sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

[#816][SNES] THE MASK [Outubro de 1995]

Para o jogo de hoje, vamos falar sobre o jogo baseado no filme que é a adaptação para cinema de um dos quadrinhos mais violentos, pesados e nervosos dos anos 90.

ESPERA, ESSE POST NÃO ERA SOBRE O JOGO DO MASCARA?

Sono toori, Jorge. Porque veja, todo mundo sabe como BATMAN FOREVER foi uma tentativa de pegar uma série que era visto como pesada no cinema e transforma-la em algo mais palatavel para vender brinquedos para crianças. E todo mundo também sabe como isso terminou...


O que menos gente sabe é que houve uma tentativa bem mais bem sucedida nisso, de pegar um quadrinho pesado dos anos 90 e adapta-lo como algo bem mais family friendly. "The Mask" foi um quadrinho criado por Mike Richardson nos anos 80 que rolou em algumas publicações amadoras e fanzines, até ser adquirida pela Dark Horse Comics em 1989, onde teve quatro edições até ser cancelada em 1991 - onde essa ultima edição acabou se tornando um dos maiores sucessos da Dark Horse e a série foi trazida de volta onde durou até 2000.

Mas sobre o que são esses quadrinhos, exatamente? Bem, a resposta curta é que "The Mask" (que se refere ao objeto, não ao personagem) é a versão moderna do Um Anel. Isso porque a mascara é um objeto que dá poderes divinos ao usuário de alterar a realidade (embora não tanto quanto no filme), ao custo de ir corrompendo e dominando a sua mente.


A pegada aqui é que enquanto a ideia funciona mais ou menos como no filme que a Mascara trás a tona o que o usuário sempre quis ser, a abordagem nos quadrinhos é bem mais realista. O que quer dizer que se a maioria das pessoas tivesse poderes para fazer o que elas realmente querem sem ter que enfrentar nenhuma consequencia, vamos ser honestos sobre isso, elas seriam filhos da puta de marca maior.

A história aqui começa quando um homem inseguro e neurótico chamado Stanley Ipkiss compra um presente para sua namorada, Kathy. Na loja ele compra uma velha máscara de jade que começa a falar na mente dele. Seduzido mentalmente pelo objeto, quando Stanley coloca a mascara ele se transforma em um ser superpoderoso com uma cabeça anormalmente grande, careca e de pele verde e uma boca cheia de dentes grandes. Depois de explorar suas novas habilidades, Ipkiss considera usar seus poderes para o bem e ser um super herói, MAS PRIMEIRO decide se vingar daqueles que ele julga que o trataram mal - como os caras da oficina do seu carro, ou a senhorinha que foi sua professora de infancia. E uns punks que dão o azar de tentar assalta-lo depois que ele está com a mascara

TÁ, TEM ALGUNS DETALHES DIFERENTES, MAS ESSENCIALMENTE PARECE SER A MESMA COISA DO FILME

É mesmo?


ELE ENFIOU UM ESCAPAMENTO DEBAIXO DA PELE DO CARA? MAS SE A PELE DO ROSTO NÃO ESTÁ RASGADA POR ONDE ELE ENFI... AI MINHA NOSSA!

Pois é. Verdade seja dita, a capa da HQ já deveria ter dado a deixa:


AI MINHA NOSSA²

E isso não é tudo. Depois de tirar a máscara, Stanley começa a perceber o que está acontecendo. Seus atos como Big Head (que é como a imprensa chama o personagem naquele mundo, o nome "O Mascara" só começou a ser usado depois do filme) começam a ter um impacto emocional sobre ele e ele tenta se livrar da Mascara, mas não consegue ficar longe dela - menos porque ela magicamente volta voando como no filme e mais pq ele se torna obcecado e violento a ideia de ficar longe dela, exatamente como o Um Anel. 

A isso vai influenciando sua personalidade, o tornando em alguém violento e cruel mesmo quando não está usando a Mascara. Só que aqui eis a coisa interessante: o quadrinho é sobre a Mascara realmente, e não sobre Stanley Ipikiss.

QUAL A DIFERENÇA?

A diferença é que ainda na primeira edição sua namorada Kathy não aguenta mais os abusos do Stanley possuído e atira nele pelas costas quando ele não está usando a Mascara. Ela então decide se livrar da coisa, mas então acaba sendo seduzida pelos poderes psiquicos de atração da Mascara e passa a usa-la. E os quadrinhos são sobre isso, ao longo da série a Mascara vai rodando de mão em mão e mostrando que tipo de coisa as pessoas fazem quando tem poder absoluto e nenhuma consequencia por seus atos.

O detetive Kellaway, por exemplo, usa a Mascara para se tornar um vigilante e massacrar todos os criminosos que ele nunca legalmente conseguiu pegar como policial. Só que ele tem mais força de personalidade de Stanley e consegue se livrar da Mascara, apesar de ser dificil.

Tenho que dizer, os efeitos especiais envelheceram melhor do que se poderia esperar para um filme de 1994 - talvez por causa do tom cartoon do personagem

De qualquer forma, acho que você pegou a ideia geral da coisa e como The Mask está muito mais perto de Watchmen sobre questionar a moralidade de seres com superpoderes do que um filme familia para passar na Temperatura Maxima.

Agora, a pergunta que você pode fazer é como pegar essa ideia e adaptar para um filme familia sem cagar a porra toda. Quer dizer, muitos filmes já tentaram suavizar o seu conceito original para transformar em PG13 e fracassaram miseravelmente, então como esse em particular conseguiu ser um bom filme?

POIS É, COMO?!

Muito simples, não conseguiu.

AGORA VOCÊ ESTÁ SENDO RIDICULO! O MASCARA É UM FILME INCRÍVEL E MARAVILHINDO!

Ah é, mesmo? Você consegue pensar em uma cena do filme que você goste?

VÁRIAS! EU POSSO CITA-LAS AQUI MESMO!

Interessante. Agora você pode pensar em uma cena do filme que você goste que não apareça o Jim Carey?

CLARO, TEM A... HÃ... ENTÃO, EU GOSTO QUANDO POR EXEMPLO... HMM... AS CENAS DO MILO CONTAM?

Pois é, esse é o segredo aqui: enquanto "O Mascara" não é um filme ruim, ele é bem amarradinho em vários aspectos, o que faz esse filme se destacar é meio que exclusivamente que o Jim Carey saiu do set de filmagem com lordose do quanto ele carregou esse filme nas costas.

Sim, eu fiquei tão chocado quanto vocês pq eu lembrava da minha infancia que O Mascara era um filme espetaculoso e maravilhindo tonico, mas não é. Eu assisti agora de novo e você ficaria surpreso o quanto tem de coisa nesse filme que ninguém lembra pq não é o Jim Carey.


Você lembra, por exemplo, que o filme tem várias cenas com um plot de filme ruim de mafia? Ou que a Peggy (a reporter ruiva que provavelmente você lembra mais pelo desejo) está no filme e ela tem uma personagem que não contribui em absolutamente nada com a história? Diabos, eu tinha até esquecido que a Cameron Diaz estava nesse filme, eu achava que era uma loira genérica.

Mas nada disso é importante porque minha nossa, o Jim Carey arrasa nesse filme. É até fácil esquecer que o Mascara é uma pessoa atuando e não alguma coisa criada em computação, porque é um nível de energia e estilo que não parece humano - e ainda sim o Jaime entrega excepcionalmente bem ao ponto que praticamente todas as falas dele são lembradas ainda hoje.

Todo mundo sabe que essa atuação do Jim Carey é genial, mas um salve tem que ser dada pra dublagem do Marco Ribeiro que é no minimo tão boa quanto o original

Mas isso todo mundo já sabe, você mesmo lembra de cada fala do Mascara e do quão cartunesco Tex Avery style, do quão divertido é ver ele na tela, eu não preciso falar sobre isso. O que eu aprendi reassistindo esse filme, entretanto, foi a valorizar muito mais o que o Jim Carey faz como Stanley.

Parece fácil no papel interpretar o cara que "tem um bom coração mas é um banana e todo mundo pisa nele", mas na real eu não consigo pensar em muitos atores que conseguiriam acertar a mão e fazer o publico ficar do lado dele e não revoltado com a sua bananice.

Essa cena do Stanley sonhando em como seria se ele fosse cool é espetacular

É muito fácil lembrar do Jim Carey por suas atuações over the top, mas é mais fácil ainda esquecer que ele é um dos melhores atores da atualidade. É só lembrar do "Mundo de Andy" ou "Show de Truman", ou se quiser ser mais hardcore, tente assistir Cine Majestic e imagine o quanto esse filme seria muito ruim com qualquer outro ator. E aqui nós vemos essa qualidade, pq nos fazer torcer pelo próprio Stanley conseguir conquistar as próprias coisas sem precisar depender da Mascara é muito legal - e parece fácil fazer, mas não é.

Então com ou sem a Mascara (e creditos a produção por fazer uma mascara, assim como efeitos especiais que mantivessem as valiosas expressões faciais do ator) esse filme é um espetaculo do Jim Carey, mas meio que nada para além disso. O que faz o filme ser mediano com momentos épicos - o que é uma coisa boa, mas não taaaaaao boa quanto poderia se lembrar.

E claro, quando todos os policiais da cidade o encurralam e você acha que vai ver uma demonstração de combate ultrapoderosa começar um musical, ajuda muito.


Tá, retiro o que eu disse, essa policial (a atriz se chama Krista Buonauro, alias) que começa a cantar também é incrível. Quer dizer, ela não apenas tem que cantar bem, fazer uma cara de "o que diabos está acontecendo?!" e então entrar na música, tudo isso em apenas 5 segundos. É fantástico.

Agora, sabe o que é menos fantástico? Bem, é claro que você já sabe o que virá agora: a adaptação do filme para Super Nintendo - que ao menos não é feita pela Ocean, ao menos isso. 

CAMERON DIAZ: Você foi o único homem que me tratou como uma pessoa e não como um pedaço de carne
O HOMEM TRATANDO ELA COMO UMA PESSOA:

Esse jogo em particular foi feito pela Black Pearl, que é mais conhecida... por não ser muito conhecida: ela fez alguns jogos de pescaria como BASS MASTERS CLASSIC mas principalmente ports de jogos da EA como a série DESERT STRIKE. O que não é um currículo muito impressionante, mas todo dia é uma nova oportunidade - como eu sempre digo.

VOCÊ NUNCA DISSE ISO UMA ÚNICA VEZ NA SUA VIDA INTEIRA!

Acabei de dizer, e um novo dia é uma nova oportunidade para começar uma nova tradição também! Bem, seja como for, créditos a BP por lançar o jogo mais de um ano e meio depois que o filme terminou sua exibição nos cinemas, algo bastante incomum para a época. Filmes baseados em jogos usualmente são lançados na mesma época, se possível até no mesmo mes que o filme para aproveitar o hype então todo esse tempo extra para construir um jogo talvez faça melhor? É o que veremos a seguir.

Em primeiro lugar, créditos a Black Pearl por reproduzir fielmente os movimentos do filme no jogo: todos os ataques, forma de andar e movimentos especiais são tirados de alguma cena do filme - mesmo que só tenham aparecido uma vez no filme. Tipo o ataque especial do X é dar uma marretada, tirada da cena do relógio no corredor, e assim por diante. Cool, cool, é esse tipo de adaptação que queremos ver nos nossos jogos de filmes, especialmente um em que cada cena do Mascara é altamente memorável!

Como por exemplo, segurar o L faz você andar lentamente para não ativar alguns inimigos...

... tirado da cena do filme

Quanto ao gameplay, The Mask chega beeeeem perto de jogos ruins adaptados de filmes como WAYNE'S WORLD, namora com o plataforma europeu, mas no fim passa na média raspando. O que quer dizer que o jogo não é ruim RUIIIIIM, ele é decente-medíocre mas ainda no espectro do decente.

Os controles respondem ali ali no limite do aceitável, o level design é meio confuso mas tem como não se perder (existe uma lógica natural na progressão mesmo que meio tacanha, dando com a canela nos moveis mas dá pra achar pra onde ir) e o posicionamento dos inimigos não é particularmente filho da puta (embora seja desagradavel as vezes). Tal qual o filme de origem tirando o Jim Carey, é medíocre mas ali no aceitável.


... ou quase. O problema é que enquanto o jogo é passável, a BP errou a mão na dificuldade. Mas errou feio, errou rude e qualquer inimigo mundano leva dois bazilhões de socos para serem derrotados, os chefes então HAHAHAHAHA boa sorte com isso. Mas é sério, é impossível que ninguém testou esse jogo e não viu que isso não tava dando certo!

Pior do que isso na verdade: como seu ataque "grátis" tem o alcance curto e os chefes são bem grandes, sua melhor forma de causar dano a eles sem morrer no processo é usar os ataques especiais que gastam morph points. 



O problema é que como os chefes tem um tetrazilhão de energia (que você não vê), a luta se resume a gastar seus MP, esperar recarregar, dar um ataque, esperar recarregar, dar um ataque... cara, a luta com o último chefe dura pelo menos uns 10 minutos fazendo isso. Sem mentira, dez minutos de dá UM ataque, desvia desvia desvia, dá UM ataque desvia desvia desvia... ah mas vão se foderem no cream cheese com bisnaguinhas!

Então você tem um jogo que é aceitavel-ish (okay, ter os movimentos do filme adaptados para o jogo foi legal), com jogabilidade aceitavel-ish e level design BARELY aceitavel-ish... pra colocar  inimigos que precisam de muitos hits pra matar chefes com um quinzilhão de vidas. Ainda não é um BEBE'S KIDS award, mas divertido também que não é. 



2,5 ALGUÉM ME SEGURE de 5.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 067


Edição 095

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 014


Edição 020


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 006