sábado, 25 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 026] FATAL FURY: The King of Fighters (Arcade, 1991) [#444]

É impressão minha ou o Patrick Swayze acabou de socar o irmão para fora de uma roda gigante?

Você já parou para reparar como o segundo Street Fighter não parece muito com o primeiro? Quer dizer, olhe isso:



... virou isso:


Claro que a diferença de 4 anos entre os dois jogos é um dos motivos mais gritantes, mas existe outro mais importante que esse. Como todos sabem, o primeiro Street Fighter foi um fracasso (ao ponto que a maioria das pessoas jamais ouviu falar dele) por diversos motivos que pouco tem haver com os gráficos. Os controles são hediondos (você tem mais sorte tentando ir parar em um mundo de fantasia sendo atropelado por um trator do que tentando soltar um hadouken), a trilha sonora parece que foi composta por um programador de jogos e não um músico (PROTIP: e foi) e o publico não tinha muito amor por aquele novo genero que nascia. Quer dizer, era tipo Final Fight mas você só lutava contra um inimigo ao invés de uma fase inteira?




Obviamente que isso não é culpa dos produtores Takashi Nishiyama e Hiroshi Matsumoto, apenas que em 1987 não havia experiencia (tanto deles, quanto da Capcom, quanto do publico) para lidar com esse genero de jogo. Então, boa parte da equipe da Capcom que trabalhou naquele jogo se sentiu ultrajada pela falta de suporte da produtora, jogou seus esharpes por cima do ombro e saiu marchando divonicamente porta afora.

O final da história todo mundo sabe: quatro anos depois Street Fighter 2 foi um sucesso pangalactico yada yada yada. Mas o que foi feito de Nishiyama e os outros? Ora, eles foram parar em uma empresa bem menor que a Capcom onde esperavam que seus talento fossem reconhecidos.

Foi assim que essa galerinha do barulho aprontando altas confusões fez um jogo que parece muito mais com o primeiro Street Fighter do que o próprio Street Fighter 2. Veja se não:


Nascia assim Fatal Fury: The King of Fighters.

"Fúria Fatal: O Rei dos Brigadores" é, essencialmente o que o Street Fighter original deveria ter sido. Tem a mesma jogabilidade ultra simplista, mas a verdade executa bem o suficiente para que você consiga jogar o jogo. FF também tem varias ideias que deveriam ter sido implementadas no primeiro SF, mas na época não havia habilidade tecnica ou orçamento para faze-lo.

Por exemplo, no primeiro SF você podia jogar só com um personagem, aqui são três.


 Existem pequenas variações nos cenários que Nishiyama queria ter feito, e aqui as executa. Tem um cenário, por exemplo, que o primeiro round da luta tem nuvens negras tempestuosas relampeando ao fundo. No segundo round, está caindo um temporal. Ou mudanças pequenas do entardecer para a noite, coisas que - como diria o grande filosofo moderno - agregam valor ao jogo.

 

Outra coisa exclusiva desse jogo é que, como era comum a época, quando uma pessoa está jogando no fliperama podia ser desafiada por outro que chegava e colocava uma ficha. Normalmente isso interrompia a luta e os dois iam para o versus (sim, esse sistema não foi feito tendo brasileiros em mente). Pois bem, em Fatal Fury as coisas funcionam um pouco diferente: quando um segundo jogador desafia o primeiro, ele entra imediatamente na luta e ambos tem que juntar forças para acabar com o NPC que o cara estava lutando.

Isso é realmente legal, me pergunto porque mais jogos de luta não adotaram essa ideia.



Dito isso, vamos ver os personagens desse jogo. Fatal Fury tem essa coisa interessante que, enquanto os personagens desafiaveis não são selecionaveis pelo jogador, ao menos a maioria deles tem um gimmick único que o diferencia. Já chego a isso, mas primeiro vamos falar dos protagonistas.

TERRY BOGARD e ANDY BOGARD



Terry e Andy são dois irmãos órfãos (provavelmente filhos de uma cracuda e uma latinha de guarana Tuchaua) que se criaram nas ruas. Eventualmente eles logo foram adotados pelo mestre de artes marciais Jeff Bogard e sairam da sarjeta para ter uma boa vida em Southtown. Porém Lady Murphy decidiu que ia fazer marcação corpo-a-corpo nos meninos e quando Terry tinha 10 anos, ele testemunhou a morte de seu pai pelas mãos do seu melhor amigo, o empresário Geese Howard.


Sabendo que precisavam de mais treinamento para confrontar Geese (alguns acresceriam que não ter 10 anos de idade para desafiar um adulto seria uma vantagem interessante) os irmãos juraram passar uma década se aperfeiçoando em suas artes marciais antes de tentar vingar seu pai. Andy foi para o Japão treinar, Terry ficou para ser treinado pelo mestre do seu pai, Tung Fu Rue. Considerando que o pai dele foi treinado por esse cara e morreu, tentar a mesma coisa e esperar resultados diferentes não parece um bom plano. Alias porque esses meninos apenas não conseguiram uma pistola, um arma laser que guia dinossauros como qualquer americano faria?
  
Mecanicamente, entretanto, como Andy e Terry foram treinados por mestres diferentes, eles tem golpes diferentes - não são o mesmo personagem com os mesmos golpes, como o Ryu e o Ken. Isso é legal, mas prossigamos. 



Enfim, uma década depois, agora Geese Howard é um empresário dono de metade da cidade e o chefão do crimeo. Sim, ele é baseado no Rei do Crime, processem a SNK. Enfim, depois de ter se tornado o boss da mafia de Southtown (destronando Mr. Big, que é o chefão do jogo Art of Fighting), Geese organizou um torneio chamado de The King of Fighters. Sei lá porque ele fez isso, parece uqe é uma coisa de chefão do submundo naquela época, eu sei lá...

O ponto é que Andy e Terry entram no torneio em busca de VINGAAAAAAAAANNNNÇAAA!!

JOE HIGASHI



O terceiro (e ultimo) personagem selecionável é Joe Higashi, um japonês que é campeão de Muay Thay e entrou no torneio como uma chance de provar seu valor como lutador. Ao chegar em Southtown ele conheceu Andy e Terry, e se tornou amigo dos dois.

E é isso. Fim.



Que foi? Como se a JK Rowling tivesse se esforçado muito mais do que iso para o Harry e o Rony serem amigos, né? Ora bolas...

TUNG FU RUE


Como já mencionado, Tung Fu Rue foi o mestre de Jeff Bogard e Geese Howard, e carrega a grande tristeza do seu pupilo ter se tornado um overlord do mal. Sei lá, suponho que você não possa adquirir o titulo de mestre de artes marciais até ver um menino obviamente psicopata e treina-lo em todas as tecnicas de combate conhecidas pelo homem. É assim que as artes marciais rolam, aparentemente.

Por outro lado, Tung é o lendário mestre do Hakkyokuseiken, então existe a possibilidade dele ter treinado Geese porque o menino era uma das unicas pessoas na Terra que conseguia pronunciar o nome da arte. Pode ser isso também.


A equipe de criação de Fatal Fury é declaramente fã de Dragon Ball, e não é segredo que o mestre Tung é inspirado no Mestre Kame, tanto que seu gimmick é, no meio da luta, ficar um velhinho bombadão tal qual o mestre do Goku no primeiro Dragon Ball.

DUCK KING


Duck King é um mano das quebradas, ligado nas paradas, e... ok, eu não sei nenhuma giria das ruas. Me julgue. Enfim, ele é um truta que curte breakdance e hiphop, e de posse de tal conhecimento pensou "hmm, e se eu adaptasse isso para um estilo de luta?". Para testar sua criação, ele desafiou o nosso boy magia Terry Bogard para uma batalha de ruas, e obviamente as ruas venceram.

Depois de apanhar do protagonista do jogo até embaixo da língua, qualquer um ficaria desmotivado, cabisbaixo, mas não o Rei Pato! Por Deus, não o Rei Pato! Obviamente o que ele precisava não era deixar essa moda de inventar moda de lado e sim tentar mais ainda em um nível competitivo mais alto, é claro!



Por isso ele entrou no torneio King of Fighters. E acho que todo mundo sabe como termina. Porque, como diz o ditado, nunca desista de seus sonhos. Porém não persiga seus sonhos tanto a ponto de você faça isso.

HWA JAI



Hwa Jai era um tailandês campeão mundial de Muay Thay, feliz e pimpão, até o dia que perdeu o título para um japonês - este sendo o acima citado Joe Higashi. Seria mais ou menos o equivalente ao Brasil ser eliminado por Honduras, o que nunca... hmm, bem, deixa pra lá...



Depois de perder a honra, iate, mansão, mulheres e cem mil dolares, Hwa boy vagou pelas ruas entregue a bebida e sem destino, até que Geese Howard viu seu potencial como bebum perigoso. Agora ele é um dos capangas do vilãozão, sendo o gimmick especial da sua luta que os asseclas de Geese jogam uma garrafa de goró que o deixa tunadão. Aqua feelings.

MICHAEL MAX



A este ponto acho que todo mundo sabe que jogos de luta dos anos 90 são legalmente obrigados a terem um lutador de boxe inspirado no Mike Tyson. Michael Max é o cara que cumpre esse papel em Fatal Fury, com exatamente a mesma história que o papel exige: uma vez um promissor esportista, foi banido do mundo dos esportes por lutar muito sujo e quase matar alguém. Aí o vilão o contrata para ser seu capanga, porque headhunting é o que os vilões fazem nas horas vagas - saiba você.

RAIDEN



Não, não o deus do trovão que luta em um torneio entre mortais porque de alguma forma isso pareceu minimente justo. Esse Raiden é um wrestler que costumava ser bastante popular no que fazia, até o dia que foi traído por seu parceiro de tag. Após este dia Raiden nunca mais conseguiu confiar nas pessoas e se tornou um heel. Entretanto machucar acidentalmente colegas não era o bastante para ele e por isso ele entrou no King of Fighters para machucar pessoas de verdade.

... agora, espera um momento aí...



... o que, exatamente, é "ser traído por seu parceiro de tag"? Eu até consigo imaginar algumas situações, porém o mais provavel deve ser que a SNK não faz a mais remota ideia de como wrestling funciona. Seja como for, Raiden é conhecido por ter como cenário o pior parque temático do mundo, já que uma briga rola no meio do parque e as pessoas sentam no chão para assistir. Desculpem, mas não consigo imaginar isso acontecendo na Disney ou no Beto Carreiro. Nem no parque Tupã, honestamente.

RICHARD MEYER



A NASA tem que estudar os brasileiros. Sério, o quanto antes porque senão vejos o representante huehueBR em Fatal Fury. Ricardo Meyer era um empresário brasileiro que teve uma ideia genial: fazer uma casa noturna que também fosse cafeteria. Seu altamente criativo empreendimento deu tão certo que ele pode realizar o grande sonho tupiniquim: bancar a Carlota Joaquina e dizer que dessa terra não queria nem mais o pó.

Agora Richard Meyer se mudou para os Estados Unidos, onde segue sua empreitada abrindo sua balada/padaria sob o auspicioso nome de "Pão Pão Café".


Capoeirista de primeira linha, Richard usa seu gingado malemolente para meter a porrada em quem causar confusão na sua birosquinha. Até aí tudo bem, magrão. Porém é como dizem: você pode tirar o brasileiro do Brasil, mas não pode tirar o Brasil do brasileiro.

Quando Richard fica sabendo que o chefão do crime da cidade está organizando um torneio de luta, ele decide participar para divulgar a sua baladinha/cafeteria. Sim, ele entrou em um torneio de luta para fazer propaganda gratuita do seu negócio, porque se tem uma lei nesta vida é que se há algo de graça, haverá um BR pensando em como abusar desse sistema.



O gimmick exclusivo do Ricardão é que ele pode se pendurar no teto para chutar o oponente, because nada acontece e feijoada. Até o fechamento desta edição, seu parentesco com José Meyer ainda não havia sido confirmada, embora acreditamos piamente nisso.

BILLY KANE

Billy e sua irmã eram órfãos em Londres, porque o autor obviamente leu Oliver Twist, que viviam de pequenos furtos e um dia tentaram bater a carteira de um empresário americano visitando a Terra da UNIT. Mal sabiam eles que estavam tentando roubar o vilão do jogo, ha!

Porém, Geese Howard se viu naquelas crianças de rua subnutridas e lembrando a sua própria infancia decidiu torna-los seus protegidos. Sendo que assim Billy se tornou seu guarda-costas e braço direito. Assim, anualmente Geese organizava o torneio "The King of Fighters" onde inevitavelmente Billy saia campeão. Até o torneio de 1991, quando os irmãos Bogard voltam a cidade.

... o que é surpreendentemente humano e bem desenvolvido para um vilão de jogo de luta. Quero dizer, estamos falando de caras cuja única motivação é dominar o mundo porque mwuahuahua, isso foi realmente inesperado.
 
O gimmick de Billy é que você pode tirar o bastão dele, sem o qual ele se torna praticamente indefeso. Se você impedir que ele o recupere por muito tempo, alguém do publico joga um novo para ele. Ou antes se ele estiver com pouca vida.

E segundo o narrador do jogo, seu nome se pronuncia "Billy CON", porque inglês é uma língua completamente estúpida.

GEESE HOWARD



Eduardo Ganso é filho de uma mulher americana pobre e um terrorista austríaco. Seu pai os abandonou depois que Geese nasceu em Southtown. Trabalhando desde criança para sustentar a mãe doente, ele assumiu vários empregos pela cidade. Apesar de seus esforços, sua mãe acabou morrendo de problemas de saúde e fome. Ao invés de ficar afundado na tristeza, Geese decide fazer alguma coisa a respeito e parte em uma jornada de poder.

Assim ele entra para a mafia de Southtown (na época controlada por Mr. Big, o vilão de Art of Fighting) e sobe dentro da organização até se tornar o próprio fodelão das criminarias.

Antes disso acontecer, no entanto, Geese foi adotado pelo dojo do mestre Tung Fu Rue, onde ele treinou ao lado de Jeff Bogard. Ao fim do treinamento, o mestre Tung viu que esse menino ganso era da pá virada e decidiu passar os ensinamentos secretos do Hakkyokuseiken, que por algum motivo só podem ser passados a uma única pessoa. Se Jeff colocasse na internet tinha ferrado tudo, mas enfim.

Sendo orgulhoso, Geese apenas disse "ah,não me escolheu? Ok, tá bom, deixa assim, deixa assim..." e foi embora. Geese treinou com outros mestres por mais dez anos, até o dia em que sua limosine encosta do lado de Jeff que caminhava com seus filhos no centro da cidade, e Geese o mata com um soco no meio do peito. Dez anos se preparando para essa vingança. Cartman teria orgulho desse menino.


Agora, a SNK queria fazer algo marcante para o final desse jogo, e de certa forma é uma luta realmente inesquecível. Isso porque Geese Howard é o personagem mais roubado da história dos jogos de luta e se você não perder os dois rounds de perfect, considere que você venceu na vida.

O que o torna tão apelão é que Geese não apenas defende qualquer ataque seu, mas ele pode te dar um agarrão ENQUANTO VOCÊ ESTÁ ATACANDO! Adicione a isso a uma velocidade três vezes maior do que qualquer outro personagem controlado pelo computador até então e dificilmente você vai poder dizer que entendeu o que aconteceu.


Os arcades nunca tiveram nenhuma vergonha de dizer que estavam ali só para tomar o dinheiro das crianças no menor espaço de tempo possível, mas Geese Howard eleva isso a um status de arte.

Enfim, graças ao poder das fichas infinitas no emulador do protagonistmo, os lobos solitários tem sua vingança e derrotam Geese, o bem vence o mal e espanta o temporal. Fim.


Agora, antes de terminar, eu gostaria de parabenizar o pessoal que fez a tradução desse jogo. Eu entendo que japonês é uma lingua dificil de traduzir, e sem internet para tirar duvidas então é inenarravel. Porém, isso sendo dito, é necessário um talento especial para conseguir errar na tradução de NUMEROS!


Ou isso, ou Fatal Fury se passa em 1912. Na semana que o Titanic saia da Inglaterra, um punk de cabelo moicano colorido tinha seu cenário repleto de neon. Vocês decidam o que é mais plausível.

 
 

MATÉRIA PARA MEGA DRIVE NA EDIÇÃO 033



MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 054 (Setembro de 1998)