terça-feira, 16 de novembro de 2021

[#773][SNES] MIGHTY MORPHIN POWER RANGERS: The Movie (Junho de 1995)


Não é muito segredo para as três pessoas no mundo que já falaram comigo que eu sou um grande advogado em favor do Tokusatsu. Quer dizer,  o que há para não amar? Pessoas com fantasias ridiculas lutando contra monstros de borracha pela justiça com robos gigantes. Então, colocando assim é estranho que eu não poderia cagar mais para Power Rangers, mas é assim que o é.

E não, não é por causa de um purismo de fã "ainn porque o original", nenhum bullshit desses. O meu problema é que Power Rangers é escrito para crianças. 

MAS TOKUSATSU TAMBÉM É FEITO PARA CRIANÇAS!

Verdade, mesmo a série de Tokusatsu mais madura, Kamen Rider, ainda sim é um comercial para vender brinquedos para crianças. Mas existe uma diferença fundamental na forma como japoneses e americanos entendem "para crianças". No Japão um programa infantil pode tocar em temas interessantes, desenvolvimento de personagens, ter momentos emocionalmente marcantes ou mesmo uma razão artistica de ser.

Já americanos entendem "para crianças" como "para crianças em idade pré-escolar", muito mais perto de Dora Aventureira do que o seu tipico anime.

ISSO PODE TER SIDO VERDADE NOS ANOS 90, MAS NÃO É NECESSARIAMENTE MAIS O CASO.

Fato, Jorge. Nos seus melhores dias este não é mais o caso. Nos últimos vinte anos, a televisão infantil  americana evoluiu. Como descreve Lauren Montgomery, uma das criadoras do novo Voltron: Legendary Defender:

“Muito do que se escreve para programas infantis agora, o padrão foi elevado. Há muitas coisas que as pessoas podiam fazer no passado e que não podemos fazer agora. ”

Séries como Avatar: The Last Airbender, Gravity Falls, Steven Universe e My Little Pony: Friendship is Magic ampliaram os limites do que a TV infantil americana é capaz. Eles ajudaram a elevar esse nível.


Avatar provou que você pode contar uma história serializada onde os personagens crescem e mudam. Gravity Falls provou que você pode contar muitas histórias malucas e únicas que ainda são divertidas e instigantes. Steven Universe prova continuamente que você pode contar contos emocionalmente pesados para crianças, com algumas das melhores representações de diversidade na televisão. My Little Pony, o primeiro dessa nova geração, prova que se você não tratar as crianças como idiota e lhes der world building consistente e personagens sinceramente escritos - as vezes desafiando os clichés esperados - as crianças vão perceber a diferença.

Isso tudo é verdade. Mas também verdade que mais sim do que não, Power Rangers não está tentando fazer nenhuma dessas coisas. Quem quer que seja a culpa, Power Rangers está perfeitamente feliz contando os mesmos tipos de histórias que contava em 1993 para as crianças. E isso é um problema pra mim.


Veja, em 1993 e 1994 tivemos dois super sentais excelentes no Japão: Jetmen e Carrangers. O primeiro foi uma tentativa honesta e sincera de contar uma história dramatica e com desenvolvimento de personagens através de um super sentai, não posso dizer que é excelente o tempo todo mas a tentativa é genuína e inovadora. O segundo é uma paródia do genero que não tem vergonha de rir de si mesmo sobre o quão estúpida a coisa toda é.

I mean:


Quer dizer, sério:


Oh, Carrangers... enquanto isso, em 1993 Power Rangers era... bem, sobre nada realmente, coloca um bando de adultos vestidos como adolescentes enchendo linguiça até a hora de usar a stock footage do sentai japonês.

Quer dizer, robos gigantes e transformações são grande parte da graça da coisa, mas quando vc tira a outra metade, o tema, o fator humano, as piadas, a personalidade dos personagens... é um produto pela metade. Agora, eu estou ciente que ao longo dos anos houveram temporadas de Power Rangers que tentaram coisas além do básico e tentam construir algo (Personagens reais! Arcos de história! Vilões interessantes! Caras sem camisa!), mas falando especificamente da era Mighty Morphing ... é apenas encheção de linguiça no melhor "estilo anos 90 para crianças".




O que me leva ao ponto que eu realmente gosto dos primeiros trinta minutos de "Power Rangers - O Filme". Quer dizer, vamos fazer encheção de linguiça tosca para crianças? Então vamos fazer encheção de linguiça tosca para crianças, caramba!

O filme começa, e eu juro pra vcs que isso é sério, com eles pulando de paraquedas por motivo nenhum numa cena que jamais será referenciada novamente ou possui relevancia alguma para a história. Então pq? Bem, pq o filme tem mais orçamento que um episódio da série e o que você faz quando tem dinheiro sobrando? Ora o que, Skydiving! É claro! Pq? Ora, because anos 90, that's why!


E é claro que o Tommy Oliver está fazendo skydiving... com um airboard, como ele não estaria? Ele é legalmente obrigado a sempre ser o mais cool, afinal. Enfim, a próxima cena "de ação" dos nossos heróis é eles andando de roller blades e fazendo poses para a camera por motivo nenhum que senão... anos 90, é claro!

Deus, isso é tão ridiculamente sem sentido, é tão estúpido... que é ótimo! Se o filme fosse imbecil assim o tempo todo seria um puta filme, 10/10, GOTY. E eu acho que os produtores pegaram a ideia da coisa, porque o vilão desse filme é a coisa mais brega, over the top, ridicula ever. Uma das primeiras falas de Ivan Ooze é "Eu sinto o cheiro... de adolescentes!". Porra véio, isso é tão ruim, mas tão criminosamente ruim... que é bom! É maravilhoso o quanto eles abraçaram a tosquice!

A primeira luta em que Ooze manda seus clones comprados no Ali Express atrás dos Rangers pela primeira vez é a melhor cena do filme. A combinação de coreografia ruim, música pior ainda e efeitos sonoros ridiculos é tudo que eu poderia esperar desse filme! Quer dizer, vc não precisa acreditar em mim, apenas veja o quão majestosamente ridicula a coisa toda é:


"Action boy, now. Action girl, now"... Jesus no pogobol, isso é tão ruim que é pura arte. As frases de efeito bregas, como ninguém corre mas sim dão backflips como meio de transporte. Sério, ninguém apenas corre dez metros, eles tem que dar mortais de costas - o que nos gera cenas do calibre dessa magnitude:


Quando eles finalmente se transformam, as coisas só ficam melhores. Primeiro, porque foram feitas roupas especiais para esse filme (nenhuma cena de Super Sentai foi utilizada, apenas material original foi criado) que parecem um pouco mais com armaduras... e é legal. Sério, eu lembro na época eu me senti fazendo parte do mundo "dos adultos" porque Power Rangers estava ganhando uma adaptação para o cinema. E olha que eu nem gostava tanto de Power Rangers pq já tinha assistido Tokusatsu melhores como Flashman e Changeman.

Mas o ponto que realmente importa aqui é que depois de transformados todo e cada movimento deles tem um efeito sonoro, eu não estou de sacanagem com você, cara movimento de mão tem um efeito sonoro e eu não tenho palavras pra dizer o quanto eu amo essa tosquice:


Mas aí você pode estar se perguntando: "hmm, realmente isso é muito tosco... mas será que não tem como deixar essa cena melhor ainda?". Ora, é claro que tem, sempre tem! Isso porque a partir desse momento os Power Rangers começam a, e eu não estou mentindo também, EXPLODIR OS MONSTROS EM POÇAS DE GOSMA!


O CARA EXPLODIU EM GOSMA! Yes baby, é isso que eu quero, Power Rangers explodindo monstros de gosma! Claro, vc pode se perguntar como Ivan Ooze se tornou uma ameaça cosmica em primeiro lugar se o seu exército se liquefaz em impactos... ou como ele se chama Ivan se esteve na Terra 6000 anos atrás e ainda não existia a Russia... hã, seja como for, monstros explodindo em gosma! Isso!

Mas aí então você pode se perguntar "hmm, cool, mas será que não dá pra melhor ainda MAIS?!" e eu te direi que é claro que dá! Isso porque os Rangers aqui ganham novos gadgets ... e eles são ridiculamente inuteis! Quer dizer, olha só isso:


Pq que esse batgancho é tão lento, meu deus? Eu já vi os Power Rangers darem pulos maiores que esse em 1/8 desse tempo, que bom que os inimigos são cavalheiros o suficiente para esperar os heróis viajarem nessa forma de transporte incrivelmente lenta!

Pra vc ter uma ideia do quão perfeita essa cena é, apenas observe a forma que o Ranger Azul vai checar se sua colega está bem:


Agora quando eu precisar checar se alguém está bem, ou achar que algo está errado, é exatamente isso que eu vou fazer: mortal de costas, rodadinha, efeitos sonoros a cada movimento. O pacote completo. Pq é assim que se faz.

O problema é que depois dessa cena epicamente ruim, o filme se torna apenas... chato. Ivan Ooze invadiu o Centro de Comando, destruiu tudo e deixou o Zordon para morrer, que aparece pela primeira vez fora do tubo. Eles então precisam ir pra um planeta no pqp do judas  galatico pra ganhar o novo poder já que o anterior foi destruído... de alguma forma ... e eles se teleportam pra lá, just because.

Agora, eu não sei dizer o porque exatamente, mas acho que o orçamento do filme foi todo gasto no skydiving já que esse "planeta alienígena" não parece muito alienígena, vamos dizer assim.


Bem, seja como for Ivan Ooze manda atrás deles um exercito de... homens passaros... que saem voando pelo espaço até chegar nesse planeta... o que quer dizer que eles voam realmente rápido... eu acho... e uma luta mal coreografada sem nada particularmente interessante acontece, até que os Rangers (agora não mais Power) são salvos pela última coisa interessante desse filme: eles são salvos pela guardiã desse planeta, da mesma forma que a Terra tem um guardião que é o Zordon.

Mas o que tem de tão interessante nisso?


Mano, assim... pra que? Okay, parabens a moça pelos abs mais delineados de toda franquia Power Rangers, mas meterem a Red Sonja aí do nada é tão, mas tão, mas tão aleatório que eu não sei nem o que dizer a respeito. Então Red Sonja it is ¯\_(ツ)_/¯

Enquanto isso, na Terra, Ivan Ooze quer desenterrar os seus zords e para isso hipnotizou todos os pais das crianças de Alameda dos Anjos... fazendo eles tocarem no seu ooze... o que é mais inocente do que soa na tela, eu juro... e as crianças apenas respondem tipo "os adultos sumiram, hora da festa!". Anos 90, amirite? O ponto aqui é que Ooze... hã... coloca um cara pra dançar porque ele está entediado, eu acho?


Caras, o que aconteceu esse filme? Tem umas cenas de luta que são apenas chatas, um gordinho dançando, os Rangers caminham e caminham e caminham e lutam com mais coisas sem graça... até que ganham novos poderes, voltam pra Terra com seus novos Zords e... boy, oh boy...

Então, sabe como nos Tokusatsus os robos eram miniaturas ou brinquedos, ou caras fantasiados? Bem, nesse filme eles são inteiramente computação gráfica dos anos 90. O que não é nem que não envelheceu bem, em 1995 já parecia tosco!


O que é isso, uma cutscene de PS1? Mas tá, a pergunta que realmente deve ser feita é: okay, isso parece realmente ruim...



... deus como é ruim... mas dava pra fazer melhor? Então, o pior é que dava. Olha só como ficou o mesmo Megazord na série de TV, que os zords eram bonequinhos ou caras fantasiados:


Bah cara, muito mais legal. Nossa, bem mais.

Seja como for, o Megazord e Ivan Ooze (que possuiu um dos seus zords) saem voando pelo espaço just because, e o plano dos Rangers é jogar Ivan na frente de um cometa que é mencionado lá no começo do filme. Mas como jogar Ooze na frente do cometa? Bem, parece que é hora de usar o botão para emergencias, não é?


Agora, o que esse botão faz? Dispara um poder super secreto? Talvez um botão de autodestruição para se sacrificar em nome do bem maior?


... vocês tem que estar de brincadeira comigo... quer dizer, uau, até para os padrões dos anos 90 isso é incrivelmente lame... quer dizer, não é nem lame divertido, é só lame tipo lame mesmo. Mas se isso é realmente lame, o que acontece a seguir é mais lame ainda - se é que isso é humanamente possível.

Isso porque seus poderes de animais espirituais ninja conseguem ressucitar Zordon... através de acreditar em si mesmos... é, eu disse que era lame...


Olha, ninguém possivelmente poderia esperar que esse filme não fosse pavorosamente ruim, mas pelo menos os primeiros 30 minutos são "tão ruim que é bom". O resto do filme é apenas chato mesmo, com lutas desinspiradas e zords de CG horrenda, além de muitos momentos de "sério, cara?".

Mas bem, é a vida. E sabe o que mais é a vida? Uma versão desse filme para videogames, é claro. Os Poderosos Morfadores Patrulheiros do Poder - O Filme, para Super Nintendo.

O primeiro jogo MIGHTY MORPHIN POWER RANGERS foi um jogo sólido, embora repetitivo e com falhas (beat'm up sem profundidade, apenas scroll lateral e apenas 1 jogador). Portanto, esta “sequência” adicionou a opção de profundidade na tela e uma opção para 2 jogadores. Então, obviamente, é o melhor jogo, certo? É... Não tão rápido…


Ouvir aquele tema clássico de Power Rangers nunca é cansativo. Infelizmente, dessa vez está faltando a letra aqui que o primeiro jogo tinha. OK, não é grande coisa, mas logo de cara isso é um downgrade. 

A primeira coisa que você vai notar nesse jogo é que, bem, os beat ‘em ups de plano único raramente realizam todo o seu potencial, porque eu acho que os beat‘ em ups deveriam per,otor você andar livremente na tela. Ao contrário do primeiro jogo que você só vai para a direita, "The Movie" adotou o sistema de dois planos de FATAL FURY: The King of Fighters. Então ao invés de só ir pra direita, você pode apertar R ou L para ir para o plano do fundo e ir para a direita em outra lane. Ou seja, não muda quase nada realmente.


Mecanicamente, o jogo é tão simples quanto simples: um botão pula e outro soca. O que torna o jogo bastante repetitivo. Bater nos inimigos até é satisfatório, a hit detection é boa e o efeito sonoro é satistafório. Mas só com pulo e soco fica bem limitado o que dá pra fazer.

O único diferencial desse jogo é que coletar raios de inimigos caídos permite que você se transforme em um Power Ranger, e é muito legal. Os sprites dos personagens fazem uma animação super extravagante, um grande close do personagem e seu morpher é mostrado na tela com efeitos de luz voando por toda parte, o morpher é então erguido para o céu e, em um flash de luz, seu personagem agora é um corpulento Power Ranger. Todos inimigos na tela saem voando, seus cinco pontos de vida são restaurados e seu dano é aumentado. 



Só que infelizmente, todos os Power Rangers, excluindo o Ranger Branco, são pallet swap. Todos eles têm exatamente os mesmos ataques, exceto seus ataques de arma única desbloqueados ao preencher o medidor de energia uma segunda vez, e são todos bombadões e usam o capacete t-rex do Red Ranger. Isso inclui a Ranger Amarelo e Rosa. Então apesar dos gráficos serem bons, passa a sensação que ojogo foi feito de qualquer jeito.

Mighty Morphin Power Rangers: O filme (cujo jogo não segue o filme, as sete fases são cenários aleatórios - embora os chefes sejam monstros da série, pelo menos isso) seria um beat 'em up completamente esquecível, não fosse pela licença. 



Tem como passar um tempo com ele, especialmente com dois jogadores, mas o conjunto de movimentos limitado, variedade limitada de inimigos, áreas desinteressantes, a ausência completa de um enredo e que conforme você avança no jogo não há necessidade de mudar a forma que você joga te dão quase nenhuma motivação para continuar. Se você gosta dos Power Rangers, este jogo será moderadamente divertido. Se você não é fã de MMPR, não há realmente nada aqui para você, e com uma infinidade de beat'm ups melhores por aí, por que você jogaria isso? 

Tal como o material original no que se baseia vale pela curiosidade da época, mas mesmo em seu próprio tempo vc só seria fã se não soubesse que existe melhor nesse ramo.

As imagens dos guardas-florestais pré-transformados aqui são um toque legal, embora as fotos de Rocky e Adam pareçam fotos de ficha na policia.

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