizados, mais explosões, mais sangue, uma operação paramilitar e essa porra toda "seriona" anos 90. 


Achou que eu tava brincando? Pois é. Mas quer saber? Até que ficou bom, olha só.

Pra começar, como eu disse, os gráficos não apenas foram atualizados mas ficaram muito mais violentos, com inimigos esparrando sangue quando atingidos e, melhor ainda, a maior parte das coisas do cenário é destruível. Enquanto no jogo original voce podia atirar nas lampadas para apagar as luzes, agora voce pode atirar nos disjuntores para cair a luz do andar. 

Ou atirar nas barreiras, nos obstaculos, até os sacos de cimento que parecem ser background podem ser destruídos e todo gamermaníaco sabe que destruir o cenário sempre dá um toque muito legal a qualquer jogo - não sendo esse uma exceção. MAIS melhor ainda, destruir o cenário não tem efeito apenas estético: você pode criar armadilhas de chamas que incinerarão os inimigos que por ali passarem. Aí sim bebê, é disso que eu to falando!


Nessa cena, por exemplo, você atira em um tambor de explosivo que não apenas ele explode, como ele explode o caixote do cenário, explode os inimigos que estão ali, explode os seus colegas, explode os meus auxiliares, vai me explodir, estamos todos confiando no senhor e ainda bota fogo em qualquer inimigo que passar ali. Agora esse é o nível de interatividade que eu espero de um arcade, pipoco comendo, coisas explodindo, cenário interagindo, a porra toda.

Lindo.

Mecanicamente, uma coisa que você notará é que este jogo é muito mais rápido que seu antecessor.  EAR joga muito mais como um run'n gun moderno (moderno para 1995, isso é) do que um arcade  de 1983. Esse update absolutamente necessário significa que agora seu personagem agora pode correr e dar saltos mais rápidos e longos do que antes, e não apenas isso mas pular em cima dos inimigos já o faz ataca-los automaticamente, criando cenas que parecem saídas de John Wick: pula em cima do cara, mata ele com um golpe, já cai no chão virando pro outro lado e metendo bala em quem tá vindo. Boa e velha ultraviolencia, meus drugues.


Outro upgrade da versão original é que o jogo apresenta mais de um tipo de inimigo agora, e alguns precisam de mais de um golpe para serem derrotados. Eles variam de caras com gabardines, homens de negócios de terno, homens usando trajes de biohazard, punks com camisas havaianas, policiais com equipamento anti-riot e Dobermans. As câmeras de segurança são outra novidade e geralmente são colocadas perto das portas vermelhas que você tem que entrar. Se uma câmera te ver, um alarme dispara e mais inimigos aparecerão, tornando-o fundamental para atirar na câmera antes de ser inundado com inimigos.

Outra coisa que eu gosto muito em Elevation Action Returns é o quanto eles se esforçaram para sempre tentar manter as coisas novas e interessantes e que você nunca sabe o que vai acontecer dentro de um determinado nível. Durante a primeira missão, depois de recuperar dois documentos, a parte superior do edifício explode, enquanto um helicóptero passa voando com um homem em um terno vermelho gritando algo sobre uma revolução. Durante a segunda missão, um dos caras de hazmat está patrulhando o terminal do aeroporto. Você faz o tiroteio dentro do aeroporto e então entra dentro de um Airbus, apenas para a fase continuar dentro do avião! 


Então com todas essas mudanças para tornar o jogo mais ultradinamico, violento e cool, é até estranho imaginar que ele meio que mantém o espirito do jogo original - mas é assim que é. Eles conseguiram fazer isso, passar a sensação que é uma versão moderna do jogo original e não um jogo inteiramente novo, mantendo algumas mecanicas básicas.

Os elevadores, por exemplo, funcionam da mesma forma e são até um pouco travados de operar. O que parece meio deslocado nesse jogo novo e ultradinamico, mas eu senti que funciona para te lembrar do original. Outra mecanica que torna esse jogo artificialmente mais duro e pode até parecer estranha nessa proposta, mas que serve para te lembrar do original é que você nunca pode pular para o andar abaixo: seu personagem morre imediatamente. Você PRECISA usar o elevador para subir ou descer, mesmo que faria muito mais sentido apenas pular.

Porém, como eu disse, essa foi uma escolha deliberada para dar o jogo um feel do jogo original - que era bem duro e travado em seus comandos, sendo um jogo de 1983 - dentro da nova roupagem de ultra ação e violencia. Eu sinto que a tentativa funcionou, eu realmente senti que estava jogando um Elevator Action moderno e não um run'n gun genérico novo.


Como aspecto negativo, bem, eu diria que o meu único problema com o jogo é o óbvio: ele é um jogo de arcade. O que significa que ele foi feito para comer a maior quantidade de fichas possíveis no menor espaço de tempo possível - e o mesmo se aplica para o port de Saturn, feito alguns anos depois. Eu entendo que é meio pointless reclamar disso num jogo de arcade porque é assim que as coisas são, mas definitivamente essa dificuldade ultraexagerada diminui a diversão da coisa pra mim. Se não é um problema pra vc, yay, tanto melhor.

Então o jogo seja um gritty reboot com sucesso do jogo original, e um bom jogo de ação enquanto faz isso, Elevation Action Returns não se saiu tão bem comercialmente. Quer você culpe a popularidade dos jogos de luta nos fliperamas da época ou o declínio geral dos fliperamas durante a época, uma coisa é certa: o jogo não chegou na hora certa, já que é uma sequência de um jogo feito 11 anos antes. As pessoas que viram isso em fliperamas provavelmente nunca jogaram o original, e as pessoas que jogaram o original provavelmente não frequentavam mais fliperamas. O que é realmente uma pena, é um bom arcade.

Um que absolutamente ninguém pediu - um reboot de um arcade da decada passada. A surprise to be sure, but a welcome one.

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