Como fazer o seu jogo que não tem nenhuma mecanica espetacular e variedade quase nenhuma no seu gameplay se destacar? Muitos desenvolvedores até hoje matariam pela resposta a essa pergunta, praticamente o El Dorado do game design, mas a grande verdade é que em 1988 a Namco havia naileado essa questão com a fúria de mil Pinkie Pies.
Como fazer seu jogo ultra simplezão ser descolado? Simples: faça-o parecer descolado, faça-o soar descolado e ele será descolado. E foi o que eles fizeram, tornando Splatterhouse de um jogo que você basicamente segue em linha reta em um corredor com apenas um botão de ataque e um pulo (tecnicamente, um Karateca da vida) em algo muito maneiro. Ou radical, como se dizia na época.
A história de Splatterhouse 2 começa três meses depois dos eventos do primeiro jogo, e por isso vamos ver o que se sucedeu em na Casa do Massacre 1:
Nossa história começa em uma Terça-Feira chuvosa de 1988, onde temos estes dois estudantes universitários de parapsicologia (hmm, alguém andou assistindo Caça-Fantasmas), Rick Taylor e sua namorada Jennifer Semsobrenome.
Em busca de realizar estudos para sua pesquisa, os jovens amantes então visitam essa mansão. Sozinhos. No meio do temporal. A noite. Um lugar que é conhecido pelos locais como "Casa do Massacre" porque dizem as lendas que coisas horrendas ocorreram lá. Hmm, o que pode dar errado?
Então, provando que eles, obviamente, passaram muito tempo estudando e não tempo suficiente aprendendo as lições que os filmes de terror pode nos ensinar, nossos heróis a visitam. Você poderia achar que essa combinação de fatores seria suficiente para dissuadir qualquer visitantes, mas eu acho que Rick e Jen já tinham agendado essa visita e como estava chovendo e eles odeiam ficar molhados...
Eu diria que talvez eles tenham acabado de ter o cabelo feito, mas a introdução mostra claramente que Rick já estava vestindo um macacão sem mangas e sem sapatos antes do horror de Splatterhouse se desenrolar, então pensando eu não acho que ele é um homem que se preocupa muito com sua aparência pessoal..
Os rumores acerca da "Splatterhouse" se mostrar verdadeiros, e ao adentrarem os portais da mansão Jennifer é sequestrada por um monstro enquanto Rick é jogado em uma masmorra. Só que em uma virada de eventos que você dificilmente chamaria de "fortuita" mas que salva a vida de Rick, também está no calabouço uma flutuante, mais precisamente um artefato maia sencientes chamado "Mascara do Terror" que prontamente se prende ao rosto de Rick, revivendo-o e dando-lhe músculos maiores do que um urso e definitivamente não fazê-lo parecer com o Jason Voorhees de Sexta-feira 13. Essa última linha foi adicionada a pedido dos advogados de Namco.
Os advogados da Namco também pediram para citar que eles nunca ouviram falar de Jojo's Bizarre Adventure |
O jogo em si é sobre o novo e bombadão Rick caminhando da esquerda para a direita, cortando o seu caminho através das hordas mutantes do inferno. Ele eventualmente chega até Jennifer, mas ela já foi transformada em um monstro e Rick é forçado a matá-la. Ele continua a destruir a força do mal no coração da mansão, a mansão queima até o chão (chão chão chão), a Máscara do Terror explode (possivelmente devido a conflitos internos sobre supostamente ser um artefacto Maia antigo, apesar de claramente ser uma máscara de hóquei) e Rick caminha para casa sozinho na calada da noite.
Isso nos traz de volta para Splatterhouse 2. Já se passaram três meses, e Rick é assombrado por pesadelos de Jennifer caindo nos poços carnudos do inferno, como é compreensível. Então seu bom amigo, a Máscara do Terror reaparece e diz a Rick que não tem que terminar esta maneira e que Jennifer não tem que morrer.
Mais ou menos com essas palavras.
O que se segue então é uma das aberturas mais legais e atmosféricas que eu já vi no Mega Drive, ou em qualquer videogame de 16 bits na verdade (embora eu ainda prefira Super Metroid).
Caralho, que abertura legal!
Bem, de acordo com a sempre confiável Máscara do Terror, existe uma mansão escondida perto da Splatterhouse original e se Rick leva-la lá, ele pode abrir um portal para o inferno e salvar Jennifer. Claro que a Mascara está nessa totalmente por salvar Jeniffer, abrir um portal para o inferno é apenas uma consequencia necessária, vê?
Enfim, Rick não hesita em puxar seu macacão sem mangas do fundo do armário, grudando a Máscara do Terror em seu rosto e se preparando para splatterar algumas coisas em uma casa. Ou nos jardins, ou num lago. Onde quer que haja coisas para serem splatterizadas, realmente.
E aqui estamos nós! Splatterhouse 2 é um Beat-em-up em que você segue em linha reta dndo socos, eventualmente voadeiras. Além de pegar armas muito eventualmente(deve ter umas 5 no jogo todo), é tudo o que o Rick possui. Ei, a Máscara do Terror apenas deixa o cara bombadão, ela não baixa o Bruce Lee nele ou qualquer coisa assim.
Entretanto o que a Namco fez, muito espertamente, foi deixar as poucas coisas que Rick faz extremamente satisfatórias de serem realizadas. Verdade, você só anda em linha reta dando socos em demonios abortos malformados, mas é cada piaba que dá gosto de ver!
Os demonios que você arrebenta na porrada são, literalmente, ARREBENTADOS na porrada e é um festival de mutilação demoniaca que deixaria Doom orgulhoso. Na verdade, a sensação de jogar esse jogo é praticamente uma versão anos 90 do Doom de 2016 e poucas coisas são mais satisfatórias do que ver um demonio fugindo de medo de você apenas para ter seus interiores liquefeitos na base da porrada.
É algo tão bonito que me emociona.
- Volta aqui, cramuião, que eu vou te deixar igual aos teus primos aqui!
- Pega eu não, seu djeizu! Sou só um diabretezinho de nada!
- Não usa esse nome que a gente vai tomar processo, caralho!
Socar os demonios é muito gostoso, o som que eles fazem quando a carne de seus corpos se desprende violentamente devido a uma onda de violencia bruta é muito gostoso, e o efeito da carnificina que o djeizu não licenciado deixa é muito gostoso.
Esse jogo é uma carta de amor maravilhosa dos desenvolvedores escrita em neon e tripas que diz "Esta é uma homenagem aos filmes de terror dos anos oitenta. Haverá gore, e aberrações feitas de maquiagem barata, e espancamento brutal com motosserras, e mais fluídos corporais não identificáveis do que uma orelha, nariz e garganta produzem durante um surto de gripe suína. Esperamos que você aprecie a sua estadia." E de fato eu aproveitei minha estadia, muito mais pela atmosfera de filme de terror barato do que pela jogabilidade.
Tem uma cena, logo na primeira fase, que Rick chega em uma pequena cabana onde três monstros. Dois deles correm imediatamente para a porta da direita, fugindo de você, só para ser imediatamente mortos por qualquer horror que está a espreita na sala adjacente, seus corpos sem vida arremessados de volta para o quarto. O terceiro monstro hesita até Rick entra na sala, mas ao ver o nosso herói bombadão o monstro decide que ele prefere suas chances com a porta da morte. Ele corre para a saída, só para ser morto da mesma forma como os dois primeiros.
São momentos assim que eu massacro as hordas do inferno, vou te dizer
Os chefes são outro grande acerto do jogo: eles são grandes, asquerosos, nojentos e mais frequentemente sim do que não parecem orgãos genitais acometidos por uma DST terrível. O que os torna alvos perfeitos para suas mãos nuas com longo alcance. Não, espera, na verdade acho que Rick deveria lavar as mãos depois disso... ou pular numa piscina de alcool de uma vez...
Entre os estágios, temos essas telas onde Rick comenta seus planos para o futuro. Por algum motivo (provavelmente medo do processinho), agora que a Máscara de Terror é um crânio e não uma máscara de hóquei, é difícil não imaginar Rick dizendo todas as suas frases com dentes cerrados. Pelo menos ele parece feliz.
A segunda fase começa com o Rick num elevador. Os monstros caem continuamente conforme Rick faz sua descida? É claro que eles caem, Splatterhouse 2 é um Beat-em-up, afinal, e não um muito original nisso.
Tirando raros momentos como esse, Splatterhouse 2 não tenta muitas coisas diferentes e faz muito pouco para inovar no gênero, se mantendo fiel ao "andar para a direita e socar as coisas " - fórmula que já era velha mesmo em 1992. Onde Splatterhouse 2 difere da maioria dos Beat-em-ups é no ritmo. É um jogo metódico jogado em um ritmo mais lento do que você poderia esperar, onde correr à frente quase sempre te mata e a ênfase está na compreensão dos padrões de ataque dos inimigos.
Entao Splatterhouse é repetitivo? Sim, claro. Porém ele compensa isso dessa forma:
Toooooooma o que te mandaram, capiroto! Arrebentar o cranio de demonios é muito legal, e eventualmente a formula ficaria batida, porém o jogo não é muito longo e acaba antes que você canse de ver míudos infernais jorrando pela tela. Supondo que isso aconteça um dia, claro.
Veja esse chefe, por exemplo, e seus olhos tão grandes e bulbosos, tão convidativos a seus punhos de 500 megatons de musculos, não é uma delicia arrebentar com esses safados? Sim, é sim! Porque eu estou falando como se estivesse conversando com um filhotinho? Não, eu faço ideia não!
Aaaah delicia!
Splatterhouse 2 é um videogame que permite que você use uma motosserra em um feto enforcado.
É uma coisa horrível demônio-feto mas ainda é claramente algum tipo de criança que é cortada com uma motosserra. É espantoso que tal coisa seja permitida existir em um videogame mesmo nos anos 90.
Deve ter sido um dia divertido nos escritórios da Namco. "O que podemos ter como chefe do estágio três? Motosserras? Não, nós tínhamos um cara com motosserras nos braços em Splatter 1, mas eu gosto da coisa de motosserras. Talvez o Rick possa ter uma motosserra? E ele poderia usá-la... em um bebê mutante! Bom Deus, eu posso sentir o gosto das promoções já!"
Mas espere que tem mais! Uma vez que todos os bebês são eliminados, este monstro deploravel de se olhar brota para fora da parede como uma tartaruga-pesadelo. Na verdade, ele faz-me pensar sobre o que as Tartarugas Ninjas poderiam ter acabado parecendo, uma amálgama retorcida de homem e tartaruga. Esse cara não pode fazer muito para machucá-lo, por isso é do melhor interesse de todos (principalmente do dele) elimina-lo rapidamente.
O que resulta em...
Senhoras e senhores, esse é Splatterhouse 2!
Aplausos, gente, aplausos!
De uma forma é uma pena o jogo não parar por aí, porque nada pode superer usar uma motosserra em um feto-deformado-piñata, mas Rick está nessa para salvar sua senhora amada, não para se divertir, então eu suponho que a luta continua.
Bem, é uma casa. Pode ser uma casa perfeitamente normal. Não é como se houvesse uma besta Lovecraftiana no lago nadando por aí, defendendo ela ou qualquer coisa assim.
Ok, provavelmente você viu isso vindo...
Outra parte que eu gostei bastante é essa parte do estágio cinco, que é este laboratório cheio de monstros suspensos naqueles tanques de vidro cilíndricos que os cientistas loucos de videogame sempre parecem ter centenas;
Você sabe e eu sei que os monstros vão estourar alguns desses tubos. Nem todos os tubos: há muitos deles para isso, e até mesmo Splatterhouse 2 não seria cruel o suficiente para enviar doze monstros em você de uma só vez, mas alguns deles estão definitivamente vai estourar. Mas quais? Eles são todos idênticos, até que eu notei que um dos monstros tubo tinha bolhas de ar vindo de sua boca, então eu me preparei para que o tubo arrebentasse ... mas não estouro. O próximo tubo estouro, o que até me fez pular. Bem jogado, Namco, bem jogado.
Como você também já poderia esperar, encontramos eventualmente a alma de Jenny... sendo arrastada para o inferno por braços descarnados... ao que nosso herói abre o portal para o inferno, entra lá, soca muitos cramulhões e...
... o cristal do alto astral...
... o fantasma do Nicolas Cage que parece que está de gravata, mas aquilo é um nó de forca.
E claro que nenhuma fuga do inferno poderia estar realmente completa sem...
... fugir do Cthullu no lago, socando os cravos que ele arremessa para poder usar de arma contra o olho dele...
... e é claro que nenhuma, mas nenhuma fuga do inferno mesmo está realmente completa sem enfrentar um granfaloon - um demonio que é inteiramente composto por uma massaroca de corpos humanos em perpetuo estado de sofrimento. Algo que, alias, com uma descrição dessas eu totalmente jamais esperava ver em um filme da Disney... até eu assistir Wi-fi Ralph. Bem, o que eu sei da vida, não é?
De qualquer forma, tudo o que está entre Rick e liberdade é um monte flutuante de carne distorcida agonizante que dispara cabeças como projécteis. O que é que há com todas essas cabeças-como-balas neste jogo? Tem outras partes do corpo, pessoal.
Não é uma coisa importante, mas esse é o terceiro chefe que dispara cabeças em mim! Podiam variar essas lutas com um pouco de esquiva de, eu não sei, uma caixa torácica ou algo assim, talvez um pé voador. Não? Certo, só cabeças, então.
E assim termina Splatterhouse com todos conseguindo o que queria. A Mascara do Terror abriu o portal para o inferno e derrotou seu inimigo, o cristal do Alto Astral, Rick resgatou Jennifer e Jen não está mais sendo perpetuamente violada nas camadas mais profundas do Tartaro. Tudo acaba bem quando tudo acaba bem, mesmo que terapia nenhuma no mundo dará jeito no que essa daí passou. Enfim, era o que dava para fazer!
De qualquer forma, meu ponto é que eu supostamente deveria estar julgando este jogo, ou qualquer jogo para este proposito, pela a jogabilidade, mas a verdade é que eu me diverti muito com Splatterhouse 2 e a jogabilidade é apenas um passo acima da média.
Não tem absolutamente nenhuma inovação, é extremamente repetitivo e não há nada para fazer além de andar e socar. E ainda sim se tornou é um dos meus jogos favoritos de Megadrive, abrindo caminho apenas com a força de sua personalidade e seu amor pelos filmes trash.
A apresentação é tão perfeitamente alinhado com filmes trash que eu estou quase surpreso que eu não vi o meu próprio nome nos créditos. Eu não estou dizendo Namco fez este jogo especialmente para mim, mas certo como o inferno que sinto dessa forma: a música, os gráficos, os sprites de personagens, a capacidade de esmagar um crânio monstruoso com um osso perna enorme, tudo isso vem juntos maravilhosamente para criar um jogo que eu adorei...
Mas se tirasse o tema de terror barato, mantivesse a jogabilidade e mudasse para que Rick fosse um estudante de artes marciais resgatando sua namorada seqüestrada de uma gangue criminosa, eu provavelmente não olharia esse jogo duas vezes.
Não que Splatterhouse 2 seja um jogo ruim: Rick controla fluidamente, seus ataques têm uma sensação agradável de peso para eles e tudo funciona como deveria. Apenas que a apresentação é o grande charme desse jogo realmente.
Aparencia não é tudo, exceto que as vezes é.