quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

[#814][MEGA] THE OOZE [Setembro de 1995]

Foi essa semana mesmo que eu falei sobre SUPER MARIO WORLD 2: Yoshi's Island, que é quando um time tão criativo quanto competente é colocado contra a parede e precisa acertar o único tiro que tem. One shot, one opportunity, como diria o Eminem. É o que diferencia o gênio, o fora de série, do comum, quando você o encosta contra a parede e sabe que ele não tem mais chance de errar, é nesse momento que ele brilha. O vencedor se alimenta da pressão.

Agora, vamos tirar um momento e ver o outro lado da moeda, sim? Como é quando o comum, o medíocre é colocado contra a parede e precisa tirar um coelho da cartola por dia ou morrer. E como eu disse é nessas horas que o brilho do diferente eclipsa completamente o medíocre. 

A quantidade de esforço que a Sega colocou na capa japonesa desse jogo realmente não me dá uma boa expectativa

Estudo em caso: quando os 16 bits estavam morrendo, a Sega separou um time para tentar fazer o console segurar as pontas assim como aconteceu com o Super Nintendo. Só que enquanto o período do final de 94 a meados 96 foi a era de ouro, o canto do cisne em tungstenio do SNES, no Mega Drive esse mesmo esforço foi... digamos assim...


Obrigado galere, eu não teria colocado melhor. Enquanto SUPER MARIO WORLD 2: Yoshi's Island é um dos jogos de plataforma mais criativos que eu consigo pensar... bem, criatividade não era exatamente o que faltava na Sega nos ultimos dias do Megão da Massa. Veja, por exemplo, COMIX ZONE, a ideia de fazer um beat'm up estruturado na forma de uma revista em quadrinhos - nota 10 pela criatividade, nota 4 pela execução.

E essa é a coisa: qualquer pessoa pode ter uma ideia. A Sega tem boas ideias. Mesmo dançarinos figurantes de conga tem boas ideias de tempos em tempos. Agora, fazer essa ideia funcionar na prática é o que realmente importa. E se parece simples e sem esforço quando a Nintendo faz isso, quando a Sega tenta ser criativa dá pra ver que esse projeto não tem nada de automático.

Exemplo em caso: The Ooze tem uma ideia realmente criativa, isso tem que ser dado a eles. A execução, entretanto... bem chegaremos a isso.


Nossa história começa quando do Dr. Daniel Cane desconfia que a empresa que ele trabalha estava tramando alguma coisa ruim. Como ele chegou a essa desconfiança? Bem, basicamente dois pontos:

A) A empresa se chama THE CORPORATION, e não tem como ter um nome mais evil que esse;
B) Ele estava desenvolvendo um gás tóxico venenoso para seus empregadores sem outra aplicação que senão ser tóxico e venenoso;

Preocupado que a sua pesquisa do gás TÓXICO E VENENOSO fosse usada para o mal pela THE CORPORATION, Danizinho decidiu se infiltrar para ver se era isso mesmo. E era. Uau, é um biscoitinho esperto ou o que esse rapaz aqui?


Então para surpresa de zero pessoas, Danizoca é capturado por seu chefe (que por algum motivo vai ele mesmo, é uma mega corporação do mal que economiza em capangas, esses direitos trabalhistas estão foda). Ah, e o chefe dele é o Rei do Crime aparentemente, o que realmente reforça a vibe de corporação super evil - caso não tenha ficado claro o suficiente a esse ponto.

Daniel descobre que o plano da THE CORPORATION é soltar o gigavírus no ar para contaminar o mundo inteiro e então vender a cura. O que, até onde planos corporativos de dominação mundial vão, já vi piores.

Seja como for, o Rei do Crime pega então Dani-boy e obviamente se decide se livrar dele da forma que um vilão faria: injeta Daniel com o proprio gás e então o soca em um tonel de lixo toxico. Sabe caras, eu realmente acho que apenas a parte de socar dentro de um tonel de lixo toxico já seria o suficiente - eu não sou biologo nem nada, mas desconfio que teria sido suficiente.


Porém se algo que os quadrinhos nos ensinaram é que jogar alguém no lixo tóxico é um metodo certo e comprovado de ganhar super poderes... ou virar uma poça de lixo toxico senciente neste caso e agora nosso Daniel-ooze agora parte em sua jornada de vingança contra o Rei do Crime, assim como recuperar DNA espalhados por aí para voltar a ser humano.

Mas antes de prosseguir com a analise do jogo, eu realmente preciso voltar a essa abertura: 


O que é que estamos assistindo, exatamente? Tipo, não apenas o Rei do Crime está assistindo numa TV da Sega, mas aparentemente a equipe dele editou um melhores momentos do fim de Dani-boy pra ele ficar assistindo? É um fetiche bastante... específico, para dizer o minimo. E agora eu jamais vou conseguir tirar da mente a cena do Rei do Crime dizendo "hmm, isso, mergulha no lixo toxico, você gosta seu safado, hmmm". E a partir de agora nem você.

Dito isso, vamos falar do jogo então...


The Ooze, como você pode ver, é um top down shooter que você joga com uma pilha de... bem, ooze. No que tem algumas ideias originais sendo abordadas aqui, como por exemplo que o seu corpo é a sua barra de vida: conforme você toma dano sua poça diminui, quando pega energia ela aumenta. Agora, isso é interessante e me passa uma vibe meio Carrion - que é um jogo indie puta divertido, saiba você.

A Sega inclusive adicionou alguns toques interessantes, como quando você toma alguns tipos de dano sua poça é cortada exatamente com o dano que você tomou - o que dá um efeito muito legal.


As pixel arts também são bacaninhas, especialmente na hora de explodir os inimigos com gore. Não é um jogo muito bonito, mas visualmente esses detalhes acabam agradando - na duvida, sempre exploda tripas de coelhinhos, essa é a minha dica do dia.


Então olhando assim não é a pior ideia do mundo: um top down shooter que não tem muita coisa demais mecanicamente, mas compensa pela criatividade da premissa. Pode funcionar, certo?

Bem, poderia ... não fosse que tudo mudou quando a nação da Sega atacou. Isso porque, pra começar, embora você tenha uma barra de energia (que é o tamanho do seu corpo) o jogo tem one hit kill: se qualquer coisa encostar na sua cabeça você morre, não importa o tamanho da sua vida. Tá, faz sentido, embora eu não veja muito onde "fazer sentido" seja imperativo em um jogo sobre uma poça de ooze sentiente, mas enfim.


Isso por si só já tornaria o jogo desafiante o suficiente, tem horas que o jogo vira um bullet hell e evitar que as coisas acertem o seu porongo não é exatamente um passeio no parque. Mas desde quando a Sega se contenta em parar no "é dificil o suficiente", né? Seguindo sua velha estratégia de "tornar esse jogo dificil para as crianças não terminarem em um fim de semana", o verdadeiro problema desse jogo é repleto de one hit kills independente de quanto ooze você tenha no seu corpo.

Encostou uma pontinha em um bueiro? One hit kill.
Encostou uma pontinhaem um rolo compressor? One hit kill.
Encostou uma pontinha em um lago de lixo toxico? One hit kill.
Encostou uma pontinha em um ventilador? One hit kill.

ISSO sim torna o jogo dificil ao ponto de ser injogavel!

TÁ, EU ENTENDI, É DIFICIL, MAS NÃO VEJO PQ FICA TÃO DIFICIL ASSIM...

Porque, meu caro amigo imaginário Jorge, compreenda o que a Sega fez aqui: 80% das fases são desenhadas para você desviar de one hit kills em espaços muito apertados. Até okay, qual é a cereja no bolo de sofrimento e dor dessa joça então: seu corpo aumenta quando você tem mais energia, já que o tamanho do seu corpo é a sua barra de vida. Então a última coisa que você quer em um jogo que não pode tocar uma pontinha em quase tudo é que o seu corpanzil seja uma massa enorme disforme e não totalmente sob o seu controle...

Se você tocar um pixel em cada um desses ralos, JÁ ELVIS MEU AMIGO!

... o que é justamente TODO O PONTO DESSE JOGO. 

Jogo esse, alias, que são apenas três vidas sem continue, password ou save. Diabos, até onde eu sei sequer tem vidas extras nesse jogo. Pq me odeias desse jeito Sega, apenas pq? Bem, eu já disse que o principal problema da Sega é que eles não realmente entendem a diferença entre arcades e um console doméstico e mais frequentemente sim do que não é que os jogos da Sega parecem máquinas feitas para tomar o máximo de fichas no menor tempo possível.

Vocês acham que eu to de frescura, mas se encostar em qualquer uma dessas poças verdes (na direita, não você), PERDEU A VIDA OTÁRIO

Que sentido isso faz em um jogo de videogame para ter em casa? Nenhum, entretanto essa é a sensação de jogar The Ooze. Caras, vocês já pensaram na possibilidade de videogames serem feitos para serem, sei lá, divertidos? Não? É, parece que não.

The Ooze, tal qual COMIX ZONE, ganha um hard pass pela criatividade da premissa, mas sério gente, vamo começar a fazer uns jogos que tenha como jogar. Faça o favor, né?

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